Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 1 de setembro de 2020
Guiné 61/74 - P21312: Documentos (31): Envio de Declaração de comprometimento de voltar a Jolmete em alternativa a uma ida "d'assalto" para Paris (Eduardo Moutinho Santos, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2366)
1. Mensagem do nosso camarada Eduardo Moutinho Santos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e ex-Cap Mil Grad, CMDT da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada), com data de 31 de Agosto de 2020:
Carlos Vinhal
Um abraço.
No "baú dos despejos" encontrei esta declaração que terei assinado para vir de férias, e que me terá sido devolvida porque não fui "d'assalto" até Paris...
Fazia parte das regras militares assinar este tipo de declaração.
Partilha o documento com a Tabanca.
Novo abraço
Porto, 30/8/2020
Eduardo Moutinho Santos
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11 comentários:
Fiz parte do batalhão 2892 (Aldeia Formosa/Quebo, Nhala, Buba - 1969/1971), furriel miliciano sapador de infantaria, Juvenal José Cordeiro Danado. Em Aldeia Formosa (sede do batalhão), no cemitério dos nativos, havia uma sepultura com foto e nome de um soldado português morto uns anos antes, não sei precisar quantos. Confrangi-me, magoado, fiz perguntas, indaguei, mas ninguém me soube dizer por que razão os restos mortais daquele nosso compatriota não eram devolvidos à sua família e ao seu torrão.
Será que o nosso capitão saberá de quem se trata?
E será que os restos do referido militar já repousam em solo português? Deixo a pergunta à Liga dos Combatentes.
Um grande abraço de irmão a todos os companheiros que lutaram na Guiné, em Angola e em Moçambique. Bem hajam, que tenham saúde e paz, e que vivam por longos e longos anos.
Eu vim de férias por duas vezes (1969/70) da Guiné à metrópole e não havia "Declaração" destas.
Ou então estou muito esquecido.
Valdemar Queiroz
Caros camaradas
Vi com atenção, e interesse, este documento que Eduardo Santos nos facultou.
Parece ter alguma lógica.
Acho mesmo que se insere na linha de outros documentos que havia, por exemplo para declarar o repúdio por organizações e/ou filosofias contrárias ao Estado então vigente ou para legitimar a ausência do País (tenho uma vaga ideia de ter feito uma coisa dessas quando me ausentei do País, antes da incorporação).
Não me recordo de ter tido que preencher (ou assinar) um documento desses, para vir de férias, mas esse facto (não recordar) não quer dizer que não tivesse existido.
Vim em gozo de férias por duas vezes a Portugal (à Metrópole, como se dizia) dividindo a comissão em três partes de cerca de 8 meses.
Hélder Sousa
Não me lembro, também, de ter assinado algum documento para poder vir de férias. Talvez houvesse Unidades mais papistas que o Papa, ou mais salazarentas que o próprio Salazar, e obrigassem a assinar estas declarações. A única coisa que tive de fazer foi apresentar-me numa unidade militar da minha área, com a respectiva guia de marcha, mas nem me lembro se lhe (me) deram alguma importância. Na data do regresso vim sem voltar lá. A propósito, como eu me considerava muito importante, ou não fosse abaixo do Gen Spínola, fui apresentar-me ao Quartel General do Porto.
Carlos Vinhal
Recorde-se aqui o caso da CCAÇ 3489. que esteve em Cancolim, e pertencia ao
BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)... O capitão e um alferes não voltaram depois da licença de férias...
24 DE OUTUBRO DE 2016
63/74 - P16631: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (14): A maldição de Cancolim e a CCAÇ 3489 que teve dois casos (o capitão e um alferes) de "abandono" (no período de férias) e um de "deserção" para as fileiras do IN, o sold at inf José António Almeida Rodrigues (1950-2016)
O Rui Batista, membro da nossa Tabanca Gransde, realtou-nos assim este caso (que comentámos nestes termos: "Não menos grave, ou talvez ainda muito pior para o moral da tropa, foi o que se seguiu: (...) "Tivemos o abandono do capitão e de um alferes, e a partida forçada para as tropas africanas do alferes Rosa Santos do meu pelotão”...
Repare-se que o Rui nunca fala em “deserção” (por pudor, por tabu, por respeito, por desconforto ?…) mas em “abandono” (sic)…
Presume-se que os dois oficiais, milicianos, tenham "desertado" (é o termo técnica e juridicamente apropriado) durante as férias na metrópole, com menos de meio ano de comissão, portanto no verão de 1972.
Mobilizada pelo RI 2, a CCAÇ 3489 partiu para a Guiné em 18/12/1971 no T/T Angra de Heroísmo e regressou em 28/3/1974 no T/T Niassa, tendo chegado a Lisboa em 4 de abril desse ano, a escassas 3 semanas do 25 de abril de 1974.
A CCAÇ 3489 esteve em Cancolim. Comandantes: cap mil Manuel António da Silva Guarda; e cap mil inf José Francisco Rosa. Pertencia ao BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74), comandado pelo ten cor inf José de Castro e Lemos. Faziam ainda parte deste batalhão, a CCAÇ 3490 (Saltinho; comandante: cap mil inf Dário Manuel de Jesus Lourenço) e CCAÇ 3491 (Dulombi, Galomaro, cap mil art Fernando de Jesus Pires).
Confesso que gostava de saber a história destes nossos antigos camaradas...Estiveram, com certeza, no estrangeiro, puderam estudar, viram o crime de deseração ser amnistiado, logo a seguir ao 35 de Abril, regressaram à Pátria e reintegraram-se... E ainda bem. Não os julgo, não os posso julgo, face às regras do nosso blogue.
Obrigado, Eduardo Moutinho... É uma pequena grande preciosidade, esse documento... algo surrealista!... Dá importância, em todo o caso, à "palavra dada" e reforça os laços de lealdade que nos unem/uniam...Quem não desertou antes do embarque, não tinha "estofo moral" para desertar a meio...
Difulgado e partilhada no blogue, este documento já não vai parar à "vala comum do esquecimento"...
Fica bem, amigo e camarada (, não sabia que eras beirão!). Luís
Como alguns sabem sou da Companhia do Eduardo Moutinho e também vim de férias uns dias antes do Natal de 68 e papeis só tenho a Caderneta e não me lembro de assinar nada, mas lembro-me que no dia de Natal tinha de estar tudo nas suas Unidades no mato, não era só em Bissau.Tenho uma foto em Bissalanca tirada uns dias antes do natal de 68 junto da avioneta que nos transportou para Jolmete e estou eu o Gandra o Monteiro e o Leão.A única lembrança que tenho é de o Capitão insistir connosco que nos queria lá todos antes do Natal e que não admitia falhas e o papel assinado seria mais um reforço da responsabilização digo eu.Não me lembro o dia em que tomei o avião em Bissau mas terá sido entre 15 e 20 de Novembro. sei que vim de coluna de Jolmete para Teixeira Pinto em 9/11 e uma semana antes em 2/11 numa operação tivemos 2 feridos graves e 7 ligeiros entre estes eu e o Eduardo Moutinho com a mesma roquetada.Ele provavelmente já não se lembra disto.
Um abraço
Manuel Carvalho
Olá Carvalho! Então não havia de me lembrar do "passeio" que demos nesse dia 2/11/1968 pela mata de DJOL, onde durante dois dias fizemos um grande "ronco"? O estilhaço da granada de RPG que me entrou na coxa, e de cujo ferimento só me apercebi quando o sangue já tinha encharcado as calças e escorria pela perna, só saiu quando já estava em casa no Tortosendo/Covilhã, pois, também eu vim de férias quando tu vieste(de 15/11 a 20/12/1968 - vésperas de Natal). Enquanto esperava em Bissau pelo avião da TAP ainda fui fazer o curativo ao Hospital Militar e o médico que me viu queria dar-me baixa e internar-me até passar a infecção. Não aceitei, e vim passar as 1ªas férias da "guerra". Ainda "guardo" o "buraco" que me ficou na coxa, por o ferimento não ter cicatrizado bem... Um abraço Eduardo Moutinho
NAU. Infelizmente não te posso esclarecer. Quando fui comandar a CCaç 2381 como capitão miliciano graduado de Infantaria, esta companhia já estava em quadricula no sector de Empada (Cubisseco). Só já conheci a vila de Aldeia Formosa/Quebo em 2011 na primeira das minhas idas à Guiné-Bissau na qualidade de responsável da Tabanca Pequena em serviço de cooperação e ajuda humanitária. Já falei do assunto com alguns camaradas antigos combatentes que estiveram também em Aldeia Formosa e que aparecem nos almoços das 4ªs feiras na Tabanca de Matosinhos. Ninguém tem presente o que relatas sobre o soldado inumado na cemitério de Aldeia Formosa. Espero que algum leitor/visitante do Blogue da Tabanca Grande possa trazer "luzes2 sobre o assunto.
Por acaso, conhecitambém os comandantes do teu batalhão - ao tempo Empada estava sob o comando de Aldeia Formosa -, nomeadamente o (então) major Pezarat Correia que nos acompanhou num patrulhamento até Ponta Brandão, na península do Cubisseco.
Abraço. Eduardo Moutinho
Muito obrigado, capitão.
E aquele abraço.
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