(...) “A segunda má notícia é que o Daniel Alves conseguiu enganar a malta e fugiu em Dakar. É Vamos ver como é que as coisas se passarão, mas é pena que nos tenhamos deixado enganar dessa maneira, tanto mais que sempre desconfiámos do Daniel que a estas horas já deve estar com os tugas. […] Quanto ao Daniel até pode-nos servir de propaganda, mas o diabo são os amigos que têm medo de tudo”. (...)
Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral > Documento, s/d [circa jan/fev 1969] de Amílcar Cabral, em que dá a notícia, aos seus camaradas, do desaparecimento, em Dacar, do desertor português Daniel Alves...
Citação:
(s.d.), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34366 (2016-11-8) [Excerto de documento reproduzido com a devida vénia]
1. Comentário do editor (*):
Jorge:
Cheira-me que são dois casos diferentes pelo "desfasamento" das datas... Ou será que o David Costa viveu em Dacar um ano e meio, beneficiando da "hospitalidade" do PAIGC (cama, mesa e roupa lavada ?)... Temos que esclarecer o(s) caso(s)... Também ter acontecido haver aqui uma "troca de nomes" por parte do Amílcar Cabral... que, no fundo, era um líder centralizador e que queria estar a par de tudo... (De resto, o drama do PAIGC foi o Amílcar Cabral, enquanto líder, nunca ter preparado ninguém para o suceder; ele, no íntímo, devia achar que era único e insubstituível, daí a sua dificuldade em delegar; no caso dos desertores, tomava muito a peito esse dossiê, era paternalista com eles, fazia questão de os tratar com "humanidade" mas não escondia os suas intenções, que eram pô-los ao "serviço da propaganda" do PAIG.)
De qualquer modo, este episódio do tal "Daniel Alves" só revela que éramos todos... uma camabada de "ingénuos", nós (as NT), o Amílcar Cabral, o Luís Cabral, o Mário Pádua... Uma trágica ingenuidade que nos levou, a todos, a um puta de uma guerra sem sentido, como todas as guerras...
2. Resposta de Jorge Araújo (*):
O alegado desertor que é apanhado, primeiro, pelo PAIGC, e que depois os finta todos (Amílcar Cabral, Luís Cabral, Mário Pádua...), fugindo de Dacar, será mesmo o David Costa ou será um outro caso ?...
O Amílcar Cabral chama-lhe DANIEL ALVES... Será que o David Costa lhes deu um nome falso ? Em princípio, é possível, ele deve ter fugido indocumentado, em 17 de maio de 1967...
Temos que confirmar as datas... Quando puderes... O documento que citas, em que o Amílcar Cabral dá aos seus camaradas duas más notícias, deve ser de janeiro ou fevereiro de 1969:
(i) uma é o massacre de Sagonhá (6/1/1969); e (ii) a outra é a "deserção" (desta vez das "fileiras" do PAIGC...) do tal "Daniel Alves" (sic)...
O Amílcar Cabral chama-lhe DANIEL ALVES... Será que o David Costa lhes deu um nome falso ? Em princípio, é possível, ele deve ter fugido indocumentado, em 17 de maio de 1967...
Temos que confirmar as datas... Quando puderes... O documento que citas, em que o Amílcar Cabral dá aos seus camaradas duas más notícias, deve ser de janeiro ou fevereiro de 1969:
(i) uma é o massacre de Sagonhá (6/1/1969); e (ii) a outra é a "deserção" (desta vez das "fileiras" do PAIGC...) do tal "Daniel Alves" (sic)...
Cheira-me que são dois casos diferentes pelo "desfasamento" das datas... Ou será que o David Costa viveu em Dacar um ano e meio, beneficiando da "hospitalidade" do PAIGC (cama, mesa e roupa lavada ?)... Temos que esclarecer o(s) caso(s)... Também ter acontecido haver aqui uma "troca de nomes" por parte do Amílcar Cabral... que, no fundo, era um líder centralizador e que queria estar a par de tudo... (De resto, o drama do PAIGC foi o Amílcar Cabral, enquanto líder, nunca ter preparado ninguém para o suceder; ele, no íntímo, devia achar que era único e insubstituível, daí a sua dificuldade em delegar; no caso dos desertores, tomava muito a peito esse dossiê, era paternalista com eles, fazia questão de os tratar com "humanidade" mas não escondia os suas intenções, que eram pô-los ao "serviço da propaganda" do PAIG.)
De qualquer modo, este episódio do tal "Daniel Alves" só revela que éramos todos... uma camabada de "ingénuos", nós (as NT), o Amílcar Cabral, o Luís Cabral, o Mário Pádua... Uma trágica ingenuidade que nos levou, a todos, a um puta de uma guerra sem sentido, como todas as guerras...
Luís e restantes camaradas,
Antes de mais, as minhas desculpas pelo enorme lapso que cometi e que só agora dei conta.
De facto, estamos perante dois casos distintos. Serão, certamente, dois desertores das NT, o 1.º é o David Costa, que depois de ter regressado a Bissau, foi preso e julgado em 1968 [segundo as minhas contas entre maio e junho].
O 2.º é o Daniel Alves [se o nome for verdadeiro!?] e que terá fugido de Dacar, a exemplo do David Costa, em finais de 1968.
Baralhei-me com os nomes: David vs Daniel. (**)
Antes de mais, as minhas desculpas pelo enorme lapso que cometi e que só agora dei conta.
De facto, estamos perante dois casos distintos. Serão, certamente, dois desertores das NT, o 1.º é o David Costa, que depois de ter regressado a Bissau, foi preso e julgado em 1968 [segundo as minhas contas entre maio e junho].
O 2.º é o Daniel Alves [se o nome for verdadeiro!?] e que terá fugido de Dacar, a exemplo do David Costa, em finais de 1968.
Baralhei-me com os nomes: David vs Daniel. (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 15 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16721: Notas de leitura (892): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XII: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [III]: o encontro, em Boké,com o médico português Mário Pádua (Jorge Araújo)
(*) Vd. poste de 15 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16721: Notas de leitura (892): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XII: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [III]: o encontro, em Boké,com o médico português Mário Pádua (Jorge Araújo)
(**) Último poste da série > 8 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16699: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (21): Mário Moutinho Pádua, o primeiro oficial português a desertar, em Angola, em outubro de 1961... Será, mais tarde, médico do PAIGC, no hospital de Ziguinchor, entre fevereiro de 1967 e setembro de 1969... Regressou a Portugal em novembro de 1974, e cumpriu o resto do serviço militar... Aposentou-se em 2003 como médico do Hospital Pulido Valente (Juvenal Amado)
1 comentário:
Jorge Araújo. Fui colega do David Costa, estava na caserna no momento em que começou a sua odisseia, isto em 17/05/1967. Recordo dele ter saído do quartel por volta das 15H00 a seguir ao almoço e logo após a entrega do correio ao pessoal no quartel de Mansoa. Durante os seguintes 3 ou 4 meses, ninguém soube nada dele até que a certa altura ele foi de novo ter com a nossa companhia em Mansoa (Cart 1660). Disse-nos então que depois de sair do quartel vagueou pela vila de Mansoa, até que entrou na estrada que leva a Braia, Bissorâ ect. A certa altura ter-se-há perdido, a noite caiu, ele acabou por ver luzes num destacamento que eu penso ser de Braia ou então, Cutiá, visto que este ultimo era mais próximo de Morés para onde ele disse ter sido levado pel PAIGC. Disse ainda que, decidiu não arriscar aproximar-se das luzes do destacamento que encontrou já de noite e que se embrenhou na mata tendo sido depois capturado por um grupo do PAIGC e levado para a zona de Morés que eu tão bem conheço devido a várias emboscadas e ataques que lá fui fazer com a Cart 1660. O rapaz, após a sua captura teria estado em alguns acampamentos do PAIGC incluindo na mata de Iracunda perto da estrada Bissorã-Mansabá e onde a minha companhia posteriormente fez um golpe de mão com vário material de guerra apreendido. Iracunda situava-se junto à tal picada ( Bissorã-mansabá) que na altura estava intransitável devido a imensas árvores que o PAIGC atravessou nessa via e que eu próprio constatei em várias OP em Morés. De Iracunda o David deve ter partido em direção ao Senegal (Zinguichor)levado pelo grupo do PAIGC, o mesmo grupo que o tinha antes capturado. Recordo dele ter regressado a Mansoa uns 3 a 4 meses depois do início da sua aventura. Ao ter regressado à nossa companhia em mansoa, ele foi bastante mal tratatado chefe das OP do Bat 1912 ao qual a Cart 1660 estava agregada, tendo inclusive saído com uma das companhias desse batalhão na tentativa de se conseguir que ele os levasse aos locais que antes ele tinha visitado, o que não foi conseguido porque o David compreensivelmente não conseguiu descobrir o seu anterior trajeto até à sua captura. Ele foi julgado no tribunal militar de Bissau em inícios de Novembro de 1968 e eu próprio assisti á sentença dele que foi de 2 anos, um mês e um dia de prisão. isto a cerca de uma semana da nossa companhia cart 1660, regressar à metrópole em 11 de Novembro de 1968. Sou o, Jorge Lobo cabo atirador cart 1660.
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