Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 22 de abril de 2008
Guiné 63/74 - P2787: Ninguém Fica para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (5): Guidaje cercada por mil homens do PAIGC ? (A. Marques Lopes)
No caso da Frente São Domingos / Sambuiá, onde actuava o 3º Corpo do Exército, havia duas Regiões: o sector de São Domingos actuava contra as nossas forças em São Domingos, Susana e Ingoré; e o sector de Sambuiá encarregava-se de Barro, Bigene, Guidaje, Farim...
Imagem © A. Marques Lopes (2008). Direitos reservados
1. Esclarecimento do nosso assessor militar para as questões de instrução, táctica e logística do PAIGC, o coronel DFA reformado, A. Marques Lopes, tertuliano de gema e da primeira geração:
Não me admiro que estivessem 1.000 homens na altura do cerco de Guidage (1). O 3.º Corpo do Exército foi um dos grupos. Mas havia mais na zona. O Supintrep 31, de 13 de Fevereiro de 1971, dá nota de um deles, o da Frente S. Domingos/Sambuiá (vd. imagens acima e a seguir).
Guiné > PAIGC > 1971 > O PAIGC tinha o território dividido nas seguintes frentes: Frente São Domingos / Sambuiá; Frente Bafatá-Gabu (Norte); Frente Canchungo-Biambe; Frente Morés-Nhacra; Frente Quínara; Frente Xitole-Bafatá; Frente Bafatá-Gabu (Sul); Frente Catió; Frente BUba-Quitafine... Neste mapa também se indicam as principais regiões... Fonte: Supintrep, nº 31, 13 de Fevereiro de 1971.
Imagem: © A. Marques Lopes (2008). Direitos reservados
Na avaliação do potencial humano das FARP [- Forças Armadas Revolucionárias do Povo], o Supintrep 31 parte da seguinte base numérica:
BIGRUPO - 44
BIGRUPO REFORÇADO - 70
GRUPO DE ARTILHARIA - 50
GRUPO DE MORTEIROS 82 - 23
GRUPO DE CANHÕES S/R - 23
GRUPO DE FOGUETÕES 122 - 16
PELOTÃO DE ANTI-AÉREAS - 16
GRUPO DE MORTEIROS 120 - 40
GRUPO DE COMANDOS - 50
GRUPO ESP. DE BAZOOKAS - 20
Na organização militar, a FRENTE (correspondente à organização civil INTER-REGIÃO) é dividida em REGIÕES, por sua vez divididas em SECTORES; cada um destes escalões é dotado de um comando militar próprio com forças próprias.
É, pois, natural que se tivessem juntado alguns Sectores da Frente S. Domingos / Sambuiá e da Frente Bafatá/ Gabu(Norte) e mais os das bases de apoio no Senegal. O total daquela base de cálculo soma 352. Tirando o pelotão de anti-aéreas (levaram os Strella...) dá 336.
Devem ter ido a Guidage vários bigrupos e vários grupos de morteiros 82, de canhões sem-recuo, de foguetões, de morteiros 120... Penso eu de que.
A. Marques Lopes
2. Extractos do artigo do João Afonso, ex-Fur Mil, do 3.º Grupo de Combate da CCAV 3420 (1971/73), que foi comandado pelo Cap Salgueiro Maia:
(...) "Em Maio de 1973, Guidage e Guilege constituíram a prova mais dura a que as Forças Armadas Portuguesas foram sujeitas nos três Teatros de Operações (Angola, Moçambique e Guiné). Para aliviar a pressão sobre Guidage, preparou-se um ataque à base inimiga de Kumbamory, situada a 4/6 km da linha de fronteira do Senegal, tendo em vista desarticular o IN e, se possível, destruir a Base, provocando o maior numero possível de baixas.
"No início de Maio de 1973 a Guarnição de Guidage era constituída pela CCAÇ 19 e pelo Pelotão de Artilharia 24, equipado com Obuses 10,5 e estava sob o Comando do COP3 com sede em Bigene. Do lado Português, Guidage em termos de efectivos teria cerca de 200 homens, na maioria recrutados na Província que, com os seus familiares, viviam numa pequena aldeia junto ao Quartel.
"Do lado PAIGC estimava-se que o número de elementos se situava entre os 650 e os 700 homens, comandados por Francisco Mendes (Chico Te) e pelo Comissário Político Manuel Santos [, Manecas, de nome de guerra].
"As Forças do PAIGC tinham uma das suas bases em Kumbamory podendo fazer reabastecimentos por viatura a partir de Zinguichor, Yeran ou Kolda, permitindo assim manter o cerco a Guidage por largo período de tempo. O PAIGC mantinha na Zona as seguintes forças:
- Corpo de Exército com 4 Bigrupos de Infantaria e uma Bateria também de infantaria;
- Corpo de Exército com 5 Bigrupos de Infantaria e um grupo de Foguetes com 4 rampas de lançamento;
- 3 Bigrupos de Infantaria, um grupo de Reconhecimento e uma bateria de Artilharia deslocada da Zona Leste;
- Um Pelotão de Morteiros 120 mm;
- Um Grupo Especial de Sapadores.
"O isolamento de Guidage iniciou-se com o abate de um avião T6, duas DO-27 e um Fiat G91 e o cerco terrestre acentuou-se em 8 de Maio quando uma coluna que partiu de Farim, escoltada por forças do Batalhão de Caçadores 4512, accionou uma mina e foi emboscada sofrendo 12 feridos" (...) (2).
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Notas dos editores:
(1) Vds. poste de 22 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2785: Ninguém Fica Para Trás: Grande Reportagem SIC/VIsão (3): Sabemos ao menos quem foram e onde estão ? (Luís Graça)
(2) 3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCVI: Salgueiro Maia e os seus bravos da CCAV 3420 (Guidage, Maio/Junho de 1973) (José Afonso)
Guiné 63/74 - P2786: Ninguém Fica para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (4): Fiquei bastante comovido mas mais confortado (Albano Costa)
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Guidaje (ou Guidage, os nossos cartógrafos usavam as duas grafias, um delas certamente por lapso; de qualquer modo, a confusão linguística está lançada: é como Guileje, Guilege ou Guiledje... Vednha a ratificação do acordo ortográfico!) > Novembro de 2000 > Bolanha do Cufeu > Belíssimas imagens do Albano Costa, tiradas no seu regresso àquela terra e aquele chão, que ele ama tanto... O Albano fez uma comissão relativamente tranquila em Guidaje, depois de passados os trágicos acontecimentos de Maio de 1973. O nosso amigo e camarada de Guifões, Matosinhos, onde exerce a sua actividade de fotógrafo profissional, pertenceu à CCAÇ 4150 (1973/74). Mais fotografias de Guidage (bem como dos antigos destacamentos de Bigene e de Binta) podem ser vistos aqui.
Estas fotos da bolanha onde os pára-quedistas da CCP 121 conheceram o dia mais negroi das suas vida (se acordo com o testemunho do Victor Tavares), contrastam também com as imagens brutais de corpos abandonados e viaturas calacinadas já aqui também publicadas pelo ex-1º Cabo Comando Amílcar Mendes, da 38ª CCmds (2).
Fotos: © Albano Costa (2008). Direitos reservados.
1. Mensagem do Albano Costa:
Assunto - Exumação dos mortos de Guidage
Caros Editor e co-editores:
Finalmente, quase ao fim de 35 anos os nossos mortos deixaram Guidage (1), terra que reteve oito meses da minha juventude, foi o tempo que permaneci naquele bocado de terra, oito foram os mortos da metrópole que lá ficaram este tempo todo, mas morreram lá muitos mais (2).
Guidage não fica a quilómetros, como foi dito na peça mas, sim, faz fronteira com o Senegal, era e é uma terra de ninguém aonde não existia comércio nenhum (e em Novembro de 2000 quando lá voltei, não vi sinais nenhuns de desenvolvimento).
Guiné > Região do Cacheu > Guidaje > CCAÇ 4150 (1973/74) > Planta do quartel, posterior a Maio de 1973.
Imagem: © Albano Costa (2008). Direitos reservados.
Estavamos isolados de tudo e de todos. É que na peça mistura-se imagens de Guidage e Farim e, para quem não conhece, julga que em Guidage até passa um rio, mas o rio que se vê, é o rio Cacheu, em Farim.
Estive a ver bastante comovido a reportagem da exumação dos mortos, confesso que me saiu um peso de cima de mim, quando abandonei aquele espaço já depois do 25 de Abril, ficou sempre no meu pensamento, será que alguma dia estes nossos colegas - que eu não os conheci - serão entregues aos seus familiares ?!...
Ainda bem, que isso vai acontecer, mas também gostaria de ver os restantes cinco, que a família fosse informada pela Liga, se estavam interessados em reaver os seus familiares, a exemplo do Gabriel Ferreira Telo, da Madeira. Como diz a sua irmã e como se vê na peça, irá ser um momento muito feliz para a sua família, quando isso acontecer.... Mas será que os familiares dos restantes quatro não tem os mesmos direitos, será que eles não estavam a lutar pelos mesmos ideais da altura, será que o país não se está a perceber que os seus filhos não estão a ser tratados por igual?...
Gostaria de ver a Liga dos Combatentes fazer um esforço para que o Geraldes, o Ferreira, o Machado e o Jerónimo pudessem ter o mesmo destino, assim como todos os que sucumbiram em defesa da Pátria... E muitos vou pensar, mais um lirico, pois é, só quem lá deixou um seu famíliar é que tem o direito de pensar se vale ou não vale a pena!.... Deu para sentir como as famílias vão ficar, por ver que, com o regresso de seus filhos, vão poder finalmente fazer o luto.
Ainda bem que a Conceição Maia (irmã do Vitoriano) e o Manuel Rebocho mexeram com o mundo pára-quedista e deram sentido à palavra de ordem Ninguém fica para trás... Foi bom ver, ouvir e sentir, além dos três pára-quedistas, valeu a pena por eles, pode ser que outros os vão seguir, quer queiram quer não queiram, é uma justiça que se faz aos nossos compatriotas que não tiveram a sorte de voltar com vida.
Guiné > Guidaje > Maio de 1973 > Croquis do plano de operações da Op Ametista Real, planeada e executada sob o comando do Ten Cor Almeida Bruno, para pôr fim ao cerco de Guidaje. Foi uma das mais curtas, sangrentas e brutais batalhas travadas durante a guerra da Guiné. Acabou por aliviar a pressão sobre Guidaje. Tratou-se de uma operação em solo senegalês, tendo como objectivo a destruição da base de Kumbamory, o que foi conseguido na manhã de 20 de Maio de 1973. O número de baixas foi elevado para ambos os lados: 67 mortos, do lado do PAIGC (que sofreu, além disso, a destruição de 22 depósitos de material de guerra); 25 mortos, do nosso lado (incluindo 2 alferes), e 25 feridos graves (incluindo 3 oficiais e 7 sargentos). A operação (o assalto à base do PAIGC) foi executada exclusivamente pelo Batalhão de Comandos Africanos, comandados por "quatro oficiais europeus" (sic): o tenente-coronel Almeida Bruno e os seus três comandantes de agrupamento, os capitães Raúl Folques (que ficaria gravemente ferido) e Matos Gomes e o capitão pára-quedista António Ramos (este último comandando o agrupamento a que ficou adstrito o grupo especial comandado pelo Alferes Marcelino da Mata) (3).
Documento fornecido ao Albano Costa pelo José Afonso (ex-furriel miliciano da CCAV 3420, de que era comandante o capitão Salgueiro Maia, e que já em fim de comissão, em Bissau, foi enviada em socorro de Guidaje). O José Afonso é membro da nossa tertúlia e mora no Fundão (4).
Imagem: © Albano Costa (2008). Direitos reservados.
Envio umas fotos que são da Bolanha do Cufeu, no tempo das chuvas, o mesmo sítio, onde o Cor Calheiros está a explicar à irmã do Vitoriano como foi o acidente da sua morte, eu que atravessei muitas vezes aquele local sei muito bem a tensão que era quando a nossa tropa tinha que atravessá-lo para vir a Binta e voltar novamente a Guidage. Quando lá voltei, ao passar no local, passado muitos anos para rever aquele torrão, toda a tensão veio de novo ao de cima.
Albano Costa
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Notas dos editores:
(1) Vd. poste anterior desta série:
22 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2785: Ninguém Fica Para Trás: Grande Reportagem SIC/VIsão (3): Sabemos ao menos quem foram e onde estão ? (Luís Graça)
(2) Vd. postes do Amílcar Mendes:
2 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXV: Apresenta-se o 1º Cabo Comando Mendes (38ª CCmds, 1972/74)
27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1123: Um espectáculo macabro na bolanha de Cufeu, em 1973 (A. Mendes, 38ª Companhia de Comandos)
22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1199: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (1): Sete anos de serviço
22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1200: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (2): Um dia de Natal na mata de Caboiana-Churo )
22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte)
23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)
23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje
24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1207: Guidaje, Maio/Junho de 1973: a 38ª CCmds, na História da Unidade (A. Mendes)
24 de Outubro de 006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...
30 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1223: Soldado Comando Raimundo, natural da Chamusca, morto em Guidaje: Presente! (A. Mendes, 38ª CCmds)
4 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)
24 de Outubro de 006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...
(3) Vd. posts de:
16 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXV: Antologia (16): Op Ametista Real (Senegal, 1973) (João Almeida Bruno)
26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1316: A participação dos paraquedistas na Operação Ametista Real: assalto à base de Kumbamory, Senegal (Victor Tavares, CCP 121)
(4) Vd. poste de 3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCVI: Salgueiro Maia e os seus bravos da CCAV 3420 (Guidage, Maio/Junho de 1973) (José Afonso)
Guiné 63/74 - P2785: Ninguém Fica Para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (3): Sabemos ao menos quem foram e onde estão ? (Luís Graça)
Foto : © Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.
1. Texto do editor do blogue, L.G.:
“Ninguém fica para trás” ? Algumas dúvidas legítimas...
A reportagem SIC/Visão (1) teve, pelo menos, o mérito de lembrar-nos que também há em Portugal antropólogos forenses, capazes de identificar (ou ajudar à identificação de) restos humanos em forma de esqueletos, para além de geofísicos, arqueólogos, etc.
Ficámos também a saber que, durante a guerra colonial (ou do ultramar), cerca de 2/3 (ouvi bem ?) dos nossos mortos, militares (num total de cerca de 9500), ficaram sepultados, longe da Pátria. Só na Guiné haveria mais de 100 locais diferentes, segundo percebi, da entrevista com o general Lopes Camilo, vice-presidente da Liga dos Combatentes, e mais de 700 militares sepultados, sendo na maior parte dos casos tecnicamente difícil a sua identificação.
Não sei se o general está a incluir, neste número, os mais de 350 antigos combatentes portugueses que estão, segundo o Nuno Rubim, sepultados nos 3 talhões militares do Cemitério Municipal de Bissau, atribuídos a Portugal (2). Penso que não, o que fará disparar os números dos que ficaram em solo guineense para os mil e poucos… Se assim for, não se verifica a esperada proporção de 2/3.
O que é o programa Conservação da Memória da Liga dos Combatentes ?
Estes números carecem de confirmação: desgraçadamente não encontro dados oficiais ou oficiosos sobre esta questão controversa, nos sítios onde era esperado encontrá-los: Liga dos Combatentes, Ministério da Defesa, Exército Português… No mínimo, é estranho. Eu direi: é inadmissível…
Este dossiê (doloroso) tem que ser tratado com rigor e frontalidade. Estamos a falar de um passado ainda recente. Há famílias inteiras que ainda não fizeram o luto (ou fizeram um luto patológico, na ausência, física ou simbólica, de um cadáver). Há pais e mães, irmãos e irmães, filhos e filhas... que ainda choram os seus queridos filhos, irmãos ou pais, mortos em combate ao serviço da Pátria, como anunciava o seco, burocrático e tenebroso telegrama do cangalheiro do exército... Não podemos continuar a especular, a fantasiar números, a tirar a água do capote, a explorar emoções, a cantar sempre o fado da desgraça, etc.
Tal como não encontro, no sítio da Liga dos Combatentes, o seu proclamado programa da Conservação da Memória.... Gostaria de conhecer (e de poder divulgar, no nosso blogue) os seus objectivos, metas, prazos, horizonte temporal, meios humanos, técnicos e financeiros, metodologia, orçamento, cronograma, resultados esperados, etc.
Sabia-se que até 1968 o Estado português não procedia, a suas expensas, ao transporte dos restos mortais dos soldados mortos no ultramar… Na altura, esse preço era elevado: cerca de 11 mil escudos, cerca do dobro do soldo, na Guiné, de um furriel miliciano (em 1969/71) (3)... Os mortos das famílias pobres - ou seja, da maioria - eram os que tinham mais probabilidade de ficar enterrados na terra vermelha da Guiné. Nalguns casos, foram os próprios camaradas de unidade que se quotizaram para pagar as despesas de trasladação (!). Isso aconteceu, por exemplo, com um primo meu, em 3º grau, o José António Nogueira Canoa (4), natural da Lourinhã, morto em Ganjola, em 1965 (9).
7o mil euros: o custo da operação Guidaje, Março de 2008
Enfim, soube-se, através desta reportagem SIC/Visão, que numa operação inédita em Portugal - que decorreu na Guiné-Bissau, em Guidaje, no norte, junto à fronteira com o Senegal, de 7 a 21 de Março último, e que custou 70 mil euros à Liga dos Combatentes, tendo envolvido a colaboração do Ministério da Defesa, da Universidade de Coimbra e do Instituto de Medicina Legal -, foi possível proceder-se à localização, identificação e exumação dos esqueletos dos militares portugueses que em Maio de 1973 ficaram enterrados naquele terrível campo de batalha.
Foram localizados, no perímetro do antigo aquartelamento de Guidaje, 11 sepulturas de combatentes portugueses. No final, os restos mortais foram trasladados para o talhão militar do cemitério de Bissau.
E três foram identificados, sem necessidade de recorrer, de imediato, a provas laboratoriais: os três pára-quedistas da CCP 121 / BCP 12 que morreram na sequência da emboscada do PAIGC em 23 de Maio de 1973, na tristemente famosa bolanha do Cufeu. Eram eles, o Manuel da Silva Peixoto, de 22 anos, natural de Vila do Conde; o José de Jesus Lourenço, de 19 anos, natural de Cantanhede; e o António das Neves Vitoriano, de 21 anos, natural de Castro Verde.
O relato da sua morte já aqui tinha disso dado, em primeira mão, pelo notável testemunho presencial de um dos seus camaradas, o ex-1º Cabo Pára-quedista Victor Tavares (vd. foto, à esquerda), da mesma companhia e do mesmo grupo de combate, sob o comando respectivamente do Capitão Pára-quedista Armando Almeida Martins e do tenente Hugo Borges (4).
Eram, ao que parece, os únicos pára-quedistas portugueses, mortos em combate e, até hoje, sepultados fora do solo pátrio. Depois de identificados e exumados os restos mortais destes três nossos camaradas, a respectiva trasladação (incluindo o transporte) para Portugal será custeada pela União Portuguesa de Pára-Quedistas, com sede em Vila Nova da Barquinha. Faz-se assim juz à famosa palavra de ordem dos páras: “Ninguém fica para trás”…
Enfim, 35 anos depois, o corpo pára-quedista português honra a sua palavra. Mas, naturalmente, que para se chegar até aqui, até ao sucesso desta operação, houve muitas outras diligências que não foram sequer mencionadas na peça da SIC, a começar pelas encetadas pelo nosso camarada Manuel Rebocho - sargento pára-quedista da CCP 123 / BCP 12 (Guiné, Maio de 1972/Julho de 1974), hoje sargento-mor pára-quedista, e doutorado em sociologia pela Universidade de Évora (vd. foto à esquerda) -, e que de resto já deixou expresso, no nosso blogue, o seu ponto de vista (polémico) sobre este caso e estas mortes, que ele atribui a um grave erro no planeamento e execução da Op Mamute Doido, senão mesmo a um maquiavélico plano de pressão spinolista (ou dos spinolistas...) contra Marcelo Caetano (5).
Fiquei a saber, além disso, que dos restantes 8 mortos, sepultados no perímetro do aquartelamento de Guidaje, junto ao arame farpado, três eram da CCAÇ 3518, e pelo menos um da CCAÇ 19 e um outro de uma outra unidade. Três eram guineenses. Um dos mortos portugueses era o madeirense Gabriel Telo, de 23 anos, talentoso jogador de futebol da União da Madeira.
Os camaradas do exército, mortos em 25 e 26 de Maio de 1973
Há tempos a página Moçambique - Guerra Colonial (que tem dado muito destaque ao caso dos mortos de Guidaje, em Maio de 1973) já tinha divulgado os seus nomes, citando um jornal da região centro, o quinzenário Aurinegra:
Manuel Maria Rodrigues Geraldes., Sold, 2ª Companhia do BCAÇ 4512, natural de Vimioso (morto em 25 de Maio de 1973);
José Carlos Moreira Machado, Fur Mil, CCAÇ 3518 (Natural de Valpaços);
João Nunes Ferreira, Sold, CCAÇ 3518 (natural de Câmara de Lobos);
Gabriel Ferreira Telo, 1º Cabo, CCAÇ 3518 (natural da Calheta, Madeira):
António Santos Jerónimo Fernandes, Fur Mil, CCAÇ 19 (natural de Vimioso);
(Todos mortos em 25 de Maio de 1973, excepto o último, morto no dia seguinte. Não tenho qualquer elemento de identificação dos três camaradas guineenses).
A localização das sepulturas foi facilitada pela existência de um croquis, feito em finais de Maio de 1973 pelo Alf Mil, madeirense, Luciano Dinis, que pertencia à CCAÇ 19 (?) e que viu morrer a seu lado quatro camaradas, em 25 de Maio de 1973, quando uma granada de morteiro perfurante atingiu o abrigo onde estavam. Ele ficou ferido nas pernas. É hoje Coronel DFA, reformado, segundo percebi. Contou à equipa de reportagem que numa só semana o quartel foi atacado 26 vezes. No total, Guidaje, durante o período do cerco do PAIGC, teria sofrido quatro dezenas de ataques e flagelações.
Na reportagem SIC/Visão aparecem três antigos militares portugueses: o general Hugo Borges, de 60 anos (que na altura era tenente, comandante do pelotão a que pertencia o nosso camarada, o ex-1º Cabo Pára-quedista Victor Tavares, e os três, ou melhor quatro, infortunados camaradas do seu grupo que morreram); e ainda o sargento-mor, açoriano, Manuel Oliveira, que pertencia à CCAÇ 19 e que escapou, por milagre, de ser morto, quando a secretaria do aquartelamento foi atingida em cheio por uma roquetada.
Outro dos militares presentes foi o Cor Pára-quedista Moura Calheiros, na situação de reforma, e hoje empresário, que em 23 de Maio de 1973 acompanhava, do ar, na DO – Dornier 27, Op Mamute Doido e a própria emboscada do PAIGC. Era então major de operações do BCP 12. “Vi muitas desgraças durante a guerra, mas aquela emboscada chocou-me particularmente, tal era o poder de fogo do inimigo”, disse o coronel, de 71 anos, à equipa de reportagem da SIC/Visão.
Na reportagem, o Cor Pára Moura Calheiros (6) aparece como o cérebro da operação de resgate, tendo coordenado mais de meia centena de pessoas.
Foi com apoio aéreo que os pára-quedistas da CCP 121 chegaram finalmente a Guidaje, rompendo o cerco do PAIGC (6), mas com dois mortos às costas e dois feridos graves, um dos quais virá a falecer, já dentro perímetro do aquartelamento, o Peixoto (O outro ferido grave, o Melo, ainda será evacuado para Bissau e depois para a Metrópole, onde não conseguirá sobreviver aos ferimentos recebidos, segundo nos contou o Victor Tavares) (4).
Moura Calheiros e os outros militares portugueses conheceram então, in loco, o comandante da força do PAIGC – pertencente ao 3º Corpo do Exército – que liderou o cerco da Guidaje: Gabriel Guindoco, hoje coronel. Não se percebe como é que apareceu ali, e em representação de quem (provavelmente convidado pelo Cor Pára Moura Calheiros). Segundo o antigo guerrilheiro, ou melhor, segundo o jornalista português que assina a reportagem (Ricardo Fonseca), o PAIGC dispunha de cerca de mil homens na região fronteiriça, prontos a entrar em acção contra Guidaje. É capaz de ser um número fantasioso... Ou talvez não: o PAIGC concentrou o máximo de forças em Guidaje, no norte, e em Guileje, no sul, esperando obter um grande efeito político, militar e diplomático com repercussões internas e externas, em resposta ao assassínio de Amílcar Cabral e na expectativa da proclamação unilateral da independência, na região libertada do Boé...
O PAIGC contava, além disso, com novas armas, como o míssil terra-ar Strella, fornecido pelos soviéticos e já anteriormente prometido a Cabral... Infelizmente, a reportagem SIC/Visão não deu, ao leitor ou espectador, o contexto da ofensiva do PAIGC sobre Guidaje (e sobre Guileje).
Uma equipa de luxo: 3 antropólogos forenses, uma arqueóloga e um geofísico
A equipa de técnicos, mobilizada para esta investigação no terreno, era constituída pelos antropólogos forenses Eugénia Cunha, de 45 anos, Teresa Ferreira, de 31, Sónia Codinha, também de 31, a arqueólogo Conceição Maia, de 45, anos (irmã do Vitoriano) e ainda o geofísico Hélder Hermosilha, de 33 anos.
A nível técnico-científico, a missão foi coordenada pela antropóloga forense Eugénia Cunha, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCT/UC). Sobre o processo de exumação de restos mortais, a antropóloga da da FCT/UC já tinha explicado, em 22 de Março de 2008, ao Diário de Coimbra, que a operações se processavam em três fases distintas: (i) detecção dos restos humanos, feita pelo geofísico, operando um radar com computorizado; (ii) a seguir, vem o trabalho do arqueólogo que consegue encontrar os limites das sepulturas no local sinalizado pelo radar; e, por fim, (iii) depois de delimitadas e definidas as áreas das sepulturas, entra em cena o antropólogo que faz a escavação, em condições de maior ou menor dificuldade, dependentes de uma série de factores (tipo de solo, humidade, temperatura, estado de conservação do corpo, etc.) (7).
Sobre a relativa rapidez do processo e do sucesso da operação, Eugénia Cunha - também conhecida por, em 2006, ter pretendido fazer o levantamento do túmulo do Rei D. Afonso Henriques e do estudo do esqueleto para fins científicos - , comentou ao Diário de Coimbra que “cada caso é um caso”… e que a operação não foi rápida quanto ela desejaria. “Conseguimos conjugar na mesma equipa competências diversas da geofísica, da antropologia e da arqueologia e tivemos uma equipa da missão que foi para o terreno uma semana antes e que preparou tudo, ou seja, em termos logísticos nós não nos preocupámos com nada” (7).
Os restos mortais exumados foram trasladados para o talhão militar do cemitério de Bissau
Os restos mortais dos antigos militares portugueses serão (ou já foram) trasladados para o cemitério de Bissau. O vice-presidente da Liga dos Combatentes anunciou entretanto que a exumação de restos mortais de ex-combatentes portugueses na Guiné-Bissau vai continuar e que a próxima missão será na localidade de Farim, onde estão sepultados vinte e um militares (7).
Questionado sobre a eventual trasladação de corpos para Portugal, o general Lopes Camilo explicou que o que está definido politicamente (leia-se: definido pela tutela, o Ministério da Defesa), e que é seguido pela Liga, é que "devemos recuperar e manter com dignidade os locais onde se encontram sepultados os combatentes que tombaram no estrangeiro” (7).
Durante esta operação de resgate só foram identificados os três pára-quedistas acima mencionados. Amostras dos restos mostrais dos restantes corpos exumados foram enviados para laboratório para se efectuar o competente teste do ADN, testes que são mais morosos que o trabalho dos antropólogos forenses e cujo custo não é revelado.
Também não se sabe quem irá pagar o eventual transporte das ossadas dos restantes oito militares – cinco da Metrópole, e três da Guiné. Ou se elas vão ficar, num ossário a construir no cemitério de Bissau. A Liga dos Combatentes já veio dizer que essa responsabilidade caberá às famílias que o queiram fazer. A Liga limita-se a "dar apoio logístico"...
Recorde-se que a Liga dos Combatentes é “uma pessoa colectiva de utilidade pública administrativa, sem fins lucrativos, de ideal patriótico e de carácter social, dotada de plena capacidade jurídica para a prossecução dos seus objectivos”, e que, além disso, “exerce a sua actividade sob a tutela do Ministério da Defesa Nacional. A sua missão é “honrar os mortos e dignificar os vivos”.
Identificar e exumar os nossos mortos poderá custar 8 milhões de contos ? A eventual trasladação será por conta das famílias interessadas...
Considerando que esta operação de investigação forense custou 72 mil euros à Liga de Combatentes, e que através dela foi possível a localização e a exumação dos restos mortais de 11 antigos combatentes portugueses, o custo médio, terá rondado os 6500 euros por sepultura. Estamos só a considerar custos directos (pessoal, equipamento e logística), não incluindo portanto os custos de exames laboratoriais e de transporte dos restos mortais para Portugal.
Se multiplicarmos este custo médio por seis mil sepulturas, teremos uma verba total de 39 milhões de euros, ou arredondando e convertendo em escudos, teríamos no mínimo que gastar 8 milhões de contos para localizar, identificar e exumar todos os nossos camarados, mortos na guerra do ultramar / guerra colonial. É uma estimativa muito por baixo, até por que os custos logísticos em Angola e Moçambique serão superiores aos da Guiné-Bissau.
Naturalmente que a Liga dos Combatentes não terá esta verba, nos anos mais próximos, nem muito possivelmente teríamos equipas profissionais, suficientes, com a experiência e a competência da que foi possível reunir em Guidaje… Ou terá ? E, se sim, quem financiará estas operações ?
Mas há também aqui um desafio ao país, ao Estado português, à sociedade civil, à nossa geração que combateu em África… Os nossos mortos merecem muito mais do que algumas lágrimas de crocodilo, alguns discursos falsamente patrióticos, alguma inusitada e serôdia atenção dos meios de comunicação social (que, tal como os jagudis da Guiné, sabem que a exploração da morte e da morbidez, é também negócio…).
Aprendamos, antes de mais, com os outros povos e Estados envolvidos em guerras no Séc XX. Infelizmente abundam por esse mundo fora, os túmulos ao Soldado Desconhecido. Mas, em muitos casos, sabe-se quem foi quem e onde está sepultado, fora do solo pátrio, no campo de batalha, de uma parte dos que morreram em combate. Entre nós, esse trabalho, exaustivo, de inventariação não sei se está feito, ou se foi feito. É por aqui que temos que começar.
Por eles, os nossos mortos, e pelas suas famílias (muitas das quais ainda não fizeram o luto!), mas também por nós, devemos lutar para que este país tenha uma política, coerente e integrada, de reabilitação da memória dos seus mortos em combate e dignificação dos seus locais de sepultura. Directa e indirectamente, também podemos ajudar os povos e os Estados da Guiné-Bissau, de Angola e de Moçambique (as três principais frentes da guerra do ultramar / guerra colonial) a preservar a memória dos seus combatentes e a dignificar os locais (que devem ser muitos milhares) onde repousam os seus restos mortais.
Que Guidaje, ao menos neste capítulo, seja um bom exemplo. E que de facto ninguém fique para trás, mesmo se nos for materialmente impossível identificar todos os nossos camaradas que morreram em África, na guerra do ultramar / guerra colonial. Parafreando o slogan da Liga dos Combatentes, saibamos honrar os nossos mortos, não os esquecendo, não os abandonando. No mínimo, dignificando os locais onde a foice da morte os arrancou à vida.... (7).
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Notas de L.G.:
(1) Vd. poste de 20 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2781: Televisão: Hoje, na SIC, às 21h: Grande Reportagem: Ninguém Fica para Trás: O regresso a Guidaje, Maio de 1973
(2) Vd. poste de 26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)
(3) 2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1488: Vídeos (1): Reportagem da RTP sobre os talhões e cemitérios militares no Ultramar (Jorge Santos)
Vd. Portal RTP > Informação > Programa Em Reportagem > 20 de Serembro de 2006 > Dor Adormecida >
(...) Sinopse: Trinta anos depois do fim da guerra colonial, existem famílias que estão interessadas em transladar os restos mortais dos seus parentes e pretendem pedir ajuda ao Governo português. A última trasladação dos restos mortais de um militar falecido nas ex-colónias ocorreu em 2003.(...)
(4) Vd. poste de 25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
(5) Vd. postes de:
14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)
28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)
(6) Vd. poste de 23 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1624: Bibliografia de uma guerra (17): A geração do fim ou a palavra a 21 oficiais de infantaria, de 1954/57 (Miguel Ritto)
(...) "Nessas páginas está o subcapítulo 'Guidaje - Rompendo o cerco', escrito pelo Coronel Pára Moura Calheiros. Disseram-me que recentemente o Coronel Moura Calheiros (já reformado) apareceu na televisão a falar no empenho dos paraquedistas em trazerem os corpos dos 3 soldados (...).
(7) Vd. poste de 22 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2672: De Guidaje para Bissau, trinta e cinco anos depois (Diário de Coimbra / Carlos Marques dos Santos))
(8) Vd. também:
28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)
30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)
(9) Vd. postes de:
24 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXV: Homenagem aos mortos da minha terra (Lourinhã, 2005)
8 de Setembro 2005 > Guiné 63/74 - CLXXXI: Antologia (18): Um domingo no mato, em Ganjolá (Luís Graça / José António Canoa Nogueira)
22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira
8 de Março de 2007 > Guiné 63/74 -P1574: Uma estória dos Gringos de Guileje (CCAÇ 3477): Estás f..., pá! (Amaro Samúdio)
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Guiné 63/74 - P2784: Ninguém Fica para Trás (2): Mortos e abandonados como se fossem lixo militar (Henrique Cerqueira)
Caro Luís:
Serve este e-mail apenas para dar os meus parabéns ao camarada Bonifácio (2) que está em Toronto. Fico ainda aliviado porque o meu pensamento final do e-mail anterior [, transcrito a seguir,] está certo, ou seja, Já Temos Idade Mas Não Conformados Com a Vontade dos Senhores.
Só consultei o nosso blogue depois de ter enviado o meu e-mail sobre o assunto em titulo. Fiquei de imediato muito feliz por ver que de muito longe e em cima da hora pensou mais ao menos como eu e, segundo parece, há muita mais gente que não dorme nem deixam que lhe "comam as papas na cabeça".
Em frente, Camaradas, não deixemos que o assunto morra nos meandros do mediatismo.
Henrique Cerqueira
Ex-Fur Mil
BCAÇ 4610/72/
3.ª Companhia
Biambe
4.º Gr Comb, CCAÇ 13
Bissorã
1972/74
2. Texto do Henrique Cerqueira, enviado às 12h30h:
Bom dia Luís e restantes camaradas da tertúlia.
Hoje resolvi escrever um pouco para o nosso blogue, para poder fazer algumas considerações sobre o programa transmitido pela SIC sobre os nossos camaradas que ficaram abandonados na Guiné (assim como nas outras províncias).
Foi com grande um grande aperto no peito que assisti ao referido programa. No entanto e quando o programa terminou fiquei estarrecido com a sensação de VAZIO que me acometeu. É que fiquei por saber se este tipo de operação é ou não para ter continuidade com os restantes camaradas MORTOS ao serviço de PORTUGAL, ou se na realidade este programa será mais um dos famigerados, à procura de audiências.
Espero que não,espero ainda que as consciências sejam mobilizadas para que uma vez por todas que o nosso PAÍS resolva assumir todas as atrocidades que cometeu com os filhos de PORTUGAL, que se viram privados da sua juventude e que em milhares dos casos MORRERAM e, como se não fosse suficiente, FICARAM ABANDONADOS como se de simples LIXO MILITAR se tratasse.
Lamento sinceramente que durante o programa nada fosse dito sobre o futuro dos restantes camaradas ABANDONADOS.
Caros Tertulianos e ex-Camaradas da Guerra,temos a responsabilidade de quanto mais não seja utilizar o Blogue para que se pressione todos os Senhores do Poder e até os meios de comunicação, para que não caia em saco roto a OBRIGAÇÃO A TODOS OS NÍVEIS DO ESTADO PORTUGUÊS ASSUMIR O REPATRIAMENTO DOS SEUS FILHOS MORTOS EM COMBATE E VERGONHOSAMENTE ABANDONADOS NAS TERRAS A QUE FORAM OBRIGADOS IR COMBATER.
Não discuto aqui se o que está a ser feito neste momento é ou não a forma mais justa,mas para que não haja maus juízos é URGENTE que o ESTADO divulgue o que pensa fazer e que não se espere que sejam CAROLAS, com mais ou menos PODER, a resolver alguns casos mais ou menos mediáticos.
A razão deste meu e-mail é pura e simplesmente impulsionado pela tal SENSAÇÃO de VAZIO que senti no final do programa.
Uma pequena nota antes de terminar: Às vezes no nosso Blogue, e com demasiada frequência no meu entender,vejo que há em vários temas um excessivo sentimento de derrota e até culpabilização. No meu entender, nós não temos nada que nos sentirmos derrotados. Tivemos vitórias militares e derrotas, mas o que tínhamos, isso sim, eram Vinte e tal anos. Se alguém tem que assumir derrotas, serão as cabeças pensantes que eram muito bem pagas para isso e até nem eram obrigados a ir para a guerra,o que aliás eu nem recrimino,só que eu fui obrigado daí ter autoridade para falar assim.
Bom termino, que isto já vai longo e se calhar vai trazer alguma discussão, o que de certo modo será o pretendido. É que a malta já está avançada na idade,mas não está acomodada a tudo que os poderosos querem, isso foi tempo.
Um abração para todos e seja o que Deus quiser.
Henrique Cerqueira
Ex-Fur Mil 72/74
Biambe/Bissorã
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Notas dos editores:
(1) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2549: Blogoterapia (42): 34 anos depois (Henrique Cerqueira)
(2) Vd. poste de 21 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2783: Ninguém Fica para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (1): A revolta de um veterano, emigrante no Canadá (João Bonifácio)
Guiné 63/74 - P2783: Ninguém Fica para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (1): A revolta de um veterano, emigrante no Canadá (João Bonifácio)
Olá, Caro Luís.
Muito Obrigado pela informação (2). Hoje é domingo e ainda está sol, pois estou a escrever aqui mesmo ao lado de Toronto.
A reportagem da SIC, imediatamente a seguir ao vosso noticiário das 20 h (15 por estes lados) foi um reviver de emoções. Nao posso mentir, ao sentir uma lágrima de solidariedade e revolta.
Eu não posso aceitar que em pleno Século XXI, 35 anos depois destes acontecimentos, em que morreram jovens e por uma causa que hoje sabemos foi um desastre político, já que nem os capitalistas ganharam.
Sinto-me revoltado e triste, e desejava que todos os nossos amigos deste Blogue soubessem, que mesmo assim, as famílias terao de pagar para rever os seus muito queridos filhos, irmãos e tios. É muito triste que o homem que mais discursos dá em Portugal, e que ate é PM, não tenha tempo de pensar, a exemplo de outros governos de outros paises, de repor a verdade, e pedir desculpa às famílias pelo abandono e desprezo votado a todos os que ainda por estão enterrados. Pedir desculpa, reconhecer perante o eleitorado que esta guerra existiu, e foi demasiado sangrenta e miserável, e tomar a responsabilidade pela transladação de todos os militares portugueses que, por falta de condições de segurança ou por estupidez dos governos de Salazar e de Marcelo Caetano, foram abandonados.
As minhas desculpas por algum erro meu, mas eu não vou rever o que escrevo. Estou muito emocionado, e não basta a perda de um irmão de armas, mas mais o desprezo e ignorância dos governos, por nã.ao terem tempo para fazer justiça.
Depois deste programa, fico com a impressão que um dos meus alferes da CCAÇ 2402 fez bem em não comparecer para embarque (3).
Um abraco para todos.
João G. Bonifácio
ex-Fur Mil SAM
CCAÇ 2402/BAT 2851
Có, Mansabá, Olossato
1968/70
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Notas de L.G.:
(1) Poste de ou sobre o João Bonifácio:
1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1331: Blogoterapia (9): Quando a Pátria não é Mátria para ti (João Bonifácio, Canadá, antigo vagomestre da CCAÇ 2402)
(...) Meu caro João /'My dear John':
1. Fico muito sensibilizado com a tua mensagem… Eu sei que a Pátria não foi Mátria para ti, foi madrasta... E eu sou o primeiro a ser solidário contigo, eu que decidi ficar na terra que me viu nascer... Sei que isso não te vai servir de consolo, mas não imaginas o rol de reclamações que recebo neste pequeno canto da blogosfera!... Enfim, o importante é que hoje estejas bem, nesse grande país que eu admiro… Mas as tuas raízes, a tua identidade, o teu passado estão aqui, estão connosco… Nenhum de nós terá futuro, se não souber preservar e até alimentar o passado. A Guiné marcou-nos a todos, com o seu ferrete... Mas foi em português, na língua de Camões, que exprimimos os sentimentos mais nobres ou dissémos os palavrões mais horríveis. João: não adianta. Não se escolhe a Pátria, não se escolhem os pais nem os irmãos, não se escolhe a língua materna... Mas dessa ao menos eu tenho (e tu tens, nós temos) orgulho... É em português, e em bom português, que comunicamos na blogosfera, neste blogue, na nossa tertúlia, nesta caserna virtual onde todos cabemos, de Lisboa a Bissau, de Viana do Castelo a Toronto, de Coimbra a Luanda" (...)
25 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2212: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (3): Portugueses da diáspora também querem ver (João G. Bonifácio)
20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2562: As Nossas Madrinhas de Guerra (3): Quem as não teve ? (Luís Graça / João Bonifácio / Paulo Salgado)
(2) Vd. poste de 20 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2781: Televisão: Hoje, na SIC, às 21h: Grande Reportagem: Ninguém Fica para Trás: O regresso a Guidaje, Maio de 1973
(3) Vd. poste de 15 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira
Guiné 63/74 - P2782: Tabanca Grande (63): António Manuel da Conceição Santos, ex-Fur Mil Op Esp, CCAÇ 4540 (Guiné 1972/74)
António Manuel da Conceição Santos
Ex-Fur Mil Op Esp
CCAÇ4540
Bigene, Cadique, Nhacra
1972/74
1. Em 16 de Abril de 2008, recebemos uma mensagem do nosso novo camarada António Manuel da Conceição Santos
Meus caros amigos...
Hoje entrei numa de nostalgia...
Para quem já não se lembra de mim, sou o furriel Santos, do Algarve, que em tempos idos, já lá vão 36/37 anos, era de Operações Especiais, e fui parar à CCAÇ 4540 em rendição individual.
A todos desejo uma boa saúde... eu estou bem.
Ando à procura de algumas fotos do nosso tempo na Guiné, em especial, da nossa Companhia, pois as que tenho, não estão nada bem conservadas e são cerca de uma dúzia.
Peço que me enviem umas quantas via e-mail. Obrigado.
Se um dia vierem ao Algarve, fica aqui o meu contacto: 91 605 63 48.
A minha história é igual tantas outras, que resumo:
Estou à beira da reforma, faço 40 anos de serviço este mês.
Comecei a trabalhar em 1969 na Junta Autónoma de Estradas e em 1994 passei para a Direcção-Geral dos Impostos - Direcção de Finanças de Faro, onde sou Técnico Superior Principal.
No início deste percurso, como sabem, passei pela Guiné. Quizera nunca me lembrar e de fugir a recordações do passado, porém, não sei porquê, muito recentemente, num qualquer momento de nostalgia, lembrei-me daquele passado que procuro não recordar, mas não consigo.
É tudo.
Um abraço e mandem e-mailes.
Foto 1> Conceição Santos faz uma pausa na guerra para matar a sede
Foto 2> Convivência com a juventude local
Fotos: © >António Manuel da Conceição Santos (2008). Direitos reservados.
2. Caro camarada Conceição Santos
Primeiro que tudo, obrigado por nos visitares e quereres entrar na nossa Tabanca Grande.
Não sei se sabes que tens no Blogue um camarada da tua Companhia, o ex-Alf Mil Vasco Ferreira (1). Poderás contactá-lo no sentido de obteres as fotos que desejas. Entretanto ele poderá ter conhecimento de outros camaradas da vossa Unidade.
Já agora convido-te a enviares estórias da tua experiência de guerra na Guiné, que servirão para ajudar a aumentar o espólio histórico do nosso Blogue e ao mesmo tempo servirá, quem sabe, para te ajudar a cicatrizar alguma ferida ainda aberta .
Quando puderes manda uma foto tua actual, para com a que mandaste, fazer parte da nossa fotogaleria.
Recebe da Tertúlia um abraço de boas vindas.
C.V.
____________
Nota dos editores:
(1) Vd. poste de 9 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2167: Breve história da CCAÇ 4540 (Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74) (Vasco Ferreira)
domingo, 20 de abril de 2008
Guiné 63/74 - P2781: Televisão: Hoje, na SIC, às 21h: Grande Reportagem: Ninguém Fica para Trás: O regresso a Guidaje, Maio de 1973
Ninguém fica para trás
Grande Reportagem SIC/Visão
Há mais de 30 anos que muitas famílias portuguesas esperam o regresso dos seus soldados, da guerra colonial. O Estado português enviou-os para a frente de combate, mas não resgatou os corpos de quem morreu na guerra.
Grande Reportagem SIC
A Liga dos Combatentes organizou uma missão de resgate dos restos mortais de soldados portugueses que se encontravam sepultados num campo de batalha, na Guiné-Bissau. A SIC e a revista VISÃO acompanharam, em exclusivo, esta operação sem precedentes, que levou para o mato de Guidage – povoação onde se situava um antigo quartel português – quatro antropólogos, uma arqueóloga, um geofísico, e quatro militares que combateram naquela região, há 35 anos, durante a guerra colonial. As campas foram descobertas graças a um velho mapa, e ao equipamento do geofísico, que rapidamente detectou sinais no subsolo.
A equipa de antropólogos, coordenada por Eugénia Cunha, levou fichas com as características físicas de três pára-quedistas supostamente ali enterrados – eram os únicos militares daquela tropa especial sepultados fora de Portugal. À medida que as escavações avançaram, confirmou-se a presença dos esqueletos daqueles soldados, que a 23 de Maio de 1973 tombaram em combate, de outros cincos militares portugueses e três guineenses.
A Grande Reportagem 'Ninguém Fica para Trás' retrata a emoção de antigos combatentes que regressaram a Guidage, onde encontraram velhos inimigos; a ansiedade de Conceição Maia – arqueóloga que integrava a equipa – por encontrar o irmão pára-quedista; a precisão cirúrgica do trabalho da equipa de antropólogos e a angústia das famílias que aguardam há mais de três décadas o regresso dos seus soldados.
Reportagem: Ricardo Fonseca e Carlos Santos (imagem)
Edição de imagem: Ricardo Tenreiro
Produção: Isabel Mendonça
Coordenação: Cândida Pinto
Direcção: Alcides Vieira
2. Nota de L.G.:
A revista Visão desta semana também traz uma reportagem do acontecimento. Vejam o vídeo promocional. Obrigado ao Albano Costa por, sempre atento às notícias sobre a sua Guidaje, me ter mandado um MSM com lembrete sobre o programa
Aproveito para lembrar que o topónimo correto desta povoação fronteiriça, no norte da Guiné, é Guidaje (e não Guidage), de acordo com a respectiva a cartografia militar portuguesa (Vd. mapa de 1955).
Sobre os trágicos acontecimento de Guidaje, em Maio de 1973, vd. os seguintes postes da autoria de vários camaradas nossos:
Amílcar Mendes:
24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1207: Guidaje, Maio/Junho de 1973: a 38ª CCmds, na História da Unidade (A. Mendes)
24 de Outubro de 006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...
30 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1223: Soldado Comando Raimundo, natural da Chamusca, morto em Guidaje: Presente! (A. Mendes, 38ª CCmds)
Manuel Rebocho
28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)
Victor Tavares:
25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
(...) Em direcção a Guidaje seguiam os paraquedistas, até que foi feita mais uma de muitas paragens para descanso do pessoal, esta já na zona mais perigosa de todo o percurso, que era Cufeu.
Como me encontrava desde o início na retaguarda, desloquei-me até junto do meu comandante de pelotão, Tenente Paraquedista Hugo Borges afim de saber qual seria o nosso destino, porque nos encontrávamos já bastante debilitados fisicamente. Foi nesse momento que a grande altitude apareceu sobrevoando a nossa posição uma DO 27 aonde se encontrava o Major Paraquedista Calheiros que, em contacto com o comandante da CCP 121, Capitão Paraquedista Armando Almeida Martins, informa.-nos que teríamos de seguir para Guidaje porque já estaríamos perto.
Dada esta informação, regressei a retaguarda mas ao fazê-lo pedi ao Melo, apontador de MG 42 para ocupar o meu lugar (todos os operacionais sabem o desgaste físico e psicológico que tal posição provoca) porque eu já vinha a mais de uma dezena de KM naquele lugar.
Entretanto inicia-se a marcha e, quase de imediato, rebenta na frente a emboscada sendo os primeiros tiros dados pelas forças do PAIGC abatendo logo os Soldados Paraquedistas, Victoriano e Lourenço e ferindo gravemente o 1º Cabo Paraquedista Peixoto, apontador de HK21 e MG42.
A reacção dos paraquedistas foi pronta e rápida: apanhados em zona aberta sem qualquer protecção reagiram ao forte poder de fogo do IN, conseguindo suster o assalto das nossas posições como se verificou na retaguarda onde guerrilheiros, alguns de tez branca, tentaram fazer um envolvimento as nossas forças, o que foi evitado pela elevada capacidade de organização em combate e disciplina de fogo aliada à coragem dos nossos militares
Quero referir que simultaneamente toda a nossa coluna ficou debaixo de fogo IN numa extensão de mais de 300 metros.
É de realçar também a organização e o poder de fogo dos guerrilheiros do PAIGC que equipados com bom armamento, bem melhor que o nosso, caso das Degtyarev, RPG2, costureirinha PPSH, Kalashnikov, Canhão s/ Recuo, RPG7, Morteiros 61mm e 81mm, mísseis terra-ar Strella (estes a partir do início de 1973 começaram a derrubar a nossa aviação tirando-lhe capacidade de actuação no teatro de operações).
Não era por acaso que as forças do PAIGC estavam tão bem organizadas nesta zona e neste período, tinham como comandantes Francisco Santos (Chico Té) e Manuel dos Santos(Manecas), dois dos mais temidos pelas nossas forças além do comandante Nino Vieira. (...)
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida
(...) Depois de chegados e instalados junto às valas que circundavam Guidaje, do lado da picada que dava entrada no destacamento, aí ficámos a montar segurança durante a nossa permanência.
Depois disto a noite aproximava-se. Entretanto os nossos feridos, o Melo e o Peixoto, foram colocados num abrigo que servia de enfermaria improvisada uma vez que as restantes infra-estruturas se encontravam todas danificadas pelos constantes bombardeamentos que esta unidade tinha sofrido até à data, não oferecendo nem tendo quaisquer condições para socorrer os nossos feridos nem aqueles que já lá se encontravam.
Ai, tudo foi tentado para salvar os nossos companheiros que, em agonia de morte, aguardavam a sua hora de partida para a eternidade. Poucas horas passadas viria a falecer o Peixoto: veio-se assim, infelizmente, a confirmar o que poucas horas antes eu tinha pensado, quando o fui ver à viatura que o transportou do local da emboscada, de Cufeu até Guidaje.
Depois de mais uma baixa das nossas forças restava a esperança que o Melo viesse a ter melhor sorte, o que não viria a acontecer, tal era a gravidade do seu ferimento, que o levou ao estado de coma da qual não saiu até à sua morte, depois de evacuado para Bissau, para o HMB 241 e depois para a metrópole onde viria a falecer.
Não posso deixar de referir a coragem de um piloto dos Helis que se deslocou a Guidaje para fazer a evacuação do Melo, pois que como todos sabiam os riscos eram enormes naquela zona derivado à utilização dos Mísseis Strella (...).
22 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1622: A Última Missão do paraquedista Victor Tavares (Luís Graça / Torcato Mendonça / J. Casimiro Carvalho)
Carlos Marques dos Santos:
22 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2672: De Guidaje para Bissau, trinta e cinco anos depois (Diário de Coimbra / Carlos Marques dos Santos)
Rui Fernandes:
1 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2600: Os Mortos de Guidaje nas Notícias Lusófonas (Rui Fernandes)
Vd. também os postes de:
21 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1198: Antologia (53): Guidaje, Maio de 1973: o inferno (Aniceto Afonso e Carlos (1)
16 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXV: Antologia (16): Op Ametista Real (Senegal, 1973) (João Almeida Bruno)Matos Gomes)
Guiné 63/74 - P2780: Tabanca Grande (62): António Sá Fernandes, ex-Alf Mil que me substituiu no comando do Pel Caç Nat 52 (Joaquim Mexia Alves)
Carissimos [editores]:
Acabei de receber este mail do Sá Fernandes que confirma o que eu dizia.
Abraço camarigo
Joaquim Mexia Alves
Mensagem do António Sá Fernandes para o Joaquim Mexia Alves
Meu caro: É EXACTO, estás a raciocionar muito bem... Um dia destes escrevo-te algo sobre o assunto.
Um abração! Felicidades
Sá Fernandes - Valença
Telemóvel: 918 278 939
2. Mensagem anterior do JMA:
Vi a tua entrada no blogue da Guiné e logo fiquei a pensar se não embarcámos juntos no Niassa, em Dezembro de 71 e se não foste tu que me substituiste no Pel Caç Nat 52, no Mato Cão.
Deixei aliás no blogue um comentário neste sentido.
Sejas ou não, aqui vai um abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves
_______________
Nota dos editores:
(1) Vd. poste de 18 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2774: O Nosso Livro de Visitas (13): António de Sá Fernandes, ex-Alf Mil da CART 3521 (Guiné 1969/73)
sábado, 19 de abril de 2008
Guiné 63/74 - P2779: Estórias do Juvenal Amado (8): O último Natal em Galomaro (Juvenal Amado)
Caro Juvenal,
Esta história, que tu tão bem contas, não foi única. Aconteceu várias vezes ao longo do tempo que a guerra durou. A maioria a tiro (entre outros, o caso do Cap Romero, em Jumbembem, já aqui relatado) (1), um ou outro à granada, um ou dois enforcados, todos nós ouvimos falar ou mesmo presenciámos alguns destes casos. Assiste-te o direito de pôr reservas em divulgar este infeliz acontecimento, neste caso com um final feliz.
Publicar tal como está? Publicar com os nomes em iniciais? Ou não publicar?
O que decides?
Um abraço,
vb
2. Resposta de imedaito do Juvenal:
Tenho hesitado, por diversas vezes, em publicar esta história uma vez que envolve um drama pessoal. Por outro lado, penso que a nossa situação e o que se lá passou só pode ser retratado se não omitirmos as nossas tragédias pessoais. Só uma situação de dor extrema pode provocar tal agressão a nós próprios.
Dirão, quem não passou por lá, que este episódio nada tem a ver com a guerra. Mas nós sabemos o que levou a actos como estes.
Juvenal Amado
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3. UM SORRISO TÍMIDO
Juvenal Amado (2)
Ex-1.º Cabo Condutor
CCS/BCAÇ 3872
1972/74
Estávamos verdadeiramente enfastiados naquela noite. O calor dentro do abrigo era sufocante. Todo o dia à chapa do sol transforma-o num autêntico forno à noite.
O Aljustrel senta-se na cama com os pés pendurados e diz:
-Tenho ali uma garrafa de whisky que me está a estragar a mala toda.
- Não és homem nem és nada se não a fores buscar já - disse pouco convencido que o desafio resultasse.
Estávamos em Janeiro de 1974 e muitos dos meus camaradas já tinham feito a mala, convictos que a partida estava para breve. Tínhamos acabado de passar o terceiro Natal, facto que estava a mexer com a malta.
À luz dos petromaxes (em muitos locais), de camuflados, pratos e travessas de aluminio, assim se passavam os Natais em Galomaro e em quase todos os locais onde houvesse um aquartelamento. Os Comandos dos Batalhões e Companhias faziam questão em que a data fosse comemorada com bacalhau, batatas e rabanadas que nem sempre estavam em todas as mesas de todos os destacamentos, mas cerveja, vinhos e uísque raramente faltavam.
Nesta mesa de Natal o único sorridente era o alferes (um piriquito que, em rendição individual, tinha substituido o alferes Mota, morto pelo paludismo).
Natal em Galomaro. Rostos espantados para a máquina.
Fotos: © Juvenal Amado (2008). Direitos reservados.
O Aljustrel, acto contínuo, puxa a mala para cima da cama, abre-a, tira de lá uma Old Parr e diz:
- Vamos ter com o Ivo e bebemos lá a garrafa.
E assim só em calções, atravessámos o quartel, tendo cuidado de passar por de trás da messe, pois o comandante podia ver-nos e chatear-nos por irmos meios nus. Seriam perto das 21 horas, já era de noite há muito tempo. Entrámos no abrigo do Pel Rec e lá estava o Ivo.
Bebemos a garrafa. Aliás, coisa que não era nada difícil naquele tempo. Já meios atordoados, regressámos ao nosso abrigo pelo caminho mais curto, que era entre os abrigos e os edifícios que compunham os alojamentos dos oficiais e sargentos. Esse caminho embora mais curto, era cruzado por valas de escape, que davam acesso às valas de defesa, o que tornava o percurso cheio de armadilhas.
Lá chegámos ao nosso abrigo, seriam perto das 23 horas. Deitei-me meio zonzo. Ainda ouvi o pelotão de patrulha nocturna, no regresso ao quartel, proceder ao desarme da G3, tirando as balas das câmaras.
O alferes Lameiras comandava esse pelotão que regressava.O alferes entrou no quarto onde estava o tenente Matos e o alferes Orlando, que há já algum tempo não podia ficar sozinho. Encostou a G3 à parede, retirou o cinturão com os carregadores de munições bem como os porta-granadas e, como era costume, pendurou-o na própria espingarda.
O tenente, como estava pré estabelecido entre os oficiais, assim que chegou companhia para vigiar o camarada, saiu e recolheu ao seu quarto. O alferes Lameiras, pegou na toalha e dirigiu-se aos balneários para tomar banho.
O Alferes Orlando assim que ficou sozinho, levanta-se da cama, vai aos porta-granadas, retira uma defensiva, tira-lhe a cavilha, deita-se e lança a granada para debaixo da própria cama.
Mal tinha pegado no sono e um enorme estrondo ecoou. Saltei para a vala, mas como mais nada aconteceu, vi que não era ataque. Para os lados dos quartos dos graduados, é que havia algum reboliço e não foi difícil adivinhar, que algo de grave se estava a passar.
Estava um dos quartos totalmente esventrado, quase sem telhado, janelas e vários pequenos incêndios. No chão todo negro, quase irreconhecível no meio dos escombros, estava um corpo. Estava vivo.
O médico, mais enfermeiros, prestavam os primeiros socorros. Lascas de madeira, tinham-lhe dilacerado o corpo em especial as costas. Essas lascas eram da prancha de madeira, que era hábito pôr entre o colchão de arame e o de espuma, o que lhe acabou por salvar a vida.
Fomos como é bom de ver afastados dali, também nada podíamos fazer a não ser estorvar.
A evacuação só se viria a processar já de dia, uma vez que os helis não operavam durante a noite. A evacuação veio às primeiras horas da manhã.
Viemos a saber que em Bissau, foi internado no hospital militar, para tratamento das feridas do corpo e da mente. Por milagre não corria perigo de vida, felizmente.
No dia do embarque do batalhão, lá estava ele ainda convalescente no cais, a despedir-se, com aquele sorriso de menino tímido, que sempre lhe conheci. Ficou no cais a ver o barco fazer-se ao mar. Só virá a regressar mais tarde.
Muitos anos depois, soube que estava bem, que tinha ultrapassado aquele dia em que pensou resolver os seus problemas, através daquela granada.
Juvenal Amado
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Nota de Juvenal Amado:Os nomes dos intervenientes são forjados. Tive algum pudor em pôr os nomes verdadeiros, assim a estória poderá ser publicada como nosso direito de denunciar o mal que nos foi feito.
Para este camarada foi possivelmente demais o terceiro Natal .
Todos nós quando embarcávamos para a Guiné sabiamos que a comissão não deveria ultrapassar os 18 meses. Facto que nunca se cumpriu e que, no nosso caso, se juntarmos o tempo de viagem foram 27 meses. É pois para publicar se tiver valor para isso.
Juvenal Amado
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Edição de vb.
(1) Vd. texto de 8 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2335: A trágica morte do Cap Rui Romero: 10 de Julho de 1966, dia de correio (Artur Conceição)
(2) Vd. última história do Juvenal: 30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2702: Estórias do Juvenal Amado (7): A Caminho de Buruntuma (Juvenal Amado)
Guiné 63/74 - P2778: Álbum das Glórias (45): Bacari Soncó, ex-comandante do Pel Mil Finete e actual régulo do Cuor, Janeiro de 2008 (Beja Santos)
Foto: © Beja Santos (2008). Direitos reservados.
1. Mensagem enviada pelo nosso amigo e camarada Beja Santos, em 7 de Fevereiro último. Recorde-se que
No dia de Natal de 2007, fui a casa do tenente-coronel Henrique Jales Moreira, o último oficial de operações em Bambadinca, [ BART 3873,] e entreguei-lhe uma carta para Bacari Soncó, um dos meus mais queridos amigos, antigo comandante de milícias de Finete e actual régulo do Cuor.
A resposta acaba de me chegar pelas mãos de Cherno Suane. Ficamos a saber que Bacari Soncó também nunca me esquece, que sente a responsabilidade de zelar pelas gentes do Cuor e sofre com os estilhaços de uma bala que lhe dificulta o andar.
Vou já escrever-lhe para lhe dizer que no dia 6 de Março [de 2008] só pensarei nele no lançamento de um livro onde os Soncó são exaltados como gente hospitaleira e de uma bravura inexcedível (1).
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Nota de L.G.:
(1) 1) Vd. postes de
8 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2617: Lançamento do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)
16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2647: Imagens da apresentação do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P2777: Blogoterapia (49): Literatura da Guerra Colonial (Augusto Dias)
Augusto Dias
Ex-Fur. Mil. Enfermeiro
Há dias vi um programa na TV sobre a guerra "colonial", que procurava perceber a causa da actual proliferação de tanta literatura sobre o assunto.
A guerra "colonial" com todas as outras guerras maiores ou menores, mundiais ou regionais, não passam do único processo que o homem tem de resolver os seus diferendos.
Guiné, bolanhas, riachos, água, paisagens africanas de fazer os olhos felizes nos intervalos das batalhas de uma das mais cruentas Guerras da história de África.
Selvagem, que a evolução ainda não conseguiu sublimar os instintos predatórios primários, o homem encara e sempre encarou, a guerra como uma das suas principais atribuições, no seu mundo dito "civilizado". Tal acontece, por desprezar a existência do seu semelhante, que elimina, sem pestanejar, sempre que acha necessário.
Este acto de eliminação não é incriminado por nenhum código penal, pois o fazer a guerra, é ter autorização para matar impunemente e, não me venham com essa treta das regras da guerra, nela vale tudo de acordo com as necessidades.
Ainda o combate decorria, o corpo ainda quente a ser coberto pelos Camaradas.
"Op Ostra Amarga" (*). Imagem obtida momentos após a emboscada que custou dois mortos à CCAV 2487 e extraída do filme da reportagem efectuada por um grupo de jornalistas franceses ao território da Guiné. Em I.N.A., com a devida vénia.
Protegida pelo "código de honra da guerra", a barbárie indiscriminada é de todas as bandeiras e, a perversidade aceite como táctica. Numa guerra nunca há um lado bom ou um lado mau, só há um lado sem qualquer qualificação, onde sem nó nem piedade se soltam os cavaleiros do Apocalipse. Maldita condição humana: A GUERRA.
De tudo o que ouvi, das causas da presente literatura dedicada ao conflito africano, chamemos as coisas pelo seu nome, nada de alcunhas de circunstância, não me ficaram mais do que subjectivas interpretações, produto da factualidade da vivência, por isso limitada, destes novos salvadores da honra nacional.
A literatura não abundou anteriormente, por que nós por cá, interpretámos a guerra africana, não como um conflito para onde as forças das circunstâncias nos tinham atirado, mas de como, algumas "mentes brilhantes", complexadas e comprometidas, defendiam, um acto criminoso, efectuado por criminosos, a mando de criminosos.
Como é que uma pessoa, cuja acção é considerada criminosa, pode falar dela? Como é que uma pessoa, por contar uma história de sangue, suor e lágrimas, a sua própria história, é considerada criminosa?
Hoje, com o declínio dos opinion-makers da desgraça, que só viam na guerra africana, nada mais do que um chorrilho de massacres praticados pelos intervenientes portugueses, as pessoas começam a contar as suas vivências e com elas formar a história dessa guerra, não abjecta como muitos nos querem fazer crer, mas de uma inevitabilidade factual, que levou milhares e milhares de jovens, abnegadamente, a defender a Pátria.
Relembrar os que voltaram e nunca esquecer os que lá ficaram, é mais que uma obrigação, é um dever.
Falar mal da nossa gesta africana é pôr toda a nossa história em causa. O D. Afonso Henriques, que recusou ser vassalo e foi matador de mouros, os nossos grandes navegadores, desde o Bojador até à Índia dos marajás, os que aportaram à Taprobana, Calecut e a malta do Malabar, os intrépidos da China dos mandarins e do Japão dos samurais, os almirantes do Índico, os mercadores das especiarias, os que nos apresentaram ao Mundo, os que se afogaram, os que foram mortos pela espada, os que apodreceram com escorbuto, os que mirraram nas prisões, os que ninguém conheceu e não fala deles, os que naqueles tempos, defenderam os de hoje, quem sabe até, se na fúria doentia de tudo querer deitar borda fora, queiram considerar o Condestável um general criminoso, por ter feito o castelhano cair na armadilha e depois foi um matar que fartou. Eu, só choro Alcácer Quibir e agradeço a Camões, por mim e pela Pátria.
Nós não passamos daquilo que somos, uns mesquinhos que, para ganhar notoriedade, passamos a vida a dizer mal de nós próprios.
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Fixação e adaptação do texto da responsabilidade de vb. Artigos relacionados em
(*) 15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amère para a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça) e
9 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1510: Os heróis do Chão Manjaco e o Alferes Giesteira (Paulo Raposo)
Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra
a outra face da verdade
é só
o outro lado da história
é apenas
outra maneira de sentir
é só
o reverso da medalha
o outro ângulo
outra maneira de ver
e põe em causa
a minha razão
mas terei nunca
vergonha
desta farda que me cobre
quero sim é entender
a outra face da verdade.
Mampatá 1974
josema
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