quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16986: Inquérito 'online' (102): resultados definitivos: num total de 89 respostas, mais de 76% nunca votou antes do 25 de Abril


Marcelo Caetano (Lisboa, 17 de agosto de 1906 — Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1980) > Últmo governante do Estado Novo,  foi presidente do conselho de ministros, substituindo Salazar, entre 27 de setembro de 1968 e 25 de abrill de 1974.

No seu "consulado", houve duas eleições legistaltivas para a Assembleia Nacional, em 26 de outubro de 1969 e 28 de outubro de 1973. Nessa época estavam recenseados cerca de 1,8 milhões de eleitores. Estas foram as únicas eleições em que  a nossa geração de antigos combatentes da guerra do ultramar puderam, teoricamente votar, além das duas anteriores, na época de Salzar: as eleições legislativas de 1965, e eventualmente,  as eleições para a Presidência da República de 1958  a que concorreu o "general sem medo", Humberto Delgado (1906-1965). Nenhuma  destas eleições eram "livres", no sentido que damos hoje ao termo... Os nossos filhos e netos que nasceram com a democracia têm dificuldade em perceber o que era isto de "eleições que não eram livres"... Em 1958 e depois em 1969, foi a única vez em que o regime abriu um bocadinho de anad a "tarraxa"... Ficou tão escaldado com a mobilização popular, conseguida por Humberto Delgadom, que nunca mais quis repetir a brincadeira... Em 1965 e em 1973, o regime foi às urnas a falar sozinho, como se tratasse de uma partida de futebol em que o campo, a bola, os jogadores e o árbitro vestiam todos a mesma camisola...

 (Foto: cortesia da Wikipedia).

I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:

"ALGUMA VEZ VOTASTE
EM ELEIÇÕES LEGISLATIVAS,
ANTES DO 25 DE ABRIL DE 1974?"


Resultados definitivos (n=89)


1. Não estava recenseado, pelo que nunca votei  > 61 (68,5%)

2. Estava recenseado, mas nunca votei  > 7 (7,9%)



3. Estava recenseado e votei, pelo menos uma vez  > 16 (18,0%)



4, Não sei / não me lembro  > 5 (5,6%)

Total de respostas  > 89 (100,0%)


A votação terminou ontem às 11h34.


II. Comentários (*):

(i) João Sacôto:

[aqui, em 1965, em Ganjola, Catió]

O primeiro ano em que votei,  foi em 1958, e votei  no General Humberto Delgado. Daí até hoje, exerci sempre esse direito (que também considero dever de cidadania). Essas eleições estão muito na minha memória por terem correspondido ao meu primeiro acto eleitoral. Foram em 8 de junho de 1958, dia em que eu comemorei os meus 20 anos e pude votar, por ter sido emancipado em 1956, aos 18 anos.


(ii) Torcato Mendonça


Eu, obviamente, não tinha direito a votar. Razões de ordem pessoal fazem-me ser lacónico.

Recordo esse "acontecimento eleitoral" [, o de 1969,] pois recebia a Vida Mundial e, quando havia colagem recebia a Time ou NewsWeeek (se não erro), a "alertar" qualquer envio. Bons tempos e, mesmo lá sabia alguma novidade.

Quando das Eleições estava destacado em Candamã e Áfia [, subsetor de Mansambo, foto à direita]. Substituíram-me a meia dúzia de homens do meu Grupo que iam votar. Eles sempre me perguntaram quem era o sr James Pinto Bull... eu dizia que era bom eles saírem dali por dois ou três dias. Era lugar quente. Estiveste lá depois do ataque de fins de julho de 69 e viste a brutalidade... creio que tenho isto em escrito publicado no blog.

Recordo agora e estou a sorrir. Quando fomos para lá, creio que em finais de setembro de 69 fizemos 5 ou 6 fornilhos a rodearem cerca de metade de Candamã. Disparo eléctrico e os 5 ou 6, numerados, vinham para o meu abrigo e três iam também para o Furriel Rei. Foi carga demais e um raio de forte trovoada accionou aquela marmelada em simultâneo... nunca tinha ouvido tamanho estrondo...

À cautela agarramos em armas etc. Felizmente só o rádio ficou preto, as granadas da bazuca estavam demasiado encharcadas e não rebentaram. Ficaram dois ou três militares atordoados e, o mais grave, era o "cozinheiro". Depois de duas colheradas de azeite e um forte apertão estomacal vomitou bastante chispe de porco holandês e recuperou... Enfim, vidas...

Só votei em 1975 e estava bastante nervoso. Votei no mesmo Partido onde hoje voto. Infelizmente este Mundo ainda está uma trampa e custa a "endireitar"... um dia melhora.
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13 comentários:

Antº Rosinha disse...

Gostei muito de ver aqui a foto do compadre de Baltazar Rebelo de Souza, antigo Governador Geral de Moçambique.
Nunca deviam, um e outro serem deportados para o Brasil, o Zé do Telhado foi deportado para Angola, outros foram para o Tarrafal, era tudo Portugal.
Afinal ainda ficámos com as desertas e as Berlengas, não havia "necessidade"!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha, o ódio é cego... em toda a parte. Em todas as "revoluções", os "revolucionários" não confiam em Deus nem na sorte... As Berlengas estavam muito perto da costa... Seria interessante saber quantos homens e mulheres do 24 de abril foram para o Brasial, exilados/as,,,

Carlos Vinhal disse...

Caro Rosinha, se está a sugerir que o Prof Marcelo Caetano e o Dr. Baltazar Rebelo de Sousa eram compadres, por como reza a lenda, o primeiro ser padrinho do nosso actual Presidente da República, a verdade é que é mentira.
Carlos Vinhal

Torcato Mendonca disse...

Olá Carlos, francamente preferia ver outra personagem no post ....apesar de não esquecer o Prof Marcelo Caetano em certas atitudes em defesa de estudantes ou outras... mas...

Abraço.
(antes de encerrar: eu tu e outros....muitos ...fomos obrigados a conhecer terras de África .... origados...outros foram ou,depois da "obrigação", por lá ficaram de livre vontade
. Tinham esse direito...então...)

Ab,T.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Torcato, como sabes, nunca tive quaisquuer simpatias ou afinidades (muito menos políticas...) por Marcelo Caetano ou até por Spínola (que foi o meu/teu/nosso comandante em chefe na Guiné)... Tal como Salazar, Humberto Delgadio, Cardeal Cerejeiro, Sá Carneiro, Cunhal, Mário Saores, ou Amíllar Cabral, Marcelo é já hoje uma figuras que pertence à História, à nossa História... Nessa medida, merecem-me "respeito"... como deve merecer respeito, ao médico de medicina legal, o "cadáver" que ele autopsia... A mnedicina tem um código de ética, a história também, a Tabanca Grande também,,,

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Torcato, registo, toma boa nota do teu desagrado,,, tU u como membro do painel de colaboradores permanenentes do nosso blogue tem um estatuto especial e os editores não podemn deixar de ter em linha de conta e ponderar os teus comentários... Afinal, compete-te vigiar também o cumprimento das nossas regras editoriais... O psote foi editido por mim (Tabanca Grande) e não pelo Carlos Vinhal...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mais uma explicação: nunca tirei fotos ao Marcelo Caetano, nessa altura nem sequer fotográfica tinha... Às vezes o editor fica "à rasca" para arranjar uma foto de época, que não esteja sujeita a "direitos de autor"... Esta, do Marcelo Cateano, em princípio, parece ser "oficial" ou "oficiosa", e vem na Wikipédia, ou seja, presumo que seja do "domímio comum"...

Na Wikipedia em inglês também não se sabe a quem atribuir a autoria da foto...


https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Marcello_Caetano

Torcato Mendonca disse...

Caro Luis Graça,
O que eu escrevi : preferia ter outra personagem no post (do Oposição,claro). No entanto não esqueço o modo como o Prof Marcelo tentou defender os alunos...etc. Isso prova que o respeitava e respeito, hoje, a sua memória.
Quanto ao Snr Marechal Spinola admiro-o como Militar e respeito a sua memória.

O () refere-se a quem vivia em África porque gostava daqueles países e tinha esse direito. Eu não queria lá estar e menos ainda a co mbater...a foto é,salvo erro de Candamã e os calções vieram de Cuba ????...havia carência de material e de alimentação mais ainda...O Gen. Spinola mandou um h´´eli levar comida Áds tropas,para os meus rapazes e para mim, a Candamã e eu reparti, lógicamente ,com os rapazes que defendiam Áfia....o General tinha estado lá antes connosco e viu a miséria porque passavamos...

O resto ficoa para depois...até tenho cuidado com os comentários...hoje temos a democracia apesar de certas trampas que andam por aí

Eu te abraço e admiro o trabalho que aqui fazes, tu e não só...concorde ou, por vezes não tanto...

AB,T.

Abraço e logo escrevo

Antº Rosinha disse...

Carlos Vinhal, Baltazar Rebelo de Sousa e Marcelo Caetano seriam mais do que compadres, eram mais que padrinho e afilhado eram mais que irmãos, foram companheiros uma vida inteira, eles e as respectivas famílias.

O nosso actual Presidente contou toda relação em revistas e jornais, que quem é afilhado de casamento mesmo, é o próprio pai Baltazar.

Sou de opinião que neste blog faltam estas figuras históricas do Estado Novo, para a história um dia ficar bem contada.

Marcelo Caetano foi o primeiro ministro português desde Nuno Tristão a visitar a Guiné (1969), e isto também é histórico.

Faltam aqui, principalmente, os ministros dos Estrangeiros que iam à ONU explicar e argumentar porque não devíamos abandonar a Guiné-Bissau.

Está tudo ligado.





Carlos Vinhal disse...

Amigo Rosinha, passaram mais de 40 anos após a revolução, e ainda há quem tenha medo dos fantasmas do passado, como se eles pudessem voltar à vida. A verdade é que poderemos ser nós próprios a fazer com que apareça alguém, bem vivo, que tente meter isto nos eixos, mas à força. A democracia só é um dado adquirido se houver trabalho e pão para toda a gente.
Saúde
Carlos Vinhal

José Botelho Colaço disse...

A democracia só é um dado adquirido se houver trabalho e pão para toda a gente.(Carlos Vinhal)

Antes do 25 de Abril havia o medo politico (a PIDE) por isso o cidadão anónimo até não se recenseava com medo de ser conhecido, eu pertencia a esses que nunca se recensearam por esse motivo nunca votei antes do 25 de Abril. Hoje creio eu que não é o factor politico, mas o fantasma económico o medo volta estar presente com uma % elevada na população portuguesa.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Estamos todos de acordo neste ponto: no nosso blogue não há nenhuma lista de "nomes malditos", nem ninguém censura ninguém...

Podemos não gostar das personagens mas não podemos "riscá-las" da história, do Marquês de Pombal ao Salazar, do Hitler ao Estaline, do Mussolini ao 'Che' Guevara, do Fidel Castro ao 'Nino' Veira, do Spínola ao Samora Machel, etc.

Por outro lado, os mortos já não podem responder aos vivos...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Uma coisa é o combate político e cívico: por exemplo, a luta dos democratas portugueses contra o Estado Novo... Outra coisa é o "juízo da história"... Precisamos de muita investigação historiográfica para conhecer o papel e a importância que tiveram, no seu tempo, em vida, portgueses do séc. XX como Afono Costa, Gomes da Costa. Carmona, Salazar, Humberto Delgado, Spínola, Franco Nogueira, Marcelo Caetano, Sá Carneiro, Cunhal, Mário Soares... Já estão todos do lado do "rio Caronte", rio que os vivos não podem atravessar, só os deuses e os heróis...