1. Passou ontem a efeméride: há 50 anos, em 24 de setembro de 1973, o PAIGC fazia a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau, perante alguns convidados estrangeiros. (E, claro os seus militantes e simpatizantes: mas a cerimónia era mais "para inglês ver", como se dizia em Portugal no tempo do Marquês de Pombal que ficou com a hercúlea tarefa de reconstruir Lisboa depois do terramoto de 1 de novembro de 1755).
Os dois únicos jornalistas ocidentais presentes, além da fotojornalista italiana Bruna Amico (atualnente Bruna Polimeni), seriam os cineastas suecos Lennart Malmer e Ingela Romare, que documentaram a cerimónia solene. O seu filme, ”O Nascimento de uma Nação” (que nunca vimos) foi transmitido, pela estação oficial sueca de televisão (Lennart Malmer e Ingela Romare: ”En nations födelse”, 48 minutos, 1973, Sveriges Television - SVT,).
Não foi dado especial destaque à efeméride da independência pela nossa cada vez mais reduzida imprensa escrita, a avaliar pelas capas dos jornais diários e dos semanários. O Expresso, na sua edição de 22 de setembro de 2023, optou por aproveitar um "furo jornalístico", a (re)descoberta de uma gravação com um entrevista com Amílcar Cabral, feita em Londres, em 27 de outubro de 1971, por dois jovens estudantes portugueses, oposicionistas, "que tinham deixado o país" (sic), o estudante de urbanismo (e hoje arquiteto) Pedro George ( na altura, em Londres), ligado ao boletim "Anticolonialismo", e o estudante de história, José Medeiros Ferreira (Grenoble) (1942-2014) (mais tarde, político e professor universitário), que animava a publicação "Polémica" (foi um destacado activista e líder na crise estudantil de 1962 e depois desertor, em 1968).
O prestigiado semanário publica, a toda a largura das duas primeiras páginas, a mais icónica foto do Amílcar Cabral, sem contudo mencionar a sua autoria, da italiana Bruna Amico (hoje conhecida por Bruna Polimeni), nem o local (Boké, Guiné-Conacri, longe do teatro de operações...) ~
E um Amílcar CaBrás em pose heróica, de pé numa canoa (o único que está de pé, em equilíbrio instável),"de peito feito às balas" (que em Boké só podiam ser as da perfídia e da traição). [Vd. foto acima, à direita; fonte (com a devida vénia...): Arquivo Casa Comum | Fundação Mário Soares | Documentos Amílcar Cabral | Pasta: 05361.000.001 | Título: Amílcar Cabral e Constantino Teixeira, entre outros, a bordo de uma canoa | Assunto: Amílcar Cabral e Constantino Teixeira, entre outros militares do PAIGC, a bordo de uma canoa [Boké].Autor: Bruna Polimeni | Data: Agosto de 1971 )]
Mais uma vez, há falta de rigor dos nossos jornalistas, que parecem não conhecem a geografia da antiga Guiné portuguesa, como há ignorância geral dos civis que não foram à guerra (como denota o "paisano" Pedro George) em relação ao armamento do PAIGC (que nunca teve, felizmente, foguetões capazes de atingir os centros urbanos da então Guiné Portuguesa, à distância de 100 ou 150 km, tece sim uns "foguetes" de 122 mm que tinham um alcance de 10 a 20 km).
A cerimónia da proclamação unilateral da independência é dada como tendo ocorrido em "Madina do Boé", o que o nosso blogue tem, de há muito, desmentido. Há, além disso, mais dois ou três erros factuais "grosseiros", de que falaremos mais à frente, e que os nossos leitores facilmente reconhecerão.
No essencial, faz-se nesta reportagem, citando a sua autora, Manuel Goucha Soares, "a história daquela que por agora é considerada a última entrevista de Amílcar Cabral", e que depois seria reproduzida no boletim "Anticolonialismo", de Londres, e na publicação "Polémica" (editada pelo grupo de Grenoble).
Pedro George e José Medeiros Ferreira, que não se conheciam pessoalmente, juntaram-se em Londres, na sede da "Trade Union Congress" (TUC, a grande federação dos sindicatos ingleses de então), para realizar esta entrevista, de 35 minutos. Pedro George guardou durante este tempo todo a cassete "com a voz forte do Amílcar Cabral". Fez, por segurança uma cópia em DVD. E mais recentemente entregou uma cópia da gravação à Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril.
Para "contextualizar as circunstâncias em que ocorreu esta gravação, que é um documento para a memória histórica", a jornalista do Expresso também entrevistou o arquiteto Pedro George (filho do último diretor, ou "enfermeiro-mor", dos Hospitais Civis de Lisboa, antes do 25 de Abril, o conceituado médico Frederico George). E cita alguns excertos da entrevista a que também teve acesso.
2. Destaque, para conhecimento dos nossos leitores, para meia dúzia de pontos focados tanto por Amílcar Cabral (AC) como pelo Pedro George (PG), pela jornalista Manuela Goucha Soares (MGS), e ainda pelo cor cav ref Carlos Matos Gomes, também ouvido pela MGS.
(i) Mensagem do AC ao povo português:
(...) “Temos uma longa caminhada, juntamente com o povo de Portugal. A nossa cultura também está influenciada pela cultura portuguesa, e nós estamos prontos para aceitar os aspetos positivos da cultura dos outros.
"O nosso problema não é desligarmo-nos do povo português. Se porventura existisse em Portugal um regime que estivesse disposto a construir não só o futuro e o bem-estar do povo de Portugal, mas também o nosso, mas em pé de absoluta igualdade, se o Presidente da República pudesse ser de Cabo Verde, da Guiné ou de Portugal, nós não veríamos nenhuma necessidade de fazer a luta pela Independência, porque seríamos independentes num quadro humano muito mais largo e, talvez, mais eficaz do ponto de vista da história.
"Infelizmente, não é assim, o colonialismo português explorou o nosso povo de maneira bárbara e criminosa, e quando reclamamos o nosso direito de ser gente, de sermos nós mesmos, sermos parte da Humanidade e termos a nossa própria personalidade, [surge] a repressão e a guerra colonial.
"Mas nós não confundimos o colonialismo com o povo de Portugal. E temos feito tudo,. na medida das nossas possibilidades, para preservar as possibilidades de cooperação, amizade, socialidade e colaboração com o povo de Portugal, na Independência e na igualdade de direitos”. (...)
(ii) Denúncia, pelo AC, da utilização das bombas de napalm, um tema que estava em voga com os protestos contra os bombardeamentos americanos na guerra do Vietname:
“A ação dos comunistas portugueses que nós consideramos criminosa, fundamentalmente caracterizada por bombardeamentos aéreos, em que utilizam bombas de napalm”.
(iii) Denúncia, pelo AC, do clima de terror após a flagelação de Bissau e Bafatá por foguetões 122 mm:
(ii) Denúncia, pelo AC, da utilização das bombas de napalm, um tema que estava em voga com os protestos contra os bombardeamentos americanos na guerra do Vietname:
“A ação dos comunistas portugueses que nós consideramos criminosa, fundamentalmente caracterizada por bombardeamentos aéreos, em que utilizam bombas de napalm”.
(iii) Denúncia, pelo AC, do clima de terror após a flagelação de Bissau e Bafatá por foguetões 122 mm:
(...) "assaltos terroristas contra as populações da região libertada [no texto especifica-se, dentro de parênteses retos, "leste do território da Guiné" ]
durante os quais tentaram matar o máximo de gente que podiam, matar o gado, queimar as tabancas ou aldeias, e queimar as nossas produções agrícolas a colheitas.
(...) "Depois do ataque a Bissau e Bafatá, os colonialistas portugueses prenderam várias pessoas, desconfiam de tudo e de todos, e o próprio governador militar de Bissau fez uma declaração a 26 de Julho − se não me engano − em que ameaçou os habitantes de Bissau de uma repressão inexorável, no caso de acontecer alguma coisa que perturbasse o que [ele] chama de ordem na capital e nos outros centros urbanos." (...)
(iv) Armas "hipersofisticadas", de origem soivética, capaz de atingir alvos "a 100 ou 150 km de distància" (sic) (PG)
(...) "Bafatá tinha acabado de ser bombardeada pelo movimento de libertação, o que indiciava que eles tinham armamento hipersofisticado, capaz de atingir a 100 ou 150 quilómetros de distância e que controlavam as zon as ruraios todas".(...)
(v) Os mísseis Strela "que mudaram o curso da guerra" (MGS):
(...) A perda definitiva da soberania das forças armadas portuguesas surgiu após o assassínio de Cabral, com a entrada em ação de armamento soviético de alta precisão. Os mísseis terra-ar Strella, que mudaram definitivamente o curso da Guerra Colonial na Guiné.
"O site da Associação 25 de Abril, explica que foram utilizados pela primeira vez a 25 de fevereiro de 1973 e abateram um avião Fiat G 95". (...)
(vi) Os operadores do míssil Strela treinados na Crimeia (CMG):
(...) "Foram treinados na Crimeia as equipas que vão operar esses mísseis de lançamento ao ombro. A partir daí as Forças Amadas portuguesas perderam a supremacia militar porque passaram a combater sem apoio aéreo. Este ficou reduzido ao transporte e evacuação de feridos". (...)
[Seleçáo / revisão e fixação de texto / subtítulos / negritos, para efeitos de publicação deste poste. LG, com a devida vénia ao Expresso e à jornalista Manuela Goucha Soares]
A reportagem de Manuela Goucha Soares merece ser lida na íntegra, com espírito cr~itico masd aberto. Entretanto esperemos poder ler um dia destes, também na íntegra, essa "entrevista perdida" do Amílcar Cabral (1924-1973). O seu interesse particular é que ele, "um sedutor", sabia que estava a falar, em português, com dois portugueses, dois jovens exilados que se opunham à guerra colonial, e era uma excente oportunidade de mandar uma "mensagem amiga" para o povo português que, como ele gostava de sublinhar, não se confundia com o regime político que então estava em vigor e contra o qual ele combatia.
_____________Nota do editor:
Último poste da série > 23 de setembro de 2023> Guiné 61/74 - P24692: Recortes de Imprensa (137): Jornal "Voz da Guiné" (7): Reprodução das páginas de 8 a 12 do número 353, de 7 de Setembro de 1974 (Abílio Magro)
Último poste da série > 23 de setembro de 2023> Guiné 61/74 - P24692: Recortes de Imprensa (137): Jornal "Voz da Guiné" (7): Reprodução das páginas de 8 a 12 do número 353, de 7 de Setembro de 1974 (Abílio Magro)
11 comentários:
" A partir daí as Forças Amadas portuguesas perderam a supremacia militar porque passaram a combater sem apoio aéreo. Este ficou reduzido ao transporte e evacuação de feridos". (...)"
Tantas vezes esta mentira tem sido repetida que há muito boa gente que acredita que é verdade.
Claro que as coisas se complicaram com os Strella, mas continuámos a voar, a bombardear, a salvar vidas.
Abraço,
António Graça de Abreu
O autor da afirmação, se é que a jornalista percebeu e reproduziu bem o que ele disse, é o CMG, o Carlos Matos Gomes.
Antônio, tu estavas lá nessa altura, depois do 25 de março de 1973 ( e não 25 de fevereiro, como escreve a jornalista) e podes testemunhar, de acordo com a tua experiência no CAOP1. Estavas num lugar privilegiado. Podes falar "de cátedra" sobre este tema que tem algum melindre.
O T6 e a D0-27 sabemos que deixaram de voar... Ou não? O Helicanhão continuou a operar, tanto quanto sei, mas em voos de mais baixa altitude... Não há registo de helis abatidos pelos "gloriosos operadores da Crimeia"...cuja taxa de ineficácia foi da ordem dos 91,7% (5 aeronaves da FAP abatidas em 60 lançamentos de Strela): pior só na Antiga Feira Popular na barraquinha de tiro ao alvo...que era para alimentar o pregão, " Vá lá mais um tirinho, ó freguês!"...
Os jornalistas também podem citar o nosso blogue, como fonte de informação e conhecimento sobre a guerra na Guiné ... Somos gente séria e fiável... E 50 anos só nos interessa a verdade dos factos, que é essa que deve ficar para a história...
Deixar passar, sem reparo, a afirmação do arquiteto Pedro George segunda a qual o PAIGC já tinha armas (foguetões) com alcance de 100 a 150 km,é que não é "sério"... Isto queria dizer que se podia atacar Bafatá a partir do Senegal, sentado numa poltrona...
As criancinhas da escola também lêem o Expresso, espero eu, ou hoje ou daqui a uns anos... Não vamos meter-lhes umas "galgas"...
Espero que seja uma gralha jornalística...
Há coisas que não batem certas!
Se o PAIGC afirma que a força aérea só executava transporte e evacuação de feridos impõe-se uma pergunta.
Os Strella só atingiam determinados tipos de avião??
É que as Dornier e os Hélis faziam a maioria das evacuações e os Dakota e Nord Atlas os transportes.
Pelos vistos seriam imunes aos mísseis.
A questão das áreas libertadas também cai com facilidade na utopia e na imaginação dos guerrilheiros.
Na minha zona de acção sub-sector de Cuntima e comando de batalhão em Fátima, sempre as forças do exército português se movimentaram, com maior ou menor dificuldade.
Por altura do reordenamento de Cuntima, as colunas a Farim eram diárias e havia que picar 40 Kilometros de estrada, montar segurança e empenhar ainda forças nas zonas de infiltração dos corredores de Sitató e Lamel.
Enfim!!!
Uma vez numa coluna comandada por mim, uma viatura accionou uma anti carro, felizmente só com danos na viatura.
Durante a noite a rádio do PAIGC teceu hossanas à acção das forças dos guerrilheiros que segundo a D. Maria teriam causado três mortos e vários feridos.
Havia que enaltecer os feitos militares, mesmo considerando que a verdade era deturpada.
Abraço
Eduardo Estrela
Errata: comando do batalhão em Farim
Diz o Luís Graça: "Os T6 e a D0-27 sabemos que deixaram de voar..." Oh. Luís, és o responsável máximo pela criação e manutenção deste blogue, não podes alinhar nas aldrabices e falsificações históricas do PAICG e dos coxos mentais portugueses que ainda subscrevem estas mentirolas.
Em Fevereiro de 1974 voei, apenas eu e o piloto, de Cufar para Bissau numa DO 27. O rapaz piloto conhecia todos os meandros da foz do Cumbijã e da ilha de Como e levou a Do 27 por ali acima, depois para norte, sempre a rapar, uns 50 metros acima da terra e da água, até sobrevoarmos Bolama. Aí fez subir a DO 27 aí até aos dois mil e quinhentos metros, depois fomos quase a pique descer sobre Bissalanca. Isto em 1974 acontecia, com dezenas de DOs e NorAtlas por toda a Guiné, rapar, voar em parafuso, os hélis com autonomia quase igual ao tempo antes dos Strella. O Noratlas não rapavam, subiam e desciam em parafuso sobre Cufar praticamente todos os dias.
Isto é rigorosamente verdade. Há milhares de camaradas nossos, pelos menos nos aquartelamentos do sul da Guimé, 1974, (os que conheço nessa época) que podem comprovar.
Abraço,
António Graça de Abreu
António, aqui fica o teu desmentido...Tu és a prova provadea de que as DO-27 continuaram a voar... Eu é que jã não estava lá nessa altura...
E, de resto, há mais testemunhdos no blogue: por exemplo, o Cessna vernelho do "gloriso maluco das máquinas voadoras", o comandante POmbo, dos TAGP, cont6inuou a desafiar os céus e os Strela...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/TAGP
Amílcar Cabral era poeta, logo um fingidor e muito talentoso, o fingimento e o seu monopartidarismo, os vetores da independência da Guiné, foram a causa da desgraça dos guineenses e da sua desgraça pessoal.
E se Luís de de Camões ou Fernando Pessoa tivessem encabeçado uma guerra revolucionária em Portugal?...
Agostinho Neto também era poeta e o seu dom saiu muito caro aos angolanos e aos retornados...
Como é que perdemos a supremacia aérea na Guerra da Guiné, se as aeronaves do inimigo eram invisíveis - nem existiam!
Pedro George, Medeiros Ferreira e alguns outros refratários/desertores esbateram o nosso respeito pelas suas opções - acessíveis a qualquer um de nós! Ser desertor não é necessariamente colocar-se ao serviço do nosso inimigo...
Em parêntese, a democracia é o pior regime, tirando todos os outros, e a história já regista que o nosso regime democrático ostracizou os ex-combatentes e privilegiou os desertores...
Nessa entrevista, Cabral disse que a sua malta guerreira amadora passara a sair da mata e a flagelar as cidades, o repto não foi dirigido às praças nem aos oficiais e sargentos milicianos, mas aos patrões da nossa guerra, as nossas hierarquias profissionais, os militares do QP...
Que a tropa queimava tabancas e matava a eito, a afirmação é verdadeira, no relativo às tabancas do inimigo, mas também muito parcial. Em meados de 1965, fomos rapidamente de intervenção para o Leste, e ainda hoje sinto sequelas do que visionei e vivi: fomos em socorro e a visão e o cheiro dos churrascos humanos nas tabancas de Catabá, Amedalai, Ajango, etc, que o PAIGC foi incendiar com a sua gente a dormir, fez-nos vomitar as tripas.
Abr.
Manuel Luís, não vais ao Facebook da Tabanca Grande, mas pus-te aqui o teu comentário.... Obrigado pelo teu depoimento... Sei do que falas...
Em relação ao Amílcar CabraL, eu acrescentaria: era um homem inteligentíssimo (dizem que foi o melhor aluno do seu curso de agronomia), mas não era "intelectualmente honesto", como de resto qualquer dirigente partidário ou chefe de facção... (Como poeta era medíocre, dizem os críticos, mas amava a língua portuguesa, e escrevia bem.)
Sabemos que se deixava "aldrabar" pelos relatos fantasistas dos seus comandantes e comissários políticos... que o adulavam (a começar pelo mano Luís)... Tirando o Boé, ele nunca punha o pé nas famosas "áreas libertadas"... do Norte, do Leste ou do Sul...
E se empunhou uma Kalash foi para a fotografia. (Era o mais "fotogénico" dos "líderes nacionalistas" que combatiam pela independência dos territórios portugueses em África.)
Não deixa de ser uma figura de referência, embora hoje esquecido, a começar pela sua terra, a Guiné-Bissau, e a terra do seu pai, Cabo Verde. Tal como o nosso "Herr"... Spínola.
As "guerras" (a começar pela da evolução das espécies) não se ganham pelos mais "inteligentes", nem sequer pelos mais "fortes" (veja-se o atoleiro dos americanos no Vietname ou dos russsos no Afeganistão e agora na Ucrània) mas sim pelos que sabem adaptar-se às "mudanças": a frase não é minha, é do britânico Charles Darwin (1809-1882), o pai da "teoria da evolução das espécies"...
Os dinossauros da minha terra, do Jurássico Superior, de há 150 milhões de anos, não passam de fósseis... divididos grosso modo por duas formações geológicos, Lourinhã, à beira do Atàntico, e Morrison, no meio do continente americano... Mas naquele tempo "ia-se... a Nova Iorque a pé!" (iam os dinossauros...).
E o nosso antepassado mais longínguo, que deu origem aos "primatas" (incluindo o "Homo sapeines sapiens"), soube ocupar o seu lugar nas savanas e estepes, deixadas livres pela extinção do T-Rex e dos outros temíveis dinossauros do Cretácico há 66/65 milhões de anos...
No caso das nossas "guerras em África", a questão não é saber se foram perdidas, no terreno, por colapso de uma das partes...Não, a guerra (no teu tempo, no meu tempo e no final) não estava militarmente perdida, estava por ganhar, mas nãpo podia ser só pela força das armas (. Spínola percebeu isso, mas demasiado tarde.).. Temos é que procurar as razões (políticas, geoestratégicas, diplomáticas, económicas, demográficas, psicológicas...) por que entregámos o "ouro ao bandido"...
Mas não vale a pena, 50 anos depois, andar a procurar "bodes expiatórios" (e muito menos insultarmo-nos uns aos outros por questóes de divergència de onipião e apreciação dos acontecimentos de então): todas as guerras (mesmo a dos 100 anos) têm um fim... Nisso estamos os dois de acordo. E tivemos mais sorte, tu e eu, do que o Cabral, que não chegou ao meio século de vida, nem ele nem muitos dos seus "rapazes"... Um abraço fraterno, à boa maneira do Norte. Luís Graça.
https://www.facebook.com/people/Tabanca-Grande-Lu%C3%ADs-Gra%C3%A7a/100001808348667
Luís, sinto-me gratificado pela tua distinção.
Amílcar Cabral foi indiscutivelmente um líder africanista, um talentoso estratego e tático militar: nós, os das G3, que demos o corpo ao manifesto (nem refratários nem desertores), temo-lo atestado aqui no blogue.
Quanto ao seu talento de fazer nascer um país, de estadista - as consequências da sua guerra são evidências.
No nosso tempo, os guineenses eram portugueses e os portuenses guineenses - agora somos estrangeiros uns para os outros!
No relativo ao seu legado, atente-se neste sintoma: o aeroporto internacional de Bissau, a porta de entrada na GBissau, mereceu não o nome dele, mas o do nosso ex-camarada furriel Osvaldo Vieira, primo-irmão do Nino Vieira, o seu primeiro adjunto e o seu delfim - que morreu ostracizado no Boé (dizem que envenenado), suspeito da autoria moral do seu assassinato.
Abrç.
https://multimedia.expresso.pt/Amilcarcabral/
Deixo uma versão do trabalho que não leu e menciona a Bruna Polimeni
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