Edições Macaronésia: Rua da Saúde N.º 107 - Arrifes, 9500-363, Ponta Delgada.
Autor - Barra da Costa
Título - Os crimes de João Brandão (das Beiras ao degredo)
Edição - Edições Macaronésia
Local - Ponta Delgada
Ano - 2017
Sinopse:
“Quando abracei esta vida reprovada por todo o ser cristão e que nos coloca na posição mais ínfima, mais vil, mais repugnante da sociedade, foi porque a miséria me impeliu juntamente com a falta de caridade que encontrei no meu semelhante; o meu coração, contudo, não é desses ferozes que se vangloriam ao verem tudo nadando em sangue. Tenho aversão a isso e só na última necessidade, quando não nos possamos salvar sem lançar mão desse terrível recurso, é que aconselho a que se derrame. Além disso desejo que socorramos aqueles que ainda necessitam mais que nós. Tiraremos aos ricos, mas repartiremos também com os pobres. Com uma mão praticamos o crime, pois bem, com a outra pratiquemos a caridade: verdadeira religião cristã. Usarei de uns bilhetes com o meu nome e toda a pessoa que o apresentar a vocês deverá ser respeitada como se fora eu. Serei justo e imparcial para com os meus colegas. Eis aqui as minhas ideias e sentimentos, que desejo que sigam à risca.” [José do Telhado, in Souza, Rafhael (1874). A vida de José do Telhado, p. 26), apresentando as suas condições para aceitar o cargo de mestre, proposto pelos seus companheiros, aos quais pediu que jurassem em como se comprometiam a dar a vida uns pelos outros.]
Fonte: Edições Macaronésia, Ponta Delgada, RA Açores
Comprar > P.V.P.: 11,00 €
1. Mensagem, de 7 do corrente, enviada pelo autor, [José Martins] Barra da Costa [, professor, escritor, criminalista e antigo inspetor-chefe da PJ] com pedido de apresentação e divulgação da obra sobre João Vítor da Silva Brandão (Tábua, Midões, 1825 - Bié, Angola, 1880), que ficou conhecido como o "terror das Beiras":
O livro que ora se apresenta – Os Crimes de João Brandão (Das Beiras ao Degredo) - é um trabalho histórico publicado pelas Edições Macaronésia, que tem como pano de fundo um período fervilhante da História de Portugal.
O meu objectivo específico enquanto autor passa por convocar os leitores, por um lado, a uma comparação com as «novas filosofias de vida» que parecem querer despontar e, por outro lado, a uma reflexão sobre o que vem sendo feito pelo sistema político-judiciário, tantas vezes regredindo e transigindo em princípios e valores de Liberdade e de Democracia que se julgavam consolidados.
A forma como então decorreu a divisão do país entre miguelistas e liberais, potenciou a formação de grupos de guerrilhas. João Brandão acabou a lutar pelos seus interesses, sob a capa de uma ou outra ideologia, muitas vezes legitimado pelo próprio Estado a braços com um novo sistema político, de forma a garantir a perseguição dos inimigos políticos e o controlo da ordem pública. Quando as elites políticas entenderam que o poder estava estabilizado e os bandos já não eram úteis para os seus fins, varreram-nos para debaixo do tapete.
O meu objectivo geral tem como de fundo avançar uma reflexão sobre o futuro que hoje se desenha sobre nós, designadamente quando, sobre os braços da Justiça, parece querer voltar a elevar-se a antiga pena de degredo à condição de peça histórico-jurídica actual. Apetecia dizer que se trata de uma reflexão sobre tudo o que já foi e que não queremos que regresse, até porque a questão do degredo, neste caso das Beiras para Angola, não é estranha a muitos dos que povoaram outras paragens.
[Contactar o editor - tm. 918189075 ou email acrpeixoto@sapo.pt - que após confirmar o depósito do 11 euros no NIB que ele próprio vos fornecerá, enviará o livro, sem acréscimo de preço]
O meu objectivo específico enquanto autor passa por convocar os leitores, por um lado, a uma comparação com as «novas filosofias de vida» que parecem querer despontar e, por outro lado, a uma reflexão sobre o que vem sendo feito pelo sistema político-judiciário, tantas vezes regredindo e transigindo em princípios e valores de Liberdade e de Democracia que se julgavam consolidados.
A forma como então decorreu a divisão do país entre miguelistas e liberais, potenciou a formação de grupos de guerrilhas. João Brandão acabou a lutar pelos seus interesses, sob a capa de uma ou outra ideologia, muitas vezes legitimado pelo próprio Estado a braços com um novo sistema político, de forma a garantir a perseguição dos inimigos políticos e o controlo da ordem pública. Quando as elites políticas entenderam que o poder estava estabilizado e os bandos já não eram úteis para os seus fins, varreram-nos para debaixo do tapete.
O meu objectivo geral tem como de fundo avançar uma reflexão sobre o futuro que hoje se desenha sobre nós, designadamente quando, sobre os braços da Justiça, parece querer voltar a elevar-se a antiga pena de degredo à condição de peça histórico-jurídica actual. Apetecia dizer que se trata de uma reflexão sobre tudo o que já foi e que não queremos que regresse, até porque a questão do degredo, neste caso das Beiras para Angola, não é estranha a muitos dos que povoaram outras paragens.
Veja-se a «prática» de enviar para os Açores e Madeira os candidatos pior classificados em diferentes carreiras da administração central ou como ainda subsiste o hábito de colocar nas ilhas funcionários da administração central que tenham sido alvo de processos disciplinares ou, a outro nível, o que se passa com os repatriados vindos do Canadá e dos Estados Unidos da América.
Na parte final abordo a natureza das penas e dos seus efeitos, em especial as que foram aplicadas ao nosso herói que, apesar de «negativo», não devia ter recebido um sofrimento que é uma inqualificável barbaridade, uma aberração vergonhosa e uma forma irregular, inconsciente e arbitrária de aplicar um qualquer princípio de justiça.
João Brandão é uma personalidade da História recente, um exemplo do continuado poder político próprio dos caciques locais; e é muito em razão dessa «estrutura provinciana» que consegue integrar ainda hoje a cultura popular portuguesa. Como pretendi demonstrar.
Espero que gostem e possa ser útil na vossa vida pessoal e profissional, pelo menos.
Barra da Costa.
Na parte final abordo a natureza das penas e dos seus efeitos, em especial as que foram aplicadas ao nosso herói que, apesar de «negativo», não devia ter recebido um sofrimento que é uma inqualificável barbaridade, uma aberração vergonhosa e uma forma irregular, inconsciente e arbitrária de aplicar um qualquer princípio de justiça.
João Brandão é uma personalidade da História recente, um exemplo do continuado poder político próprio dos caciques locais; e é muito em razão dessa «estrutura provinciana» que consegue integrar ainda hoje a cultura popular portuguesa. Como pretendi demonstrar.
Espero que gostem e possa ser útil na vossa vida pessoal e profissional, pelo menos.
Barra da Costa.
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Nota do editor:
7 comentários:
Onde acaba o mito e começa a história ? Homens como o João Brandão, o Zé do Telhado e o "Remexido" mereciam biografias, feitas por gente académica, com boa formação em história... São três nomes míticos dos tempos (conturbados) do Portugal que lentamente se "moderniza", com a a passagem da "sociedade absolutista, senhorial", o "Antigo Regime", para a "sociedade burguesa, capitalista, liberal"...
Os dois primeiros foram presos, julgados, condenados e "degredados" para Angola...onde morreram. O Zé do Telhafo foi aquele que foi "santificado": ainda hoje a sua campa é visitada... O "Remexido", ligado à "guerrilha miguelista", não teve a mesma sorte dos outros dois: foi fuzilado em Faro em 1838, quatro anos depois do tratado de Évora Monte (1834) que pôs fim à guerra civil...
O "Remexido" é de outra geração, nasceu no final do séc. XVIII. O seu nome ficou ligado, entre outros, ao massacre de Albufeira, em 26 de julho de 1833, em plena guerra civil:
http://www.sulinformacao.pt/2013/07/albufeira-viveu-momentos-de-terror-ha-180-anos-com-o-ataque-de-remexido/
1. Dizem que este João Brandão começou a matar logo aos 12 anos... Era uma sociopata, diria HOJE a psiquiatria forense... Ou seja: um homem sofrendo de "desequilíbrio patológico que se manifesta num comportamento anti-social e impulsivo ou agressivo."
"sociopatia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/sociopatia [consultado em 07-12-2017].
2. Parece haver diferenças entre o João Brandão e o Zé do Telhado, que foi soldado e herói, ao ponte de ter a mais alta condecoração deste país, a Torre e Espada, antes de ter escolhido o camimnho dos "fora-da-lei"...
« Muitas das unidades extintas, pela Convenção de Évora Monte, voltaram a ser reconstituídas nos tempos seguintes. O Regimento de Infantaria nº 7 é reconstituído, a 18 de Julho de 1834, mas fica aquartelado em Lisboa.
A Reorganização do Exército de 1837, datada de 4 de Janeiro, renumera e altera algumas unidades passando a existir 30 unidades de Infantaria e Caçadores. Para as 10 unidades de caçadores, são destinados os números de 1 a 5 e de 26 a 30; para as unidades de infantaria, os números de 6 a 25.
O RI 7 passou a designar-se por Batalhão de Infantaria nº 7, mantendo o quartel em Lisboa; o Batalhão de Caçadores nº 6, pela nova renumeração, recebe o número 26, sendo transferido para o Fundão.
Como Batalhão de Infantaria nº 7, a unidade tomou parte na perseguição, feita no Algarve, á quadrilha de José Joaquim de Sousa Reis, conhecido como o “Remexido”, a 28 de Julho de 1838.»
Do texto sobre o Regimento de Infantaria nº 7
de José da Silva Marcelino Martins
Foi o exército que resolveu o problema do Remexido. Aliás para este e outros problemas, chamavam a tropa.
Um Abraço ao meu Amigo Doutor Barra da Costa, que comigo colaborou muitos anos no Curso de Criminologia da Lusófona. Jorge Cabral
Barra da Costa:
Meu caro Professor Luís Graça
E para mim uma honra e um privilégio receber a V/ atenção através do post de Divulgação, bem como a proposta para a Agenda Cultural.
Quanto à nota de leitura, pois enviarei com gosto dois exemplares nos próximos dias.
Com estima e consideração pessoal e profissional
Barra da Costa
(criminologista)
Mais uma pequena nota biográfica sobre o João Brandão:
João Brandão
(...) Foi no dia 1 de março de 1826 que nasceu, em Midões (Tábua), João Vítor da Silva Brandão.
Lendário em toda a Beira, durante a Guerra Civil [1828-1834] fez parte dos Voluntários da Rainha, no campo liberal.
Nos anos quentes que se seguiram, com sucessivos golpes e revoltas entre cartistas e setembristas e depois regeneradores, ele foi peão de brega dos políticos de diferentes fações, como o Partido Progressista, o Partido Regenerador e o Partido Histórico, e capitão das milícias locais.
O seu bando armado, que incluía o pai, irmão, primos e outros, semeou terror nas Beiras, conforme os interesses dos dirigentes do governo, da oposição em Lisboa e dos caciques locais.
As motivações políticas passaram a dar cobertura a roubos, assaltos e mortes ao longo dos anos em que correu a Serra da Estrela a cavalo, à frente do seu grupo armado. Quando foi acusado de matar o padre Anunciação Portugal, nas várzeas da Candosa, traçou o seu destino. O Governo mandou a tropa e, em 1869, foi preso em Tábua, julgado e condenado ao degredo a 3 de junho de 1869. No ano seguinte, o “terror das Beiras” foi desterrado para Angola. Publicou “Apontamentos de João Brandão” (1870) por ele escritos nas prisões do Limoeiro. Morreu no Bié (Angola) em 1880.
Américo Brito
Fonte: http://www.ointerior.pt/noticia.asp?idEdicao=695&id=38823&idSeccao=9200&Action=noticia
O homem ficou no imaginário popular:
(...) Lá vai o João Brandão
A tocar o violão
Casaca da moda na mão
Atão Atão Atão
Tré tré olaré tré tré
Era a moda do meu pai
Oh pastor, lavrador, enganador
rinhinhó, rinhinhó, ó-ó-ó, ó-ó-ó
(Canção Popular cuja origem está na deportação de João Brandão, para Angola, em 1870, na sequência da condenação por homicídio do Padre Portugal.)
Em Frádigas João Brandão também tinha uma quadra:
De vinte e oito que matei
só de um tenho paixão
ter morto um inocente
com um punhal de oiro na mão
(...)
Fonte: Blog Fradigas, o livro
http://fradigascjtm.blogspot.pt/2011/04/joao-brandao-o-terror-das-beiras-e-os.html
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