Queridos amigos,
O tempo, à chegada a Aix-en-Provence, não estava de feição, desaguaram umas boas chuvadas, o viandante tem que aprender a dar a volta aos imprevistos meteorológicos, os museus são um bom refúgio. Aqui se chegara com boas ideias, até de fazer caminhadas por sítios onde Cézanne pintou alguns dos seus quadros mais famosos, com as ruas a alagarem-se preferiu-se ver Cézanne e os seus quadros, aguarelas e desenhos no Museu Granet, não havia ânimo para passeios nos arredores e curiosidade de ir mirar o Castelo de Vauvenargues, que Picasso adquiriu em 1959 e onde está sepultado no parque era muita. Mas como escreveu Saramago, as viagens nunca acabam, o que pode acabar é o ânimo do viajante, e este mantém o orgulho de que esse ânimo ainda continua jovem, ou quase.
Um abraço do
Mário
De Aix-en-Provence até Marselha (2)
Beja Santos
O acervo artístico do Museu de Belas-Artes de Aix-en-Provence é de um valor incalculável, o viandante leu em vários textos que é um dos mais importantes de França, não tem conhecimentos para ajuizar, facto é que encerra obras da Antiguidade Clássica, esculturas medievais, pintura flamenga e italiana, obras de Cézanne e do colecionador e pintor que dá nome ao museu, Granet. A digressão previra começar exatamente numa exposição Cézanne at home, começou-se no subsolo, na arqueologia, e depois percorreram-se as salas da pintura francesa nórdica e italiana. Por ali andou o viandante embebecido, de facto o museu tem escultura e estatuária antigas que metem respeito. Em dado momento misturou-se a visita convencional com a exposição a Cézanne, não tem importância, o resultado final da fruição é que conta.
Salta-se agora para Cézanne, celebra-se o grande regresso do mestre graças ao empréstimo de obras da Fundação Henry et Rose Pearlman. O que a exposição retraça é a rejeição do artista pela sua cidade natal, pela quantidade de visitantes que por ali deambulavam, é certo e seguro que a reconciliação está mais do que feita, Cézanne está completamente reconhecido como o pintor de Aix-en-Provence.
Retrato de Emile Zola
As Banhistas, de que há várias versões, é um dos ícones do mestre
Usines à l’Estaque, aguarela e guache sobre cartão, é património do Museu Granet
Natureza morta, açucareiro, peras e caneca azul, depósito do Museu de Orsay no Museu Granet
Um biombo onde Cézanne também trabalhou
Entrada da exposição Cézanne at home mostrando o genial artista junto de uma das versões de As banhistas
Um belíssimo quadro da escola de Rubens
Saindo da exposição de Cézanne, o viandante foi até às coleções permanentes onde estão expostas obras como estas de Giacometti, aqui se pode ver a altíssima qualidade museográfica, é preciso ter muito talento para saber expor, permitindo ver as obras deste espantoso escultor como que em caleidoscópio, por aqui se ciranda com contemplação e devoção, que riquíssima coleção de Giacometti!
Trata-se de uma doação de Philippe Meyer onde se pode encontrar obras de Picasso, Léger e outros grandes mestres como Chardin e Guardi, Mondrian, Paul Klee, Balthus e Giorgio Morandi, que grande panorâmica de algumas das maiores ousadias do passado à modernidade…
O viandante andou às voltas desta escultura de Giraud, já não se comenta o valor escultórico, só por pudor é que não se mostra o rosto de Aquiles ferido mortalmente no calcanhar, afinal, parece querer dizer o grande escultor, mesmo os heróis de Homero morrem como nós. Ainda há muito mais a ver, e do Museu Granet se irá partir para o chamado Granet do século XX, para a coleção Jean Planque, um galerista suíço que em Basileia juntou 120 obras que incluem Monet, Van Gogh, Picasso, Braque, Dufy, de Stael, Dubuffet e tantos outros. Até já.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18678: Os nossos seres, saberes e lazeres (269): De Aix-en-Provence até Marselha (1) (Mário Beja Santos)
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