segunda-feira, 22 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14784: Fotos à procura de... uma legenda (55): a arte bem lusitana de viajar em LDG - Lancha de Desembarque Grande


Guiné > Rio Geba >  Fevereiro de 1970 > Viagem Xime-Bissau >  LDG 101 [Alfange]  > Foto nº 1 >  A LDG é a 101, "Alfange",  que estava   equipada  com duas peças Oerlikon de 20 mm...E entre outras tropas levava o pessoal do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70), que terminva a sua comissão no setor L1. Iria regressar à metrópole em abril de 1970, no mesmo T/T Niassa em que tinha vindo.


1. Para além, deste armamento (que metia algum respeitinho...), a tripulação da LDG costumava levar um morteirete 60 mm com que batia a orla da mata, na margem sul do rio Geba, entre a foz do Rio Corubal e a Ponta Varela, quando vinha de Bissau para o Xime (ou Bambadinca)... Estes eram os locais mais que prováveis, da margem sul do rio Geba,  para o IN desencadear ataques ou flagelações às nossas embarcações, quer civis quer militares...

Mas a pergunta é: para lá da tropa (exército), o que é que a LDG costumava levar mais, de Bissau até ao Xime  (ou, ao contrário, do Xime a Bissau) ? Ou até mesmo de Bissau a Bambadinca, nessa época, que as LDG também chegavam ao  porto fluvial de Bambadinca nessa época, em 1968... Há camaradas nossos que estiveram no leste que fizeram esta mesma viagem, mas que desembarcaram em Bambadinca, e não no Xime, tendo feito portanto o percurso, mais penoso, pelo Rio Geba Estreito, cheio de curvas e contracurvas (e entre elas, as do temível Mato Cão)....

Respondendo à pergunta, as LDG que navegavam no Geba,  levavam  tudo e mais alguma coisa... Tudo o que era preciso, à ida,  para um homem se instalara no "buraco" que lhe tido cabido em sorte... Como  não havia estradas para o leste, a grande via de comunicação com o leste era o Rio Geba... Homens e material iam e  vinham nas embarcações militares e civis...  Neste caso, a LDG - Lancha de Desembarque Grande foi posta ao serviço do exército, para transporte de tropas e material, muito mais vezes do que em operações anfíbias, com os fuzileiros...

Quando se amplia a foto, quando se faz o famoso "blow-up", dá para ver promenores insólitos... No bojo da LDG, na carga que é transportada, vé-se de tudo, desde canos de bazucas, espingardas G3. jericãs, cunhetes de munições, camas, colchões e outras peças de mobília, malas de viagem, sacos, viaturas, máquinas da engenharia, e até... uma cabra!...

Pela manhã, aproveitando a maré, estava a embarcação de saída do porto de Bissau... O calor e a humidade já eram insuportáveis pelo que os "piras" começavam, logo à saída do cais, a "avacalhar o sistema", ou seja, a infringir a disciplina, o decoro e a segurança militares... No caso da foto acima, já não "piras!" que vão para o mato, mas "velhinhos" que vão para Bissau... Daí a descontração e alguma... bagunça!

Nas fotos a seguir veem-se militares em tronco nu; outros aproveitam para matar o tempo (e aliviar a alguma tensão), sentando-se numa improvisada mesa de jogo, a jogar às cartas (?) e a beber ums bejecas... (Ainda não se usava o termo "bejeca")...  Em todo o caso, estava-se longe da ideia de "cruzeiro turístico", Geba acima, Geba abaixo...

Depois de falar ao telemóvel com o Jaime Machado, dissipara-me as dúvidas  quanto à data em que estas fotos foram tiradas... Não são da viagem Bissau-Xime (em 7 de maio de 1968), mas sim da  viagem de regresso, Xime-Bissau (em fevereiro de 1970). O Jaime comprou máquina fotográfica quando já estava no TO da Guiné. E costumava tirar "slides": com um rolo de 36 fotografias, fazia o dobro (72). O "slides" (de que ele tem cópia em papel devidamente legendada) foram convertidos em formato digital pelo nosso camarada Albano Costa, o fotógrafo de Guifões, vizinho do Jaime Machado... E temos que reconhecer que a qualidade em geral é muito boa!... Estes "slixdes" têm quase meio século de existência!



Foto nº 1 A


Foto nº 1 B


Foto nº 1 C


Foto nº 1 D 


Foto nº 1 E  


Foto nº 1 F


Guiné > Rio Geba >  Xime > LDD 101 "Alfange" >  Foto nº 2 > A LDG a abicar ao porto fluvial do Xime... O pessoal desembarcado, mais as bagagens e o armamento, seguiam depois em coluna auto para os seus destinos, mais a leste (Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego, Piche, Pirada, etc.)...

Em 7 de maio de 1968, desembarcaram aqui, nesta ou noutra LDG,  os elementos que constituíam o Pel Rec Daimler 2046, comandado pelo alf mil cav Jaime Machado,  e colocado no setor L1 (Bambadinca). Vinte e dois meses depois, em fevereiro de 1970, terminada a comissão, os nossos camaradas de cavalaria voltavam apanhar a LDG, de regresso a Bissau onde, em abril de 1970, regressavam a casa, no T/T Niassa, de novo.


Foto nº 2 A


Foto nº 2 B

Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG] (*)



2. Amigos e camaradas, façam os vossos comentários, escrevam as vossas legendas (**)... Já vos dei o mote, ou algumas "dicas"... E a propósito, volto a citar o longo poema que em tempos escrevi, sobre a primeira (e sempre inesquecível, para um "periquito") viagem em LDG, que fiz em 2 de junho de 1969, de Bissau ao Xime, a caminho de Contuboel, sob o título "Por esse rio Geba acima… até ao eldorado", e que começa assim:

Como um cão apanhado na rede,
rosnavas tu, entre dentes,
nessa madrugada de 2 de junho de 1969,
no fundo de uma lata de uma LDG,
atracada ali ao lado do famigerado cais do Pidjiguiti,
entre fardos de colchões de espuma,
camas metálicas,
redes mosquiteiras,
trens de cozinha,
tendas, cacifos,
mesas, cadeiras,
cunhetes de munições,
viaturas Berliet e Unimog novinhas em folha,
velhas malas de viagem atadas com cordões,
homens esverdeados,
de farda engomada
e ar assustadiço,
pensando em minas anfíbias,
crocodilos,
hipopótamos,
setas envenenadas,
lanças ensanguentadas,
tambores de guerra,
caçadores de cabeças,
o grito do Tarzan,
ou nem sequer pensando em nada,
bêbedos de sono,
enjoados,
suados,
tirando dos bornais
as primeiras latas de Fanta e de Coca-Cola,
a água suja do imperialismo,
cliché de todos os Maios de 68 que não viveste…
Olha, Tite, olha, Porto Gole,
que, quando embrulham, 

2 comentários:

Luís Graça disse...

Sobre as LDG, ver aqui "entrada" na Wikipedia:

(...) A Classe Ariete foi uma classe de lanchas de desembarque ao serviço da Marinha Portuguesa.

Os navios da classe foram construídos nos Estaleiros Navais do Mondego (Figueira da Foz), com um projeto baseado na Classe LCT-4 de origem britânica. Pelo seu deslocamento superior a 400 toneladas, os navios foram classificados, pela Marinha Portuguesa, como "lanchas de desembarque grandes (LDG)".

As lanchas destinavam-se a ser empregues na Guerra do Ultramar em missões de reabastecimento logístico, de transporte de tropas e em operações anfíbias, sobretudo em apoio dos Fuzileiros. Foram empregues nos teatros de operações de Angola e da Guiné Portuguesa.
Em 1970, a NRP Montante fez parte da força naval portuguesa envolvida na Operação Mar Verde, transportando tropas de desembarque para a invasão de Conacri.

Os navios foram batizados com designações de armas medievais.

Terminada a Guerra do Ultramar, os navios foram cedidos a Angola e à Guiné-Bissau. (...)

Unidades:

Nº de amura Nome Comissão em Portugal Observações
LDG 102 NRP Ariete 1965 - 1975 Cedida a Angola
LDG 101 NRP Alfange 1965 - 1974 Cedida a Angola
LDG 104 NRP Montante 1965 - 1974 Cedida à Guiné-Bissau
LDG 103 NRP Cimitarra 1965 - 1975 Cedida a Angola


Classe Ariete


Nome: Classe Ariete
Construtor(es): Estaleiros Navais do Mondego
Lançamento: 1965
Unidade inicial: NRP Ariete
Unidade final: NRP Cimitarra
Em serviço: 1965 - 1975
Operadores: Naval Jack of Portugal.svg Portugal
Guiné-Bissau Guiné-Bissau
Angola Angola

Características gerais
Tipo: Lancha de desembarque
Deslocamento: 480 t
Comprimento: 57 m
Boca: 11,8 m
Calado: 1,2 m
Propulsão: 2 motores diesel 1 000 hp 2 veios
Velocidade: 10,3 nós
Sensores: Radar de navegação DECCA
Armamento: 2 peças de 20 mm (1965) | 2 peças de 40 mm (1973)
Tripulação/Equipagem: 20
Carga: 270 t

https://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_Ariete

Manuel Amante disse...

Neste caso, da ida para o Xime, julgo pela indumentária desbotada, coçada pelo tempo e outras agruras, o à vontade dos militares, a diversidade e displicência da tralha transportada na barriga da LDG que deveria ser mais uma unidade a ser transferida de algum lugar do TO para outro. Piras é que não eram.