Foto: © Manuel Traquina (2015). Todos os direitos reservados
1. Mensagem,com data de hoje, do Manuel Traquina (ex-fur mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70). autor do livro de memórias "Os Tempos de Guerra – De Abrantes à Guiné", edição de Palha de Abrantes – Associação e Desenvolvimento Cultural, com sede em Abrantes, e patrocínio de diversos antigos camaradas da CCAÇ 2382; a edição é de maio de 2009):
Passaram já cerca de 45 anos que regressei da Guiné! (*)
Completei há pouco 70 anos de idade! Porém aqueles anos na Guiné são inesquecíveis: foram os bons e os maus momentos e, também os grandes amigos que se fizeram e ficaram para sempre.
No dia 5 de junho do ano de 1969 em Buba eu completava os meus 24 anos e na messe como habitual tinha lugar uma pequena festa que foi perturbada com o bater da porta do frigorifico que se assemelhava a uma saída de morteiro...
Manuel Traquina, foto atual |
Bem, mas quando do regresso da Guiné, fiz-me acompanhar de algumas garrafas de whisky que com alguns amigos foram sendo consumidas, algumas foram sendo abertas de dez em dez anos sempre que fazia anos...e, a última foi agora aberta foi esta Logans, a outra já foi consumida quando completei os 60 anos.
Um grande abraço para todos os meus amigos e camaradas da Guiné
Traquina
_________________
Notas do editor;
(*) Último poste da série > 15 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14746: (Ex)citações (282): Sexo em tempo de guerra... Ha(via) um raio de um "santo inquisidor" dentro de cada um de nós... (Francisco Baptista, natural de Brunhoso, Mogadouro; ex-alf mil inf, CCAÇ 2616, Buba, 1970/71, e CART 2732 , Mansabá, 1971/72)
(**) Vd. poste de 23 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7324: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina (8): Dia de Aniversário
(... Naquele dia [,. 5 de junho de 1969] o jantar tinha terminado, a messe de sargentos de Buba estava em “festa”. Normalmente era assim, quando alguém fazia anos.
Era a minha vez, era o dia 5 de Junho de 1969, dia do meu aniversário. Completava 24 anos de idade, contava já cerca de dois anos e meio de serviço militar e, para regressar a Portugal calculava que me faltava à volta de um ano. Tinham-se bebido umas frescas cervejas e, animadamente cantava-se a canção, Senhor de Matosinhos/ Senhor da Boa hora/ Ensinai-nos o Caminho/ Para sairmos daqui para fora. Além de outras esta, pela sua letra, era a preferida.
A música vinha da viola do Cardoso, da 15ª Companhia de Comandos, e do acordeão do Gonçalves da CCS do Batalhão 2834. O Furriel Henrique (, mais conhecido pelo Henrique da Burra, ) com a sua habitual actuação teatral, punha todos a rir. Aquela alcunha ao que parece tinha sido herdada do seu pai, que lá para os lados de Cascais era bastante conhecido pelo “Chico da Burra”.
Naquele dia o Henrique da Burra, descalço, e com uma toalha atada á cintura, simulando uma mini-saia, tentava imitar a bonita e popular cantora inglesa Sandie Shaw, que tinha sido concorrente ao festival da Eurovisão.
Assistindo a esta festa estava o dr. Franco, médico do aquartelamento de Buba, acabado de chegar de Bissau, estava visivelmente desambientado, apenas abanava a cabeça, enquanto dizia “ estão todos apanhados”, assim achou melhor retirar-se. Mas quando a “festa” atingia o seu auge, eis que se gera o pânico. Atropelando-se, todos largam a correr porta fora em busca de abrigo. Ouvira-se o que se julgou ser a “saída” de um morteiro iniciando mais um ataque. Afinal, tudo não passara do bater da porta do frigorífico do bar que produzia o ruído semelhante à saída da granada do morteiro.
O Simplício, encarregado do bar, foi repreendido para não voltar a bater assim com a porta do frigorífico. É que, naquela situação de guerra em que se vivia, qualquer barulho do género era suspeito. Bem, depois de tudo acalmar, beberam-se mais umas cervejas, e a festa continuou embora tivesse perdido um pouco o seu ritmo. Foi esta a festa do meu 24º aniversário que ficou para não mais ser esquecida.(...)
(*) Último poste da série > 15 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14746: (Ex)citações (282): Sexo em tempo de guerra... Ha(via) um raio de um "santo inquisidor" dentro de cada um de nós... (Francisco Baptista, natural de Brunhoso, Mogadouro; ex-alf mil inf, CCAÇ 2616, Buba, 1970/71, e CART 2732 , Mansabá, 1971/72)
(**) Vd. poste de 23 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7324: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina (8): Dia de Aniversário
(... Naquele dia [,. 5 de junho de 1969] o jantar tinha terminado, a messe de sargentos de Buba estava em “festa”. Normalmente era assim, quando alguém fazia anos.
Era a minha vez, era o dia 5 de Junho de 1969, dia do meu aniversário. Completava 24 anos de idade, contava já cerca de dois anos e meio de serviço militar e, para regressar a Portugal calculava que me faltava à volta de um ano. Tinham-se bebido umas frescas cervejas e, animadamente cantava-se a canção, Senhor de Matosinhos/ Senhor da Boa hora/ Ensinai-nos o Caminho/ Para sairmos daqui para fora. Além de outras esta, pela sua letra, era a preferida.
A música vinha da viola do Cardoso, da 15ª Companhia de Comandos, e do acordeão do Gonçalves da CCS do Batalhão 2834. O Furriel Henrique (, mais conhecido pelo Henrique da Burra, ) com a sua habitual actuação teatral, punha todos a rir. Aquela alcunha ao que parece tinha sido herdada do seu pai, que lá para os lados de Cascais era bastante conhecido pelo “Chico da Burra”.
Naquele dia o Henrique da Burra, descalço, e com uma toalha atada á cintura, simulando uma mini-saia, tentava imitar a bonita e popular cantora inglesa Sandie Shaw, que tinha sido concorrente ao festival da Eurovisão.
Assistindo a esta festa estava o dr. Franco, médico do aquartelamento de Buba, acabado de chegar de Bissau, estava visivelmente desambientado, apenas abanava a cabeça, enquanto dizia “ estão todos apanhados”, assim achou melhor retirar-se. Mas quando a “festa” atingia o seu auge, eis que se gera o pânico. Atropelando-se, todos largam a correr porta fora em busca de abrigo. Ouvira-se o que se julgou ser a “saída” de um morteiro iniciando mais um ataque. Afinal, tudo não passara do bater da porta do frigorífico do bar que produzia o ruído semelhante à saída da granada do morteiro.
O Simplício, encarregado do bar, foi repreendido para não voltar a bater assim com a porta do frigorífico. É que, naquela situação de guerra em que se vivia, qualquer barulho do género era suspeito. Bem, depois de tudo acalmar, beberam-se mais umas cervejas, e a festa continuou embora tivesse perdido um pouco o seu ritmo. Foi esta a festa do meu 24º aniversário que ficou para não mais ser esquecida.(...)
6 comentários:
Insinuante melancolia Caro Camarada da C.C.2382.
Um grande abraco do José Belo. (C.C.2381)
Caro camarada Traquina
Para já, mais uma vez, parabéns pelos teus 70......
Olha, amigo, esta tua 'confissão' de 'mandares abaixo' uma garrafa com esse valor sentimental fez-me relembrar que também ainda tenho uma para essa finalidade. Se chegar até lá, mesmo que os médicos na altura possam desaconselhar, terei que fazer o gosto à memória, caso não chegue, espero então que outros possam usufruir.
Não é uma "Logan's". É uma "White & Mackay's" de 21 anos (na data do engarrafamento....), mas há ainda, do espólio da Guiné uma "President" e uma "Monks". Dá pena abrir, mas lá terá que ser!
Abraço
Hélder S.
Gostei do Post.
Eu especialmente, que era de uma Companhia de Africanos (FULAS),C.Art11/Cart 2479-(1969/1971),
tinha Whisky, que nunca mais acabava. Logo á cabeça, tinha 2 garrafas, por mês. Depois era só ir há messe ou cantina, buscar as que precisasse.
Como andei, 14 meses em intervenção, necessitei da ajuda de muitos camaradas, em aquartelamentos em todo o Leste da Guiné, para ter o melhor conforto possível. Ex.Pirada, Piche,Bajocunda,etc., tinha muito gosto, que quando camaradas, que me tinham apoiado, passavam por Nova Lamego, oferecer uma garrafa do dito cujo.
Gosto de recordar aqueles velhos tempos, com muita nostalgia de tanta camaradagem.
Caro Manuel Traquina.
Para já gostei do teu artigo meio ao melancólico.
Também trouxe as minhas garrafitas e de igual modo lá as fui doseando o melhor possível.Mas...e há sempre um mas,chegou a altura que embora ainda tenha uma "OLD PARR" já não lhe posso "tocar":É que a minha médica me disse que a partir de agora , bebidas destiladas "-Nem vê-las ".É dos "diabos". Na verdade estou esperando que o "Old Parr " solidifique um pouco mais,poderei assim comê-lo á garfada e sem desobedecer á "clínica" proibitiva.
Bom eu tentei ser um pouco "engraçadinho ".De qualquer dos modos um abraço solidário e que tenhas mais umas boas décadas festivas.
PS: Tentei beber mesmo com os olhos tapados ,mas a médica diz que " nem vê-las nem bebê-las..."
Henrique Cerqueira
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