Guiné > s/d (c. 1916) > Circunscrição do Geba > Bambadinca > Ponte-cais, no rio Geba Estreito.
"O relatório de Vasco Calvet de Magalhães, administrador da Circuncrição de Geba, datado de [1916] é, a diferentes títulos, um documento excepcional: afoita-se por domínios até então inexplorados ou mal ventilados; propõe estradas e fala do respectivo traçado; queixa-se e denuncia funcionários corruptos;abalança-se a falar da origem dos fulas,apresenta soluções para o assoreamento do Geba,é uma incursão com pretensões literárias e algumas ambições políticas.Foi neste documento que encontrei esta preciosidade,um porto de Bambadinca que nenhum de nós conheceu..." (BS)
Referência bibliográfica:
MAGALHÃES, Vasco de Sousa Calvet de - Província da Guiné : relatório. Porto: Progresso, 1916, 106, [2] p., gravuras, il.
Foto (e legenda): © Beja Santos (2008). Todos os direitos reservados.
1. Mensagem do Cherno Baldé [, foto à esquerda, quando jovem estudante em Kichinev, Moldávia, ex-URSS, Dezembro de 1985,] em resposta aos comentários deixados no poste P12200 (*):
Amigo e irmão Luis Graça,
Obrigado pelas tuas/vossas palavras de conforto (*). Acontece que os nossos pais/tios, embora fossem tidos como ambiciosos (na óptica do regime português da altura), acreditavam profundamente na solução luso-africana proposta por grandes homens como [Vasco de Sousa] Calvet de Magalhaes (1878 - ?)(**) e continuada depois por Spínola, porque na verdade, os territórios do leste da Guiné, já nessa altura, experimentavam uma colonização do tipo "indirecta", onde os poderes tradicionais tinham um peso importante. (***)
Para esta geração que agora terminou, a ideia Cabralista de uma independência total não fazia qualquer sentido para a Guiné, um território enclave com um mosaico multiétnico no meio de um perigosos jogo de influências das grandes potências do mundo de então. Nao acreditavam que uma Guiné totalmente independente pudesse ter êxito e hoje os factos parecem confirmar os receios e as dúvidas de então.
Ao Cabral, que segundo algumas fontes é filho de uma mulher fula de Geba, os homens grandes fulas disseram: Deixa os Portugueses onde estão, porque sem eles nos nunca nos entenderemos. Claro que depois pagaram por isso, porque os portugueses depois fizeram tudo ao contrário.
Um abraço amigo, Cherno Baldé (***)
____________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2013 > 25 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12200: Memória dos lugares (247): Fajonquito em Festa (1971) (Cherno Baldé)
(...) NOTA: Faleceu na noite do dia 19 Outubro, em Bissau, o nosso pai e tio, Sidi Baldé, que exercia a função honorifica de Régulo, o último dos príncipes de Sancorlã do período da guerra colonial, ex-Alferes e comandante de pelotão de milícias em Sare Uali e Sumbundo (área de Fajonquito).
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
(i) Comentário do editor Carlos Vinhal:
Saudades de Fajonquito, parece impossível, não é? Mas é o que tenho, um misto terrível daquilo que vivi. Escusado explicar. A minha Companhia, a 1685, os "Insaciáveis", esteve sediada em Fajonquito de julho de 1967 a Novembro de 1968, um ano e picos de tantas "coisas". Orgulho-me de ter deixado muitos amigos e de, na Páscoa de 68 juntamente com alguns camaradas, reabrir a fronteira de Cambajú num encontro com as autoridades do Senegal.
(...) Assim não me conformando com as informações obtidas, foi por intermédio do meu amigo Rui Fernandes, Médico, também tertuliano, que falei com a D Fátima Calvet Magalhães que se encontrava em Portugal, filha da D. Helena Calvet Magalhães, [falecida] ex-proprietária do Aldeamento Turístico “Chez Hellene” de Varela, por sua vez filha de Vasco de Sousa Calvet de Magalhães.
(...) Nessa conversa telefónica com a D Fátima, ela informou-me que a construção da Ponte Carmona era da autoria ou foi construída por determinação do seu avô materno e que tinha sido concluída e que as pessoas passavam por lá para se deslocarem para Buba e que não havia dúvidas sobre tal facto. (...)
3 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7073: Notas de leitura (153): Memórias e Reflexões, de Juvenal Cabral (II) (Mário Beja Santos)
(...) A admiração de Juvenal Cabral [, pai de Amílcar Cabral,] pelo administrador Calvet de Magalhães era quase ilimitada. Exalta-o nas suas memórias como trabalhador incasável, homem de sociedade e acção que sobrepunha o interesse do serviço público ao seu próprio bem-estar. Calvet lançou-se em obras de fomento como a construção da ponte sobre o rio Colufi, e depois o mercado em estilo árabe, ao gosto dos muçulmanos. Juvenal Cabral confessa que Bafatá foi uma verdadeira escola para ele. Era professor oficial e subdelegado do Procurador da República. (...)
2 de abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8038: Notas de leitura (224): João Teixeira Pinto, A Ocupação Militar da Guiné (1) (Mário Beja Santos)
(...) Os relatórios daquele tempo primavam por uma linguagem informal, faziam ressaltar a categoria cultural do seu autor e até os seus dotes literários. Teixeira Pinto assim procede com a operação do Oio. Começa por ir a Bafatá conversar com o administrador Vasco de Calvet de Magalhães, em Bolama prepara uma expedição, assentando-se que se deveria estabelecer um posto em Porto Mansoa e fechar o cerco à região do Oio. Disfarçou-se de inspector comercial e percorreu em Janeiro de 1913 toda a região entre Mansoa e Farim, atravessando o Oio (...)
27 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11166: Para que a memória não se perca (3): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)
1 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11785: Notas de leitura (496): O Império Africano 1890-1930, coordenação do Prof. Oliveira Marques (Mário Beja Santos)
(...) A Guiné conheceu transformações enormes: separou-se de Cabo Verde, foram definidas as suas fronteiras, a exploração agrícola substituiu o comércio negreiro. A grande falta são os colonizadores, a província desligada de Cabo Verde assenta numa orgânica administrativa que seria uma quase ficção caso não houvessem efetivos militares. Todas as divisões administrativas acabavam por ser ineficazes, os administradores não possuíam meios para as percorrer, não podiam garantir a lei nem arrecadar os tributos. Foi preciso esperar pela pacificação para desenvolverem as comunicações, cujo expoente foi dado pela abertura da estrada Bafatá-Bambadinca, ao tempo do administrador de Geba Calvet Magalhães.
(***) Vd. artigo do nosso grã-tabanqueiro, etnólogo, Eduardo Costa Dias (ISCTE, Lisboa): Regulado do Gabu (1900-1930): a difícil compatibilização entre legitimidades tradicionais e a reorganização do espaço colonial. "Africana Studia". nº 9, 2006, pp. 99-125 (Edição do CEAUP - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto) [Consult em 28/10/2013]. Disponível em http://www.africanos.eu/ceaup/uploads/AS09_099.pdf
(***) Vd. poste de 30 de setembro de 2013 Guiné 63/74 - P12103: (In)citações (55): Eu desejo acreditar na Guiné-Bissau, nos seus jovens, mulheres e homens de boa vontade, que trabalham nas bolanhas, nas matas, nos rios e no mar... (Paulo Salgado, ex-alf mil, cav, op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; cooperante)
Foto (e legenda): © Beja Santos (2008). Todos os direitos reservados.
1. Mensagem do Cherno Baldé [, foto à esquerda, quando jovem estudante em Kichinev, Moldávia, ex-URSS, Dezembro de 1985,] em resposta aos comentários deixados no poste P12200 (*):
Amigo e irmão Luis Graça,
Obrigado pelas tuas/vossas palavras de conforto (*). Acontece que os nossos pais/tios, embora fossem tidos como ambiciosos (na óptica do regime português da altura), acreditavam profundamente na solução luso-africana proposta por grandes homens como [Vasco de Sousa] Calvet de Magalhaes (1878 - ?)(**) e continuada depois por Spínola, porque na verdade, os territórios do leste da Guiné, já nessa altura, experimentavam uma colonização do tipo "indirecta", onde os poderes tradicionais tinham um peso importante. (***)
Para esta geração que agora terminou, a ideia Cabralista de uma independência total não fazia qualquer sentido para a Guiné, um território enclave com um mosaico multiétnico no meio de um perigosos jogo de influências das grandes potências do mundo de então. Nao acreditavam que uma Guiné totalmente independente pudesse ter êxito e hoje os factos parecem confirmar os receios e as dúvidas de então.
Ao Cabral, que segundo algumas fontes é filho de uma mulher fula de Geba, os homens grandes fulas disseram: Deixa os Portugueses onde estão, porque sem eles nos nunca nos entenderemos. Claro que depois pagaram por isso, porque os portugueses depois fizeram tudo ao contrário.
Um abraço amigo, Cherno Baldé (***)
____________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2013 > 25 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12200: Memória dos lugares (247): Fajonquito em Festa (1971) (Cherno Baldé)
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
(i) Comentário do editor Carlos Vinhal:
Em nome dos editores e da tertúlia, apresento ao nosso amigo Cherno Baldé, assim como à sua família, o nosso pesar pela morte do seu tio Sidi Baldé, Régulo e Príncipe de Sancorlã, ex-Alferes, CMDT de Pelotão de Milícias. Mais um camarada e amigo que lutou a nosso lado e que nos deixou no dia 19 de Outubro. Paz à sua alma. Honremos a sua memória. Carlos Vinhal
Outros comentários deixados na caixa de comentários do poste:
Outros comentários deixados na caixa de comentários do poste:
(ii) Luís Graça:
Meu caro Cherno, meu amigo, meu irmãozinho: A perda dos nossos amigos e parentes, por morte, é sempre uma perda, uma morte, de uma parte de nós. Tu já aqui escrevestes páginas notáveis, de antologia, sobre a tua família e a tua gesta familiar... Perdes agora um tio que é também pai, segundo o vosso (mais complexo do que o nosso) sistema de parentesco.
Quero-te, daqui de Lisboa e do nosso blogue, mandar-te uma palavra de conforto. A tua família é já, também, de algum modo um bocadinho da nossa família. Um abraço grande, afetuoso, fraterno. Luís Graça
(iii) Hélder Sousa:
Caro Cherno: Antes de mais deixa-me que subscreva as palavras do Luís e que através delas também te leve alguma solidariedade, a ti e família.
Temos depois as fotos de Fanjonquito. Olhando daqui, destes cerca de 40 anos passados, fica-se com uma certa nostalgia desses tempos e dessas vivências, que nos mostram como era possível conviver e trabalhar em conjunto pelo progresso e melhoria do bem-estar do povo da Guiné.
É certo que ainda há tempo (haverá sempre, embora noutras circunstâncias) mas já se desbaratou muito, muita energia, muita vontade.
(iv) Manuel Carvalho:
Caro Cherno: Sempre desejado, saúdo este teu reaparecimento que me alenta a alma e mitiga a saudade de um tempo tão distante e tão próximo do coração. Daqui subscrevo as palavras de condolências do Luís Graça pela perda do teu pai e nosso camarada.
Um grande abraço, Carvalho de Mampatá
(v) Adriano Moreira:
Caro Cherno: Lamento profundamente a tua perda e mando-te um grande abraço de solidariedade extensivo à tua família.
(vi) José Manuel Paula
Meu caro Cherno, meu amigo, meu irmãozinho: A perda dos nossos amigos e parentes, por morte, é sempre uma perda, uma morte, de uma parte de nós. Tu já aqui escrevestes páginas notáveis, de antologia, sobre a tua família e a tua gesta familiar... Perdes agora um tio que é também pai, segundo o vosso (mais complexo do que o nosso) sistema de parentesco.
Quero-te, daqui de Lisboa e do nosso blogue, mandar-te uma palavra de conforto. A tua família é já, também, de algum modo um bocadinho da nossa família. Um abraço grande, afetuoso, fraterno. Luís Graça
(iii) Hélder Sousa:
Caro Cherno: Antes de mais deixa-me que subscreva as palavras do Luís e que através delas também te leve alguma solidariedade, a ti e família.
Temos depois as fotos de Fanjonquito. Olhando daqui, destes cerca de 40 anos passados, fica-se com uma certa nostalgia desses tempos e dessas vivências, que nos mostram como era possível conviver e trabalhar em conjunto pelo progresso e melhoria do bem-estar do povo da Guiné.
É certo que ainda há tempo (haverá sempre, embora noutras circunstâncias) mas já se desbaratou muito, muita energia, muita vontade.
(iv) Manuel Carvalho:
Caro Cherno: Sempre desejado, saúdo este teu reaparecimento que me alenta a alma e mitiga a saudade de um tempo tão distante e tão próximo do coração. Daqui subscrevo as palavras de condolências do Luís Graça pela perda do teu pai e nosso camarada.
Um grande abraço, Carvalho de Mampatá
(v) Adriano Moreira:
Caro Cherno: Lamento profundamente a tua perda e mando-te um grande abraço de solidariedade extensivo à tua família.
(vi) José Manuel Paula
Saudades de Fajonquito, parece impossível, não é? Mas é o que tenho, um misto terrível daquilo que vivi. Escusado explicar. A minha Companhia, a 1685, os "Insaciáveis", esteve sediada em Fajonquito de julho de 1967 a Novembro de 1968, um ano e picos de tantas "coisas". Orgulho-me de ter deixado muitos amigos e de, na Páscoa de 68 juntamente com alguns camaradas, reabrir a fronteira de Cambajú num encontro com as autoridades do Senegal.
Ex. Furriel Mil José Manuel Paula
(vii) Manuel Joaquim
Um grande e afectuoso abraço, meu caro Cherno
(**) Alguns dos nossos postes onde há referências ao Calvet de Magalhães, administrador da circuncrição do Geba nos primeiros anos da I República,
17 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5288: Memória dos lugares (55): Pontes do Rio Corubal (Carlos Silva)
(vii) Manuel Joaquim
Um grande e afectuoso abraço, meu caro Cherno
(**) Alguns dos nossos postes onde há referências ao Calvet de Magalhães, administrador da circuncrição do Geba nos primeiros anos da I República,
17 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5288: Memória dos lugares (55): Pontes do Rio Corubal (Carlos Silva)
(...) Nessa conversa telefónica com a D Fátima, ela informou-me que a construção da Ponte Carmona era da autoria ou foi construída por determinação do seu avô materno e que tinha sido concluída e que as pessoas passavam por lá para se deslocarem para Buba e que não havia dúvidas sobre tal facto. (...)
3 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7073: Notas de leitura (153): Memórias e Reflexões, de Juvenal Cabral (II) (Mário Beja Santos)
(...) A admiração de Juvenal Cabral [, pai de Amílcar Cabral,] pelo administrador Calvet de Magalhães era quase ilimitada. Exalta-o nas suas memórias como trabalhador incasável, homem de sociedade e acção que sobrepunha o interesse do serviço público ao seu próprio bem-estar. Calvet lançou-se em obras de fomento como a construção da ponte sobre o rio Colufi, e depois o mercado em estilo árabe, ao gosto dos muçulmanos. Juvenal Cabral confessa que Bafatá foi uma verdadeira escola para ele. Era professor oficial e subdelegado do Procurador da República. (...)
2 de abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8038: Notas de leitura (224): João Teixeira Pinto, A Ocupação Militar da Guiné (1) (Mário Beja Santos)
(...) Os relatórios daquele tempo primavam por uma linguagem informal, faziam ressaltar a categoria cultural do seu autor e até os seus dotes literários. Teixeira Pinto assim procede com a operação do Oio. Começa por ir a Bafatá conversar com o administrador Vasco de Calvet de Magalhães, em Bolama prepara uma expedição, assentando-se que se deveria estabelecer um posto em Porto Mansoa e fechar o cerco à região do Oio. Disfarçou-se de inspector comercial e percorreu em Janeiro de 1913 toda a região entre Mansoa e Farim, atravessando o Oio (...)
1 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11785: Notas de leitura (496): O Império Africano 1890-1930, coordenação do Prof. Oliveira Marques (Mário Beja Santos)
(...) A Guiné conheceu transformações enormes: separou-se de Cabo Verde, foram definidas as suas fronteiras, a exploração agrícola substituiu o comércio negreiro. A grande falta são os colonizadores, a província desligada de Cabo Verde assenta numa orgânica administrativa que seria uma quase ficção caso não houvessem efetivos militares. Todas as divisões administrativas acabavam por ser ineficazes, os administradores não possuíam meios para as percorrer, não podiam garantir a lei nem arrecadar os tributos. Foi preciso esperar pela pacificação para desenvolverem as comunicações, cujo expoente foi dado pela abertura da estrada Bafatá-Bambadinca, ao tempo do administrador de Geba Calvet Magalhães.
(***) Vd. artigo do nosso grã-tabanqueiro, etnólogo, Eduardo Costa Dias (ISCTE, Lisboa): Regulado do Gabu (1900-1930): a difícil compatibilização entre legitimidades tradicionais e a reorganização do espaço colonial. "Africana Studia". nº 9, 2006, pp. 99-125 (Edição do CEAUP - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto) [Consult em 28/10/2013]. Disponível em http://www.africanos.eu/ceaup/uploads/AS09_099.pdf
(***) Vd. poste de 30 de setembro de 2013 Guiné 63/74 - P12103: (In)citações (55): Eu desejo acreditar na Guiné-Bissau, nos seus jovens, mulheres e homens de boa vontade, que trabalham nas bolanhas, nas matas, nos rios e no mar... (Paulo Salgado, ex-alf mil, cav, op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; cooperante)
7 comentários:
Joaquim Luís Fernandes
Caro amigo Cherno Baldé
A minha saudação de respeito, admiração e amizade.
Li com apreço a tua mensagem mas fiquei com dúvidas sobre o alcance da última frase; " Claro que depois pagaram por isso, porque os portugueses depois fizeram tudo ao contrário".
-Queres/podes desenvolver mais o teu pensamento sobre este assunto e partilhá-lo?
Com o sentido construtivo deixo as seguintes questões:
- O que é nós portugueses poderíamos ter feito de modo diferente e melhor? O que fizemos bem feito?
- O que é que hoje, na situação atual, nós portugueses, poderemos fazer melhor, para ajudar o povo da Guiné, a desenvolver mais as suas potencialidades,a realizar os seus sonhos, a alcançar o bem-estar geral progressivo e duradoiro.
Para mim as respostas não são fáceis e questiono-me neste tempo de crises, buscando as novas oportunidades possíveis.
Com amizade, um forte abraço.
J.L.F.
Amigo Cherno, " Claro que depois pagaram por isso, porque os portugueses depois fizeram tudo ao contrário".
Amigo Cherno, se fosse um certo português, dizia que os portugueses fizeram "uma descolonização exemplar".
Neste momento em Portugal a diplomacia ainda anda com a cabeça à roda com Angola e com a Guiné, imagina-se a incapacidade de Portugal há 40 anos.
Portugal e os portugueses sempre foram mais dependentes das suas ex-colónias do que o inverso.
Já a selecção portuguesa e o Benfica dependia dos africanos.
E os portugueses mais elucidados daquele tempo e que podiam fazer algo mais acertivo eram ultramarinos, alguns poucos até aderiaram ao MPLA e PAIGC, mas ficaram com "as pernas partidas" e ai deles se não fossem para o Brasil.
Cumprimentos.
Caro amigo J.L. Fernandes,
Gostaria de poder responder, de forma satisfatoria, as tuas questoes, mas tal como disseste na parte final, tambem eu nao tenho respostas faceis.
Estas notas foram dirigidas ao Editor principal do Blogue em resposta as condolencias formuladas pelo desaparecimento do noso tio, um homem grande que ate a morte acreditou sempre na solucao politica da alianca luso-africana.
O Luis Graca, antigo combatente que conviveu de perto com o dilema dos fulas perante a guerra pela independencia da Guine sabe do que falo.
O que foi bem feito? respondo: A escolarizacao em massa das criancas e a defesa da liberdade e dignidade dos nativos a partir de 1968, com o Spinola, mas foi feito tardiamente, era uma linha de orientacao politica defendida pelo Cap.Teixeira Pinto desde 1912/15.
O que foi mal feito? Respondo: A precipitacao, a desorientacao completa, a submissao ao dictat do antigo inimigo no periodo que antecedeu a assinatura do acordo de Argel (Abril -Setembro/74). Sobre isso podes consultar os ultimos livros do Spinola sobre a Guine. Ele defendia a realizacao de um referendum que nao foi possivel concretizar.
Acho que o Rosinha ajudou a resumir a situacao do passado, quanto ao futuro, tambem nao tenho a solucao ideal, porque o presente esta complicado e o futuro e incerto e cheio de surpresas que espero sejam boas no sentido de um reencontro mais harmonioso.
No entanto, uma coisa parece ser evidente, a Guine esta adiada para muito tempo e Portugal precisa ser dirigida com mais firmeza e nao se deixar levar demasiado pelo espirito mercantilista e de calculos puramente economicos no relacionamento com as suas ex-colonias.
E deveras muito pretensioso, da minha parte, falar de Portugal nesses termos, mas acontece que quer queiramos quer nao, historicamente, Portugal, construiu um mundo e tem um nome e responsabilidades a assumir.
Um abraco amigo,
Cherno Balde
Caro amigo J.L. Fernandes,
Gostaria de poder responder, de forma satisfatoria, as tuas questoes, mas tal como disseste na parte final, tambem eu nao tenho respostas faceis.
Estas notas foram dirigidas ao Editor principal do Blogue em resposta as condolencias formuladas pelo desaparecimento do noso tio, um homem grande que ate a morte acreditou sempre na solucao politica da alianca luso-africana.
O Luis Graca, antigo combatente que conviveu de perto com o dilema dos fulas perante a guerra pela independencia da Guine sabe do que falo.
O que foi bem feito? respondo: A escolarizacao em massa das criancas e a defesa da liberdade e dignidade dos nativos a partir de 1968, com o Spinola, mas foi feito tardiamente, era uma linha de orientacao politica defendida pelo Cap.Teixeira Pinto desde 1912/15.
O que foi mal feito? Respondo: A precipitacao, a desorientacao completa, a submissao ao dictat do antigo inimigo no periodo que antecedeu a assinatura do acordo de Argel (Abril -Setembro/74). Sobre isso podes consultar os ultimos livros do Spinola sobre a Guine. Ele defendia a realizacao de um referendum que nao foi possivel concretizar.
Acho que o Rosinha ajudou a resumir a situacao do passado, quanto ao futuro, tambem nao tenho a solucao ideal, porque o presente esta complicado e o futuro e incerto e cheio de surpresas que espero sejam boas no sentido de um reencontro mais harmonioso.
No entanto, uma coisa parece ser evidente, a Guine esta adiada para muito tempo e Portugal precisa ser dirigida com mais firmeza e nao se deixar levar demasiado pelo espirito mercantilista e de calculos puramente economicos no relacionamento com as suas ex-colonias.
E deveras muito pretensioso, da minha parte, falar de Portugal nesses termos, mas acontece que quer queiramos quer nao, historicamente, Portugal, construiu um mundo e tem um nome e responsabilidades a assumir.
Um abraco amigo,
Cherno Balde
Cherno Baldé,
Parabéns pela lucidez da intervenção.
Quando cheguei a Teixeira Pinto, havia uma Escola Primária. Um ano depois havia na zona quase trinta Escolas, principalmente com Furriéis a servirem de Professores, ao que me disseram porque, entretanto, fui transferido para o HM241.
Pêsames pelas perdas de entes queridos.
J.L.Fernandes
Caro amigo Cherno
Agradeço as tuas respostas prontas, breves mas sensatas, logo sábias.
Às questões que levantei respondo:- O que fizemos bem feito, foi todo o bem que fizemos; O que fizemos mal, foi todo o resto, que não reverteu a favor da Guiné e do seu Povo nem de Portugal e dos Portugueses.
Sobre a transição do Poder que ocorreu no período de Abril a Setembro de 74, a que alguns chamaram de "descolonização exemplar", muito já foi dito e escrito; Eu estava em Bissau nesse período, observei um pouco do que se passou,também tenho opinião,mas o tema é complexo e não cabe neste comentário entrar nele.
O que motiva os meus pensamentos e ações, é o presente e o futuro, da Guiné e de Portugal, dos Guineenses e dos Portugueses.
Acredito que muitos dos ex-militares que estiveram na Guiné, apesar de e porque, muito sofreram e viram sofrer, mas também porque se deixaram encantar por algo de belo, nem que tenha sido só pelo olhar cândido das crianças,amam a Guiné.
Eles são (nós somos) o resto que poderá criar e alimentar na opinião pública portuguesa o sentido do dever de Portugal, de dar uma mão amiga, de ajuda ao Povo da Guiné, a encontrar novos caminhos de Progresso e de Paz, no respeito da sua dignidade e das suas culturas, pugnando pelo seu bem-estar, conforme as suas aspirações.
Creio que este Blog é já hoje um instrumento valioso nessa linha de ação e poderá vir a sê-lo ainda mais no futuro. Assim o queiramos e os camaradas editores estejam de acordo.
É tudo por hoje
Um abraço amigo.
J,L,F.
O Colon mais velho continua bem vivificado e mostra que tem o disco em boa orde.
Pode não parecer politicamente correcto, mas está correcto na apreciação política.
Deste post também se consagra que:
1 - As populações autóctones e fixadas nas provincias ultramarinas, não foram contempladas por parte do MFA com qualquer libertação, já que o Movimento apenas abdicou das suas responsabilidades relativamente àqueles povos, e "entregou o ouro ao bandido", ou, para quem tiver pruridos, abdicou em favor dos guerrilheiros impreparados, alguns já em processo de nudança de vida.
2 - As fantasia de ordem propagandística para justificar o heroismo de suportar vexames para regressar a casa de qualquer maneira, passados quase 40 anos, ainda é desmentida por atitudes ditatoriais e corruptas, ofensas constantes aos direitos humanos, multiplicidade de actos de guerra e violência, do que resulta o grande sofrimento e pauperização da maioria daquelas populações.
JD
Enviar um comentário