terça-feira, 10 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4008: As abelhinhas, nossas amigas (1): Com NEP ou sem NEP ... (Luís Graça / António Matos)

1. O Mexia Alves (*) levantou uma questão processual e deu-nos aqui uma boa sugestão. Refiro-me à famigerada NEP das abelhas, que ele jura que existe(ou existia, no nosso tempo) mas que nunca ninguém viu.

A título de curiosidade, também me meti nas minhas tamanquinhas e fui procurar... Deitei mão ao Manual do Oficial Miliciano, ou parte dele, já aqui publicado no blogue (Refiro-me à cópia, parcial, que nos chegou, por cortesia do A. Marques Lopes, nosso camarada, Cor DFA Ref, que tem também andado arredado das nossas blogarias) (**).

Népias, o book deve ter sido escrito por um qualquer prussiano da Guerra de 14, não encontro nenhuma referência à tal NEP das abelhas. De qualquer modo, devo acrescentar que o acrónimo NEP deve querer dizer Normas E Procedimentos (Nunca fui bom em secretaria, razão por que me mandaram para a especialidade de Atirador de Armas Pesadas de Infantaria e, como prémio, meteram-ne num barquinho a caminho da Guiné e lá deram-me uma G3).

Como é sabido, a vocação do nosso blogue é contar histórias (não as dos outros, como fazem os jornalistas, os ficcionistas, os cineastas, etc.), mas as nossas próprias... Nós fomos actores numa guerra (que nos calhou em sorte), e é dessa guerra que devemos falar, não do antes e do depois, das causas e consequências, das causas remotas e próximas, e das consequências~, locais, regionais e globais (políticas, económicas, sociais, culturais, diplomáticas...) mas das estruturas, dos processos e dos resultados...da guerra.

Ora as tais abelhas ou abelhinhas ("africanas, selvagens, assassinas") também nos combatiam... Não sei porquê, mas acho que tinham alergia, não à cor da pele, mas à nossa farda (em especial ao camuflado; ou seria ao cheiro a merda que exalávamos no regresso ao quartel ?): de facto, tanto atacavam os tugas como os seus aliados fulas, que eram pretos retintos, a maior parte deles (tirando os futa-fulas)... Falo por experiência própria (enquanto operacional da CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71).

Mas pergunto-me: será que elas, as abelhas da Guiné (**), também foram treinadas na China, tal como o Nino Veira, o últimos dos comandantes do PAIGC, agora morto, "de morte matada" ?

Cá está um ponto que eu gostaria de ver descrito, documentado, ilustrado, discutido, analisado, dissecado, postado no nosso blogue, indo atrás da sugestão do Mexia Alves e já entusiasticamente apoiada por diversos camaradas...

Sugiro, pois, a criação de uma nova série: "As abelhas, nossas amiguinhas"... ou "As abelhinhas, nossas amigas". Gosto mais da segunda alternativa, é um título mais ternurento...

O título é irónico, claro: eu soube, por diversas vezes, quão dolorosa era uma só picada destes terríveis insectos... Agora imaginem mil!... Caí em várias emboscadads onde elas eram foram muito mais eficazes do que as costureirinhas, as kalash, os morteiros ou os RPG do Inimigo.

O Mexia Alves deu o pontapé de saída, lançou a granada de fumos, armou o granel, mandou o piquete de serviço à procura da NEP... Quem vier a atrás, que feche a porta ou se atire ao primeiro charco que encontrar... Por mim, obrigado, amiguinhas. Ainda temos umas contas para ajustar, ao fim destes anos todos...com ou sem NEP.

O Mexia Alves é um bom cristão, mas como eu costumo recordar Cristo, Deus Filho, mandava ser bom, mas Deus Pai, não mandava ser parvo.... As outras contas (com os homens), essas, já as perdoei... Acho eu de que... LG


2. Comentário do António Matos ao poste do J. Mexia Alves (*):

Caro Joaquim,

As abelhas ...

Confesso que, para além dumas colheres de mel que emborco cada vez que apanho uma daquelas gripalhadas de caixão à cova, passo infinidades de tempo sem me lembrar das ditas. Excepção quando sou obrigado a "conviver" com elas, por isto ou por aquilo.

Que me recorde, o meu 1º encontro de homem-para-abelha que tive na vida foi precisamente na Guiné.

Relatei-o num dos primeiros postes que mandei para o blogue e cujo cenário estava montado no meio dum campo de minas, algures entre Ponta Matar e Choquemone, à beira da estrada Bula - S.Vicente.

Aí, e com um barulho de aproximação a fazer lembrar o ronco dum automóvel de corridas, ficámos colados ao chão quando, olhando para cima, vimos uma núvem delas ! Pararam a deslocação e planaram ...

Do enxame libertou-se uma delas que picou na nossa direcção com o "consentimento" e passividade do grupo ...

Desceu, desceu e aterrou no corpo do camarada Luís Faria ... Com nervos de aço, o Luís "permitiu" que ela o "farejasse" ... Todos estávamos transpiradíssimos, de tronco nu, a "assentar" minas ...

A abelhinha, que não tinha aspecto de abelhinha Maia, caminhou para-ante-pata, pelo peito do Luís, depois pela perna (ah! estava de calção curto !!) e enfiou-se no cano da bota !

O momento foi de uma tensão incalculável pois o "pelotão de fuzilamento" mantinha-se em posição de ataque lá em cima !!

A páginas tantas, incomodada talvez pelo cheiro que aquela bota poderia estar a exalar, saiu, cumprimentou e levantou voo, dirigindo-se, com todas as outras, em direcção a S. Vicente.

Não houve ataque, não houve feridos, mas a estória ficou!

Já o mesmo não direi dum verdadeiro "arrastão" que um outro enxame fez ao passar pelo quartel de Bula. Alguns feridos, alguns olhos inchados, anti-estamínicos esgotados, mas, parece-me, o maior azar foi dos macacos que existiam por lá. Passada a loucura, contabilizaram-se variadíssimos bichos mortos a atestar da sua perigosidade.

Finalmente, e porque a curiosidade da coincidência do tema é, no mínimo, engraçada, posso-te contar que no último fim de semana, em Leiria, e numa prova dum campeonato de karting em que participo, fui visitado por um desses "adoráveis" estupores que invadiu o interior do capacete o que, calcularás, provocou um quase acidente e a perca, óbvio, de qualquer veleidade de campeão !!!

Em todas estas experiências, porém, nunca me lembrei que poderia haver uma NEP que ensinava como bem domar uma abelha, se mergulhando no rio mais próximo, se ir a correr para os bombeiros e pedir-lhes que lhes apontassem a mangueira ao focinho. E ainda bem porque em todos os casos estava demasiado longe desses apoios logísticos o que complicaria a situação pelo stress que provocaria !

Um abraço e ... cuidado que elas ferram mesmo ! (***)

António
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 9 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4005: Para amenizar, quem conhece a NEP das abelhas? (J. Mexia Alves)

(..) Era conhecida pela NEP das abelhas e eu nunca a vi e nunca a li, mas ao que me diziam, continha coisas de "bradar aos céus".

Segundo diziam, a NEP preconizava entre outras coisas, em caso de ataque de abelhas, a entrada imediata no curso de água mais perto... Dizia-se também que a mesma aconselhava o rebentamento de granadas de fumo, talvez com o intuito de dar a conhecer ao inimigo a nossa posição!!!

Não sei se a NEP existia ou não e se continha tais "conselhos", mas embora nunca tenha tido nenhum ataque de abelhas, sei que era uma coisa terrivel, que fazia o pessoal atacado entrar num descontrole total e lembro-me de ouvir referir, que um Alferes de uma Companhia Independente teria morrido na mata de vido às multiplas picadas de um ataque de abelhas.

Alguém sabe alguma coisa sobre isto, da NEP, ou mortes causadas pelas abelhas? (...)


(**) Vd. postes de:

3 de Abril de 2008 >Guiné 63/74 - P2717: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (1): A Selva, perigos, demónios e manhas (A. Marques Lopes)

9 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2738: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (2): A Selva: Struggle for Life... (A. Marques Lopes)

(***) Vd. Wikipédia > Abelha africana (Apis mellifera scutellata)
Vd. também Killer bees

2 comentários:

Anónimo disse...

É lá, ó Luís camarigo, o Mexia Alves não jura que a NEP existe, ou existiu, porque até diz no seu pobre texto que «Não sei se a NEP existia ou não»!

Ok, eu percebo, é para dar mais força à pesquisa.

Bem o que eu me lembro é que tinha sido uma NEP feita na Guiné, por aqueles anos, precisamente pelos problemas constantes que estavam acontecer por causa das abelhas, que teriam causado mortes.

Dizia-se então que a NEP tinha coisas de rir, (ou de chorar, conforme o entendimento), tais como a história das granadas de fumo, (está-se mesmo a ver em plena mata o efeito de uma granada de fumo), ou essa coisa tão simples e comezinha como mergulhar no curso de água mais perto, (não sei se explicavam se armados ou desarmados)!

A NEP seria então coisa exclusiva da Guiné e como tal apenas difundida, ( esta palavra sujeita-se a erros de interpretação, porque a língua portuguesa é muito traiçoeira) na Guiné.

Vamos lá então às histórias das abelhas!

Terei depois outro desafio, mas fica para depois deste.

Abraço camarigo a todos do
Joaquim Mexia Alves

Anónimo disse...

Agora não. Mas o CMS- leia-se Carlos Marques dos Santos de Mansambo/2339, já levantou o véu. Se bem me lembro:
- um ataque de abelhas a uma coluna de reabastecimentos em Fá de Baixo a uns periquitos;
- um assalto a um acampamento In a fugir das "bagueras"...com que então abelhinhas...maias...da-se...e um furriel? a começar a sufocar, todo inchado e não havia tecto para evacuações e um Capitão aos gritos;
- e uma emboscada com o meu grupo na zona de morte e etc...depois um Alf. com um Fur ferido ás costas e as "abelhinhas" atacam e eles no meio da lama e o alf com carecada e a enfiar o chapéu de "noiva" (para protecção das abelhas) e as "maias" a penetrarem ferrões;
- e um Alf que é acordado: não se mexa que, por cima da merda do mosquiteiro está um enxame de abelhas...e sai uma granada de fumos para o alf e é lançada outra e pisga-te...e foge tudo, abelhas e militares e o raio que parta... voltam a medo e ainda há fumo vermelho e tudo lixado, camas, roupas e abelhas que por estarem estonteadas por ali andam...
- e as armadilhas que os sacanas faziam e lá vai abelha;
Qual NEP? Deitava-se água ou alimentos doces e as putas,se estivessem sequiosas, lá iam...mas o melhor era "alas de vila diogo" oh put...sai militar para a fuga.
Se tiver vagar eu conto...uns contos de bagueras. E o Mexia Alves sortudo ou protegido por algum Irã não foi picado. E esta heim??!!Foi da NEP.AB do Torcato