Guiné > Região do Oio > CCAÇ 13 (1969/71) > Viagem a Bissorã > 1970 > Da esquerda para a direita; Calaboche [Tchuda], Carlos Fortunato e Manuel Cuna na rua principal de Bissorã.
Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]
1. Mensagem do editor LG enviada ontem ao Carlos Fortunato (ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, Bissorã, 1969/71, e presidente da direcção da ONG Ajuda Amiga) [, foto à direita]:
Carlos:
Excelente texto que não conhecia, e que reproduzi com a devida vénia e referência ao autor e fonte (*)...
Uma dúvida: O teu (e nosso) malogrado camarada guineense chamava-se Calaboche Tchuda ou "Calabouche" Tchuda ? Tens ideia de quando e onde foi morto (, possivelmente fuzilado, ) pelo PAIGC ? Pelo nome e apelido, seria balanta...
Outra coisa: Podes e deves utilizar o nosso blogue para mensagens solidárias da Ajuda Amiga. "Rezemos" para que o ébola não chegue à GB, o que me parece quase impossível... Parabéns pelo teu excecional trabalho. Um abraço do Luis.
2. Resposta pronta do Carlos Fortunato
Assunto: Op Jaguar Vermelho
Amigo e camarada Luís:
O Calaboche Tchuda [, foto à esquerda,] foi morto em Nhacra, quando se dirigia para a escola onde dava aulas como professor.
Segundo me contaram, o PAIGC apanhou-o no caminho para a escola, amarrou-o a uma árvore e fuzilou-o.
Não estava envolvido em qualquer ação contra o Estado ou outra entidade, foi um puro ato de vingança, contra alguém cansado da guerra, e que queria que acabasse uma luta entre guineenses a matarem-se una aos outros, pois eram todos irmãos, como ele várias vezes me afirmou.
Tenho um texto sobre este assunto, no meu site que infelizmente tem sido abandonado, à espera de tempo, para ser melhorado:
http://destaques.com.sapo.pt/GuineSoldados.html [Os massacres em Bissorã - por Carlos Fortunato] (**)
Obrigado pela disponibilidade do Blog e pelo vosso apoio [à Ajuda Amiga].
Infelizmente deixaram o ébola atingir estas proporções, e só agora começam a tomar algumas medidas.
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Carlos Fortunato (***)
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Excelente texto que não conhecia, e que reproduzi com a devida vénia e referência ao autor e fonte (*)...
Uma dúvida: O teu (e nosso) malogrado camarada guineense chamava-se Calaboche Tchuda ou "Calabouche" Tchuda ? Tens ideia de quando e onde foi morto (, possivelmente fuzilado, ) pelo PAIGC ? Pelo nome e apelido, seria balanta...
Outra coisa: Podes e deves utilizar o nosso blogue para mensagens solidárias da Ajuda Amiga. "Rezemos" para que o ébola não chegue à GB, o que me parece quase impossível... Parabéns pelo teu excecional trabalho. Um abraço do Luis.
Calaboche Tchuda, apontador de bazuca, do 4º pelotão da CCAÇ 13. Morto pelo PAIGC , Foto: Carlos Fortunato |
Assunto: Op Jaguar Vermelho
Amigo e camarada Luís:
O Calaboche Tchuda [, foto à esquerda,] foi morto em Nhacra, quando se dirigia para a escola onde dava aulas como professor.
Segundo me contaram, o PAIGC apanhou-o no caminho para a escola, amarrou-o a uma árvore e fuzilou-o.
Não estava envolvido em qualquer ação contra o Estado ou outra entidade, foi um puro ato de vingança, contra alguém cansado da guerra, e que queria que acabasse uma luta entre guineenses a matarem-se una aos outros, pois eram todos irmãos, como ele várias vezes me afirmou.
Tenho um texto sobre este assunto, no meu site que infelizmente tem sido abandonado, à espera de tempo, para ser melhorado:
http://destaques.com.sapo.pt/GuineSoldados.html [Os massacres em Bissorã - por Carlos Fortunato] (**)
Obrigado pela disponibilidade do Blog e pelo vosso apoio [à Ajuda Amiga].
Infelizmente deixaram o ébola atingir estas proporções, e só agora começam a tomar algumas medidas.
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Carlos Fortunato (***)
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 20 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13766: (Ex)citações (240): Água da bolanha... quem a não bebeu ?!... Recordando aqui o pesadelo que foi a Op Jaguar Vermelho, no Morés, em 9 de junho de 1970... (Carlos Fortunato. ex-fur mil trms. CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, e presidente da direção da ONDG Ajuda Amiga)
(**) Alguns excertos, com a devida vénia:
(...) O crime pelos massacres é assim imputado a Luís Cabral, e a sua execução aos Serviços de Segurança, dirigidos por Buscardini.
É do conhecimento geral que os fuzilamentos foram realizados por soldados, e nunca por elementos ligados à segurança.
A guerra era algo que os soldados africanos lamentavam constantemente, o seu desejo era que fosse feita a paz. Falavam que não podiam andar ali a matar os seus irmãos, e que todos se deviam sentar e conversar, para se chegar a um acordo.
A aspiração dos soldados africanos da CCaç 13 era apenas a de terem uma vida melhor, e o empenho de alguns deles para se desenvolverem era extraordinário. Apesar de apenas falarem balanta e algumas palavras de crioulo, dedicavam-se afincadamente ao auto-estudo, pegando em livros de leitura que decoravam, numa tentativa de aprender a ler.
Apresento a seguir uma imagem com o extracto de uma carta do soldado Calaboche, é apenas um exemplo de um homem simples, já cansado de guerra, que lutou leal e dignamente, na procura de um futuro melhor, acreditando que ele seria ao lado de Portugal.
Carta de 1971
"... Meu amigo Fortunato eu agora estou farto de guerra eu só quero tirar quarta classe depois foi em Bissau tirar carta de condução civil depois deu tropa cos pontapé..."
Calaboche nunca conseguiria ver os seus sonhos realizados, pois ele, tal como muitos outros, foi abandonado à sua sorte, e fuzilado pelo PAIGC. Foi capturado e morto pelo PAIGC, quando se dirigia para a escola onde dava aulas como professor.
Houve quem fugisse para o Senegal, para salvar a vida, mas mesmo [aí] continuaram a ser perseguidos, e foram muitas as dificuldades por que passaram, alguns acabariam por morrer por lá.
Transcreve-se a seguir dois extractos de duas cartas relatando um pouco o que se passou em Bissorã, enviadas por outro ex-soldado africano que conseguiu escapar a esses massacres:
Carta de 1982
" ... Hora bem eu vou-te esplicar poucina en pouco . [explicar um pouco, ] de independencia da Guiné Bissau. O que se passou depois de independencia da Guiné, partido mata muitas pessoas na nossa grupo, mata Tenha Taga, Calabos Tchuda, Furrel Sora Nando, só na nossa grupo, também Caba Santiago, Sitafa Quebá, Bacai, José de mesa oficiais, cozinheiro Nhinde de Olossato. [Pontuei este parágrafo para ser compreensível, o nome do Tenha Taca, Calaboche Tchudá, Sitafá Camará, estão igualmente mal escrito, não consegui identificar se está correcto o nome do Furriel Sora Nando.]
Olha Fortunato eu não tem trabalho depois de independencia partido não deija nos trabalhar junto com eles partido disse que nosso tropa portuguesa luta contra eles. Se voce vem cá na Guiné com cooperante voce capaz de arranjar trabalho por favor amigo Fortunato. …"
" ... Os teus soldados chamados Jorge, Barra, Tancana foi matados em furto em Senegal. ... "[ O 2º e 3º nomes estão mal escritos correctamente é: Birra e Tangana. Na primeira carta de 1982, é referido o nome de Cabá Santiago, conheci o Cabá Santiago, e posso contar um pouco da sua história, tendo por base aquilo que ele me contou, e o que eu conhecia a seu respeito.] (...)
(***) Último poste da série > 1 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13676: Os nossos camaradas guineenses (38): Reportagem, com vídeo, da revista "Sabado", e tese de doutoramento sobre os comandos africanos, de Fátima da Cruz Rodrigues (Coimbra, UC, 2012) (Virgínio Briote)
3 comentários:
Amigo C. Fortunato,
Calaboche ou Calabus é a deformação da palavra portuguesa ‘Calabouço’, prisão, facto que pode evidenciar uma ligação, no momento do seu nascimento, a um acontecimento infeliz relacionado com a prisão, seja do pai (muito provável), da mãe (pouco provável) ou de uma outra pessoa da familia com forte ligação a futura mãe.
Tenho lido sempre e com muita emocao os teus textos, que o blogue da TG conseguiu publicar, sobre a perseguicao e fuzilamento de ex-militares que lutaram ao lado de um certo Portugal e que depois foram entregues a sua sorte.
Tambem tenho acompanhado e considero de maior importancia o trabalho que estao a desenvolver a volta da ONG Ajuda amiga.
Com um abraco amigo,
Caros camaradas
Erros, vinganças pessoais, mesquinhez.
Tudo isso e muito mais, fazem o Povo pagar caro.
Foi (e é) lamentável.
Algumas situações seriam, talvez, inevitáveis, pois bem se sabe que quando se está em presença de um fenómeno que, de alguma maneira 'configura' lutas fraticidas, haverá sempre lugar a 'ajustes de contas', mas na generalidade dos casos o que houve foi mesmo falta de visão política, falta de dimensão humana.
Hélder S.
Boa tarde,
Sou por este meio a solicitar, e desde já agradecer, a quem detenha uma fotografia de António Alcântara Buscardini, membro do Comité Superior da Luta do PAIGC e subsequente chefe da polícia política de Luís Cabral/Nino Vieira, cedência de uma cópia por intermédio do m/email abreusantospai@gmail.com ou de https://www.facebook.com/JC.Abreu.dos.Santos/ .
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