Lourinhã > Cemitério local > 6 de maio de2012 > Lápide funerária referente ao José António Canoa Nogueira (1942-1965), o primeiro militar lourinhanense a morrer em terras da Guiné, em 23/1/1965... Era sold ap mort Pel Mort 942 / BCAÇ 619 (Catió, 1964/66).
Era meu primo, em terceiro grau, pelo meu lado materno. Foram vinte os meus conterrâneos, mortos na guerra do ultramar. O seu funeral, três meses e meio depois, tocou-me muito. Tinha 18 anos e na altura, eu era o redactor-chefe do quinzenário regionalista "Alvorada"... E devo ter publicado uma das últimas cartas que ele escreveu (datada de Ganjola, 10/1/1965, e dirigida ao diretor do jornal). Sempre pensei que tivesse morrido nalgum ataque ao destacamento de Ganjola,
Os seus restos mortais estão em jazigo de família, não no novo talhão criado para os antigos comabtentes (I Guerra Mnudial e Guerra Colonial).
Fotos (e legendas): © Luis Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
1. Trocando emails, há dias, com o João Sacôto sobre Ganjola, destacamento de Catió (*), vim a a tomar conhecimento de factos novos, que eu desconhecia, sobre as circunstâncias da morte do meu primo, mais velho do que eu cinco anos, José António Canoa Nogueira (1942-1965), o primeiro lourinhanense a tombar em combate na Guiné...
Prometi ao João publicar um poste sobre o assunto... Também lhe disse que achava estranho o facto do Canoa Nogueira ter a alcunha de
"Bombarral" (já que ele era natural da Lourinhã, concelho vizinho...) ,Em
contrapartida, o João Fernandes Almeida, soldado do pelotão do João Sacôto, tinha por alcunha o
"Lourinhã"...
Aqui vai a nossa troca de mensagens. (Também vim a descobrir que o João Sacôto andou na aviação comercial e foi comandante da TAP, além de ter ligações, afetivas, com a minha terra!... Na realidade, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!).
Aqui vai a nossa troca de mensagens. (Também vim a descobrir que o João Sacôto andou na aviação comercial e foi comandante da TAP, além de ter ligações, afetivas, com a minha terra!... Na realidade, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!).
2. Mensagem do João Sacôto, de 30 de junho e de 1 de julho de 2015:
[foto à esquerda, João Sacôto, ex-alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), em Ganjola, 1965, tendo por detrás a LDM 309, a manobrar para atracar; João Gabriel Sacôto Fernandes, que tinha já a frequência da licenciatura em ciências ecoonómico- financeiras do ISCEF, hoje, ISEG, (que não completou depois de vir da Guiné), foi piloto da aviação comercial e comandante da TAP, estando hoje reformado]
(i) Quanto ao teu primo José António Canoa Nogueira (1942-1965), natural da Lourinhã, sold do pelotão de morteiros 942 do BCaç 619, com sede em Catió, que tinha por alcunha o "Bombarral" e era muito amigo de um soldado do meu pelotão, o João Fernandes Almeida, alcunha o "Lourinhã", não morreu em Ganjola, mas sim, em combate, numa das operações para a instalação das NT em Cufar, da qual também fiz parte (CCaç 617) numa altura em que, estando a municiar o morteiro, saiu do abrigo para ir buscar granadas, foi atingido, na cabeça, por um estilhaço de granada do IN.
Ainda foi evacuado por helicóptero mas infelizmente, não sobreviveu aos ferimentos.
Sei também que se encontra sepultado no cemitério da Lourinhã, num talhão próprio de antigos combatentes, mortos em combate.
(ii) Realmente também achei estranho, sendo o Canoa da Lourinhã, ter a alcunha de "Bombarral". Acabei de ter o esclarecimento por telefone com o João Almeida (o "Lourinhã"): entre o pessoal havia, por vezes, a tendência de gozarem com o pessoal da Lourinhã, velhas estórias que conhecerás. Daí, o Canoa ter feito crer que era do Bombarral e não da Lourinhã, para não ser chateado.
Sei também que se encontra sepultado no cemitério da Lourinhã, num talhão próprio de antigos combatentes, mortos em combate.
(ii) Realmente também achei estranho, sendo o Canoa da Lourinhã, ter a alcunha de "Bombarral". Acabei de ter o esclarecimento por telefone com o João Almeida (o "Lourinhã"): entre o pessoal havia, por vezes, a tendência de gozarem com o pessoal da Lourinhã, velhas estórias que conhecerás. Daí, o Canoa ter feito crer que era do Bombarral e não da Lourinhã, para não ser chateado.
O João Almeida que era um grande amigo do Canoa, brincava, na altura, dizendo que ele era o "Lourinhã", muito embora não fosse exactamente de lá, da vila, mas sim de uma aldeia do concelho, ao passo que o Canoa, sendo mesmo da Lourinhã. não tinha essa alcunha mas sim a de "Bombarral". (**)
3. Resposta de LG, com data de 1/7/2015:
Obrigado, João, pelos teus completíssimos esclarecimentos... Tenho
que descobrir o paradeiro do Almeida... Vou todos os fins de semana à
Lourinhã... A tua explicação faz todo o sentido: na época a malta do norte (, mesmo sem saber de geografia...) tinha uma expressão curiosa: "Mas tu julgas que eu sou da Lourinhã?!"... Ou seja: não me tomes por parvo!...
A terra
era sinónimo de gente parva por causa da história da loba (que remonta aos anos 30)
... Confundiram uma loba da Alsácia, de uma quinta das vizinhanças (Quinta do Perdigão) com uma loba selvagem que andaria a
dizimar os galinheiros do pessoal e a espalhar o terror (na Lourinhã e no
Bombarral)...
Chegaram a pedir a intervenção militar, os parolos!... Feita uma batida, o animal foi morto e levado em triunfo para um pátio camarário (onde é hoje o museu da Lourinhã, dedicado aos dinossauros), e até a banda local veio para a rua, a tocar festivamente...
Um chico esperto qualquer lembrou-se inclusive de cobrar dinheiro aos mirones que, de longe e de perto, se deslocaram vere o bicho... Quando foi descoberto o engano, a Lourinhã passou a ser conhecida, depreciativamente, como a "terra da loba"... E a banda filarmónica como a "banda do toca ao bicho"... Dois insultos juntos para as gentes da mesma terra!...
Chegaram a pedir a intervenção militar, os parolos!... Feita uma batida, o animal foi morto e levado em triunfo para um pátio camarário (onde é hoje o museu da Lourinhã, dedicado aos dinossauros), e até a banda local veio para a rua, a tocar festivamente...
Um chico esperto qualquer lembrou-se inclusive de cobrar dinheiro aos mirones que, de longe e de perto, se deslocaram vere o bicho... Quando foi descoberto o engano, a Lourinhã passou a ser conhecida, depreciativamente, como a "terra da loba"... E a banda filarmónica como a "banda do toca ao bicho"... Dois insultos juntos para as gentes da mesma terra!...
Enfim, os vizinhos de Peniche também têm a história dos "amigos de Peniche", expressão depreciativa (que
remonta a 1580 e ao prior do Crato, um dos pretendentes ao trono), os Rio Maior, mais acima, têm a história do "leão de Rio Maior", os de Pombal , no distrito de Leiria, não gostam que a gente diga que vai "ao"
Pombal... (Tal como em Cuba, no Alentejo, nunca digas que vais a Cuba, mas sim "à"
Cuba)... Enfim, histórias da nossa terra e suscetibilidades das gentes de cada terra...
Eu, quando era puto, também não gostava nada de dizer aos de fora que era da Lourinhã, com medo de ser gozado... Hoje, a Lourinhã é orgulhosamente a "capital dosdinossauros" (e o seu museu merece uma visita, se lá fores apita...).
Enfim, a história da loba só ficou na memória dos mais antigos... Mas nos anos
60 estava ainda muito viva...
E tudo isto a propósito do infeliz camarada (e primo) Canoa Nogueira. Coitado do Nogueira, era um rapaz simples e bom!... Fui
eu que lhe fiz a notícia necrológica, na altura era o redator principal do jornal local, o "Alvorada"...
Notas do editor:
(*) Vd, poste de 1 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14821: Memória dos lugares (296): Ganjola e o Rio Cumbijã (ex-alf mil, João Sacôto, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)
(*) Vd, poste de 1 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14821: Memória dos lugares (296): Ganjola e o Rio Cumbijã (ex-alf mil, João Sacôto, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)
(**) Último poste da série > 29 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14810: (De)caras (22): Quando os autocarros (de Bafatá e de Gabu) chegavam ao porto fluvial do Xime com população e até com provocadores, simpatizantes do PAIGC... Um dia, já depois do 25 de abril, ía havendo uma tragédia: estava eu a montar segurança na Ponta Coli e os meus homens, fulas, quiseram fazer fogo de bazuca, em resposta às provocações da malta do autocarro (António Manuel Sucena Rodrgues, um dos últimos guerreiros do império, ex-fur mil, CCAÇ 12, Xime, 1973/74)
1 comentário:
Viva, João Sacoto! - companheiro de mesa, com a sua gentil esposa, no último convívio da Tabanca Grande, em Monte Real.
Não obstante as nossas longas conversa a essa mesa, devo ao teu post o conhecimento de que incluías a CCaç 619, a participar na "Batalha de Cufar Nalú", em apoio à nossa instalação (CCav 703) nas ruínas da fábrica de descasque de arroz, do colono Álvaro Camacho, em parceria com os Comandos do então alferes Maurício Saraiva, a Companhia de milícias comandada pelo João Bacar, que tinha como segundo comandante o futuro capitão Zacarias Sayeg, do núcleo fundador do futuro MFA da Guiné, que o PAIGC premiará com o fuzilamento, após o seu abandono, pugnado por esse movimento castrense que ajudara a criar e a crescer.
Antes da tua evocação da morte do soldado de armas pesadas José António Canoa Nogueira, estava convencido que a vossa participação nesse evento bélico consistira na espera que fizeram aos dois bigrupos que atacaram a nomadização, em 23 de Janeiro de 1965. E isso levou-me a conferir os velhos papeis, porque nesse mesmo dia e nesse mesmo ataque, morreu em combate o primeiro-cabo apontador do pelotão de morteiros de 81, do pelotão de morteiros 912, creio chamar-se Gregório Silva Lopes, na reacção a esse ataque.
Que esses malogrados camaradas descansem em paz e votos de saúde e boa disposição para os sobrevivos.
Abraço.
Manuel Luís Lomba
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