domingo, 8 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3997: Agenda cultural (3): O pintor Manuel Botelho no semanário "Sol". V. Briote
























Manuel Botelho na oficina.


A Arte da Guerra

por Manuel Botelho



Manuel Botelho, no semanário Sol. Revista “Tabu”, 28 de Fevereiro de 2009
Em Setembro de 2006, dirigiu-se ao Museu Militar. Recebido “calorosamente” pelo director, o Coronel Ribeiro de Faria, expôs o que o lá levava: fotografar tudo o que pudesse sobre o tema da Guerra.
Teve acesso às armas (“às tantas, o chão estava coberto delas”), e foi-lhe disponibilizada uma sala para trabalhar.
O seu local de trabalho foi ali, no Museu, até Novembro de 2007.
Fotografou G-3 e Kalashs, FNs e Mausers. Vestiu-se de soldado, encenou situações de guerra, num cenário de terra e plantas secas. Para compor o cenário, percorreu a feira da Ladra, à procura de camuflados, facas de mato, cantis..
Depois de expor o seu trabalho em três locais, Manuel Botelho continuou a aprofundar a temática da Guerra na sua casa, em S. Pedro do Estoril.
 
"A terra, ao contrário da nossa, é vermelha viva, cor de tijolo, a erva de um vermelho profundo..."

"Estou farto da cor verde: fardas verdes, viaturas verdes, paisagem verde, aviões verdes, camuflados verdes, tudo verde. A água dos autoclismos é verde limosa. A urina e o ranho são esverdeados, até o vinho é verde. As casernas são verdes também. E as portas e janelas. E o lado de dentro das paredes..."

Despedida ou reencontro?

Manuel Botelho inaugurou a 1ª exposição, a que deu o nome “Aerogramas”, no passado dia 7, no Porto, na Galeria Fernando Santos.

“São desenhos para olhar, mas também para ler – incluem excertos de depoimentos e correspondência de onde sobressai a presença ou o discurso feminino, visto tratar-se de mensagens trocadas entre os militares e suas mães, namoradas, mulheres ou madrinhas de guerra.”

“Madrinha de Guerra” é o título da 2ª exposição de fotografia a inaugurar no dia 14, no Centro Cultural de Lagos.
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Notas de vb:

1. Texto e fotos extraídos da Revista, semanário "Sol", de 28 de Fevereiro de 2009. Coma vénia devida aos autores.

2. Artigo referido em
6 Março 2009 > Guiné 63/74 - P3989: Agenda cultural (2): O pintor Manuel Botelho expõe no Porto e homenageia o malogrado Sold Cond Soares, da CCAÇ 12 (Beja Santos)
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Texto de Vladimiro Nunes e fotografias de António Pedro Santos.

“Manuel Botelho ganhou renome a desenhar e a pintar, mas para fazer arte com a guerra colonial, precisou do realismo da fotografia.”

“Nasci em 1950 e a guerra começou quando eu tinha 11 anos. Aos 12 ainda não tinha acabado, aos 13 também não, nem aos 14, aos 15, aos 16…O tempo ia passando, a guerra nunca mais acabava e eu vivia no terror do que ia acontecer quando fosse mobilizado. Só não fui porque estava a acabar o curso de arquitectura e tive a sorte monumental de, entretanto, ter vindo o 25 de Abril. Mas, quase até aos 24 anos, vivi num terror pavoroso de i para a guerra. Foi o pesadelo da minha adolescência”.

Manuel Botelho quis levar mais longe o tema da Guerra, que começara a tratar numa série de desenhos e pinturas que expôs em 2006, na Galeria Lisboa 20.

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