Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
Guiné 63/74 - P16729: (In)citações (104): Um texto elucidativo... Onde se fala do Restaurante Bar Pelicano, de Momo Turé, do Tarrafal, da PIDE/DGS, do PAIGC... (Mário Serra de Oliveira)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68), com data 12 de Novembro de 2016:
Prezado Carlos:
No decorrer dos anos, toda a gente tem altos na vida... mas, seja em que momento for, quando se recebe uma mensagem como que abaixo vou publicar - deixando aos teus princípios e do blogue, repassar - não há dinheiro no mundo que nos dê tanta saúde e alegria, como ler o dito texto, escrito por alguém que conheci e foi meu companheiro de trabalho n' "O Pelicano".
Mas, deixa-me explicar melhor:
Na sequência de um dialogo sobre os "problemas da Guiné", eu, por conhecer pessoalmente, alguns dos intervenientes do diálogo, decido opinar dentro dos meus princípios e conhecimentos de causa. Incluso, mencionei Momo Turé - meu braço direito no dito Pelicano. Agora, repara só que... depois de mais de 50 anos (físicos) e cerca de 2 séculos de saudades, me sai esta mensagem, dirigida a 2 dos dialogantes - eu e outro respeitável guineense, vivendo em Paris.
Passo a transcrever...
Um texto elucidativo
"Aos dois interlocutores os meus respeitosos cumprimentos.
Ao Mário, pessoa com quem convivi durante três meses no Bar-Restaurante Pelicano da propriedade do senhor Marques, dono de Grande Hotel em Bissau.
Trabalhei como copeiro à noite (lavador de pratos e copos) e depois garçom no Bar, durante a tarde, ganhando 300$00 escudos guineenses por mês.
Tive o prazer de conviver também, no mesmo espaço, com o Momo Ture, aliás meu primo e vizinho de casas no Pilum de Baixo. Momo Ture foi companheiro da primeira hora de Rafael Barbosa e Amílcar Cabral.
Momo Ture participou da fundação do PAI. Diversas reuniões foram feitas na casa de Momo. Eu era um puto de 8 anos de idade, mas tinha consciência das coisas. Momo costuma nos reunir, pessoas da família, para explicar as atividades sobre a gestação da política pela independência. Ele nos dizia é para amanhã não ficarem a lés das coisas. Ele perdeu a sua juventude toda na política que veio lhe rendendo prisões e morte. Passou de 7 a 8 anos nas masmorras da minha PIDE em Tarrafal, Cabo Verde. Após 2 anos de libertado foi se juntar ao PAIGC. Quando foram libertados ele e o Aristides Barbosa, de origem caboverdiano-guineense, foram os únicos que não assinaram o termo de arrependimento e de integração à bandeira portuguesa do ultramar. Isso está escrito e publicado. Por favor há farta documentação do PAIGC na Fundação Mário Soares, entre cartas, relatórios, atas de reuniões falando sobre a gestação da luta levada a cabo por este Partido, de 1959 até a independência.
Sobre o que problema de MOMO Ture no PAIGC, só será esclarecido quando o PAIGC é o sucessor da PIDE em Portugal tornarem os arquivos e gravações públicos. Enquanto isso qualquer tentativa de esclarecimento e de discussão sobre a questão serão meras especulações.
A você, João Galvão. o meu irmão mais velho, um forte abraço da Guiné, continuamos apesar de tudo o éramos antes da Luta e continuaremos sê-lo.
Um abraço guineense também a você, Mário, um brilhante profissional na arte de gastronomia que ouso dizer não conheci um igual. Hoje a minha mulher me "gaba" de ser um bom cozinheiro e respondo a ela… graças a uma pessoa que conheci como o melhor inventor de pratos, o senhor".
Só por isto, vale a pena viver, para relembrar e ser feliz.
Creio que esta mensagem até daria alguma "luz" ao nosso camarada Mário Beja Santos" nas suas pesquisas, nas minhas... já cheguei a uma conclusão que farei constar em "Bissaulónia". Quando sai?... Eh pá, meti-me a fazer uma casa nova de raiz e isso atrasou o projeto do livro.
Deixo a tua consideração o texto acima.
Abraço fraternal
Mário de Oliveira
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Nota do editor
Último poste da série de 28 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16532: (In)citações (102): As outras cartas da guerra... Do Umaru Baldé, da CART 11 e CCAÇ 12, para o Valdemar Queiroz (Parte IV): "Viva Médicas e Médicos Portugueses. Viva Portugal com os Negros Unidos" (sic) (carta de 15 de novembro de 2000)
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