sábado, 1 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22160: Fotos à procura de... uma legenda (150): a continência à(s) bandeira(s) (Valdemar Queiroz)


Foto nº 1 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Nova Lamego > "Porta de armas": continência à bandeira nacional.

Foto (e legenda): © Abílio Duarte  (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Nhala > 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), > 1973 > Cerimónia do arriar da bandeira que ainda se repetiria por mais um ano, aproximadamente. Como se pode ver, estava um grupo de combate a entrar, que pára em sentido. Mesmo as mulheres que vinham da fonte com água à cabeça paravam nestas ocasiões, tal como os homens e as crianças.

Foto (e legenda): © António Murta (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]

 

Foto nº 3 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Janeiro / fevereiro de 1968 > A cerimónia cheia de significado da continência à bandeira nacional. Trata-se do hastear da bandeira, pela manhã, depois o arriar era às 18 horas, já quase noite. Hoje onde se vê disto? Em Bissau, por exemplo, toda a gente em sentido, até na Estrada principal, paravam os carros e saiam as pessoas com destino ou vindas de Bissau, a passar em Brá.

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 4 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > 1968 > CART 2339 (1968/69) > O Grupo de combate do Alf Mil Mendonça , antes de ser recambiado para Mansambo, para o trabalho de pá e pica , a construção do aquartelamento  > O arriar da bandeira ...  

Foto (e legenda): © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 5 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime > Xime > Posto Escolar Militar nº 8 > 1972 > Alunos participando na cerimónia do içar da Bandeira Nacional em 10 de junho de 1972. Ao centro o professor da Escola de Mansambo [?], presente a convite do camarada Carvalhido da Ponte.. [Um dos miúdos era o José Carlos Mussá Bai, hoje engenheiro florestal a trabalhar e a viver em Lisboa]

Foto (e legenda): © Jorge Araújo (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 6 > Guiné > Canjadude > 1974 > O PAIGC toma posse do antigo aquartelamento da CCAÇ 5 e hasteia a bandeira da nova República da Guiné-Bissau. 

Foto (e legenda): © João Carvalho (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 7 > Guiné > Região do Oio > Mansoa > 9 de Setembro de 1974 > Uma foto para a história: O Fur Mil Op Esp Magalhães Ribeiro arriando a bandeira verde rubra... Esta terá sido a última cerimónia do arriar da bandeira portuguesa, no TO da Guiné, pelo menos com "honras de Estado", isto é, em cerimónia oficial, com altos representantes, de um lado (NT) e do outro (PAIGC)... Diz o Eduardo que estava prevista, inclusive, a presença do 'Nino' Vieira, anulada à última hora por razões (compreensíveis) de segurança.

Foto (e legenda): © Eduardo Magalhães Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; tem mais de 120 referências no nosso blogue, e é um activo e incansável comentador; vive em Agualva-Cacém]

Date: terça, 13/04/2021 à(s) 15:00
Subject: Fotografis à procura de uma legenda 

As grandes fotografias da cerimónia diária do içar e arriar da Bandeira, que estão publicadas no blogue, representam perfeitamente o que se passava diariamente dentro e fora dos nossos Aquartelamentos.

Era um momento de cerimónia militar e de grande respeito de toda a população. Parava tudo, dos miúdos às bajudas, dos mulheres grandes aos velhos.

Estas fotografias à procura de uma legenda foram escolhidas por representarem as várias situações que se verificavam nesta cerimónia diária. Mas é apenas uma pequena amostra.

Desde a imagem em Nova Lamego que até dentro de casa havia cumprimento, passando pela correcta Continência à Bandeira dos poucos militares que ficavam no Quartel da minha CART.11, a particularidade de em Nhala a Continência ser feita com um "enxada arma", provavelmente por hábito agrícola, ou em Fá Mandiga ser um Pelotão a fazer a cerimônia, ficamos com uma ideia do escrupuloso cumprimento desta cerimónia diária.

Na Continência à Bandeira do PAIGC, em Canjadude, ressalta o respeito mútuo, apenas com um nosso militar bem fardado estar um bocado à balda calhando por estar contra o acontecimento.

Julgo que os autores destas extraordinárias imagens não se importarão que eu as utilize, agora venham lá legendas para estas fotografias.

Abraço
Valdemar Queiroz
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Nota do editor:

6 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro Valdemar!
E com muita pena minha que não te posso mandar uma foto do hastear e continência à bandeira no Cumbijâ. Pela simples razão que nunca aconteceu. Creio que (sem certezas) que nem bandeira tinha-mos.
Não quer isto dizer desrespeito aos símbolos deste maravilhoso país, que Marcelo bem descreveu no seu discurso no 25 de Abril, e no qual me revejo, simplesmente a situação na altura não estava para cerimónias protocolares,
Um grande abraço e... aparece para ajudares a assar o chouriço com o whisky 60 anos!
Joaquim Costa

Valdemar Silva disse...

Caro Costa
Julgo que em muitos destacamentos, isolados ou dentro de tabancas, não havia a nossa Bandeira.
Na zona leste, que eu e a nossa CART.11 "Os Lacraus" palmilhamos de lés a lés, não me recordo de assistir à cerimónia diária do hastear e arrear a Bandeira, quer em Canquelifá ou Paunca e nos destacamentos em pequenas tabancas não se fazia.
Tenho pena não poder, esta porcaria da DPOC é muito pior que as primeiras semanas na recruta, fazer grandes deslocações para atirar abaixo viske 60 anos e, então, das botijolas com e sem chores isso marchava que nem a passo de desfile.

Abraço, saúde e obrigado pelo convite.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caros leitores: a língua portuguesa é traiçoeira... As palavras homofónas estão-nos sempre a pregar partidas... São palavas que se prounciam do mesmo modo, mas têm grafias diferentes... Há uma diferença entre "arriar" (a bandeirA) e "arrear" (o cavalo)... Fixe-se o exemplo... Ab, LG

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arriar | v. tr. | v. intr.

ar·ri·ar - Conjugar
(espanhol arriar)
verbo transitivo
1. Fazer descer (ex.: arriar a bandeira). = ABAIXAR

2. Pôr no chão.

3. Largar pouco a pouco.

4. Deitar para trás.

5. [Marnotagem] Inutilizar compartimentos destinados à evaporação.

6. [Marinha] Amainar, abaixar.

7. [Informal] Dar pancadas em (ex.: estava com vontade de arriar em alguém). = BATER

8. [Informal] Desferir, aplicar, dar (ex.: arriou-lhe um par de estalos).

verbo intransitivo
9. Largar a carga (para descansar).

10. Não continuar, desanimar.

11. [Brasil, Informal] Ficar apaixonado. = APAIXONAR-SE

12. [Brasil] Perder a carga (da bateria). = DESCARREGAR

Confrontar: arrear.

"arriar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/arriar [consultado em 01-05-2021].

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arrear
arrear | v. tr. | v. pron.

ar·re·ar - Conjugar
(latim vulgar *arredare, prover, adornar)
verbo transitivo
1. Pôr os arreios ou o aparelho a.

2. [Figurado] Pôr adornos ou enfeites em. = ADORNAR, ATAVIAR, ENFEITAR

verbo pronominal
3. Jactar-se, gloriar-se.

4. Gabar-se.

Confrontar: arriar.
Palavras relacionadas: arreia, arreamento, arreio, arreado, arreação, aparelhado, encilhar.

"arrear", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/arrear [consultado em 01-05-2021].

Antº Rosinha disse...

De todas as entregas de quarteis ao PAIGC, apesar de tantas máquinas fotográficas que se manejavam nessa altura em mãos de tropas, e algumas (poucas)já foram publicadas aqui desse momento histórico, raramente vemos fotos que nos proporcionem os rostos do povo a assistir.

Como em Angola também não assisti e a coisa foi em guerra aberta entre todos, ficamos todos sem saber muito bem qual foi o verdadeiro "olhar" do povo para a sua guerra de Libertação.

Não houve verdadeiros testemunhos sobre a reação do povo, a quente, quer ao nosso 25 de Abril e à nossa satisfação geral, quer à sua Libertação.

Valdemar Silva disse...

Rosinha
Pois, nem a tropa do PAIGC esperava bajudas a entregar flores e a dar beijinhos, temos registado na nossa memória a entrada das tropas americanas em Paris e fazemos comparações.

Mas, outra coisa foi a necessidade de todos os dias, como se fosse Feriado, haver o cerimonial de hastear a Bandeira Nacional. Porquê? Até era uma contradição.
Pese, embora, a população em geral respeitar todo o cerimonial, como p,ex. os soldados fulas da minha CART.11 fazerem grande "ronco" estar na formatura da continência.

Abraço
Valdemar Queiroz

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

O ritmo do hastear e arriar da bandeira era tão protocolar, tão rigoroso e regular
No quartel de Fajonquito que entrou na rotina diária da população civíl que diziam-se uns aos outros: Partimos logo após o toque da corneta ou regressamos antes do toque da mesma. Pelo menos nunca faltou de 1967 até ao dia 1 de Setembro de 1974, dia da entrega simbólica do aquartelamento que eu, e algumas pessoas (poucas) assistimos, incrédulos, até ao fim, encostados nos arames farpados.

Quem não gostava de ser apanhado na ratoeira da bandeira, como diziamos, eram as nossas mulheres que, de manhã cedo corriam para os trabalhos das suas bolanhas ou de lá regressávam, a tardinha, exaústas e sempre na azáfama de mil e uma tarefas. Ficar parado aqueles 5/10 minutos constituia uma enorme perda de tempo, sem contar com o ridículo de se pôr em sentido com um fardo pesado na cabeça.

Há poucos dias, num dia e horas muito impróprias, tentaram impor-me a mesma regra hitleriana na escola de um dos meus filhos. Olhei para o jovem militante improvisado e muito mal humorado, perguntei-lhe se aquele retalho velho e descolorido era uma bandeira. Surpreendido pela minha reacção algo inesperada, ficou de boca aberta a ver- me passar. Se calhar portei- me mal naquele dia, mas no momento estava com muita pressa e talvez com algum ressentimento daquele pedaço de tecido multicolor com que nos enganaram para chegarmos ao estado em que chegámos no nosso belo pais.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé