terça-feira, 7 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14843: Memória dos lugares (303): Regulado, rio e tabanca de Caboiana (ou Coboiana ?) no Cacheu, em outubro de 1964 ( António Bastos, ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem, 1964/66)





Guiné > Região do Cacheu >  Outubro de 1964 > Tabanca de Coboiana [ou Caboiana ?] > O chefe de posto do Cacheu, mais duas senhoras: (i) a esposa do chefe de posto; e (ii) a esposa do tenente [que o autor não diz quem é; seria o comandante do Pel Caç Ind 953 ?]

Foto (e legenda): © António Bastos (2015). Todos os direitios reservados [Edição: LG]



1. Mensagem, de 2 do corrente, do António Paulo Bastos (ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66):

Companheiro Luís,  boa tarde.

O nome do rio é mesmo o de Coboiana, aliás na carta de S.Domingos-Cacheu está lá.

Eu fazia esse rio muitas vezes sempre em Psico, a foto que aqui esta é mesmo na tabanca de Coboiana e o régulo da altura era o João.

Nós,   ao sairmos de Cacheu,  o primeiro  rio era o Coboy que ficava mesmo em frente ao Rio Pequeno de S. Domingos, depois tinha um rio pequeno, e era logo a seguir o rio Coboiana.

A foto que está aqui foi tirada em Outubro de 1964.  Nesse dia foi o enfermeiro para dar os comprimidos LM [, Laboratório Militar,] e comprarmos galinhas e um porco para o rancho. O  chefe de posto foi comprar uma vaca para o mercado.

Nóa algumas vezes íamos no Pecixe e outras vezes íamos no sintex da Engenharia. Também íamos de viaturas [estarada São Domingos - Sedengal] com paragem no Churro,  aí havia uma picada que dava para Catão,  Catel,   Caguepe e ia até Coboiana onde aproveitava-se e traziamos lenha.

Um abraço

António Paulo Bastos

2. Comentário de L.G.:

António, tens razão o rio existe mesmo, é preciso ver o mapa com lupa... Permite-me, no entanto,  insistir na grafia correta (de acordo com o que vem no mapa de São Domingos): a região (ou regulado) é Caboiana (e não Coboiana), os rios que assinalas são Caboi (e não Coboy) e Caboiana (e não Coboiana). A tabanca de Caboiana é que não consegui identificar... nem chegar lá... a penantes, seguindo as tuas instruções (seguir a picada do Churro; em Catel perdi-me...)...

A carta de São Domingos é de 1953, pode ter havido, com o início da guerra, deslocações de população: entre os rios Caboi e Caboiana, na orla da bolanha, identifico várias pequenas tabancas: Chamei (?), Peche, Balimbem (?), Benjá, e mais duas ou três, dificilmente legíveis... Pode ser que tenham sido reagrupadas, e tenha nascido a tal tabanca de Caboiana cujo régulo era o tal João de que falas... E se  era régulo era régulo do regulado de Caboiana... Ou não ?

Alguns dirão de que estamos para aqui a discutir o sexo dos anjos, bizantinices... Quem andou e conheceu a região, é que deve botar faladura... Eu limito-me a respeitar,  até prova em contrário, o trabalho meticuloso dos nossos competentes e valentes cartógrafos... Acho que temos essa obrigação. e não só para com eles (ou à sua memória), mas também para com todos os nossos leitores... É um questão de rigor. De resto, no noosso blogue o descritor é Caboiana e não Coboiana.

Um abraço e obrigado pelo teu pronto esclarecimento. LG



Guiné > Região de Cacheu > Carta de Cacheu / São Domingos (1953) > Escala 1/50 mil > Pormenor dos rios Cacheu e seus afluentes: Pequeno de São Domingos (margem norte); Caboi, Caboiana  e Churro (margem sul), a montante da vila de Cacheu.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).


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(**) Último poste da série Z 3 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14831: Memória dos lugares (300): os meus dois rios, o Cagopère (Cachil, no sul) e o Geba (Bafatá, no leste) (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

2 comentários:

Luís Graça disse...

bizantinice | s. f.

bi•zan•ti•ni•ce
substantivo feminino
1. Coisa a que não vale a pena ligar importância; chinesice.
2. Futilidade.

"bizantinice", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/bizantinice [consultado em 07-07-2015].

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"Sexo dos anjos"... Emm 1453, Constantinopla, a capital do Império Romano do Oriente (ou Império Bizantino) está cercada pelos otomanos (antepassados dos atuais turcos)… São 80 mil contra 7 mil. Os reinos cristãos do ocidente (com Roma á cabeça) não levaram a sério o dramático pedido de ajuda de Constantino XI... Um cisma tinha dividido, a partir de 1054, o mundo cristão...O chamado Grande Cisma do Oriente havia separado a Igreja Católica em duas: a Igreja Católica Apostólica Romana, por um lado, e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, por outro. Os líderes da Igreja de Constantinopla e da Igreja de Roma excomungaram-se mutuamente...

Em 1453, enquanto se apertava o cerco a Constantinopla (entre 6 de abril e 29 de maio de 1453), os sábios bizantinos, os teólogos, discutiam em concílio o sexo dos anjos: será que os anjos tinham pilinha ?

Não sabemos a que conclusão chegaram: as suas cabeças cortadas, pelos otomanos, não tiveram tempo de decidir e muito menos de falar...

Entretanto, parte dos intelectuais de Bizâncio tinham conseguido escapar para a Itália, trazendo consigo as obras originais da antiguidade clássica, ou as traduções feitas pelos arabistas... A essa redescoberta dos autores (gregos e latinos, clássicos) dar-se-ia o nome de Renascimento... A queda de Constantinopla marca o fim da Idade Média e o início dos tempos modernos... Sem a queda de Constantinopla ( e o fim de um império de mil e quinhentos anos), a Europa não seria o que é hoje, nem muito provavelmente os portugueses teriam dado início á aventura dos Descobrimentos...

Luís Graça disse...

António, como se chamava o chefe de posto do Cacheu ? E a esposa ? Eram donde ? Tens notícias deles ?

É uma pena que estes homens e mulheres não apareçam por aqui!... Este blogue também é deles / delas...

Podes dizer-lhes que não fazemos qualquer discriminação entre militares e civis, funcionários públicos e comerciantes, homens ou mulheres, sejam oriundos do continente sejam de Cabo Verde...

Há uma território (e uma população) que todos amaram, à sua maneira. E do qual têm recordações, fotografias, histórias...

Um dia destes, quando a nossa voz se calar para sempre (e já falta tão pouco!), ninguém mais vai falar destes tempos e destes lugares...

António, temos que fazer um esforço de memória para legendar melhor estas fotos!... Estas duas mulheres, com os típicos óculos de lentes fumadas que se usavam na época, merecem a nossa homenagem... O Cacheu, mesmo em 1964, não devia ser o paraíso na terra!... Havia já a guerra, havia as doenças tropicais, havia falta dos "confortos da civilização", a começar pela luz elétrica...

Estas mulheres merecem a nossa atenção, o nosso apreço!... Não estou a ser sentimental, melodramático, politicamente (in)correcto, muito simplesmente estou a constatar que havia mulheres, jovens, continentais ou caboverdianos, que iam para a Guiné, umas tinham profissões (professoras, enfermeiras paraquedistas, empregadas dos correios...), outras muito simplesmente acompanhavam os maridos, civis ou militares...

Precisamos de conhecer estas portuguesas!