Timidez da neve
Tímida. Provocadora.
A neve espreita e tarda a entrar em cena.
Tudo a postos.
Há silêncio na sala.
Mesmo cheia.
Estão sedentos.
Querem vê-la. Há um ano a esperam.
Os “putos” querem brincá-la.
Fazer bonecos. Bolas de arremesso.
A infância é curta.
As árvores perderam as folhas.
Em sofrimento. Clamam beleza.
Os corvos estão fartos do chão com folhas.
Os pés estão sujos.
Suas asas negras ficam brilhantes, cruzando os ares.
As telhas, de toucado branco,
Mas só do gelo. Querem um manto que lhes escorra ao chão.
Os carros da Câmara desesperam de espera.
Estão fartos de tanta volta seca.
A cidade grita. Já está sem calma…
Berlim, 3 de Dezembro de 2017
8h31m
Jlmg
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Voo alado…
O pensamento, cansado, planou no tempo,
Do passado ao presente.
Viagem bem longa. Nem sempre ridente.
Paragens de sonho. Outras de lama.
Bosques frondosos. Vales profundos.
Planuras tão verdes, cravejadas de cores.
Aldeias acesas. Encostas das serras.
Rebanhos felizes, em banquetes constantes.
Rios ferozes, correndo p´ró mar.
Praias desertas, banhadas por ondas.
Ilhas perdidas, sem ninguém a viver.
Gentes diversas, vestidas diferentes.
Cabeleiras compridas, rostos às cores.
Formigando no mundo, parecendo colmeias.
Sonantes falares. Diversos olhares.
Ora sorrindo, ora chorando.
Bem quentes as lágrimas.
Crianças brincando. Os mesmos recreios e gritos estridentes.
A vida, uma fada, nascendo, jorrando viçosa e alegre.
Vestida de negro, a morte, uma bruxa, varrendo, contente…
Berlim, 30 de Novembro de 2017
Manhã de chuva fria
Jlmg
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Feira das ideias…
Fui à feira das ideias. Ouvi dizer. Havia muitas, perdidas.
Seu destino marcado era o lixo.
No meio dum vale batido de sol,
Elas brilhavam ao vento, sedentas.
Bailavam no ar clamando um dono
Que as quisesse levar.
Fiz um braçado viçoso.
Enchi uma saca das mais preciosas.
Eram jóias de sábios, poetas, pintores.
Até de pastores.
Morreram. Ninguém lhes ligou.
Chegado a casa, enchi as paredes.
Quadros e frases, de assombro.
Verdades singelas.
Enchi meus baús.
Chaves de enigmas, segredos,
Selados a ouro.
Recorro a elas, quando a bruma me encerra, toldando o céu.
São meu baluarte.
Bandeiras que agito.
Fermento de pão.
Alimento da alma e do corpo…
Berlim, 28 de Novembro de 2017,
7h46m
Amanheceu com chuva
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 27 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18019: Blogpoesia (540): Tempos duros em que as saudades apertavam (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872)
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