terça-feira, 7 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4154: Destas não reza a História (Manuel Maia) (1): Estou na Guiné há treze meses e a minha mulher está grávida

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine (1972/74), com data de 4 de Abril de 2009:

Agora é uma história verídica que teve como protagonista um indivíduo algo ingénio de Trás-os-Montes (profundo) que evidenciava claramente um coeficiente de inteligência baixíssimo e que por isso mesmo nunca deveria ter sido sujeito a situações com as da vivência de uma guerra.

Teríamos uns treze meses e picos de presença sofrida mas também pejada de situações engraçadas, por vezes roçando mesmo o estatuto de hilariantes, quando me foi contada esta que ora vos transmito.

Determinado soldado, casado, recebeu carta da família informando-o de que iria ser pai.

Irradiando uma satisfação do tamanho do mundo, o soldado em questão, sorriso rasgado de orelha a orelha, mostrou a missiva a um dos seus camaradas, amigo mais chegado:

- Vês pá, vou ser pai. Só peço a Deus que me deixe chegar são e salvo à terra para conhecer o meu filho que está p´ra chegar.
- Olha lá pá, retorquiu-lhe o amigo, com quantos meses de gravidez está a tua mulher?
- Sei lá!!!

Falando para os seus botões, o amigo murmurava:

- Como hei-de dizer a este gajo, a este caramelo, que o filho não é dele?

- Tu sabes há quantos meses estamos na Guiné?
- Isso sei! Nós viemos no dia de S. António e estamos em Julho... são, deixa cá ver...
- São treze meses, pá, treze longos meses feitos semana passada, na Terça-feira...
Então como é que é possível a tua mulher estar grávida de ti? Com quantos meses está de barriga? Tu não vês que a gravidez demora nove meses?
- Sei lá? Disso não percebo nada.
- Olha que essa mulher não serve p'ra ti, pá.
- Não serve proquê?
- Se ela gostasse de ti não te tinha feito o que fez.
- Que é que ele fez?
- Ela fez, ela fez, quem fez foi a irmã dela.
- A irmã dela, tua cunhada? Já não estou a perceber nada.
- Foi assim, eu andava enrabiscado com a irmã dela, mas a gaja um dia meteu-se cum tipo lá da terra dela. Quando fui no Domingo de Páscoa p'ra mor de namorar, ela tinha fugido com um gajo lá da terra.
- E quem foi que te contou?
- Foi a que agora é minha mulher. Disse-me, olha Tone, a minha irmã pôs-tos.
- Ela quê?
- Deixa lá rapaz, deixa lá, ela foi-se embora.
- Se tu quiseres posso ficar nas vezes da minha irmã.
- Se ela quis ir embora pois atão boa viaje.

- Começamos a namoriscar os dois e eu de vingança contra a primeira, casei-me co'a mais velha.
- Que idade tem ela?
- É mais velha do que eu p'rá aí uns sete ou oito anos. Deve ter trinta ou trinta e um, mas não fiquei a perder porque ela tem carta de tractor.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4147: Blogpoesia (38): A Criatura e Rambo Guinéu (Manuel Maia)

1 comentário:

Anónimo disse...

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