Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da nova série (*) de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: escritor e docente universitário, epecialista em língua, literatura e história da China; natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos dessa união, João e Pedro; membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de 270 referências no blogue]
Buenos Aires, Argentina, Janeiro 2020
Comecei o dia no bairro de La Recoleta, com dois ilustres falecidos, Jorge Luís Borges e Eva Perón.
Com Borges, de corpo inteiro no café de La Biela (Foto nº 1), conversámos sobre o seu bisavô transmontano, de Torre de Moncorvo, e questionei uma frase sua: “La democracia es una superstición bien difundida, es uno abuso de las estatísticas y además no creo que tenga ningún valor.” No rosto envelhecido de Borges, talhado a golpes de cinzel, aflorou-lhe um levíssimo sorriso. “Quer perguntar mais alguma coisa?” Eu queria, mas não perguntei mais nada.
Fui depois ao encontro de Eva Perón, no jazigo de mármore negro onde descansa, o corpo embalsamado resguardado a cinco metros sob a terra. Passei a palma da minha mão numa placa de latão com a efigie de Evita (Foto nº 2). Antes e depois de morta, houve ainda tanta jornada pelo mundo! Descansa em paz, senhora.
Na Praça de Maio, a Casa Rosada (Foto nº 3), o instável poder político, as mães e avós todas as semanas pedindo justiça pelos seus filhos desaparecidos, assassinados há quatro décadas. A paz, ao lado, na catedral do arcebispo da diocese, hoje papa Francisco (Foto nº 4).
Dias de Buenos Aires, o bairro de San Telmo, compras na feira ao ar livre, comidas, parrilhadas, o bife de chorizo, o bom vinho argentino.
A sul de San Telmo, outro bairro, La Boca. Uma rua chamada Caminito é também nome de tango. Por perto, o mítico estádio de futebol conhecido por La Bombonera, com a forma de uma caixa de bombons. Por aqui, no Boca Juniors, singrou e brilhou Diego Maradona.
Jantar-espectáculo com doze bailarinos, uma cantora e cinco músicos, piano, percursão, bandameón, violino e viola baixo. O sentir dos corpos, o libertar da alma. Caída de um limbo celestial, uma jovem cantora, imaculadamente vestida de branco, tal como Evita Perón, cantou:
No llores por mi Argentina,
Mi alma está contigo,
Mi vida intera te la dedico,
Mas no te alejes, te necessito.
Grande tango, boa noite, Buenos Aires!
3 comentários:
O grande Borges transmontano de Torre de Moncorvo, como o nosão Paulo Salgado... HA muita gente que não sabe isto...
'....pedindo justiça pelos seus filhos desaparecidos, assassinados...', assassinados e prontus.
'..instável poder político...' e prontus, fosse em Talin sempre haveria adjectivação mais concreta.
Valdemar Queiroz
Já aquando de algumas reportagens das "viagens do Graça de Abreu", designadamente desta em que os problemas derivados da pandemia nascente e crescente o apanhou a bordo de um barquito, tive oportunidade de dizer que, embora esses relatos de viagens não tivessem nada, à partida, a "ver com a Guiné" (como muitas vezes alguns fundamentalistas gostam de referir) eu fico agradecido por me poderem dar a conhecer locais e gentes que, em condições normais, não tive nem se me afigura que venha a ter, possibilidade de vir a conhecer doutro modo.
E isso é verdade, não só para este estas reportagens "No espelho do Mundo", como também para as "Viagens Extravagantes" e para os vários textos e artigos que vão intervalando o Blogue com as morteiradas, emboscadas, assaltos e golpes-de-mão, como sejam as do Beja Santos, as do Tony Borié pela América e até os preciosíssimos textos do Francisco Batista, autênticas pinceladas em traços fortes de caracterização do interior do nosso País, um tanto no "nosso tempo" e um tanto no tempo atual.
Sobre as "coisas" que o Valdemar aponta e sublinha como sendo uma ilustração de "diferenciação de critérios" e de "posicionamento crítico", no fundo, no fundo, uma dualidade de critérios, a verdade é que não há assim muito por onde se "espantar" pois as coisas são assim mesmo e pronto!
Hélder Sousa
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