Mapa de parte da baixa da velha Bissau (colonial), entre a Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura. A escuro, dois prédios que pertenciam a Nha Bijagó. Fonte: António Estácio, em "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il.),
Guiné- Bissau > Bissau > c. 1975 > Novo mapa, pós-colonial, da capital da nova república, já com as novas designações das ruas, avenidas e praças, que vieram substituir o roteiro português: Av 3 de Agosto (, Marginal), a Rua Guerra Mendes (, Rua Oliveira Salazar,) Rua António Nbana (, Rua Tomás Ribeiro) . Veja-se a localização da Fortaleza da Amura, do porto do Pidjiguiti (para os barcos de pesca e de cabotagem), à esquerda do porto de Bissau (para os navios da marinha mercante).
Foto: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Às vezes temos dificuldade em localizar, no mapa de Bissau do nosso tempo (1961/74), aquela casa comercial, aquele restaurante ou aquela cervejaria de que temos boas memórias... Faltam-nos um mapa com a toponímia do "antigamente", e a correspondência com os nomes das ruas e avenidas atuais...
Com a ajuda de algumas camaradas que conhecem (ou conheceram) Bissau, aqui fica um pequeno contributo, parcelar, para nos ajudar a localizar, com mais rigor, alguns desses estabelecimentos, alguns com várias referências do nosso blogue: por exemplo, ainda recentemente falámos aqui do comerciante António Augusto Esteves, fundador da Casa Esteves, transmontano, e que ainda ficou por lá depois da independência, tendo ido para a Guiné em 1922 e tendo morrido em Lisboa, em 1976... [Tinha várias filiais no interior da Guiné. A sede era em Bissau, na antiga Rua Honório Barreto (6). ]
Segundo o António Estácio, no seu livro "Nha Bijagó", "a Rua Honório Barreto foi, na Guiné, a primeira a ser asfaltada e reabriu em 06.04.1953"... Nesta rua, agora 19 de Setembro, "encontravam-se estabelecimentos comerciais como, por exemplo, o de Augusto Pinto, a Olímpia Rocha (10), Barbearia Constantino (9), Casa Esteves (6), Salgado & Tomé (11), Luís A. de Oliveira (12) e, mais tarde, parte o do Taufic Saad (4), na esquina com R Oliveira Salazar.
Segundo o António Estácio, no seu livro "Nha Bijagó", "a Rua Honório Barreto foi, na Guiné, a primeira a ser asfaltada e reabriu em 06.04.1953"... Nesta rua, agora 19 de Setembro, "encontravam-se estabelecimentos comerciais como, por exemplo, o de Augusto Pinto, a Olímpia Rocha (10), Barbearia Constantino (9), Casa Esteves (6), Salgado & Tomé (11), Luís A. de Oliveira (12) e, mais tarde, parte o do Taufic Saad (4), na esquina com R Oliveira Salazar.
Na Rua Oliveira e na Marginal, ficavam as instalações da Ultramarina (que pertencia ao BNU) (14), o Hotel Miramar (15), a Gouveia (13)...
Na antiga Rua Miguel Bombarda (hoje 12 de Setembro), tínhamos o Zé da Amura (7),o Abel Dieb (19), a Casa Escada (17), o Abel Valente de Oliveira (18), o Mamud Elaward (20). Sabemos também onde ficava o Benjamim Correia (16), ao pé da Farmácia Moderna (5), o Barbosa & Comandita (21) e a Esquadra da PSP (22)
Infelizmente o croqui que encontrámos num livrinho do António Estácio, só inclui a parte oriental da Bissau Velha, entre a Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura (8).
Zé da Amura (7)
(...) Tínhamos o Zé da Amura onde se comiam uns chispes que iam para lá enlatados não sei de onde, mas que, à falta de melhor, eram apreciados. (...)
Café Cervejaria Bento [ou 5ª Rep] (1)
(...) Na Avenida principal [ , a Av da República, hoje Av A,ílcar Cabral], que ía do porto ao Palácio do Governo, também havia o Bento, café e esplanada característica da cidade a que vulgarmente nós, os militares, chamávamos de “5ª Rep.” já que o Quartel-general [, na Amura,]nsó tinha 4 Rep, 4 Repartições.
Infelizmente o croqui que encontrámos num livrinho do António Estácio, só inclui a parte oriental da Bissau Velha, entre a Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura (8).
Aguardamos, por parte dos nossos leitores. o envio de sugestões e correções, sob a forma de comentários, na respetiva caixa. Se nos quiserem mandar fotos, terá que ser por email... (LG)
Zé da Amura (7)
(...) Tínhamos o Zé da Amura onde se comiam uns chispes que iam para lá enlatados não sei de onde, mas que, à falta de melhor, eram apreciados. (...)
Café Cervejaria Bento [ou 5ª Rep] (1)
(...) O comércio de Bissau não era constituído só por cafés, restaurantes e tascas. Havia de tudo. E há nomes que não se esquecem. Para além da Casa Gouveia, o maior empório daquele então Província Ultramarina, como então se dizia, a Casa Pintosinho, a Taufik Saad, a Costa Pinheiro, e muitas outras vendiam de tudo, são nomes que ficaram para sempre na memória.
(...) "Havia, claro, várias casas de fotografia, como por exemplo a Agfa, perto da Amura, que ganhavam muito dinheiro na medida em que era raro o militar que não tivesse comprado a sua Fujica, Pentax, Nicon, etc., a que davam muito uso. Muitas casas vendiam roupa barata, nessa altura já confeccionada em Macau, especialmente aquelas camisas de meia manga, calças de ganga e sapatos leves."
(...) Na Guiné, mais propriamente em Bissau, fomos encontrar coisas boas no comércio. Uma surpresa! Logo ali na rua paralela à marginal [, ex-Rua Oliveira Salazar, hoje Rua Guerra Mendes,] na Casa Pintosinho, havia as últimas novidades eletrónicas. Os melhores rádios, transistores, pick-ups, aparelhagens de som, máquinas de barbear e todo o mais. Akai e Pioneer era do mais reclamado e moderno. Estavam na moda.
Um rádio para pôr na mesinha de cabeceira era o que se pretendia mais. No mato, já a ventoinha, a 5 dedos da cara, ganhava bem aos rádios. Alguns compraram autênticos rádios de sala e andavam com eles debaixo do braço, como que a dizer que o meu é maior do que o teu, e os donos da música fossem eles; outros ficavam pelos mais pequenos (vulgo transístor) que se levava no bolso e para qualquer lado.
Um camarada comprou um rádio que se transformava em pick-up após uma ligeira articulação. Foi de abrir a boca. Na Casa Pintosinho comprei ali mais tarde um “Mitsubishi”. Este transístor andava em propaganda radiofónica local e assim andou durante bastante tempo. Seduzido por tanta propaganda fui lá buscar um mais tarde, quando passei por Bissau em trânsito para férias na metrópole. Boa compra, durou muitos anos e tocava dentro do carro como se fosse um auto-rádio. Uma relíquia, mesmo depois de deixar de tocar (os tombos foram muitos), posta fora inadvertidamente, para desespero meu.
A Casa Pintosinho era uma casa atualizada e a tropa era lá muito bem recebida e atendida. Pudera! Sargentos e Oficiais tinham manga de patacão. (...)
(...) O anúncio que hoje divulgamos é de uma conhecida casa de Bissau, do nosso tempo, a Casa António Pinto, ou "Pintosinho", alegadamente a melhor e a mais moderna loja da província (, em 1956, já não se dizia, ou pelo menos, não se escrevia, colónia...).
O António Pinto, que ficava na Rua Dr. Oliveira Salazar [, hoje Rua Guerra Mendes,] tinha tudo, a começar pelas "últimas novidades", desde a ourivesaria às armas, munições e demais artigos de caça e desporto, par de rádios e máquinas fotográficas (como a Zeiss Ikon)...
Casa Pintosinho (2)
(...) Na Guiné, mais propriamente em Bissau, fomos encontrar coisas boas no comércio. Uma surpresa! Logo ali na rua paralela à marginal [, ex-Rua Oliveira Salazar, hoje Rua Guerra Mendes,] na Casa Pintosinho, havia as últimas novidades eletrónicas. Os melhores rádios, transistores, pick-ups, aparelhagens de som, máquinas de barbear e todo o mais. Akai e Pioneer era do mais reclamado e moderno. Estavam na moda.
Um rádio para pôr na mesinha de cabeceira era o que se pretendia mais. No mato, já a ventoinha, a 5 dedos da cara, ganhava bem aos rádios. Alguns compraram autênticos rádios de sala e andavam com eles debaixo do braço, como que a dizer que o meu é maior do que o teu, e os donos da música fossem eles; outros ficavam pelos mais pequenos (vulgo transístor) que se levava no bolso e para qualquer lado.
Um camarada comprou um rádio que se transformava em pick-up após uma ligeira articulação. Foi de abrir a boca. Na Casa Pintosinho comprei ali mais tarde um “Mitsubishi”. Este transístor andava em propaganda radiofónica local e assim andou durante bastante tempo. Seduzido por tanta propaganda fui lá buscar um mais tarde, quando passei por Bissau em trânsito para férias na metrópole. Boa compra, durou muitos anos e tocava dentro do carro como se fosse um auto-rádio. Uma relíquia, mesmo depois de deixar de tocar (os tombos foram muitos), posta fora inadvertidamente, para desespero meu.
A Casa Pintosinho era uma casa atualizada e a tropa era lá muito bem recebida e atendida. Pudera! Sargentos e Oficiais tinham manga de patacão. (...)
Taufik Saad (4)
(...) Na mesma rua e mais para o lado da Amura, na loja Taufik Saad [, foto à esquerda, ] comprava-se, principalmente, entre outras, louças decorativas, vulgo bibelots, louças de servir à mesa, faianças e porcelanas, louça fina, entre esta bonitos Serviços de chá e café que vinham da China.
Louça “casca d’ovo “, louça de fina espessura para não fugir aquele nome, onde no fundo se podia ver recortada na própria louça o rosto de uma linda chinesa.
Ainda hoje guardo um serviço destes. Era uma casa requintada ao nível das melhores de Lisboa. (...)
Anúncio, Revista de Turismo, jan/fev 1956 |
Casa Pintosinho, de António Pinto (2)
(...) O anúncio que hoje divulgamos é de uma conhecida casa de Bissau, do nosso tempo, a Casa António Pinto, ou "Pintosinho", alegadamente a melhor e a mais moderna loja da província (, em 1956, já não se dizia, ou pelo menos, não se escrevia, colónia...).
O António Pinto, que ficava na Rua Dr. Oliveira Salazar [, hoje Rua Guerra Mendes,] tinha tudo, a começar pelas "últimas novidades", desde a ourivesaria às armas, munições e demais artigos de caça e desporto, par de rádios e máquinas fotográficas (como a Zeiss Ikon)...
Era o representante,na Guiné, de uma série de marcas famosas, desde os relógios "Longines" às máquinas de escrever "Hermes", além dos "whisk" (sic, em inglês, batedeira, utensílio de cozinha...) das melhores marcas (...)
Pinto Grande, depois Ernesto Carvalho (3)
(...) Guiné > Bissau > Anos 50 > Primeira rua [, Rua Oliveira Salazar,] a ser alcatroada em Bissau. O edifício à esquerda era o estabelecimento comercial conhecido por Pinto Grande, irmão de um outro Pinto conhecido por “Pintosinho” [,o António Pinto, ] por ser (o estabelecimento) de menores dimensões.
O “Pinto Grande” [, de Augusto Pinto], embora continuando a ser chamado por esse nome, foi, durante a guerra, propriedade de um comerciante anteriormente estabelecido em Bolama, de nome Ernesto de Carvalho que o tomou de trespasse. (...)
O “Pinto Grande” [, de Augusto Pinto], embora continuando a ser chamado por esse nome, foi, durante a guerra, propriedade de um comerciante anteriormente estabelecido em Bolama, de nome Ernesto de Carvalho que o tomou de trespasse. (...)
Mário Dias
(...) "O Rui Demba Djassi era um jovem activo e turbulento duma família de funcionários públicos, residente na então rua de S. Luzia, entre o estaleiro da Tecnil e o Quartel-General do CTIG, desertara do Eexército Português para o PAIGC com o posto de furriel miliciano, e, antes de assentar praça, fora cobrador da Farmácia Moderna, muito dedicado à Dr.ª Sofia Pombo Guerra, comunista portuguesa e uma das mães da independência da Guiné (os guineenses não deixaram de ser polígamos na política)" (...)
Guiné > Bissau > Fins de Setembro de 1967 >– Numa rua da Baixa, pobre, suja, velha, a cidade velha, penso ser na zona comercial, onde se localizava a Casa Pintosinho e a Taufik Saad e outras. Penso que estou metido num grupo de amigos, e alguém tirou a foto, acho que estou de camisa branca.
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Anúncio, Revista de Turismo, jan/fev 1956 |
Farmácia Moderna (5)
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Era nesta rua, na Bissau Velha, que ficava a Casa Pintosinho, a Taufik Saad, a Casa Pinto Grande e outras. Colecção de postais da Guiné, do nosso camarada Agostinho Gaspar, natural do concelho de Leiria, ex-1.º cabo mec auto rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74).
Digitalização e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).
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Nota do editor:
Último poste da série > 10 de outubro de 2019 > Guiné 61/74: P20226: Memória dos lugares (394): Ilha das Cobras: destacado, de abril a junho de 1968, para defender um farol...E nesse espaço de tempo recebi a visita do ten Robles e de homens da 15ª CCmds bem como do brigadeiro Spínola (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas, 1966/68)
Último poste da série > 10 de outubro de 2019 > Guiné 61/74: P20226: Memória dos lugares (394): Ilha das Cobras: destacado, de abril a junho de 1968, para defender um farol...E nesse espaço de tempo recebi a visita do ten Robles e de homens da 15ª CCmds bem como do brigadeiro Spínola (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas, 1966/68)
17 comentários:
Ah!, e havia a Casa Escada, a Casa do libanês Mamamud Elaward... na rua que é hoje 19 de Setembro (antiga Rua Miguel Bombarda)... E estou em dúvidas em relação à Casa Gouveia... No croquis do Estácio, aparecem na Rua Oliveira Salazar , paralela à Marginal: Sociedade Comercial Ultramaria, Hotel Miramar, A. C. Gouveia (Armazéns da Casa Gouveia ?) e ainda Resid da Gouveia (Residencial ?)...
6 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 – P4903: Notas de leitura (20): Histórias do pessoal da CCAÇ 2382, por Manuel Traquina (Parte I) (Luís Graça)
(...) De Bissau, o Traquina deixa-nos dois ou três apontamentos que nos ajudam hoje a reconstituir ‘puzzle’ do roteiro da capital da Guiné, que “naquele tempo vivia à base dos militares” (p.55).
Tinha já então “uma larga avenida que descia da Praça do Império, onde se situava o Palácio do Governador até ao porto, o chamado Cais do Pijiguiti [, que em rigor é apenas uma parte do porto…]. Aqui começava a outra, também bonita, avenida marginal ornamentada com algumas palmeiras” (p. 56).
Havia um florescente comércio. Podia-se comprar “de tudo um pouco”, incluindo artigos que não vistos na Metrópole e sobretudo que era inacessíveis à maior parte das bolsas dos portugueses. “As vésperas de embarque eram grandes dias de negócio, eram centenas, ou mesmo milhares de militares que iam regressar a Portugal, e normalmente todos faziam as habituais compras nas lojas de Bissau (entre outras lembramos a Casa Escada, o Taufik Saad, a Casa Pintosinho e a Casa Gouveia)”… Era aí que se faziam as compras de última hora, as lembranças para amigos e familiares. “Na baixa da cidade cada porta era uma loja, os artigos orientais com a etiqueta ‘Fabricado em Macau’ invadiam já as lojas, muito antes de chegarem a Portugal” (p. 55). (...)
Na Casa Pintosinho comprei uma arma de caça de 12 mm que agora entreguei na PSP. A aparelhagem musical Kenwood e o relógio Orient naõ sei em que casa talvez no libanês. Mas não era no Pintosinho que se comiam as célebres ostras acompanhadas de bazucas fresquinhas? Ai que saudades!
Meus caros
Estas fotos e artigos acabem sempre por "mexer" bastante com as recordações.
No "Zé d'Amura" também me lembro de petiscar muitas vezes umas travessas de iscas.
A foto de um civil a olhar para a montra da Taufik Saad fez-me recordar uma cena que já por aqui relatei passada com o Pechincha. Ia-mos os dois a circular quando lhe despertou a atenção uma promoção na montra de um artigo qualquer que não me lembro agora e que dizia, mais ou menos, "aproveite, uma autêntica pechincha". O nosso amigo Pechincha coloca o seu mais conseguido ar de apanhado e entra desabridamente pela loja exibindo o seu cartão de identidade e "exigindo" que retirassem a fraude pois Pechincha autêntico era ele, conforme se comprovava pelo documento exibido. Sei que se gerou uma grande confusão e que tudo acabou em bem mas, sinceramente, não sei agora dizer em que moldes.
Quanto a relógios.... pois também comprei um, um Tissot "qualquer coisa" (penso que um PR 15) na casa "Salgado e Tomé" logo ali perto da Amura.
Hélder Sousa
Caros camaradas,
Este Poste transporta-nos 50 anos e mais para trás, é para mim, um privilégio de o ver, rever e tentar lembrar-me de tanta coisa. Desde já as minhas felicitações por isto, pois não tenho nada parecido, desgastei tantas centenas de fotos, e não tive a esperteza de fotografar todas estas ruas e ruelas, casas e casinhas, lojas e armazéns, restaurantes e esplanadas que é isso que este povo gosta.
Leva-me a mim, aos anos 67 a 69, depois aos anos 84 e 85.
Eu estou a trabalhar a fundo na continuação das minhas aventuras por terras da Guine Bissau, anos 84 e 85, e isto até ajuda para eu acrescentar algo mais à minha história.
Para já na foto a cores actual, reparei lá na Rua Eduardo Mondelane, e foi aí, numa pequena Pensão caseira, que era explorada por um Português radicado, onde fui parar na minha 3ª viagem à Guiné, com o nosso Técnico Agrícola, Isidro Quaresma Gomes, que já conhecia a pensão por ter lá estado nas suas primeiras viagens. Ali, com miseráveis condições, nos instalamos no dia 5 de Junho de 1985, como vai sair na Parte III do Tema 999 - a 3ª viagem, em preparação.
E fica aí a primeira 'sede' da empresa constituída. Mas isso vai sair no meu Poste. Sei que ficava no inicio da Rua, era o nº 14, salvo erro, e logo uma Praceta e Estátua, e estou confuso em saber qual a praça e qual a estátua.
...... continua..
Virgilio Teixeira
Na Casa Pintosinho não havia comes e bebes.
As ostras e bazucas eram deitadas a baixo na Ultramarina à entrada da rua.
Os meus últimos pesos esturrados em Bissau (Dez.1970) foram na Taufik Saad na compra de um relógio Longines por 2.950$00 (em notas do BNU).
Hélder, o que será feito do Victor Manuel Gonçalves Pechincha? Grande maluco, julgo que forçava um bocado a maluqueira, pertenceu à minha CART.11. Apareceu uma vez nos nossos Encontros anuais e nunca se soube mais dele. Ele era um grande 'artista' e gostava de dar 'baile' à rapaziada e arranjava as mais variadas 'doenças' para não sair em operações no mato. Numa das nossas saídas, com a montagem duma emboscada noturna, o Pechincha, embora 'doente', também foi com o seu Pelotão, julgo que o nosso Capitão também. Pela noite dentro, num silêncio profundo, somos todos surpreendidos por um conhecido barulho que acordou toda a floresta. O Pechincha tinha levado um relógio despertador para não se esquecer de tomar os comprimidos. E esta hem?
Valdemar Queiroz
Ó Valdemar, só tu te podias dum requinte como este: cheguei agora mesmo do Porto (, porra, lá chove, aqui também!, venha mais chuva que bem precisamos dela...). E já me ri à gargalhada... Esse Pechincha devia ser um "cromo"!... Levar um despertador para uma emboscada!...
Mantenhas!... Luis
PS1 - Afinal, do que a malta se lembra melhor é dos comes & bebes!... Em Bissau!... E de algumas "quecas" no Pilão!... E da quinquilharioa dos Taufik Saad e dos Pintosinhos, que a gente trazia para a avó, a mãe, a mana, a esposa, a noiva, a namorada...
PS2 - Haja alguém que arrange um "croquis" (em português, croqui) parecido da parte ocidental da Bissau Velho, ou Bissau Colonial... Não se esqueçam que este traçado, feito a a régua e esquadro,é do tempo da I República, ou da República, já que só houve uma... Somos masoquistas, gostamos de dar tiro nos pés, mas temos de reconhecer que, para a época, era uma inovação em termos de planeamento urbanístico...Pena que a Bissau Velha caia de podre sem a gente lhe poder valer, sem a UNESCA a classificar... Ao menos que a Câmara Municipal de Bissau tenha um rasgo de génio e "proteja" do camartelo aqueles edifícios, aquelas ruas, que tinham a sua graça, o sue encanto, a sua beleza... A Guiné-Bissau precisa de "recuperar" a sua memória... E os "tugas" que por lá passaram também parte dessa "memória, material e imaterial"... Como os romanos, os visigodos, os suevos, os árabes e os bérberes, etc., que cá estiveram muitos séculos, neste pequeno rectângulo que se chama Portugal há mil anos... Os guineenses têm que ter orgulho no seu país como nós temos no nosso...
E continuando, eu já tinha um imenso texto para publicar, mas o raio do mau tempo, a chuva sempre a cair, a humidade, deitou já hoje de manhã por 3 vezes a luz desta vila abaixo, e eu perdi o texto, agora nunca mais vai sair o mesmo, mas mesmo assim, vou continuar a publicar aos bocados pois é mais seguro.
- Farmácia Moderna: Conheci em pelo menos 1969, quando lá fui arranjar uns medicamentos para a minha amiga de Santa Luzia, que foi forçada a fazer um aborto - de uma personagem não identificada - e que esteve muito mal no Hospital Simão Mendes.
- Depois fui lá outra vez em 1985, comprar alguma coisa para uma secretária do Ministério do Comércio, que me tinha feito alguns favores, tinha uma infecção intima. Já contei isto.
- Nessa Farmácia, trabalhou lá a mulher de um colega meu do Porto, alf mil da Chefia de Contabilidade, que moravam em Bissau, junto às actuais oficinas da Volvo. Deixou aquilo no fim da comissão do marido, e ainda hoje falamos disso, ela teve boas recordações, ainda agora, na casa do 70 e tal...
Mas não faço ideia onde ficava a Farmácia, agora pelo mapa já me diz alguma coisa, mas muito pouco e vou contar porquê.
Virgilio Teixeira
Como já disse, eu não tive a esperteza de tirar fotos aquilo que era mais importante, e não fazer 'selfies' a mim mesmo.
O problema, e agora estou a constatar, há uns meses se me perguntassem, eu conhecia a cidade do Porto como os meus dedos... Mentira!
Conhecia as ruas, o asfalto, as pedras, os paralelos e as casas de comes e bebes e não me atrapalhava nem me perdia. Andava-se de carro e assim não se conhece nada.
Quando comecei a fazer tantos quilómetros a pé, por tantas ruas da velha e nova cidade, é que eu comecei a conhecer, tenho alguns milhares de fotos, e isso com a ajuda do google, comecei a perceber melhor a cidade, mas ainda a procissão vai no adro...
Em Bissau, particularmente, e noutras vilas, cidades e aldeias da Guiné, a mesma coisa, nunca me preocupei em saber o nome das ruas e muitas das casas onde comia e bebia, andava noutra onda, e por acaso, como já foi muito publicitado, eu ia pelo menos uma vez por mês a Bissau, tinha ,lá um transporte privado - primeiro uma motorizada Peugeot, depois uma Honda - e assim percorria toda a cidade e para fora dela, não me dando conta dos nomes das ruas nem o que lá havia, salvo se fosse algo de comer e beber, ou outro tipo de divertimentos. Atenção que até meados de 1969, não havia grande coisa, a não ser 'A Meta' e pouco mais.
Agora tenho alguma dificuldade em fazer a ponte com o nome das ruas, e uma que tanta vez lá fui, a Rua Dr. Oliveira Salazar, nunca soube desse nome.
Virgilio Teixeira
No Zé da Amura, que depois da independência se mudou para a Povoa de Varzim, no gaveto de duas artérias, junto à Amura, na sua grande esplanada, nas noites quentes e muito quentes, ia lá sempre com uma única intenção: comer os passarinhos fritos em molho picante, com muito pão para o molho, e com umas garrafas de vinho branco de litro, com cápsula, ou era 3 Marias ou qualquer coisa, e aquilo era deitar abaixo até dizer chega. Ou ia acompanhado e muitas vezes sozinho.
Quando falo nisso com a minha familia, ficam todos agoniados, que porcaria que comias! dizem eles, sem saberem que agora comem pior, hambúrgueres, cocas, batata frita em pacotinhos, etc.
Às vezes para os arreliar, em especial a minha mulher, quando a conversa é de petiscos, meto a minha argolada e acabo com a conversa!
Quando o visitei na Povoa, já não era nada daquilo, apenas um snack bar como tantos outros. Morreu já vai uns anitos.
Virgilio Teixeira
A Casa Pintosinho conheci bem demais.
Quando cheguei em 21set67, tinha lá no aeroporto uma delegação de dois homens da Casa Pintosinho, oferecendo-me os seus préstimos e colocando um carro à minha disposição. Eu nem sabia conduzir, tinha tido uma lições no IAO em Santa Margarida num Jeep de 3 velocidades e pouco mais sabia, por isso essa oferta abortou-se.
O Meu Batalhão tinha como principal fornecedor de tudo, a referida Casa Pintosinho, cujos nomes dos seus donos ou proprietários não sei, nunca soube ou não me lembro. Forneciam de tudo, desde as simples BIC, até arame farpado, acho que não vendiam armas nem munições...
A minha primeira compra foi de um relógio OMEGA, quadrado, automático que só funciona com o movimento dos braços, é raro e parece que tem algum valor ainda, pois o plaqué douro, ainda hoje parece ouro, os ourives têm de ir lá ver com o binóculo de aumento, se há algum contraste, parece que não. É esse que aparece em todas as minhas fotografias, e ainda hoje está aqui no meu braço, tenho de o usar sempre, não só por nostalgia, mas também porque se não ele para ao fim de 24 horas, e porque não sou apreciador de relógios, não tenho mais, apenas tenho outro que foi oferta da minha mulher nos meus 40 anos, de colecção e numerado, que utilizo por vezes alternadamente.
- Depois lá comprei ainda em Set 67 a minha primeira máquina fotográfica, a melhor que lá havia de momento, uma KONICA Auto S2. Quando esta se partiu num acidente passado um ano, foi enviada para o Japão para consertar, e logo comprei outra igual, fiquei assim com 2, uma a preto e branco e outra a cores, já tinham aparecido os rolos a cores e os slides.
Virgilio Teixeira
No Taufik Saad, na mesma rua, comprei várias coisas, era uma casa de especialidades, como diziam atrás, de porcelanas e outras.
Comprei pelo menos 3 conjuntos de chávenas de café com imagem chinesa no fundo da chávena, fui trazendo quando vinha de férias, e ficou com a minha namorada para o enxoval. E já tinha acho eu, mais um conjunto. Depois de casado e com as festas com filhos, amigos, familia, etc, foram-se partindo uma a uma, até chegar à estaca zero. Não me restam há mais de 30 anos nenhuma para amostra.
Não que fossem de má qualidade, mas eu servia tudo numa mesinha de sala, cujo tampo era em granito, logo em cada cafezito lá iam algumas. O mesmo com um conjunto de copos em Cristal, que não me resta nem um terço, e destes a maioria estão esbeiçados, pela mesma razão da mesa, que acabo por a vender ou dar a um irmão que me andava sempre a falar nela, após uma queda de um filho que bateu com a cabeça na esquina do raio da mesa, e assim acabou-se.
Mas de entre muitas outras coisas, comprei o melhor, um serviço de café de 6 pessoas, com açucareiro, leiteiro e cafezeiro, de Limoges. Não sei quanto custou, mas é muito bonito, e ainda está intacto porque não o utilizamos, só meia dúzia de vezes e noutra mesa.
Todas as peças têm desenhos diferentes, daí o seu encanto.
Não sei quem vai ficar com isso, depois que se arranjem.
Em 1984/85 ainda lá estive, já não é a mesma coisa, mas continuava a ter o melhor que havia, quer dizer que não havia mais nada, todas ou quase todas as casas tinham encerrado.
Virgilio Teixeira
Segundo o António Estácio, no seu livro "Nha Bijagó", "a Rua Honório Barreto foi, na Guiné, a primeira a ser asfaltada e reabriu em 06.04.1953"...
Nesta rua, "encontravam-se estabelecimentos comerciais como, por exemplo, o de Augusto Pinto, a Olímpia Rocha, Barbearia (do Constantino), Casa Esteves, Salgado & Tomé, Luís A. de Oliveira e, mais tarde, parte o do Taufic Saad".
As Ostras, os camarões e as bazukas, proliferavam por toda a parte, qualquer rua tinha várias esplanadas ou cafés, onde se serviam estas maravilhas, numa tarde ou noite bem quentes. Não era preciso procurar muito, mas a Avenida do Império, tinha lá muitas, mas as melhores eram junto às instalações dos Fuzos, não sei bem os nomes delas, mas onde sabiam bem era mesmo nas esplanadas e passeios, em cafés onde vinha tudo numa grande travessa - aliás várias travessas, e debaixo da mesa, um enorme cartão de embalagem das bazukas, para onde deitávamos os restos das ostras, isto é, as cascas, que depois serviam para fazer os enchidos nos abrigos dos aquartelamentos.
A Casa Pintosinho, como é óbvio não tinha esse objecto social, vendia de tudo, menos Ostras e cervejas.
Virgilio Teixeira
Francamente não me lembro, pelo menos por esse nome, nem a casa António Augusto Esteves, nem a casa Pinto Grande nem a sua sucessora. Seguramente que lá estive a ver as montras ou entrei numa ou noutra delas, mas não me dizem nada. Como era tudo na mesma zona e ruas tão pequenas e perto umas das outras, por lá passei.
Na Casa Pintosinho ainda comprei lá algumas canetas de tinha permanente, com bico de ouro, eu gostava daquilo, depois comprei um tripé para a KONICA, e mais tarde, um projector de slides.
Numa das ultimas cartas que escrevi a minha namorada, dizia então que 'já tinha dado o sinal de 15 contos para a compra de um carro Peugeot'.
Depois não sei o que disse, mas arranjei uma desculpa de ser difícil trazer o carro para cá e era um risco grande e não valia a pena. Porque não tinha o dinheiro para ele, essa foi a razão principal.
Também tinha dito que já tinha comprado vários conjuntos de toalhas de mesa e outras coisas mas era tudo mentiras que não fazem mal a ninguém. Em vez disso trouxe tapetes e essas chinesices, que acabamos por nunca utilizar, bem como trajes japoneses, além das habituais coisas de artesanato locais, que acabamos por nos desfazer de tudo, ao longo dos anos.
Coisa que comprei como todos, e como aqui já disseram, aquelas camisas de meia manga, chinesas, made in Macau, que era o que se usava mais vezes.
Ainda nos resta uma blusa de Macau, muito bonita, mas que nunca foi usada, não não faz o estilo de ninguém.
Virgilio Teixeira
Eu tinha destinado o dia de hoje, para dar um salto de gigante na III Parte do meu Tema 999 - O que fizeram da Guiné.
Mas com a leitura deste, fiquei obcecado com isto, porque afinal, só nos lembramos das coisas boas que ficaram, e estas lembranças, quem as ditou, bem haja, pelos anos a que nos transportaram.
Fica ainda muito por dizer, estamos a falar apenas duma pequena parte de Bissau, faz falta aqui a Bissau Nova, uma zona que a maioria não conhece, porque não estava nos roteiros, e era preciso transporte para lá ir ver, e isso eu tive o privilégio de nunca me faltar, posso dizer que só por isso fui um grande privilegiado.
Falta aqui a 'Grande Pilão' uma zona enorme por descobrir, que apesar de tudo tem o seu fascínio ainda hoje, grandes lembranças das noites que por lá passei nas Tabancas sozinho e com a motorizada à porta! Só de loucos.
Mas pela mesma razão de que já falei, acabo por não conhecer assim tão bem, o Pilão, com a motorizada e sem máquina fotográfica, não ficou nada para lembrar, apenas o nosso disco rígido na cabeça mantém algumas ténues imagens do que aquilo era, mas nada do que foi na realidade, nem uma foto tenho com as raparigas do Pilão, acho que tinha receio que me roubassem a máquina.
Estou a ficar muito piegas...
Falta ainda falar da Casa Gouveia, do Bento, da Agfa e outras casas que quase todos devem conhecer, e os bons restaurantes não é para olvidar, nem o Grande Hotel.
Um abraço por hoje,
Parabéns ao Autor,
Virgilio Teixeira
Verifico o pouco interesse neste tema, que deveria ter outros participantes, talvez a maioria não conheça estes sitios, mas ficaram os testemunhos daqueles que não se esquecem mais dos sitios onde foram, por vezes, felizes.
Virgilio Teixeira
O meu avô era o dono da casa Salgado & Tomé. Após o seu falecimento, foi o filho (meu tio - Checheu) quem ficou na frente da loja.
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