sexta-feira, 8 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8528: (Ex)citações (142): O espaldar do morteiro 81 de Cancolim estava no meio da parada (Juvenal Amado)

Cancolim > Abrigo do Morteiro 81


1. Mensagem de Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, (Galomaro, 1972/74), com data de 4 de Julho de 2011:

Caros Luís, Carlos, Briote, Magalhães e restante Tabanca Grande,
Uma vez que foram feitos alguns reparos ao Poste 3126 O MORTEIRO NO MEIO DA PARADA, achei por bem tentar esclarecer o sentido crítico das minhas palavras, quando escrevi a referida estória baseada em factos tristemente reais, passados em 02 de Março de 1972, dos quais resultaram as mortes de três camaradas.

O camarada Manuel Moura que foi da Companhia que rendeu a nossa 3489, faz um comentário talvez à forma como critiquei o facto do morteiro de Cancolim, estar colocado praticamente no meio da parada.

Se olhar para a foto, ver-se-á que as referidas instalações de defesa estão completamente à vista desarmada, sendo por isso referenciadas facilmente como alvo.

A forma como o apontadores e municiadores, corriam para o abrigo sem protecção na parada, entre o local em que estavam quando começava o ataque e o espaldar da arma, penso que ninguém duvida que uma vala de acesso para o local, teria sido seguramente uma enorme utilidade, que longe de prejudicar elevaria o nível de resposta operacional dos homens.

Por último convém lembrar que enquanto andei pelo o Leste da Guiné, e foram 27 meses, não me lembro de ver um espaldão de morteiro nas mesmas condições.

No caso de Galomaro em que havia duas dessas armas, estavam as mesmas dissimuladas no quartel e servidas de valas de acesso. Quando à operacionalidade das mesmas, não teremos dúvida da sua boa funcionalidade, quando repelimos com elas um ataque ao arame no dia 01.12.1972.

Certo que a apreciação de fotos do local será mais um complemento de clarificação, aceitarei plenamente que alguém mais conhecedor sobre o assunto venha a terreiro refutar as minhas dúvidas quanto ao que a este respeito, se praticou em Cancolim entre 1972-1974 e que já assim estava, quando lá chegámos.

Um abraço
Juvenal Amado


Cancolim > Dentro do espaldar do morteiro 81 > Alves, do Porto; Dias, da Maia: Carneiro, de Penafiel e Correia.

Estojos de granadas de morteiro 81 espalhadas pelo terreno depois de um ataque
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8527: (Ex)citações (141): Já li e gostei muito do livro Catarse, do ex-capelão militar Abel Gonçalves (Manuel Carvalho, CCAÇ 2366, Jolmete, 1968/70)

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu Caro Juvenal,

Cheguei a ser utilizador único do morteiro 81 em Bajocunda.
De facto, atendendo às fotografias, o de Cancolim parece uma obra de arte bem pensada, se o compararmos com o que referi.
Mas concordo que uma vala de acesso garantiria alguma segurança para a reacção defensiva.
Em Bajocunda, no período de 1970/71a que me reporto, o espaldar do morteiro teria um espaço de cerca de dois metros de diâmetro interior, e era protegido por uma fiada envolvente de tambores com terra. Situava-se entre a oficina mecânica e a capela, havia uma nesga que dava para observar um bocadinho do arame (o IN aproveitou sempre esse "handicap"), e quem para ali se deslocasse não tinha qualquer protecção. Em caso de rebentamento no local, teria que ser mais rápido que os fragmentos estilhaçados.
Assim, Com extrema dificuldade para manusear a arma, mais que duas pessoas já era uma multidão que se atrapalhava. E as granadas tinham que ser em número restrito.
Por isso eram tão raros os que para ali se deslocavam durante os ataques IN. Mas também se deve levar em consideração que a visibilidade era tão escassa que, ao menos, não se desperdiçavam munições, nem se desbastava a fazenda nacional.
Ora, quem pode afirmar que não tínhamos na guerra técnicos sensatos?
Um abraço
JD

Luís Dias disse...

Camarigo Juvenal

Efectivamente não seria muito normal colocar no centro da parada uma das principais armas de resposta às flagelações do IN, em especial se o acesso não tivesse bem servido e resguardado. No caso do Dulombi, os dois 81 estavam perto das valas e com acessos apropriados e com certa segurança.
Um abraço
Luís Dias