sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3329: Breve resumo da História do BCav 490 (1963/65) (Virgínio Briote)

Batalhão de Cavalaria 490 (II)

Sempre em Frente




4. Actividades no CTIG

Não é vocação do nosso blogue enumerar em detalhe todas as actividades desenvolvidas pelas unidades que operaram no território da Guiné. Para além de ser fastidioso, nem a própria História do BCav 490 as descreve na totalidade. Assinalarei, assim, as que o Batalhão considerou:

- Após o desembarque foi-lhe atribuída a missão de intervenção à ordem do Com-Chefe.
- Manteve-se em Bissau até 2Agosto 1963, escoltando embarcações e efectuando patrulhamentos.
- A região do Oio, na altura, uma das zonas sob maior pressão da guerrilha estava à responsabilidade do BCaç 512, com a sede em Mansoa. A partir de 2 Agosto e até 29 Dezembro de 1963, duas Companhias do BCav 490 passaram a colaborar em permanência nesta região. Eram rendidas uma de cada vez pela outra Companhia estacionada em Bissau.
Bissorã e Mansabá, principalmente, foram as zonas onde as Companjias mais actuaram, levando a cabo patrulhamentos, emboscadas, remoção de abatizes e operações de maior envergadura.

Entre estas, destacam-se:

27 Setembro, op “Adónis”, na zona compreendida entre as povoações de Mindodo-Sansabato-Iracunda-Fajonquito-Maca, efectuada pela CCaç 487.

Depois da divisão das forças executantes, foi cercada, ainda de noite, a povoação de Sansabato. Capturados diversos elementos que estabeleciam a ligação à guerrilha. O chefe da tabanca de Sansabato era um dos guias. População e sentinelas fugiam à aproximação das tropas.
À entrada da mata de Mindodo foram recebidas com fogo nutrido e a curta distância (o relatório refere a cerca de dez metros). Os prisioneiros não amarrados escaparam-se no meio da confusão. As tropas recuaram para a orla da mata, espalhando toalhas brancas para assinalar a posição ao apoio aéreo que tardava. Deficiências da ligação rádio impediram a comunicação com uma Auster que sobrevoava a área.
Às 11h15, sem apoio aéreo, foi decidido pelo Cmdt das forças, o Cap Cav Romeiras da CCav 487, retirar em direcção ao Olossato. Durante a retirada manteve-se a troca de tiros. Dois quilómetros andados apareceu uma parelha de T-6. Assinaladas as posições, foi decidido regressar. Sob fogo intermitente do IN as NT entraram na mata. Emboscadas à queima roupa, reagiram, abatendo quatro guerrilheiros e capturaram uma PM e uma pistola. Nesse mesmo local foi encontrado morto o chefe da tabanca de Sansabato.

2 Novembro 1963, op “Adónis B-3”. Zona de Morés, a cargo da CCav 489, sob o comando do Cap Cav Pais do Amaral, participando ainda na acção o Cmdt do BCav 490. Trata-se de um relatório com 8 páginas.
Saída de Mansabá às 23h00 de 2 Novembro. Repartidas as forças, enquanto umas emboscavam, as outras marchavam em busca do acampamento de Morés. Cerca das 04h30 os dois homens da frente da força atacante abriram fogo de G-3. Progredindo encontraram um ferido armado com uma PM. À medida que lhe prestavam os primeiros socorros sacavam-lhe informações. Avistado outro guerrilheiro ferido em fuga, a uma distância que não foi possível tentar a perseguição.
Na progressão foram encontradas várias munições e carregadores. Debaixo de fogo intermitente as tropas penetraram na tabanca de Morés às 08h30. Encontrado um casal idoso, ele acamado e a mulher ao lado. Informações obtidas no momento confirmaram as anteriormente recolhidas. O acampamento situava-se junto ao caminho que de Morés conduzia a Talicó, a meio de duas bolanhas. Às 10h00 um heli recolheu o guerrilheiro ferido. Uma hora depois chegou também de heli o Com-Chefe.


A Bandeira Portuguesa subiu em Morés pelas mãos da CCav 489

Na presença do Comandante-Chefe fez-se uma pequena cerimónia, foi hasteada a bandeira portuguesa e alguns militares aproveitaram para tirar chapas. Foram destruídas cerca de 60 barracas nas imediações.

Com a prisioneira como guia as tropas continuaram a progredir em direcção à casa de mato que se pensava ser o QG dos grupos que nos últimos tempos têm desencadeado acções sobre a tropa e população. O IN aguardava-os pacientemente. Atacados pelos flancos as tropas atacantes reagiram com tiros de bazuca trazendo acalmia momentânea. A cada passo reacendia-se a refrega. Momentos houve, que o relatório minuciosamente descreve, em que quase se combateu tiro a tiro, individualmente. As nossas tropas tinham feridos e corpos de guerrilheiros espalhavam-se pela mata. O 1.º Cabo Enf Carvalho de Brito foi atingido quando estava a socorrer um soldado ferido. Os alf mil Rui Ferreira e furr mil Covas transportaram para a retaguarda um dos feridos mais graves.

45 minutos de inferno de fogo e sangue, é desta forma que o relator resume estes acontecimentos.

Morés foi atingida às 16h00 e foi a esta hora que chegaram os helis para procederem à evacuação dos feridos. Evacuação inútil para a vida do 1.º Cabo Enfº Carvalho de Brito.
O TCor. Cavaleiro decidiu que se devia permanecer em Morés até ao dia seguinte. Preparou-se a noite. Escolheram-se os locais para as sentinelas, limparam-se alguns arbustos e improvisaram-se abrigos.
Às 19h00 recomeçou o tiroteio, interrompido pela reacção das NT e recomeçando às 22h00. Elementos INs, ao abrigo da escuridão, aproximaram-se do improvisado aquartelamento e arremessaram granadas de mão. Às 01h00, 2h00 e 3h00 os ataques foram feitos com mais força e as flagelações vinham de vários lados. Ouviam-se claramente palavras de incentivo, “por aqui”… ”vamos”.. ”vamos embora”…
Uma noite que o relator diz ter sido interminável.

Pela manhã mais dois feridos foram levados pelo heli que trouxe água, munições e alimentação.
Foram rendidos cerca das 12h00 por 2 GrComb, um da CCav 489 e outro da CCaç 461. Estes grupos tiveram a marcha atrasada pelo rebentamento de um fornilho com flagelação de tiros de PM e remoção de abatizes.

A CCav 489 (-) retirou então, não sem se deparar com 24 abatizes no trajecto Morés-estrada de Bissorã e ter sofrido uma emboscada nesse local. O condutor de uma das GMCs foi atingido nas pernas por estilhaços de GM (oito furos foram contados na porta da GMC). Por várias vezes a fuzilaria interrompia-se subitamente e da mesma forma se reacendia, causando mais dois feridos às NT. Foi abatido de uma árvore um elemento In. Eram 16h30 quando viram finalmente Mansabá.

A constante actividade das Companhias do BCav 490 obrigou o IN a nunca pernoitar noites seguidas no mesmo local. A operação realizada em 2 Novembro pela CCav 489, que se manteve no local duas noites seguidas, deu os frutos no imediato. A actividade IN reduziu-se significativamente, ao ponto de em Dezembro, as escoltas nos principais itinerários do Sector, Mansoa-Mansabá e Mansoa-Bissorã, passarem a ser feitas com efectivos de secção.


As baixas do BCav 490 no Oio
Mortos: 2
Feridos: 19

As baixas do IN
Mortos: 36
Feridos: 80
Prisioneiros: 12

Material Capturado
2 PM
1 Pist
2 Longas
3 Minas A/C
10 GM
1 Armadilha com 3 petardos de trotil
2 Fornilhos
2.000 munições e
Documentação vária
__________

Notas:

1. Artigo extraído da História do BCav 490

2. Artigo relacionado em 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3326: Breve resumo da História do BCav 490 (1963/65).

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