1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Agosto de 2018:
Queridos amigos,
Era um dos momentos mais esperados nos passeios por Toulouse, uma cidade recheada de surpresas ao nível da arquitetura e das Belas-Artes, visitar as esculturas românicas no Museu dos Augustins, o guia Michelin dá-lhe 3 estrelas e exalta todo aquele esplendor escultórico. Houve sobretudo duas surpresas, a magnífica exposição sobre Toulouse no Renascimento e o talentoso trabalho de museologia e museografia do cubano Jorge Pardo na sala de escultura românica, vejam e digam se não é um fenómeno de criatividade.
Um abraço do
Mário
Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (10):
Uma exposição memorável no Museu dos Augustins,
a Toulouse do Renascimento
Beja Santos
O viandante entra no museu pronto a deglutir uma requintada refeição cultural, contemplar os capitéis românicos, grande parte deles talhados com mármore cinzento dos Pirenéus, vieram de claustros demolidos no século XIX, caso de Saint-Sernin, da Daurade e de St-Étienne, falamos de trabalhos escultóricos principalmente do século XII, não têm paralelo, e os maiores museus do mundo disputariam encarniçadamente a posse destes tesouros. Mas logo na receção uma surpresa: a zona das Belas-Artes está em obras, a contrapartida é visitar a exposição «Toulouse no Renascimento», logo advertem o viandante que não sairá dececionado, estão ali em exibição os tesouros artísticos de uma cidade rica, poderosa e criativa, entre os anos 1490 e 1620. É um momento único para apreciar a renovação do gosto na arquitetura, na pintura, na escultura, mas também na iluminura, a tapeçaria, o vitral, a ourivesaria, a imprensa, a carpintaria. Ao tempo, Toulouse é a capital do Languedoc, vive uma idade de ouro, a despeito de estar no centro de tumultos religiosos e políticos que culminarão com a conquista de Henrique de Navarra.
É um período de prosperidade económica sem precedentes, Toulouse é uma cidade universitária, possui numerosos colégios, as tipografias instalaram-se na proximidade destes colégios, ganharão fama universal. Ao longo da exposição, o visitante vê a evolução de uma cidade rica e poderosa, a afirmação de um gosto novo, são manifestações de um renascimento com obras audaciosas, na escultura, na iluminura, até nos relicários. O guia da exposição aponta para obras de valor incontornável como os vitrais da catedral de Auch, tapeçarias monumentais, manuscritos iluminados, incunábulos. Museus de grande prestígio como o Louvre e o museu Fitzwilliam, de Cambridge, emprestaram obras. O resultado é excecional.
E chegou o momento de percorre a sala de escultura românica do século XII, é um deslumbramento, imagine-se que o viandante até julgou que estava na mesquita de Córdoba, e depois percebeu que tinha havido um trabalho excecional de museologia e museografia, dele se encarregou um artista cubano, Jorge Pardo, criou uma atmosfera única destas coleções da arte românica, o artista é internacionalmente reconhecido pela sua obra colorida onde a arte, o design e a arquitetura se interligam. A sala ganhou uma completa identidade pelo enquadramento, o tecido complexo de interações, os capitéis românicos falam entre si, beneficiam de uma decoração espantosa, da azulejaria, de três modelos originais de lampas, as colunas de suporte são os pilares encantatórios por onde o visitante contempla obras-primas da escultura, ali predominam os temas bíblicos, estamos no tempo em que a iliteracia é superada pelo uso da imagem, os capitéis possuem essa característica vigorosa, o visitante anda à roda e encontra sempre um arrendado, uma espantosa figura de vestiário, um testemunho dos Evangelhos. Só por esta sala, diz o viandante para os seus botões, valeu a pena vir a Toulouse.
Permita o leitor que se tome a decisão de continuarmos com este esplendor escultórico antes de se passar para a sala de escultura gótica onde nos aguarda uma obra-prima, a Pietà de Récollets, outra obra incomparável. E finda a visita caminha-se para outro museu, o da arqueologia, o faustoso Museu Saint-Raymond, ninguém se sentirá dececionado.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 27 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19140: Os nossos seres, saberes e lazeres (290): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (9): A viagem de regresso, tijolo e muito Património da Humanidade (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário