quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5259: Ser solidário (45): Falando do apoio americano aos seus Veteranos de Guerra (José da Câmara)

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara*, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73, radicado nos Estados Unidos da América, com data de 12 de Novembro de 2009:

Caro Carlos,
Junto encontrarás a minha resposta ao nosso camarada Alberto Branquinho.
Foi um prazer ler aquilo que ele escreveu.
Demonstrou ser um homem atento ao que se passa na sociedade americana. Isso apraz-me registar.

Com votos de muita saúde e um abraço amigo,
José Câmara


2. Caros camaradas,
Quando escrevi o P5222*, fi-lo com a convicção de que, ao escrever sobre o que se fazia em outras paragens, isso poderia contribuir como estímulo para as lutas de direitos (quero acreditar que também de deveres) que muitos de vós se vêm envolvidos ou gostariam de verem resolvidas pelo governo português, independentemente da sua cor política

O nosso camarada Alberto Branquinho respondeu, dissertando sobre o que escrevi, como ainda pondo algumas questões bastante pertinentes. Agradeço!

O Alberto Branquinho na sua mensagem P5247** desenvolveu um episódio que teve a oportunidade de presenciar em 1984 quando, ao serviço da empresa que o empregava, visitou os EUA. O acontecimento teve lugar em Washington deduzindo, e bem, que estava na presença de uma manifestação a nível nacional.
A manifestação era protagonizada por ex-combatentes da guerra do Vietname. Aqueles, por formas várias, entregavam-se à luta reivindicativa de direitos que julgavam merecer.

Apraz-me registar a argúcia das observações feitas pelo autor não sou sobre o causa/efeito da manifestação, e também da forma de estar do povo americano Eu, vivendo neste país americano, não teria conseguido dizê-lo melhor nem tão bem.
O grande fenómeno americano assenta nestes princípios básicos: liberdade, justiça, e o direito de questionar (pedir) o congresso na resolução dos problemas inerentes ao povo.

É naqueles princípios que a família aparece como factor principal do associativismo americano. Quando essas famílias são emanadas dos mesmos desejos transformam as suas causas e as suas comunidades em factor de pressão, o tal loby, sem o qual nada ou pouco se consegue.

As associações de veteranos locais fazem parte desse associativismo que, no seu conjunto a nível nacional, têm uma força política descomunal neste grande país americano.
Stoughton, MA., é uma pequena comunidade, inserida na área metropolitana de Boston.

Câmara Municipal de Stoughton, MA

A Câmara Municipal de Stoughton é dirigida por um Administrador contratado pelos Vereadores da Vila, e sua forma de governo é o Town Meeting (Assembleia Municipal). Entre os serviços da Administração Municipal está o Departamento de Veteranos, que é dirigido por um Agente contratado pela Vereação da Câmara Municipal.

O Agente não tem que ser necessariamente um veterano, mas não magoa se o for. O importante é que o Agente seja competente no desenvolvimento do trabalho que lhe é confiado.

No momento actual o Agente é um veterano da guerra do Vietname. Os anteriores, que conheci, também eram veteranos.
O Departamento de Veteranos é um serviço público e gere fundos públicos. O Estado Federal contribui com 75% do Orçamento do Departamento, e a vila de Stoughton contribui com os restantes 25%.

Na lei não existe nada que proíba o Agente de Veteranos de angariar e dirigir fundos provenientes de empresas, serviços e particulares. Não pode é misturar os dinheiros públicos com os dinheiros privados.

Na colheita dos fundos particulares o Agente conta sempre com voluntários que o ajudam nesse processo, e não são necessariamente empregados da Câmara Municipal. Pelo contrário são pessoas que, fazendo parte de outras organizações se solidarizam com a (s) causa(s) em questão. No caso da nossa história coube às Girl Scouts (Grupo de Escuteiras) a tarefa de recolherem donativos vendendo bolachas, para ajudarem um veterano da guerra do Iraque.

A distribuição de dinheiros públicos é feita de acordo com as leis e regulamentos em vigor. Os dinheiros privados são um suplemento, e são entregues, de uma maneira geral, no fim da recolha, e vão na sua totalidade para a (s) causa (s) para que foram anunciados.

O Exército Americano é hoje, todo ele, baseado no voluntariado. Para além das suas Forças Regulares o Exército precisa, em situações de emergência, dos seus Reservistas. São estes civis que, na sua vida normal do dia a dia, contraíram obrigações de toda a espécie para o normal funcionamento das suas vidas. Muitas dessas obrigações têm que ser satisfeitas, mesmo quando os obrigatoriantes são chamados a cumprir os seus deveres com o Exército e com a nação.

Nós sabemos que o Exército paga, normalmente, menos que aquilo que esses militares auferem na sua vida particular. Perante isso a nossa ajuda para os veteranos, por pequena ou grande que seja, não é nem pode nunca ser constituída como esmola.

Para nós, cidadãos americanos (tenho dupla nacionalidade), é motivo de orgulho nacional e satisfação moral ajudar todos aqueles que, ao serviço da nação põem em risco a sua vida e o bem estar da família, para que todos nós possamos manter a nossa liberdade.

Isto é a América!
José Câmara
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5222: Efemérides (27): O Dia dos Veteranos, 11 de Novembro na Vila de Stoughton (USA) (José da Câmara)

(**) Vd. poste de 10 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5247: Ser solidário (44): A propósito do Dia dos Veteranos em Stoughton - Estados Unidos da América (Alberto Branquinho)

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Câmara
Parabéns pela simplicidade com que explicaste o "modus operandu" do funcinamento do apoio aos Veteranos nos EUA.
Evidentemente que aqui não é possivel tal coisa, porque desde logo há muito que falta aos portugueses uma cultura cívica e sem ela nada consegue sobreviver.
E isto que digo não se aplica ao caso em questão dos Veteranos de Guerra Nacional, mas a tudo.
Abraços
Jorge Picado

Anónimo disse...

José da Câmara

Agradecido pelas palavras sobre o meu texto, mas mais agradecido ainda pela resposta às minhas questões, que, espero, vão clarificar alguns pontos de vista (por vezes apressados) que aqui são manifestados sobre a matéria dos ex-combatentes (ou veteranos).

Agradeço, ainda, a confirmação da existência das forças locais (e, também, estaduais e federais)de pressão associativa na sociedade norte-americana (se é que alguém ainda tinha dúvidas...). Agora há que compará-las com as acções feitas na nossa terra... mesmo aferidas pela nossa dimensão.

Um abraço.
Alberto Branquinho

Hélder Valério disse...

Caro José da Câmara
A tua contribuição anterior, com a apresentação de tão pertinente tema, foi muito importante para aclarar muitas coisas.
A intervenção, a propósito, do Alberto Branquinho, foi essencial para que, com as suas interrogações, pudessemos ficar de 'ouvidos abertos' à espera dos esclarecimentos complementares.
E eles agora aqui estão!
Não deve haver lugar para muitas mais dúvidas sobre o que fazer e como fazer...
Um abraço
Hélder S.