sábado, 4 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18895: Estórias de Bissau (18): Uma noite no Chez Toi: o furriel Car…rasco, meu anjo da guarda... (Luís Graça)

Luís Graça, Bambadinca, c. 1970/71
Estórias de Bissau > 

Uma noite no Chez Toi: o furriel Car…rasco, meu anjo da guarda...

por Luís Graça

[ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71]



Conheci-o no "Chez Toi", em Bissau. Ou melhor, reconheci-o, de Tavira, do CISMI, onde ambos estávamos a tirar a especialidade de armas pesadas de infantaria. Pertencíamos, ambos, à Companhia de Instrução, e ao pelotão do tenente Esteves (o tal que  nos tratava com mimos: “Rapazes, vocês são a fina flor da Nação”… e a gente repetia  "... a flor do entulho",  a rebolar-se na merda do mercado do gado bovino ou no lodo das salinas de Tavira). (*)

Ele era o matulão do furriel Carvalho, transmontano, com ar de durão, mas que gaguejava ligeiramente…. Voltaríamos a encontrarmo-nos, mais tarde, muitos anos depois… Só então me confidenciou que tinha a alcunha de Car…rasco, por ter dado o tiro de misericórdia a um balanta do PAIGC que se esvaía em sangue, sem pernas, depois de uma bazucada em cheio,  no decurso de uma operação (**)…

Em Bissau, eu estava hospedado no "Chez Toi", naquela espelunca, de paredes de tabique, que à noite funcionava como “boite”. Tinha um nome chique, em francês, "Chez Toi" ( "em tua casa"). Mas eu nunca me senti em casa, nos dois ou três dias em que lá dormi...

Para os gajos do mato, desenfiados em Bissau, de tomates inchados e bolsos cheios de pesos, que não viam há meses um pedaço de carne de fêmea, branca, o "Chez Toi" devia ter um especial encanto que eu não conseguia descortinar… Mas eu também caí na esparrela de lá ir parar… Devia trazer-nos algumas reminiscências do “bas fond” de Lisboa, que o resto era paisagem no Portugal de então, tão maneirinho, tão chato, tão piegas, tão púdico, tão beato…Nesse tempo ainda era o francês de praia a língua da cultura dominante da noite…

De facto, não sei como lá fui parar, ao "Chez Toi"… Publicidade enganosa, decerto. Mas para o caso não interessa. Andei dois ou três dias “desenfiado” em Bissau, antecipando o gozo do início das férias na Metrópole. Aguardava o avião da TAP para Lisboa. Eram as primeiras férias pagas da minha vida, pagas pela Pátria, com o soldo do soldado, o patacão da guerra … (Devo dizer que não tive problemas de consciência nem devolvi, à Pátria, o “dinheiro, sujo, de mercenário”, saudação a que tive direito à chegada, num dos primeiros grafitos que me lembro de ver, naquela época, num dos muros do quartel da Avenida de Berna, em Lisboa, onde, se não me engano, funcionava uma merda da tropa ligada ao recrutamento… Ainda não havia grafitos em Lisboa, como há hoje, mas alguém pintara, com pincel grosso e tinta de parede, vermelha de sangue, o slogan provocatório: “Mais vale, em Paris, operário, do que na guerra, mercenário”… Era um óbvio apelo à deserção,)

Estávamos em plena época das chuvas, em junho ou julho de 1970, já não me recordo bem ao certo. A atmosfera em Bissau era asfixiante. E eu deixava para trás um ano de intensa actividade operacional. Nessa noite fui dar uma volta ao “bas fond”, como estava na moda dizer-se. Intelectualóide que se prezasse, falava francês, ou pelo menos usava expressões coloquiais em francês, como o “vachement bête”, ou “emmerder”, “copain”, “copine”, “salut”… (Ecos serôdios e longínquos do Maio de 68 em Paris, que nos chegava tarde, a Lisboa e  a Bissau, ao nosso pequeno Vietname). Mas o “bas fonds” em Bissau era, para a tropa-macaca, o Pilão. E um dos atos de "heroísmo"  da malta do mato, desenfiada em Bissau, era dormir uma noite inteira no Pilão… Sem guarad-costas nem arma,,,, Enfim, pura bravata, provocação ou leviandade!...

Por azar, no “Chez Toio”, logo na primeira noite, alguém arrombou a porta do meu quarto, forçou o cadeado da mala de cartão e fanou-me uma Dimple que no mercado local representava um salário um salário e meio de um lavandeira ano mato… Duas ou três garrafas de uísque, velho, era toda a riqueza que eu levaria a bordo para a Metrópole, para além de algumas peças, baratas, de quinquilharia e artesanato, que ainda tencionava comprar no Taufik Saad.

Nessa mesma noite, tive uma conversa (deveras desagradável) com o gordo do gerente do “Chez Toi”, sebento, empertigado na defesa da honra e do bom nome da casa. As suspeitas recaíram logo num dos rapazes, "papel do Biombo", se não me engano, que fazia o serviço de quartos. Ali não havia criadas, só criados, como no resto de África. Alguns clientes, à civil, mais exaltados, de copo de uísque na mão, juntaram-se a nós, a mim e mais o meu parceiro do Pilão, em azeda discussão com o gerente. E aí, às tantas, o clima começou a ficar propício à pancadaria e ao linchamento. É a famosa lei de Gresham do conflito, a bola de neve que amplifica o conflito e faz perder de vista o pomo da discórdia e os protagonistas iniciais.

Eu e o sacana do gerente já tínhamos chegado a um arremedo de acordo de cavalheiros, e o ladrãozeco de uísque suava por todos os poros, ao ver que não tinha nenhum buraco no chão para se enfiar. Foi quando alguém mandou um copo ao chão e berrou, alto e bom som, um chorrilho de asneiras e provocações racistas:
- Filhos da puta de nharros, cambada de barrotes queimados, turras de um cabrão!... E anda aqui um gajo a foder o coirão no mato para o Spínola lhes proteger as costas em Bissau!...

O garnisé que cantava de galo àquela hora da noite era um gajo, branco, seguramente militar, trajando à civil, de estatura meã, mais baixo do que eu, mas mais entroncado. Estava visivelmente embriagado. Tive então a infeliz ideia de responder à sua provocação:
- O camarada vai-me desculpar mas a conversa não é consigo, nem o assunto lhe diz respeito… Além disso, eu estou numa companhia de africanos, lá no mato, no leste, e não gosto de ouvir expressões como nharros ou barrotes queimados, porque são racistas, ofensivas para com…

O tipo não me deixou sequer completar a frase, saltou como uma onça de garras afiadas, direitinhas à minha carótidas… Foi a primeira (e única) cena de porrada, a sério, em que eu me vi envolvido na tropa e no teatro de operações da Guiné, com luta corpo a corpo… De facto, nunca tinha sentido o "inimigo" tão perto, olhos nos olhos, as unhas enfiadas no meu pobre pescoço…

Providencialmente foi nessa altura que ele apareceu, fardado, o meu anjo da guarda... Com divisas de furriel, segurando o energúmeno com autoridade e classe, e salvando-me daquela situação de embaraço e apuro... Escusado será dizer que o meu agressor também era militar e, ao que parece, estava em Bissau, de férias, noutra pensão rasca, ali ao lado. Os amigos, de ocasião, que o acompanhavam, tiveram o bom senso de o levar até ao Geba e apanhar o ar mais fresco da madrugada, antes que aparecesse a ramona… Quando me dei conta eram duas e tal da manhã…

Ele, o meu salvador, que por sinal também estava hospedado no "Chez Toi", era nem mais nem menos do que o meu camarada de pelotão, de Tavira, com quem eu de resto ainda tinha umas velhas contas por saldar… Furriel Carvalho, lembrei-me do nome... Estava numa compamhia lá para os lados de Quínara, depois de ter passado pelo leste, região de Gabu, se não erro... Resumidamente, aqui a vai a minha versão dessa história que me estava atravessada e que remontava a 1968, em Tavira, e que depois fiquei a rememorar durante o resto da noite no “Chez Toi”…

Numa das sessões de treino de boxe, que fazia parte da nossa instrução, dada pelo famoso tenente Esteves, levei dele uns socos valentes nos queixos. Eu tinha adotado uma atitude claramente passiva de quem não estava disposto nem a aleijar nem a ser aleijado… Esperava que o meu parceiro, com mais cabedal do que eu, 12 cm mais alto do que eu, entrasse no jogo do faz de conta… Mas qual quê!... Ele assim não o entendeu (ou não quis). Pelo contrário, assumiu logo de início uma postura viril, de combate. Sabia que estava a ser observado pelo instrutor e que aquilo era um teste de agressividade. Estava obcecado com a ideia de vir a poder ser um dos cinco melhores do curso, e assim, eventualmente, livrar-se de ir parar ao Ultramar, gorada a hipótese de ter ido para a Polícia Militar… por ter chumbado nos testes psicotécnicos ou, mais provavelmente, por ter sido ultrapassado por um gajo com cunha.

Devo confessar que, depois desse dia, fiquei-lhe com um pó dos diabos!... Não tinha, pois,  grandes razões para me lembrar dele como um dos bons camaradas de tropa, bem pelo contrário!... Acabei por perdê-lo de vista, até ao dia em que o Niassa levou as nossas duas companhias para a Guiné (ou ele ia em rendição individual, já não me recordo).

Como nunca fui um gajo de ressentimentos, fui buscar uma das garrafas de uísque que ainda sobravam da mala de cartão arrombada e lá ficámos à conversa, até de madrugada, contando as nossas peripécias de heróis da Pátria… Sei que no dia seguinte o gerente do “Chez Toi” mandou-me consertar a mala e repor a garrafa roubada… Honra lhe seja feita.  
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. a série Estórias de Bissau (com 17 postes até agora publicados, entre novembro de 2006 e dezembro de 2008):

11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)

11 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1267: Estórias de Bissau (2): A minha primeira máquina fotográfica (Humberto Reis); as minhas tainadas (A. Marques Lopes)

14 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1278: Estórias de Bissau (3): éramos todos bons rapazes (A.Marques Lopes / Torcato Mendonça)

17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1286: Estórias de Bissau (4): A economia de guerra (Carlos Vinhal)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1288: Estórias de Bissau (5): saudosismos (Sousa de Castro)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1289: Estórias de Bissau (6): os prazeres... da memória (Torcato Mendonça)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)

24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)

22 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1391: Estórias de Bissau (9): Uma noite no Grande Hotel (José Casimiro Carvalho / Luís Graça)

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1484: Estórias de Bissau (10): do Pilão a Guidaje... ou as (des)venturas de um periquito (Albano Costa)

10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)

31 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1639: Estórias de Bissau (12): uma cidade militarizada (Rui Alexandrino Ferreira)

19 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2281: Estórias de Bissau (13) : O Pilão, a Nônô e o chulo da Nônô (Torcato Mendonça)

21 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2290: Estórias de Bissau (14) : O Pilão, a menina, o Jesus e os pesos que tinha esquecido (Virgínio Briote)

6 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2509: Estórias de Bissau (15): Na esplanada do Pelicano, a ouvir embrulhar lá longe (Hélder Sousa) 


Sobre a série Galeria dos meus heróis, vd postes anteriores:

13 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - P168: A galeria dos meus heróis (1): o Campanhã (Luís Graça)

13 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1366: A galeria dos meus heróis (6): Por este rio acima, com o Bolha d'Água, o Furriel Enfermeiro Martins (Luís Graça)

11 comentários:

Valdemar Silva disse...

Luís.
Excelente narrativa, até parece que estamos a ver um filme em que é abordado toda a envolvência histórica daquele tempo, incluindo a zaragata e apenas faltou saber como estava vestido o tipo com o bioxene. Excelente guião para um filme.
Interessante também é eu ter estado por várias vezes em Bissau, duas vezes para vir
de férias, uma para entregar material usado e outra a aguardar transporte para Nova Lamego depois de estar internado no Hospital devido a uma grave infeção numa perna,
e não conhecer a Chez Toi e agora não me lembrar de sequer ouvir falar.
Ficava sempre numa Pensão, na rua do Serviço de Meteorologia, em que tudo era da tropa e até faltava a almofada da cama

Ab. e boas férias.
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Faço minhas as palavras do Valdemar, aliás já comentei isto noutro Poste.
Eu que já disse que conhecia tudo, e volto a dizer o mesmo, no Pilão em particular, dada a minha facilidade e autonomia de transporte aliada à minha loucura, não sei mesmo onde ficava, ou se já existia, o Chez Toi. Não estamos a confundir com 'A meta' ?
Já mandei o meu Poste de uma História Real, só espero que seja bem interpretada, pois garanto que vou ter outras, falta-me apenas alguma coragem, não sou um Bravo, porque poderá incluir cenas e frases susceptiveis de ferir a sensibilidade de alguns, e há Senhoras, Meninas, as Famílias, e outros que têm ACESSO LIVRE ao Blogue, certo?.
(Luís porque escreves Estória, qual a diferença substancial, ainda não percebi bem com esta minha avançada idade)?

Valdemar como se chamava a PensãO? Onde era a rua da Meteorologia, pode-me ter escapado às minhas andanças.

Virgilio Teixeira

Juvenal Amado disse...

O meu amigo de infância e dos bailaricos José António prestava serviço na companhia de Transportes de Bissau. Quando fui de férias o meu amigo conseguiu arranjar um beliche na sua camarata e assim demos uma volta pela a noite de Bissau e passamos à porta do Chez Toi. Não entrei e as estórias que contavam sobre o estabelecimento eram repletas peripécias.
Dizíamos por graça que estava que estava para chegar a rendição para as que lá estavam no próximo navio.

Valdemar Silva disse...

Virgílio
Não sei dizer, agora, com precisão a localização da rua em que estavam instalados aparelhos da Meteorologia e também não me lembro do nome da Pensão. Mas, lembro-me que a rua tinha inclinação até à Avenida (principal) ??, não sei dizer. A propósito, a Pensão era tão 'à tropa' que nem sequer havia espelho na casa de banho.
Quanto à 'Meta', conheci perfeitamente não para ir jogar na pista de mini-car, mas por ter um bom ar condicionado e ir lá beber uns bioxenes.
Até me lembro de ter aparecido por lá o Marco Paulo, que deu azo a uns piropos da rapaziada… Ó Marco queres cantar aqui no microfone.

Valdemar Queiroz

Costa Abreu disse...

Lembro-me ben do Chez Toi. O dono/gerente era empregado da casa Pintozinho e estava amigado com uma cabo verdiana do Pilao. Quanto a Meta era do Geraldes dono da casa de fotografia que ficava na mesma rua do Chez Toi e era casado com a Natalia que tinha uma pensao junto a casa da fotografia.

Costa Abreu disse...

Lembro-me ben do Chez Toi. O dono/gerente era empregado da casa Pintozinho e estava amigado com uma cabo verdiana do Pilao. Quanto a Meta era do Geraldes dono da casa de fotografia que ficava na mesma rua do Chez Toi e era casado com a Natalia que tinha uma pensao junto a casa da fotografia.

Anónimo disse...

Olá Costa Abreu.
Ando a marrar no Chez Toi, se ele existia no meu tempo eu tinha de conhecê-lo. Em que ano/mês terá sido aberta esta Boite?
O gerente que estava amigado (diga-se tinha por conta uma cabo Verdiana) era empregado da Casa Pintozinho, que conheço desde que pisei o solo da Guiné em Bissalanca, 21Set67. Comprei lá quase tudo, por isso conhecia bem o dono/gerente, tínhamos negócios, e o empregado que me lembro era assim um homem bem cheio, que se constava era homossexual, dado que nunca se viu com uma mulher. Não sei o nomes de nenhum deles, sabia claro, mas agora estão no disco rígido escondidos.
A Meta frequentei já para final da comissão, não ia para lá brincar com os mini car, pois não era a minha especialidade, nem para apanhar ar condicionado, que até não me dava bem, nem hoje, com frio artificial, ia sim beber uns copos.
Aguardo mais alguma coisa do Chez toi, que existe um nome destes em muitos locais do mundo, incluindo Portugal e em Paris, onde estive lá num desses, há muitas décadas.

Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Conhecia bem o Geraldes das fotografias, comprava lá tantos rolos para a minha máquina e revelava também as fotos, algumas. Só precisava de saber ou lembrar-me onde se localizava exactamente a Casa Geraldes, e o Chez Toi. A pensão da Natalia, o nome não me é estranho, mas nunca lá estive.
Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Valdemar, a Avenida principal chamava-se na altura av. do Império, que acabava lá em cima na Praça do Império, palácio do governador.
Havia muitas ruas que iam dar à avenida do Império, agora é difícil lembrar-me.
Quanto à pensão 'quase igual à tropa' não é de estranhar, muitos lá ficaram e depois sacavam de várias formas os objectos militares.
Mas sobre a falta do espelho, que eu me lembre, no Biafra - a caserna/dormitório dos oficiais milicianos - além das camas de ferro e um colchão de espuma verde, duas sanitas à caçador, 2 chuveiros sem resguardos, e também tinha 2 lavatórios, com água mas também sem espelhos, alguém os roubava, e para fazer a barba, tinha de se pedir a alguém que tivesse um.
O Marco Paulo que encontraste na Meta, eu nunca o lá vi, cheguei a estar com ele na Amura do Bar de Oficiais, onde ele foi colocado, para não se aleijar, ainda me serviu uns copos, eu não ligava às suas tendências, e apesar de nunca falarmos antes no Porto, era uma pessoa conhecida e já famosa. Para azar meu a minha mulher é uma das fãs dele, da musica na rádio e na TV, eu não, nada mesmo. Aprecio ter chegado onde chegou, vindo do nada.
Por coincidência ou não, já era nosso conhecido, ele antes da tropa, já com nome na praça, morava perto de mim, para os lados do Jardim da Arca de Água, bem perto do posto da PSP do Campo Lindo, na Rua de Costa e Almeida.
Quando regressou voltou para lá uns tempos, uma minha irmã casou e foi morar para o mesmo prédio, e depois de ela se mudar para Lisboa, onde vive agora, ficou lá o meu irmão mais velho, mas a nossa malta, a rapaziada, não o deixava em paz, depois ele cresceu muito, e foi-se como todos, para Lisboa, a terra dos foragidos do país, sem ofensas...

Virgílio Teixeira

Anónimo disse...

Juvenal, vou continuar a procurar o Chez Toi.
Essa tua passagem pela porta do Chez Toi, a quando das tuas férias, foi em que ano/mês. Saberás também dar uma dica sobre quando abriu esta casa, pois até Agosto de 69 eu não a conhecia, o que é coisa rara.
Obrigado
Virgílio Teixeira

Valdemar Silva disse...

Virgílio
Na tal Pensão, também as camas, colchões e lençóis eram os mesmos da tropa.
Era fácil de ver que neste negócio e outros, cafés/restaurantes, etc., passavam de
trespasse entre tropas, em conformidade com o tempo da comissão de serviço. Julgo
que eram negociatas ao nível de Sargentos do QP, mas não quero afirmar que todos assim fosse. Até havia casos de negócios que começaram quando ainda tropas e ficaram já como civis.
Depois, acabou a guerra e não o contrário, de lá vieram desolados, deslocados, indigentes com uma mão à frente e outra atrás apenas com uma escova de dentes na algibeira.

Valdemar Queiroz