1. Mais uma mensagem, que nos trás muitas saudosas memórias, enviada pelo nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71:
Amigos e Camaradas,
Hoje venho recordar ao pessoal da Tabanca Grande, uma degradada instalação militar em Bissau, que era posta à disposição dos furriéis milicianos e demais Sargentos, em trânsito por aquela cidade, nos anos 1969/71, vindos do interior do C.T.I.G..
Refiro-me àquele que ficou tristemente então conhecido por:
"O Palácio das Confusões"
No meu tempo, os elementos da classe de sargentos, à qual eu pertencia, que tinham necessidade de transitar (passar uns dias) em Bissau, vindos das suas unidades do meio do mato, por diversas situações (férias, consultas, tratamentos médicos que não necessitavam de internamento hospitalar e outros assuntos pessoais), tinham como destino o Q.G. de Bissau.
Sempre que esses militares necessitavam de pernoitar, o Quartel-General colocava ao seu dispor, uma camarata sem o mínimo de condições de higiene e habitabilidade, para que, os mesmos, pudessem repousar digna e satisfatoriamente.
Assim, quem não aceitava aqueles “alojamentos”, como era o meu caso, restava-lhe gastar então os seus preciosos e parcos Pesos, numa das várias pensões que haviam espalhadas pela cidade, ou dormindo em instalações de camaradas nossos amigos, ou conhecidos, que estavam colocados nas diversas unidades da capital.
Quantas vezes não nos valeu, para “dormirmos”, o tão “atractivo” Pilão?
Quem pode esquecer aquele temido e místico bairro periférico de Bissau, com as suas numerosas e famosas rameiras, onde muitos de nós nas nossas aventureiras e saudosas juventudes, por lá se arriscavam a ficar uma(s) noite(s), apesar dos eminentes e graves perigos que corríamos (onde se incluía o da própria vida)?
Eu não esqueço!
Desconheço quem foi o autor deste adequado e justo nome de baptismo: "O Palácio das Confusões", mas que no meu tempo fez escola e era conhecido de todos nós, pelos piores motivos, disso ninguém duvide.
É certo que a grande maioria de nós não estava habituado a instalações de luxo nas nossas unidades, como eu e os meus camaradas que estávamos bem cientes de estarmos devidamente “instancionados” no bu… rako de Mampatá, sem nunca termos visto casernas ou instalações condignas, pois tudo o que nos servia de abrigo era desenrascado com enorme “engenho e arte”, pela malta (raros “feiticeiros” de sacrifício e trabalho)… nos confins da Guiné.
Agora, em Bissau “aquele nojo”?!
Devia ter sido questão de honra e lealdade, para os então respectivos serviços do exército, prestarem alojamento aos seus sargentos, condignamente, viessem eles deslocados de longe ou de perto de Bissau, porque eram estes homens que davam o corpo ao manifesto no tarrafo e nas bolanhas, para reter e combater o IN, de modo que nunca os atacassem a eles, no “bem-bom”.
Creio que anos mais tarde, alguém mais consciencioso e decidido do Q.G., resolveu acabar com estas macabras instalações e construir, no mesmo local, não outra mísera caserna, mas um edifício sólido construído em blocos, com quartos já com alguma comodidade, para o tal pessoal “passageiro”.
Termino esta crónica a citar um “ditado”, a meu modo torneado, para condizer com a narração: “Não havia bem que sempre durasse, nem mal que não se acabasse”.
Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Foto: © Casimiro Carvalho (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
31 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4762: Estórias do Mário Pinto (4): Fotógrafos de guerra
Amigos e Camaradas,
Hoje venho recordar ao pessoal da Tabanca Grande, uma degradada instalação militar em Bissau, que era posta à disposição dos furriéis milicianos e demais Sargentos, em trânsito por aquela cidade, nos anos 1969/71, vindos do interior do C.T.I.G..
Refiro-me àquele que ficou tristemente então conhecido por:
"O Palácio das Confusões"
No meu tempo, os elementos da classe de sargentos, à qual eu pertencia, que tinham necessidade de transitar (passar uns dias) em Bissau, vindos das suas unidades do meio do mato, por diversas situações (férias, consultas, tratamentos médicos que não necessitavam de internamento hospitalar e outros assuntos pessoais), tinham como destino o Q.G. de Bissau.
Sempre que esses militares necessitavam de pernoitar, o Quartel-General colocava ao seu dispor, uma camarata sem o mínimo de condições de higiene e habitabilidade, para que, os mesmos, pudessem repousar digna e satisfatoriamente.
Assim, quem não aceitava aqueles “alojamentos”, como era o meu caso, restava-lhe gastar então os seus preciosos e parcos Pesos, numa das várias pensões que haviam espalhadas pela cidade, ou dormindo em instalações de camaradas nossos amigos, ou conhecidos, que estavam colocados nas diversas unidades da capital.
Quantas vezes não nos valeu, para “dormirmos”, o tão “atractivo” Pilão?
Quem pode esquecer aquele temido e místico bairro periférico de Bissau, com as suas numerosas e famosas rameiras, onde muitos de nós nas nossas aventureiras e saudosas juventudes, por lá se arriscavam a ficar uma(s) noite(s), apesar dos eminentes e graves perigos que corríamos (onde se incluía o da própria vida)?
Eu não esqueço!
Desconheço quem foi o autor deste adequado e justo nome de baptismo: "O Palácio das Confusões", mas que no meu tempo fez escola e era conhecido de todos nós, pelos piores motivos, disso ninguém duvide.
É certo que a grande maioria de nós não estava habituado a instalações de luxo nas nossas unidades, como eu e os meus camaradas que estávamos bem cientes de estarmos devidamente “instancionados” no bu… rako de Mampatá, sem nunca termos visto casernas ou instalações condignas, pois tudo o que nos servia de abrigo era desenrascado com enorme “engenho e arte”, pela malta (raros “feiticeiros” de sacrifício e trabalho)… nos confins da Guiné.
Agora, em Bissau “aquele nojo”?!
Devia ter sido questão de honra e lealdade, para os então respectivos serviços do exército, prestarem alojamento aos seus sargentos, condignamente, viessem eles deslocados de longe ou de perto de Bissau, porque eram estes homens que davam o corpo ao manifesto no tarrafo e nas bolanhas, para reter e combater o IN, de modo que nunca os atacassem a eles, no “bem-bom”.
Creio que anos mais tarde, alguém mais consciencioso e decidido do Q.G., resolveu acabar com estas macabras instalações e construir, no mesmo local, não outra mísera caserna, mas um edifício sólido construído em blocos, com quartos já com alguma comodidade, para o tal pessoal “passageiro”.
Termino esta crónica a citar um “ditado”, a meu modo torneado, para condizer com a narração: “Não havia bem que sempre durasse, nem mal que não se acabasse”.
Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Foto: © Casimiro Carvalho (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
31 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4762: Estórias do Mário Pinto (4): Fotógrafos de guerra
3 comentários:
Amigo Mário,
No meu tempo, 1974, quem dominava o "mercado de carne branca" no Pilão, era a cabo-verdeana Mariana, que cheguei a conhecer pessoalmente graças a um grande amigo, que foi soldado na nossa tropa - o Marinho -, e, já civil, era o encarregado de um dos sectores de construção civil, no Batalhão de Engenharia, em Brá.
Velhos tempos, velhas memórias.
Conta mais das tuas estórias, que nos trazem recordações, sejam elas boas e, ou, más.
Um abraço Amigo do MR
Estive várias vezes no inenarrável «Palácio» - a primeira das quais durante 10 dias e 9 noites, quando cheguei à Guiné. Aquilo era uma vergonha. Pobre da pátria que trata assim os seus soldados.
Curioso, acabei precisamente há momentos de escrever uma estória para o «Diário da Região» - Setúbal, em que falo do «Palácio».
Lembro-me de ti, Mário, mesmo passados mais de 40 anos. Eu era um dos furriéis sapadores do batalhão 2892. Não sei se te lembras de mim: Juvenal Danado.
Um grande abraço e saúde, amigo.
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