sábado, 7 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18818: Os nossos seres, saberes e lazeres (275): De Aix-en-Provence até Marselha (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 20 de Abril de 2018:

Queridos amigos,
Foi bom regressar a Arles, sabe muito bem pôr os pés em diferentes estádios da civilização, aqui prepondera o romano, o romanesco, o gótico e um certo feitiço dos séculos da penumbra, antes da cidade reocupar a atenção que lhe passou a ser conferida por ser Património da Humanidade. Calcorreou-se lugares conhecidos, mas o polo da atração era um museu que tem uma posição fascinante junto do Ródano, pejado de tesouros, só desenhos de Picasso estão lá 57, há para ali fotografia de muitos génios, convém não esquecer que Arles se arroga a possuir um centro de fotografia de fama internacional.
A próxima visita também será de arromba, aquele viandante que já visitou Pompeia e museus arqueológicos em Roma ou Nápoles nunca vira uma arquitetura tão faiscante para acolher peças de tantíssima qualidade do génio romano.

Um abraço do
Mário


De Aix-en-Provence até Marselha (7)

Beja Santos

Antes do viandante voltar a Arles, em plena ponte de Avignon, olhando para a outra margem do Ródano entrou numa certa euforia, naquela vegetação do Sul de França anunciava-se a primavera, apareciam as primeiras folhas, já tinham sido avistadas as chamadas flores bravias, agora é um maciço florestal que começa a vicejar, que bonito, esta ode à alegria, ao renascimento!


Estamos em Arles, é dia para deambulação e de visita a corpo inteiro ao Museu Réattu. Pelo caminho, registam-se detalhes como estes dois, esta porta de gótico final, digam lá a verdade se não há aqui uns sinais de manuelino.


Já muito se disse sobre o portal de São Trófimo, uma inexcedível beleza do romanesco provençal. Entrando na catedral, confessa-se que toca a imponência, mas para se ser franco escasseiam os adjetivos. Ergue-se sobre o antigo fórum romano, é basílica de três naves, diz o guia turístico que é a maior e a mais esbelta desta época da Provença, último quartel do século XII, exalta-se a sua extraordinária parcimónia. Os historiadores de arte têm dificuldade para uma boa datação, há lá construção do início do século XI, muitos elementos do século XII, a cabeceira data do século XV. Enfim, arquitetura compósita, um tanto como por toda a parte, ia-se fazendo aos poucochinhos, remendava-se, alteava-se, os doadores rasgavam capelas, outros benfeitores adornavam com alfaias religiosas, frescos, pinturas.


Também do claustro de São Trófimo já se fez exaltação, mas foi durante o passeio, depois de contemplar a perfeição das esculturas, de admirar o programa teológico, com apóstolos, o túmulo vazio de Cristo depois da Ressurreição, a ascensão de Cristo aos céus, e muito mais, que num determinado ângulo, com céu esborratado de nuvens se apanhou este ângulo até á torre, e nos fica a ilusão de que ela se adornou daquele azul profundamente azul, como se também ascendesse para encontrar Cristo.


A cidade romana está por toda a parte, mas é um grandioso anfiteatro onde os turistas chegam, trata-se do seu monumento maior, mexendo nos guias, folhetos e mapas, aparecem cores que pouco correspondem ao que o viandante visualiza, muito lhe agrada esta imagem com os seus claros-escuros, sombras misteriosas, pois para ali há corredores subterrâneos, mas o que esmaga são estas possantes arcadas exteriores com passagens em corredor, a contornar toda esta monumentalidade. Todos os epítetos são menores perante este exercício de génio. E ponto final.



Cá estamos, o Museu Réattu é o prato de substância para dia tão primaveril. Houvesse espaço e mostrava-se várias imagens para se ver uma certa grandiloquência desta construção, aqui esteve o grão-priorado de uma ordem de cavaleiros. Depois o pintor Jacques Réattu (1760-1833) comprou o edifício que hoje alberga o museu. Há muita produção local, a começar pelas obras de Réattu, mas Picasso ofereceu 57 desenhos da safra de 1970/71, tinha o génio malaguenho 90 anos. A graciosidade disto tudo é que o edifício está na curva do Ródano, tem várias paisagens a seu favor, a intensidade luminosa do céu, o tumulto da corrente do Ródano, uma linda margem e muitos sinais tanto do Império Romano como da Idade Média.




Aqui misturam-se facilmente o antigo e o moderno, pois há diferentes coleções, fruto de diferentes doações e um esplendoroso acervo fotográfico, lá iremos.




Há um belo Picasso dentro de um florilégio de arte contemporânea, vejam-se duas obras de aproveitamento, uma de lixo, outra de junção de instrumentos de trabalho.




O viandante aproveitou a oportunidade para se empanturrar do que há de melhor em fotografia, temos aqui imagens de consagrados como Dora Maar, Edward Weston, Cecil Beaton, Ansel Adams ou Gisèle Freund, só por esta oportunidade, enquanto por aqui se ciranda, já só se pensa em regressar, feita a digestão de tão magnificente banquete. Aquela bailarina, feita torso seco de carnes a sair da escuridão, Virgínia Woolf fotografada por Gisèle Freund, e aquela impagável fotografia de Julia Pirotte, Rapaz perante um cartaz de cinema, imagem de 1944. Sem palavras.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18794: Os nossos seres, saberes e lazeres (274): De Aix-en-Provence até Marselha (6) (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Anónimo disse...

Vi.
Sem comentários.
VT/.