Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 18 de outubro de 2008
Guiné 63/74 - P3332: O meu baptismo de fogo (13): Tite, 1964 (Santos Oliveira)
1. Mensagem de Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66 (*), com data de 16 de Outubro de 2008, com a sua contribuição para a série O meu baptismo de fogo:
Vinhal
Não sei se o meu ou os meus baptismos de fogo interessarão a alguém. Estão encadeados noutros episódios e isso (ainda bem) parece ter diminuído todo o impacto que a cada um de nós causou (ou causava).
Se bem te parecer não tenhas qualquer relutância em fazeres censura. Eu entendo. Talvez por isso não tenha escrito nada.
Não estou distraído com o Blogue nem com o que por lá se vai passando. Quando tiver de intervir, bem sabes que o farei.
Um abraço a esse nosso Mundo
Santos Oliveira
PS: Depois dá uma qualquer dica sobre o que se te oferecer dizer
2. Comentário de CV
Peço ao Santos Oliveira e a todos os camaradas que não usem a palavra censura. É ofensiva a quem, por carolice, mantém o Blogue activo, dando voz a quem talvez não tenha outro meio para poder trasvazar os seus recalcamentos, desabafar e criar amizade com aqueles que sentiram os mesmos problemas, que melhor os compreendem, os seus camaradas.
Volto a repetir o que tantas vezes já disse. Se não dermos seguimento a alguma mensagem portadora de textos ou fotos para publicação, mandem outras de protesto, de lembrança, mas não nos acusem de censura. O que não publicarmos não é por motivo de censura, mas por esquecimento ou incompetência.
OBS:-Sublinhados da responsabilidade do co-editor
3. O meu baptismo de fogo
por Santos Oliveira
Se der para sorrir, já é um grande serviço prestado à nossa Comunidade de Veteranos.
Cheguei a Bissau a Bordo do N/M Manuel Alfredo, no dia 19 de Setembro de 1964.
Após a transmissão de poderes de Comando das mais de 60 Praças (como eu, em Rendição Individual), lá fui encaminhado, com o meu assessor, Fur Mil At Infª Carlos A.S. Costa Brito (Pel Ind Caç 956) paro o QG, a fim de fazer as Apresentações da praxe.
Próximo, como foi, da hora de jantar, lá me apressei, com as condicionantes ridículas de ainda não poder ser contemplado com o devido repasto. Depois de algumas fricções lá tive direito à minha refeição de... muitas espinhas e pouco bacalhau.
Novo problema surgiu quando me foi comunicado que só pelas 6 horas da manhã do dia imediato é que teria maré e barco, para me levar na travessia do Geba, até ao Enxudé (mais ou menos 14 Km).
Do mesmo modo também não havia alojamento para nos receber por uma noite.
Puxa para aqui, puxa para ali e lá nos foi disponibilizado um colchão para que pudéssemos encostar a um qualquer canto. Isto demorou imenso e a noite já começava a ser longa.
O primeiro ataque, o grande ataque, foi dos mosquitos, que nos mantinha, obrigatoriamente alerta; é que nem dava para se ter a cabeça debaixo do lençol, pelo calor e pela inabituação climática.
Eis que se começam o ouvir os primeiros rebentamentos e tiros isolados, depois umas quantas rajadas, toda a gente a correr numa desordem mais que caótica, mais uns rebentamentos e... o silêncio.
Parece que os Camaradas do BCAÇ 600, ou da Companhia que lá estava (agora não recordo) já estavam habituados a estas recriações.
No final, quase na hora de ter que vir para o barco, fiquei a saber que as Tropas Nativas levavam para a Tabanca as suas armas e munições e o Copilão não era um local muito sossegado pela noite.
E estive eu a interrogar-me que se o IN era assim no QG e em Bissau, como seria quando chegasse ao Mato?
Lá embarquei para Tite, cheguei ao Enxudé e logo tive contacto com os que seriam os meus Companheiros do Pel Mort 912 que aí estavam em Destacamento; mas havia que fazer as formalidades de apresentação ao CMDT do BCAÇ 237/599, Ten Cor Hipólito e Maj D Gama. Para isso teria que aguardar a coluna que, diariamente, fazia aquela ligação.
Tite > Na foto, a messe de Sargentos reporta a 1964, ainda com o BCAÇ 599.
Apresentado em Tite, logo se me deparou o mesmo improviso tanto na alimentação como no alojamento. Desta feita, nem tive direito a um colchão, mas a uma maca de enfermaria.
Lembro-me que me valeram os Fur Mils Miguel Silva e José Manuel Concha, ao improvisarem um mosquiteiro para que não fosse mais comido por esses malfadados amigos picadores e zumbidores.
Quando, finalmente tudo parecia ir dar uma boa noite de sono, o IN fez a rebentar, a festa do costume.
Lembro ter dito ao Miguel:
- O que fazemos, pá? Eu nem tenho arma distribuída!
Ele disse para o seguir e ficar próximo.
Lá corremos para trás dos bidões cheios de terra até tudo terminar.
Ou não tive medo ou não tive consciência da gravidade do que se passava.
Mas foi extremamente útil para mim ver que a impreparação militar e psicológica das NT e, isso, eu teria de corrigir. Até se me tornou muito positivo.
Tite > Foi por trás destes Bidões que me fiquei com o Miguel.
Fotos: © Santos Oliveira (2008). Direitos reservados.
E foi assim que entendo ter sido um (ou dois?) baptismo de fogo, onde outros factos mais marcantes, apagaram toda a expectativa desse momento solene.
_______________
Nota de CV:
Vd. poste de 15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)
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4 comentários:
Peço desculpa pública ao Vinhal e a todos os tertulianos que possam não ter entendido a palavra censura, dentro de todo o contexto. Esse preâmbulo até seria a parte que não deveria constar, como se pode ler.
Na realidade (o Português pode ser muito traiçoeiro) a leitura “diz-nos” que se o Vinhal (ou o Blogue) entendesse pela não publicação, teria não só, toda a liberdade, como a minha antecipada compreensão.
Está muito longe de mim, susceptibilizar, ofender ou minimizar a equipa Editorial.
Eu, não sou assim!
Dos recalcamentos, falo para o vento…
Abraços
Santos Oliveira
Aos Camaradas e Público que nos visita
Relativamente a este Post, tomei a atitude pública que me impus, ao fazer o primeiro Comentário ante a crueza e deselegância da Nota Editorial, inserta, embora despropositada.
Perante a ausência de qualquer acto e a observância do facto consumado e silêncio, tomei a atitude de publicitar o que deveria continuar a ser do domínio interno e privado.
Não venho aqui exigir o Direito de Resposta com DESTAQUE IDÊNTICO, nem o Reparo dos danos morais que aquela inserção produziu. Jamais teria o mesmo efeito.
Apenas quero deixar para apreciação pública o teor do Mail que remeti ao Blogue, com a esperança que o bom censo imperasse e, se não se REFIZESSE O POST, pelo menos a dignidade e a boa educação se destacassem.
A honra e a verticalidade constroem-se desde a nascença.
Até agora, não me foi endereçada qualquer resposta.
Assim, solicito a V. paciência e atenção
________________________________________
De: Santos Oliveira [mailto:santosoliveira912@gmail.com]
Enviada: domingo, 19 de Outubro de 2008 13:55
Assunto: Comentário ao P3327: O meu baptismo de fogo (13): Tite, 1964 (Santos Oliveira).
Camaradas
Depois de uma noite no travesseiro, entendo fazer alguns reparos acerca da forma como foi exposto no P3327: O meu baptismo de fogo (13): Tite, 1964 (Santos Oliveira).
Não questiono a orientação editorial, mas o que é um assunto da Comunidade Tertuliana que somos, certamente necessita ser esclarecida.
De Comentários Públicos, já coloquei o meu no recipiente próprio.
Quero dissecar, por partes, a minha Comunicação aos Editores do Blogue.
1º - O meu Mail era composto de uma nota, que se entende claramente de índole pessoal, e destacada por um Post Sriptum, ao qual não houve qualquer eco, ou atenção, como seria de bom-tom.
Não seria de publicar NUNCA, embora pudesse ser aludida.
2º - A segunda parte foi enviada com a Mensagem, devidamente estruturada e documentada (esta sim, pronta a ser inserida, se…) e com o subtítulo: Se der para sorrir, já é um grande serviço prestado à nossa Comunidade de Veteranos.
Foi entendido, pelo Editor, tomar parte activa e integrante no texto original, para o que tomou uma palavra perfeitamente legítima e correctamente inserida no discurso, (mas que não fazia parte do Doc. Em questão), para inserir UMA REPREENSÃO PÚBLICA REGISTADA.
Por outras palavras vou reformular o que lá digo (subentenda-se):
NÃO SEI SE ESTA NARRAÇÃO TEM INTERESSE PARA ALGUÉM, ATÉ PORQUE NÃO SENTI O MEDO. MAS MEDO, MEDO, TIVE-O MUITAS VEZES E DE MODO MUITO INTENSO, MAS NINGUÉM DEU POR ISSO, COMO CONVINHA. PORTANTO, SE ISTO NÃO INTERESSA, NÃO PUBLIQUES.
Preto no branco. Não há qualquer conotação de identidade com a famigerada Inquisição do Lápis Azul (Comissão de Censura).
Sei que crises de identidade acontecem, mas não sou eu quem as tem.
Por carolice, estão todos os que colaboram a criar actividade ao Blogue e não apenas os Editores.
Para transvazar recalcamentos, disse-o no Comentário Público, eu sopro para o vento, porque sempre que busquei um apoio mínimo entre os pares, nunca houve ninguém disponível; e nem uma palavra vazia por resposta (nem resposta).
Mas o que neste Post está mais em destaque, nunca mais se venha a ver, sob pena de se perder quanto se construiu.
O importante, na grandeza deste projecto, é criar rumos que redefinam o modo de caminhar em frente, melhorar o que é possível ser melhorado, mas sobretudo não se criarem desvios ao que parece dever ser o objectivo:
CRIAR A HISTÓRIA que os nossos antigos Chefes e Governantes não quiseram fosse conhecida.
E há mais em falta no AHM, que o que na verdade lá está arquivado.
Esta História, na sua maior parte, irá morrer connosco, embora ainda haja tempo de ser salva.
Para isso, temos de nos certificar que o que escrevemos ou publicamos sejam as dores, sofrimentos, lutas, lágrimas e sobretudo factos.
Que quantos nos consultem jamais venham a encontrar mais um só Post criado por uma simples inserção de Mail ou Doc., porque isso, jamais foi Edição.
Ao Editor cabe a coordenação das gralhas, as anotações, os arranjos estéticos e tudo oque aprofunde, valorize, ou exalte o discurso.
Para Comentários de índole pessoal, o Mail, o telefone ou o seu Comentário Público, como para os restantes Camaradas.
Ainda com um abraço
Santos Oliveira
(Relações Públicas e Comunicação)
É feio o que os responsáveis fizeram ou estão fazendo.Nunca tal deveria vir ao domínio público.Não sei se houve qualquer resposta ao S.Oliveira, mas o que se vê, é que não houve.
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