Guiné > PAIGC > Manual escolar, O Nosso Livro - 2ª Classe, editado em 1970 (Upsala, Suécia). Lição nº 23, pp. 74/75: Um grande patriota... b
Exemplar cedido pelo Paulo Santiago, Águeda (ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72).
Fotos: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados.~
Fotos: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados.~
Guiné > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894 (Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68) – imagem do aquartelamento
[foto do nosso camarada Manuel Coelho, ex-fur mil trms, da CART 1589, P8548, com a devida vénia].
Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes),
Portimão, Grupo Lusófona.
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE A MORTE DE DOMINGOS RAMOS EM MADINA DO BOÉ - A VERDADE DOS FACTOS: ENTRE O REAL E A FICÇÃO -
1. – INTRODUÇÃO
Creio não estar muito longe da verdade se afirmar que a maioria dos camaradas, ex-combatentes, independentemente da época em que isso aconteceu, está a acompanhar com atenção e interesse a divulgação de algumas das principais experiências vividas por três médicos cubanos que estiveram na Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau] em “ajuda humanitária” ao PAIGC, na sua luta pela independência, cujas missões aconteceram nos anos de 1966 a 1969. (*)
Trata-se, com efeito, de um importante contributo histórico (digo eu!), cujo valor que eventualmente possamos atribuir à informação transmitida em cada questão, mesmo que seja relativo, permitir-nos-á reflectir sobre o “outro lado do combate”, para melhor compreendermos cada uma das nossas diferentes missões.
Na operacionalização desta possibilidade, abrem-se novos caminhos de análise individual e colectiva que, quando cruzadas com outros saberes e experiências pessoais adquiridas em cada contexto, ajudar-nos-ão a estar mais próximo da “verdade dos factos”, ainda que se aceite que “entre o real e a ficção” se tenha de superar uma “pista de obstáculos”, com várias “paliçadas” sempre em crescendo, passe a imagem de âmbito militar.
Os principais temas em destaque têm sido as dificuldades em sobreviver naquele tempo e naquele ambiente de guerra-de-guerrilha, aonde o conceito de improviso sobrepunha-se ao de logística, pois esta não existia, fazendo das pernas o principal meio de “transporte”, com caminhadas longas e diárias, onde o consumo de arroz (hidratos de carbono), a caça e a pesca (proteínas magras), garantiam a subsistência possível à maioria de cada uma das comunidades, e que serviam para suavizar a fome.
Tabanca do Xime . Foto de Jorge Araújo (1972)
No contexto estritamente militar, os diferentes relatos confirmaram que a maioria dos feridos em combate (algumas centenas, se somarmos os números indicados pelos três médicos) eram tratados em enfermarias de campanha construídas de colmo, algumas da sua iniciativa e responsabilidade, aonde se realizavam grande parte das cirurgias e amputações, quase sempre durante a noite, seguindo para Boké, o hospital de rectaguarda do PAIGC situado a cerca de trinta quilómetros da fronteira Leste com a Guiné-Bissau, as situações mais problemáticos, de que um exemplo concreto, já aqui dissecado, foi o caso do cmdt Mamadu Indjai em agosto de 1969 [P16506 + P16562].
Devido ao muito trabalho a que estavam sujeitos, às enormes dificuldades logísticas e ao número de ocorrências contabilizadas no contexto das suas missões, e das tensões a elas associadas, os médicos consideraram, como uma forte probabilidade, não ser possível dai saírem sãos e salvos, ainda que sentissem grande apoio, respeito e solidariedade.
Para além do acima exposto, eram também operacionais [armados] da guerrilha, integrados maioritariamente em bigrupos, sendo informados dos dias dos ataques onde estavam os portugueses (aquartelamentos, destacamentos, colunas de abastecimento, tabancas, …) quase sempre com armas pesadas.
Ficavam geralmente na rectaguarda a um quilómetro de distância, aonde montavam o posto sanitário com o equipamento de primeiros-socorros, para ser usado em caso de necessidade de prestação de cuidados de saúde, contando em situações pontuais com apoio de uma unidade de enfermagem.
Partindo da crença de que este assunto, tal como muitos outros, mereceria o seu aprofundamento por via dos muitos comentários recebidos, que agrademos, reforçada pela sugestão avançada pelo camarada Luís Graça ao referenciar novos elementos documentais relacionados com a figura de Domingos Ramos e a sua morte, eis mais um pequeno contributo de reforço ao referido no meu poste anterior [P16613] (**).
2. – A MORTE DE DOMINGOS RAMOS EM MADINA DO BOÉ
Neste ponto, para enquadrarmos o tema da morte do cmdt da Frente Leste Domingos Ramos, ocorrida a 10 de novembro de 1966, em Madina do Boé, iremos recuperar algumas das passagens já abordadas anteriormente pelo dr. Virgílio Camacho Duverger, com destaque para a questão 11 (“Participou em acções de guerra?”), mesclando-as com outros elementos históricos, uns mais fiáveis que outros, mas todos eles a merecerem a nossa reflexão.
Como foi referido anteriormente, o dr. Virgílio Camacho Duverger chega a Conacri em junho de 1966, integrado num contingente de cerca de três dezenas de elementos, entre os quais oito médicos, em que um deles é o nosso conhecido dr. Domingo Diaz Delgado.
É colocado no Hospital de Boké, aonde permaneceu dois meses, sendo depois transferido para a Frente Leste [agosto de 1966] para uma base existente no interior da República da Guiné, na região do Boé, com o objectivo de construir uma enfermaria de campanha que pudesse servir de apoio aos combatentes aí colocados sob a direcção do Cmdt Domingos Ramos, cuja principal missão militar era atacar o quartel de Madina do Boé [até à exaustão, visando a expulsão das NT, o que veio a acontecer dois anos e meio depois, em fevereiro de 1969].
Neste aquartelamento, naquele tempo, estava instalada a CCAÇ 1416 comandada pelo Cap Mil Jorge Monteiro, aí permanecendo entre maio de 1966 e abril de 1967, sendo nesta última data rendida pela CCAÇ 1790, comandada pelo Cap Inf José Aparício. [Vd. foto acima]
Ao terceiro mês de estar naquela região [novembro], é-lhe pedido que realize um reconhecimento ao referido quartel, considerada por si como a missão mais importante em que participou, tendo por companhia o dr. Milton Echevarria, médico do seu grupo na Frente, e o apoio de guias/guerrilheiros destacados para aquela acção, caminhada que, disse, demorou perto de cinco horas, uma vez que a base estava a cerca de três quilómetros dali.
Em 10 de novembro de 1966, uma quarta-feira, a operação concretizava-se. Antes do ataque, na companhia de um enfermeiro cubano anestesista que havia chegado para reforçar o grupo de saúde, criou um posto sanitário avançado em território da Guiné-Bissau, perto da zona do combate, de modo a facilitar a assistência médica e a prestar os primeiros socorros aos combatentes que ficassem feridos, pois não era fácil chegar ao hospital de Boké.
Conta que a primeira morteirada lançada pelos portugueses [da CCAÇ 1416] cai, por casualidade, no local aonde estava o posto de observação no qual se encontrava o comandante da Frente, o guineense Domingos Ramos. Os estilhaços da granada atingem-lhe o abdómen causando-lhe uma ruptura hepática violenta que não deu tempo para o levar até ao hospital para o poder operar. Durante a evacuação, a caminho do hospital [não indica qual: se a enfermaria que ajudou a criar em território da Guiné-Conacri, se o hospital de Boké], Domingos Ramos faleceu.
Este episódio é descrito pelo assessor militar cubano Ulises Estrada [1934-2014], pois encontrava-se a seu lado, nos seguintes termos:
(...) "Eu encontrava-me ao lado de Domingos [Ramos], em que metade do seu corpo cobria o meu para proteger-me, coisa que não pude evitar, e abrimos fogo com um canhão B-10 colocado numa pequena elevação situada a cerca de seiscentos metros do quartel. Os portugueses [CCAÇ 1416] tinham montado postos de vigia na zona e responderam com disparos certeiros de morteiro, embora nós continuássemos a disparar com o canhão sem recuo, metralhadoras e espingardas.
"Pouco tempo depois de iniciado o combate, senti que corria pelo lado direito das minhas costas um líquido quente e pensei que estava ferido por uma das morteiradas que caíam ao nosso redor. Era Domingos [Ramos], sangrava abundantemente. Peguei no seu corpo com a ajuda de outro companheiro e o conduzimos ao posto médico, situado a cem metros da zona do combate. O médico cubano [Virgílio Duverger] informou-me que havia falecido.
"Não podíamos deixar o cadáver do dirigente guineense nas mãos dos portugueses. Pegámos no seu corpo e num camião nos deslocámos pelos campos de arroz até à fronteira com Conacri. Chegámos a Boké, aonde se encontrava o posto de comando fronteiriço, e entregámos o seu cadáver ao companheiro Aristides Pereira [1923-2011], para que pudesse fazer o funeral e render-lhe as honras que merecia este combatente, que foi um dos primeiros grandes chefes do PAIGC a morrer em combate”. (...)
[Excerto traduzido por JA, do castelhano: «Recordando Amílcar Cabral, líder anticolonialista da Guiné-Bissau», em: http;//45-rpm.net/sitio-antiguo/palante/cabral.htm].
Canhão s/ r 82 mm e alma lisa,, B-10, de origem soviética... Uma arma versátil e temível... Sess
ao de terino possivemente na base de Boké.
ao de terino possivemente na base de Boké.
Fotograma do filme "Madina Boe" (Cuba, 1968, 38'), do realizador José Massip (1926-2014), obtidas a partir da função "print screening" do teclado do PC e da visualização de um resumo, em vídeo (28' 22'') , disponibilizado no You Tube, na conta "José Massip Isalgué". O documentário foi carregado no You Tube no dia da morte do cineasta (ocorrida em Havana, em 9/2/2014). O documentário chama-se "Amílcar Cabral" (e pode ser aqui visualizado)
De notar que Domingos Ramos viria a morrer dois anos depois da cerimónia de juramento de fidelidade dos guerrilheiros do PAIGC, ocorrida em 16 de novembro de 1964, nos arredores do Gabu, com a presença de Amílcar Cabral. Este acto de juramento de fidelidade, com que encerrou os trabalhos da constituição das primeiras unidades do Exército Popular, e da qual fez parte, tinha como lema “força, luz e guia do nosso povo, na Guiné e em Cabo Verde”.
À frente das FARP estavam importantes dirigentes do partido, tais como Domingos Ramos, Chico Mendes, Luís Correia, Lúcio Lopes e Honório Fonseca. Foram criadas novas frentes de batalha: no Gabu (local do juramento); no Boé (Madina, Beli, Cheche); a Leste, e em São Domingos (no Norte). [in: Luís Cabral, «Crónica da Libertação», 1.ª edição, Julho de 1984, edições «O Jornal», Publicações Projornal, Lda, Lisboa, p 230].
Mapa da região do Boé, com a localização do quartel de Madina, assinalando-se a direcção do hospital de Boké.
3. – AMÍLCAR CABRAL E A MORTE DE DOMINGOS RAMOS:
- DO REAL À FICÇÃO
Poucos dias após a morte de Domingos Ramos, Amílcar Cabral [1924-1973], na qualidade de secretário-geral do PAIGC elabora um documento de cinco páginas A4, dactilografado, a que chamou de «MENSAGEM» dirigida a «Todos os responsáveis e militantes do nosso Partido» e a “Todos os combatentes das nossas Forças Armadas”, de que se reproduz o título:
Trata-se de um documento político e ideológico fazendo apelo, no essencial, ao reforço da luta armada em todas as frentes, utilizando a figura de Domingos Ramos como meio de acção psicológica tendente à prossecução da libertação nacional.
Eis as duas primeiras páginas [, de cinco]:
Quanto ao sucedido, lamenta [naturalmente] mais uma perda na luta armada de libertação nacional, referindo-se “à morte do nosso grande camarada Domingos Ramos (João Cá), membro do Bureau Político do nosso Partido, companheiro exemplar e querido de todos os camaradas, militantes de vanguarda da nossa luta de libertação” (p3).
Acrescenta que “o camarada Domingos Ramos tombou no seu posto heroicamente, durante um ataque feito a uma caserna inimiga em 10 de novembro [1966], no qual causámos mais de trinta mortos e várias dezenas de feridos às tropas colonialistas” (p3).
A propósito desta afirmação, que é ficção, eis, no quadro abaixo, o número de baixas das NT verificado no período entre 1 de setembro e 8 de novembro de 1966 em todo o território do CTIG, não constando nos registos consultados qualquer morto ou ferido durante o ataque supra.
De notar, ainda, que até à data deste ataque, que não teve consequências, a CCAÇ 1416/BCAÇ 1856 registava quatro baixas, a 1.ª, em 22 de novembro de 1965, do Alf Mil Adelino da Costa Duarte, do 3.º Gr Comb [P12320 – homenagem de Manuel Luís Lomba], e as restantes, curiosamente oito meses despois, em 22 de junho de 1966, a saber: o Sold. Augusto Reis Ferreira, de Montargil (Ponte de Sôr); o Sold. Carlos Manuel Santos Martins, da Cova da Piedade (Almada) e o 1.º Cabo Rogério Lopes, de Chão de Couce (Ansião).
A referência a estas três baixas tinha já sido lembrada por José Mota Tavares, ex-Alf Mil Capelão da CCS/BCAÇ 1856 [P16049] no qual acrescenta “tenho imensas histórias de (…) Madina do Boé (8 ou 10 vezes debaixo de fogo, três mortos, duas fugas durante a missa para o abrigo…)”].
Sobre o martírio de Madina do Boé, pode-se ver um pouco da história da CCAÇ 1790 em:
https://www.youtube.com/watch?v=7vKuLzJVgU0 (1.ª parte)
https://www.youtube.com/watch?v=wn7Oeba1b_g (2.ª parte)
Recuperando a mensagem de Amílcar Cabral, este refere que, quanto à situação de Domingos Ramos, ela era muito grave e que já não teria salvação. Daí “o camarada Domingos Ramos dirigiu palavras de encorajamento aos seus companheiros de direcção do Partido, a todos os combatentes da nossa luta, dando assim mais uma grande prova de amor ao nosso povo, de dedicação sem limites ao nosso grande Partido e de certeza da vitória final da nossa luta” (p3).
Eis as duas páginas seguintes do documento atrás citado (3 e 4):
Prossegue com uma deliberação:
“tendo em conta os grandes serviços que o camarada Domingos Ramos prestou ao seu povo, à construção da nossa Pátria e ao desenvolvimento da nossa luta como militante e dirigente do nosso Partido, guardamos eternamente a memória do nosso camarada Domingos Ramos como a de um Herói Nacional. Por isso, a data de nascimento do nosso camarada Domingos Ramos será considerada uma data nacional, a sua fotografia será afixada em todos os lugares de trabalho do nosso Partido e construiremos um monumento à memória do camarada Domingos Ramos logo que a nossa terra seja independente” (p4).
Termina dizendo: “penso que as melhores palavras com que devo acabar esta mensagem são as que o camarada Domingos Ramos escreveu para mim, nos últimos momentos da sua vida (p. 5):
Fonte: Fundação Amílcar Cabral > Casa Comum > Arquivo Amílçcar Cabral (Com a devida vénia...)
Citação:
(1966), "Mensagem aos responsáveis e militantes do PAIGC e aos combatentes das Forças Armadas por ocasião da morte de Domingos Ramos", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_42298 (2016-10-31)
Pasta: 04602.044
Título: Mensagem aos responsáveis e militantes do PAIGC e aos combatentes das Forças Armadas por ocasião da morte de Domingos Ramos
Assunto: Mensagem dirigida aos responsáveis e militantes do PAIGC e aos combatentes das Forças Armadas, assinada por Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, por ocasião da morte do dirigente Domingos Ramos.
Data: Fevereiro de 1966 [Novembro de 1966]
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral
Estas palavas escritas, supostamente por Domingos Ramos, são mais uma ficção só possível no contexto da guerra. De facto, todos os testemunhos dos que dele estiveram mais próximo e o socorreram, caso do Ulises Estrada e do médico Virgílio Duverger, nada referem.
Qualquer um de nós que viveu um cenário semelhante [e eu sou um deles, mais do que uma vez] não aceita, como verdade, o que acima é descrito, por muitas e diferentes razões. Desde logo, do ponto de vista cognitivo, o ferido com a gravidade referenciada cai redondo no chão e a consciência vai-se [foi-se]. Mas, esquecendo este pormenor muito importante, vamos a questões práticas.
Aonde estava, e de quem eram: o bloco de notas e a esferográfica? Com tanto sangue, a existir papel, este estava limpinho com as mãos ensanguentadas? E a esferográfica escrevia no papel molhado? E quem guardou o papel escrito? Se o Ulises Estrada foi o primeiro a dar-lhe apoio, recorrendo a outro guerrilheiro para o transportar até junto do médico, aonde chegou já morto, como era possível escrever uma mensagem tão estruturada e sem gaffes de memória ou funcionais. Como a terá escrito: de pé, sentado ou deitado? E onde a escreveu: nos joelhos, no chão ou nas costas de alguém? A caligrafia utilizada: foi em minúsculas ou em maiúsculas? …
Eis algumas razões que me levam a concluir estarmos perante uma ficção que passou, durante muitos anos, por verdade… (***)
Obrigado pela atenção.
Um forte abraço de amizade com votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
24OUT2016.
____________________
Notas do editor:
(*) Vd,. postes de:
12 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16592: Notas de leitura (889): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte X: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger´[I]: viajando até Conacri com nomes falsos... (Jorge Araújo)
18 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16613: Notas de leitura (892): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XI: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [II]: Estava a 3 km de Madina do Boé, em 10 de novembro de 1966, quando o cmdt Domingos Ramos foi morto por um estilhaço de morteiro da CCAÇ 1416 (Jorge Araújo)
20 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16506: (De)Caras (45): Médicos cubanos 'versus' comandante Mamadu Indjai (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/74)
18 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16613: Notas de leitura (892): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XI: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [II]: Estava a 3 km de Madina do Boé, em 10 de novembro de 1966, quando o cmdt Domingos Ramos foi morto por um estilhaço de morteiro da CCAÇ 1416 (Jorge Araújo)
20 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16506: (De)Caras (45): Médicos cubanos 'versus' comandante Mamadu Indjai (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/74)
(***) Último poste da série > 24 de outubor de 2016 > Guiné 63/74 - P16633: (De)caras (49). O 'embarazo' das esposas... O campeão de luta fula, Arfan Jau, do 4º pelotão, respondendo à moda do Porto à senhora do capitão, intrigada com a carecada que ele havia apanhado: 'Senhora, Arfan Jau cá tem cabelo, manga de fodido'... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)
11 comentários:
Meu caro Jorge: Mais um bom contributo para o "inesgotável" dossiê da guerra colonial da Guiné... Há quem se incomode, entre os antigos combatentes, pelço facto cde gente estar a falar aqui do "inimigo de ontem", dos cubanos e dos desertores... Ora tudo está ligado: o Domingos Ramos, antes de ser "general" do PAIGC, foi uma camarada nosso, que desertou, tal como outros quadros dirigentes do PAIGC...
A guerra acabou há meio século atrás, e nós não vamos deixar que estas "pedrinahs nas botas" nos impeçam de prosseguir a caminhada pela picada fora...
Não está em causa (nem nos compete a nós...) avaliar o comportamento do Domingos Ramos, em combate ou na liderança dos seis homens..., E muito menos transformá-lo em her+oi... Isso é assunto dos guineenses... E, de resto, cada povo tem os heróis que merece...
O que queremos fazer aqui é separar o trigo do joio... Vamos destrinçar os fatos e a propaganda... As últimas palavras, à beira da morte, atribuídas ao Domingo Ramos, são uma "falsificação da história": Amílcar Cabral, tal como o nosso general Spínola, sabia falar ao "coração" dos seus homens...
Os lideres não têm que ser "intelectualmenet honestos", mas sim vencer e convencer... Cabral e Spínola sabiam que a palavra era um arma... Não necessariamente a verdade...
Nós é que já não temos nem idade nem pachorra para engolir as "mentiras da história", venham elas de onde vierem...
Um abraço LG
Jorge, o teu quadro com as baixas mortais das NT, no período de 1/9/1966 a 8/11/1966, deveria ir até 10 ou 11/11/1966... Em 8/11/1966 ocorreram as últimas (cinco) baixas do período... Nos dias 9, 10 e 11, não houve mortos (em comabte, nem por outras causas)... O ataque a Madina do Boé, em que morreu o Domingos Ramos e em que o PAIGC propagandeou ter causada 30 baixas mortais às NT, foi a 10/11/1966...
Em todos os movimentos (sociais, políticos, religiosos...), em todos os exércitos e organizações militares ou paramilitares, em todas as igrejas, corporações, países, sociedades, épocas... há uma tendência para confundir a "hagiografia" (a história dos seus santos, heróis, líderes...) com a "historiografia"...
Também nós temos os nossos "mitos", não somos diferentes de outros povos... Aliás, muitos dos mitos são fundadores e estruturantes para a identidade dos povos... Há uma "hagiografia" do Dom Afonso Henriques como há uma "hagiografia" de Nelson Mandela ou de Nasser ou de Amílcar Cabral... Mas só lê o "missal" quem quer... LG
Luís,
A tua questão dos números é pertinente... e eu pensei nela desde o princípio, pois tinha que elaborar um quadro que pudesse desmontar os referidos por Amílcar Cabral no seu texto.
Se tivesse alargado o período para além do que referi poderia induzir em erro os leitores, pois poderiam ser considerados como fazendo parte desse ataque.
De facto, o ataque em 10 de novembro de 1966 não teve consequências para as NT.
De referir, ainda, que o Domingos Ramos não morreu sozinho. O mesmo aconteceu ao seu guarda-costa, ou ajudante de campo, conforme consta no livro «La Historia Cubana en África», de Ramón Pérez Cabrera, p 143, em:
https://books.google.pt/books?id=4HT2AgAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-PT#v=onepage&q&f=false
Voltarei a este assunto logo que se justifique.
Um abraço grande para a Tabanca.
Jorge Araújo
Olá Luís
"Cada povo tem os heróis que merece"... Ou os chefes?
É isto mesmo! A "carta" do Amílcar deve ser encarada à luz das técnicas de controlo de massas dos partidos africanos da altura. É o aproveitamento da morte de um militante de destaque para estimular os restantes, nomeadamente os militantes de base, a prosseguirem na luta e para tal como diz o Aleixo:
"Para a mentira ser segura
E atingir profundidade
Tem de trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade".
É de assinalar que estas técnicas de propaganda estavam adequadas aos povos a que eram destinadas.
Por cá nunca tivemos nada de parecido e nossa propaganda nunca foi bem absorvida pelos alvos. Ora aqui tens matéria para o blog. Talvez (mais) um inquérito...
Esta carta, para mim é a prova de que o Amílcar era mais um daqueles leaders africanos que, se não calha a morrer, se eternizaria no poder com aqueles que temos conhecido e à custa das "técnicas e tácticas" que bem lhes conhecemos.
Em resumo: um igual aos outros. Nada de génio.
Um Ab.
António J. P. Costa
Tó Zé:
Na história não há "ses" ... Não vale a pena especular sobre a hipótese de, com um partido único no poder (e para mais vindo da guerrilha), o Amílcar Cabral ter-se-ida tornado igual a tantos outros líderes africanos, déspota, monarca absoluto, chefe tribal...
Nelson Mandela foi uma rara exceção, mas teve a "prova de fogo" da prisão (27 anos!), que foi coisa que o Amílcar Cabral nunca conheceu... (E também não conheceu as agruras do mato, da guerrilha...).
Pelo contrário, O nível de desenvolvimento da Guiné não se podia comparar com nada... muito menos com a África do Sul... Por outro lado, quando Nelson Mandela foi libertado, em 1990, o mundo já era outro, tinha chegado ao fim uma época, o mundo dual da guerra fria...
A lidrança política é sempre contingencial, mas há aspetos de personalidade e inbdividualidade (carisma , inteligência, "background" téorico, etc.) que não podemos desprezar: compare-se o nosso Saalzar e outros ditadores da época, como Mussolini que ele admirava... Agora, é verdade, o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente...
Como Amílcar Cabral desapareceu antes de "prestar provas", fica com a auréola da história, de "grande líder africano" (em termos de pensamento e de ação). E é melhor assim, para todos, amigos e inimigos, e nomeadamente lusófonos...
Olá Luís
Tens dúvidas a respeito deste "se"? Porque é que com ele seria diferente. Seria uma espécie de flor no entulho...
Analisa a "carta aos militantes" e vê o seu teor demagógico e intelectualmente desonesto. É propaganda pura, mas bem aplicada ao público-alvo a que se destinava. Nõ há ali nada sentido. É só paleio!
Se o Amílcar Cabral desapareceu antes de "prestar provas", não entendo porque é que fica com a auréola da história. Qual auréola? Ainda por cima de "grande líder africano". Porquê? Admito que para os amigos seja melhor assim, mas para os inimigos e nomeadamente lusófonos...
Por mim aceito-o como mais um personagem da História. Agora desvanecer-me perante ele... poupa-me.
Aliás, o assassinato dele diz qualquer coisa acerca da sua popularidade e prestígio entre os patriotas da Guiné. Ou estou errado?
Um Ab.
António J. P. Costa
Enfim me desculpem.Mais do mesmo.
A.Dias
Ainda um dia havemos de falar de Viriato contra os Romanos que fizeram
estradas e pontes, ergueram localidades, trouxeram a língua, a arte e o
pensamento, mas o Viriato parece que defendeu mal a Lusitânia.
Valdemar Queiroz
Caros amigos,
Relativamente a afirmacao do Antonio J.P.Costa quando diz: "É de assinalar que estas técnicas de propaganda estavam adequadas aos povos a que eram destinadas.
Por cá nunca tivemos nada de parecido e nossa propaganda nunca foi bem absorvida pelos alvos", gostaria de relembrar que este tipo de propaganda nao era exclusivo do PAIGC e Amilcar Cabral, pois o mito criado a volta de Domingos Ramos com o fito de criar animo e galvanizer massas nao eh nada diferente de um outro mito criado a volta de Bacar Djalo, Cap. Comando que, se nao era portugues, pelo menos servia os seus interesses.
A tecnica e os meios utilizados, o publico alvo assim como os objectivos almejados eram identicos nos dois casos e nao vejo porque uns seriam piores ou melhores que outros.
Sobre o Amilcar, penso que podemos julgar com base naquilo que sabemos e que seja objectivamente observavel e/ou refutavel, nao nos sendo permitido especular com base em "se".
Um abraco amigo,
Cherno AB
PS/
Trata-se, alias, do Cap. Comando Joao Bacar Jalo, Comandante da 1a. companhia dos Comandos: Oficial da ordem militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Merito, detentor, entre outros, e a titulo postumo da medalha de ouro de servicos distintos a patria portuguesa.
Sobre o Heroi Joao Bacar Jalo, escreveu o Fernando Pires dos Santos:
"Companheiro leal
Militar virtuoso,
Nobre filho de Portugal
(...)
Joao Bacar nao morreu,
Nasceu sim p'ra nossa historia.
Bissau, Junho de 1971
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