Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 18 de julho de 2007
Guiné 63/74 - P1967: Prisioneiros em Conacri, capa da Revista do Expresso, 29 de Novembro de 1997: o que é feito deles ? (Henrique Matos)
Capa da Revista do Expresso, de 29 de Novembro de 1997. Uma notável reportagem do jornalista José Manuel Saraiva (1), que conseguiu juntar em Lisboa 16 dos 25 militares portugueses, presos em Conacri, às ordens do PAIGC, e libertados na sequência da Operação Mar Verde, em 22 de Novembro de 1970. Trata-se, sem dúvida, de um documento para a história.
Imagem: Digitalização feita por Henrique Matos, da capa da revista, a partir de um exemplar, pessoal, que ele comprou e guardou no seu arquivo. Foi através desta já famosa capa que ele localizou o seu antigo Fur Mil Jão Neto Vaz, do Pel Caç Nat 52. Neste grupo de dezasseis, está também o o António Lobato (que nos parece ser o último dsa segunda fila, à esuerda, de cabelo branco).
1. Mensagem do Henrique Matos:
Caro Luís e co-editores:
A pergunta que ficou no Post 1468 - Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes) - de 28 de Janeiro de 2007 ("Será que alguém é capaz de reconhecer estes rostos?" ) (2), levou-me a procurar a Revista do Expresso, de 29 de Novembro de 1997, que guardei por ter sido através dela que reencontrei o Fur Mil João Neto Vaz , militar esse que fez parte da formação do Pel Caç Nat 52 que, como já referi, comandei na sua fase inicial (3).
A revista tem uma reportagem de José Manuel Saraiva que conseguiu juntar em Lisboa 16 dos 25 militares portugueses libertados durante a Operação Mar Verde, passados 27 anos da data da operação (22 de Novembro de 1970).
É um trabalho excelente sobre esta parte escondida da guerra, com relatos das capturas e vivências na prisão, dos sofrimentos das famílias que recebiam comunicados a informar que tinham desaparecido em combate, tentativas de fuga, etc. , a começar pelo mais antigo na prisão, sargento piloto aviador António Lobato, que fora capturado em 1963. Escreveu o livro Liberdade ou Evasão.
Continua-se, porém, sem saber o que se passou com os outros militares que estiveram nas prisões do PAIGC. Uma pista seria recorrer à memória dos elementos envolvidos nesta reportagem, que me parece não será dificil obter o contacto.
Digitalizei a capa da revista (não sei se é preciso autorização para isto) que vai em anexo, assinalando o Fur Mil Vaz com um seta [vd. imagem acima].
Como sempre, aquele abraço
Henrique Matos
____________
Notas dos editores:
(1) Jornalista e romancista, José Manuel Saraiva publicou os livros As lágrimas de Aquiles (2001) e Rosa Brava (2005) - este último baseado na vida de Leonor Teles de Menezes. É autor de dois documentários da SIC sobre a guerra colonial: "Madina do Boé - A Retirada" e "De Guileje a Gadamael - O corredor da morte".
Enquanto jornalista trabalhou com frequência para O Diário, Diário de Lisboa, Grande Reportagem e Expresso, e mais esporadicamente colaborou com outros jornais e revistas. Hoje é um free-lancer.
Há uma referência no nosso blogue sobre ele: vd. post de 17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)
(...) "Apresentação do livro de Gustavo Pimenta, sairómeM - Guerra Colonial (Palimage Editores, 1999), no Porto, Cooperativa Árvore, em 10 de Dezembro de 1999. Autor do texto: José Manuel Saraiva, jornalista do Expresso" (...)
(2) Vd. post 28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)
(3) Vd. posts de:
30 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1901: O Pel Caç Nat 52 que eu comandei em 1966 (Bolama, Enxalé, Porto Gole) (Henrique Matos)
28 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1896: Encontro dos Pel Caç Nat 51, 52, 53, 54, 55 e 56 (Henrique Matos)
25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1879: Henrique Matos Francisco, brindo à tua chegada e à memória do nosso Pel Caç Nat 52 (Beja Santos)
22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)
Guiné 63/74 - P1966: Uma carecada para ... (1): O blogue A Arca do Bué
1. Carecada: termo da gíria de caserna; castigo disciplinar, imposto pelo superior hierárquico, e que consistia no corte de cabelo à máquina zero...
Na blogosfera, significa assobio, pateada, vaia, reprovação por um comportamento menos digno, como por exemplo, o plágio, a pirataria, o não respeito pelos direitos de autor, o insulto, a acusação gratuita, a recusão do direito de resposta, etc.
2. E a primeira carecada, imposta pelos nossos editores, vai para... o blogue A Arca do Bué... Por que publicou um estória cabraliana, um conto do nosso amigo e camarada Jorge Cabral, além de uma imagem, sem citação da fonte nem autorização do autor e do editor. Além de ter permitido a publicação de comentários, anónimos, insultuosos, sobre o nosso camarada, que é advogado e professor da Universidade Lusófona.
Mandámos ao webmaster de A Arca do Bué (que não dá a cara) uma mensagem, a qual até agora caíu em saco roto (foi apenas inserida como comentário ao post em questão) (1):
Caro webmaster:
Este texto (1), original, foi publicado no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, e tem direitos de autor:
23 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1689: Estórias cabralianas (3): O básico apaixonado (Jorge Cabral)
No mínimo, não é bonito a sua publicação em A Arca do Bué (1), sem autorização do autor e do editor do blogue. O mesmo se passa com a foto. Peço-lhe que faça as devidas correcções, citando as fontes e pondo um link para o nosso blogue. A blogosfera só ganhará com isso.
Cibersaudações
Luís Graça
_______
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 10 de Julho de 2004 > A Arca do Bué > 2007/06/20 > Grande Cabral
Na blogosfera, significa assobio, pateada, vaia, reprovação por um comportamento menos digno, como por exemplo, o plágio, a pirataria, o não respeito pelos direitos de autor, o insulto, a acusação gratuita, a recusão do direito de resposta, etc.
2. E a primeira carecada, imposta pelos nossos editores, vai para... o blogue A Arca do Bué... Por que publicou um estória cabraliana, um conto do nosso amigo e camarada Jorge Cabral, além de uma imagem, sem citação da fonte nem autorização do autor e do editor. Além de ter permitido a publicação de comentários, anónimos, insultuosos, sobre o nosso camarada, que é advogado e professor da Universidade Lusófona.
Mandámos ao webmaster de A Arca do Bué (que não dá a cara) uma mensagem, a qual até agora caíu em saco roto (foi apenas inserida como comentário ao post em questão) (1):
Caro webmaster:
Este texto (1), original, foi publicado no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, e tem direitos de autor:
23 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1689: Estórias cabralianas (3): O básico apaixonado (Jorge Cabral)
No mínimo, não é bonito a sua publicação em A Arca do Bué (1), sem autorização do autor e do editor do blogue. O mesmo se passa com a foto. Peço-lhe que faça as devidas correcções, citando as fontes e pondo um link para o nosso blogue. A blogosfera só ganhará com isso.
Cibersaudações
Luís Graça
_______
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 10 de Julho de 2004 > A Arca do Bué > 2007/06/20 > Grande Cabral
Guiné 63/74 - P1965: Cusa di nos terra (1): Embondeiro (cabaceira) e poilão (Paulo Santigo / Leopoldo Amado)
Guiné > Zona Leste > Galomaro > c. 1972 > Poilão atingido por um raio.
Foto: © Paulo Santiago (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Paulo Santiago, em reposta a um e-mail meu (1):
Não sou grande especialista em Silvicultura,mas também penso que o embondeiro é diferente do poilão. Julgo ver,na minha memória, um embondeiro, árvore com um tronco mais ovalizado e não tão esguio como o do poilão.
O mais célebre deve ser o de Brá, perto do qual se encontravam, há dois anos, carcaças de viaturas militares senegalesas, destruídas quando da guerra de 1098/99.
O Pepito, pela sua formação académica [ é engenheiro agrónomo pelo ISA, de Lisboa],é que poderá dissipar esta dúvida.
Junto, possivelmente já a tens, foto de um poilão, em Galomaro, atingido por um ou mais raios.
Abraço
Paulo Santiago
2. Comentário do Leopoldo Amado:
Caros amigos:
Embondeiro (cabaceira) e poilão são duas coisas diferentes, pese embora serem ambas árvores milenares e gigantescas (sobretudo o primeiro). Embondeiro dá fruto, denominado cabaceira na Guiné e múcua em Angola. No caso da Guiné, tanto a árvore como o fruto possuem o mesmo nome.
Actualmente, a maior quantidade do sumo que se faz da Guiné é justamente do fruto do embondeiro, ou seja, da cabaceira. Guiné-Bissau exporta muita cabaceira, seja para o Senegal, seja para Cabo-Verde, países esses onde é sobretudo utilizado como ingrediente principal para sumos e sorvetes.
Curiosamente, no Senegal, embondeiro denomina-se baobab e o seu sumo bissap de baobab. Em Cabo-Verde, onde essa árvore rareia ou é mesmo inexistente, é chamado sumo de fresquinha ou gelado de fresquinha, no caso de sorvete.
3. Comentário de L.G.:
Aquela terra também foi nossa... Não nos acusem de imperialistas, colonialistas, saudosistas... Foi nossa porque amámo-lo... Porque continuamos a manter uma certa relação (quase umbilical) com a Guiné-Bissau e o seu povo... Tínhamos 20 anos e uma enorme capacidade de deslumbramento... Pepito, Leopoldo, Mussá Biai, Sadibo Dabo e tantos outros amigos da Guiné: não nos interpretem mal...
Cusa di nos terra, coisas da nossa terra, é isso mesmo!
A terra é só uma e não tem dono, não deveria ter dono. Há um pedacinho do planeta, Portugal e a Guiné-Bissau, de que nós gostamos com um carinho especial, que nós amamos com um amor especial...
________
Notas de L.G.:
(1) E-mail enviado para todo o pessoal da Tabanca Grande:
Amigos e camaradas:
Leiam o belo poema do nosso Palmeirim de Catió sobre o "embondeiro do Cachil" (Ilha de Caiar)... E depois mandem-me fotos vossas de embondeiros da Guiné... Do que eu me recordo é dos poilões. Há quem diga que é a mesma coisa, mas não é (do meu ponto de vista de
leigo)...
Fotos de poilões serão também vindas, que é para comparar... O mais fotografado dos poilões deve ser o de Maqué. Uma das maravilhas da Guiné... Mas o poeta é que sabe (2)...
(2) Vd. post de 17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)
Guine 63/74 - P1964: Blogpoesia (2): O Combatente (Magalhães Ribeiro)
Poema, envidao em 8 de Jukho último, dedicado aos ex-Combatentes, em especial aos da Guiné, com cumprimentos amigos do PIRA de Mansoa, o Magalhães Ribeirio, autor do Cancioneiro de Mansoa.
O COMBATENTE.
por Magalhães Ribeiro
Aquém ou Além... em Terra, na Água ou no Ar
Onde a sua amada Pátria lho requer...
Com um congénito, raro e intrépido senso
Que deram pelo nome de cumprimento do dever...
Arraigado pelo Povo, pela Bandeira, pela Pátria,
Por sua Honra e por sua Dignificação,
Seja nas catacumbas das trincheiras em França ou
Nas insondáveis e místicas picadas d’África.
Nas veias um pleno de História deste Portugal,
De Heróis que rasgaram mares então medonhos,
E de bravos Guerreiros ousados e destemidos,
Que s’agigantaram na opulência das façanhas,
Cravando, pelo mundo, marcos de universal memória,
Selados, ad eternum, pelo sangue dos nossos Mortos...
Qu’isto é tal orgulho qu’extravaza a pena do poeta
Ali… onde o azar canta, a sorte se devaneia delirante,
E as brisas empestam a doce acre da pólvora queimada
Onde as noites são infindas, os dias por demais longos
E as insónias provocam o êxtase do irreal;
Onde infernizam quer a chuva quer o calor ardente
E a lama e o suor se mesclam com o sarro e os parasitas;
Onde tudo definha entre laivos de pesadelo e loucura,
E o estridente som das bombardas petrifica;
Onde o sibilar dos estilhaços e das balas buscam as carnes,
E em salpicos e retalhos as vidas se esvaem;
Onde o pensamento mesmo que escasso bloqueia,
E o terror e a agonia dobram o aço mais duro;
Onde o Apocalipse assenta arraiais Dantescos,
Com tais cenários que Maquiavel abominaria o repasto;
Onde se fere, se mata, a morte baila sobre a barbárie
E as filosofias s’anulam na tragédia e no drama,
Tão tremendo que só um irmão d’armas o interpreta
Nos seus medos, nos seus rasgos, no seu íntimo...
Nos seus anseios, nos seus projectos, nas suas migalhas
Está um Ser... um Sobrevivente... um Lutador,
Um Sonhador... um Senhor... um Herói...
Um Patriota... uma Excelência… Um Português...
Um Combatente!
Magalhães Ribeiro
____________
Nota de L.G.:
(1) Vd. posts de:
1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVI: Cancioneiro de Mansoa (1): o esplendor de Portugal (Magalhães Ribeiro)
1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVII: Cancioneiro de Mansoa (2): Guiné, do Cumeré a Brá
7 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVI: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira...
10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIV: Cancioneiro de Mansoa (4): a arte de ser 'ranger'
1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDIX: Cancioneiro de Mansoa (5): Para além do paludismo
19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLIX: Cancioneiro de Mansoa (6): O pesadelo das minas
15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVIII: Cancioneiro de Mansoa (7): Os periquitos do pós-guerra
31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXI: Cancioneiro de Mansoa (8): a amizade e a camaradagem ou o comando da 38ª
3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P837: Cancioneiro de Mansoa (9): A mais alta de todas as traições
25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1698: Cancioneiro de Mansoa (10): O 25 de Abril, a Barragem de Castelo de Bode e a descoberta da palavra solidariedade
O COMBATENTE.
por Magalhães Ribeiro
Aquém ou Além... em Terra, na Água ou no Ar
Onde a sua amada Pátria lho requer...
Com um congénito, raro e intrépido senso
Que deram pelo nome de cumprimento do dever...
Arraigado pelo Povo, pela Bandeira, pela Pátria,
Por sua Honra e por sua Dignificação,
Seja nas catacumbas das trincheiras em França ou
Nas insondáveis e místicas picadas d’África.
Nas veias um pleno de História deste Portugal,
De Heróis que rasgaram mares então medonhos,
E de bravos Guerreiros ousados e destemidos,
Que s’agigantaram na opulência das façanhas,
Cravando, pelo mundo, marcos de universal memória,
Selados, ad eternum, pelo sangue dos nossos Mortos...
Qu’isto é tal orgulho qu’extravaza a pena do poeta
Ali… onde o azar canta, a sorte se devaneia delirante,
E as brisas empestam a doce acre da pólvora queimada
Onde as noites são infindas, os dias por demais longos
E as insónias provocam o êxtase do irreal;
Onde infernizam quer a chuva quer o calor ardente
E a lama e o suor se mesclam com o sarro e os parasitas;
Onde tudo definha entre laivos de pesadelo e loucura,
E o estridente som das bombardas petrifica;
Onde o sibilar dos estilhaços e das balas buscam as carnes,
E em salpicos e retalhos as vidas se esvaem;
Onde o pensamento mesmo que escasso bloqueia,
E o terror e a agonia dobram o aço mais duro;
Onde o Apocalipse assenta arraiais Dantescos,
Com tais cenários que Maquiavel abominaria o repasto;
Onde se fere, se mata, a morte baila sobre a barbárie
E as filosofias s’anulam na tragédia e no drama,
Tão tremendo que só um irmão d’armas o interpreta
Nos seus medos, nos seus rasgos, no seu íntimo...
Nos seus anseios, nos seus projectos, nas suas migalhas
Está um Ser... um Sobrevivente... um Lutador,
Um Sonhador... um Senhor... um Herói...
Um Patriota... uma Excelência… Um Português...
Um Combatente!
Magalhães Ribeiro
____________
Nota de L.G.:
(1) Vd. posts de:
1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVI: Cancioneiro de Mansoa (1): o esplendor de Portugal (Magalhães Ribeiro)
1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVII: Cancioneiro de Mansoa (2): Guiné, do Cumeré a Brá
7 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVI: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira...
10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIV: Cancioneiro de Mansoa (4): a arte de ser 'ranger'
1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDIX: Cancioneiro de Mansoa (5): Para além do paludismo
19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLIX: Cancioneiro de Mansoa (6): O pesadelo das minas
15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVIII: Cancioneiro de Mansoa (7): Os periquitos do pós-guerra
31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXI: Cancioneiro de Mansoa (8): a amizade e a camaradagem ou o comando da 38ª
3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P837: Cancioneiro de Mansoa (9): A mais alta de todas as traições
25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1698: Cancioneiro de Mansoa (10): O 25 de Abril, a Barragem de Castelo de Bode e a descoberta da palavra solidariedade
terça-feira, 17 de julho de 2007
Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)
Angola > Na estrada do sul, em frente ao Mussulo > 26 de Setembro de 2004 > Lá está o embondeiro que tem muito para contar.
Foto: © Luís Graça (2004). Direitos reservados
Guiné-Bissau > Região do Óio > Maqué > 20 de Novembro de 2006 > O secular poilão, local de paragem obrigatória para tirar uma foto. No meio do grupo, o nosso camarada Carlos Fortunato, ex-Fur MIl da CCAÇ 13 (Os Leões Negros).
O poilão é uma árvore sagrada para os guineenses, habitada pelos irãs ou espíritos superiores, sendo um elemento de grande importância para a compreensão do papel do pensamento mágico na vida e na cultura, ainda hoje, dos nossos amigos da Guiné. Espero que eles saibam defender e preservar os seus belos poilões, verdadeiros monumentos vivos, do mundo vegetal, que nos fascinaram, quando lá chegámos... Não imagino a Guiné, as suas tabancas, sem os seus frondosos poilões... Oxalá os guineenses saibam defender o seu país e o seu património, as suas raízes, a sua identidade, dos novos colonialistas, internos e externos, que, quais predadores, farejam o lucro imediato e fácil que é o abate das árvores de grande porte... Não sei se é o caso do poilão. De qualquer modo, é preciso sensibilizar os guineenses mais jovens para a importância decisiva que tem já o ambiente para o futuro de todos nós, a começar pelos guineenses, hoje teoricamente donos do seu destino... (LG)
Foto: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.
1. Texto do Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins (Como, Cachil, Catió, 1964/66) (1), enviado em 5 de Abril de 2007:
Caríssimo Luís: Acabaram-se as crónicas (1)... Aqui vai mais um texto para publicares, se o entenderes. J.L. Mendes Gomes
Comentário de L.G.: Um ternura! Volta, temos saudades das tuas crónicas! E já agora esclarece a minha dúvida: embondeiro (termo que não se usava na Guiné no meu tempo, sim em Angola e em Moçambique) ou poilão ?
__________________
O Embondeiro do Cachil (2)
Havia um embondeiro (3)
no quartel dos Palmeirins,
erguido bem a prumo,
naquela ilha de ninguém.
Era um gigante,
eterno,
verdadeiro,
tão velho
como o mundo.
Tronco largo,
de mil nervuras,
fazia capelas,
em ogivas grossas.
Um enxame de raízes
agarrava-o firme
à terra,
ora seca
ou enlameada.
Uma floresta,
ramalhuda,
de toucado,
e mil grinaldas,
no chapéu.
Batia-lhe forte
o sol,
todo o dia,
mas não entrava.
Que majestoso paraíso
prós imponentes jagudis,
que em bandos multicores,
lhe poisavam
serenos,
em voo planado.
Um enxame de passaredo,
buliçoso e chilreante
acordava alegre,
cada manhã,
sua majestade,
aquele gigante.
À sombra perene
dos seus pés
três tendas
se ergueram:
Uma para escrita
do Primeiro...
outra pró bar
dos sargentos
e oficiais
e uma enfermaria
para os demais.
Índa fazia de catedral
prá missa de Natal,
p´rás folias
e noitadas
do fado e cavaqueira...
Não morreu...
desapareceu
de noite,
inteiro,
com a metralha da canalha...
que não queria bem
aos Palmeirins!
Que saudades
do embondeiro!...
J.L. Mendes Gomes~
_______________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu
29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez
11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)
8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha
22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-
Feira
8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo
11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar
1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG
20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia
2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo
20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo
(2) Uma dúvida para o poeta esclarecer: Já tenho visto confundir-se o embondeiro com o poilão. Dois exemplos:
(i) "Poilão - Correspondente do Imbondeiro, mas na Guiné-Bissau. Também pode significar mangalho, utilizado para não assustar as catorzinhas: Anda cá, põe-te à sombra do meu poilão!". In: DICIONÁRIO D'O BAZONGA DA KILUMBA.
(ii) (...) "Três homens [manjacos], munidos dumas estranhas vestes, uma faca enorme e outros apetrechos para mim desconhecidos, irrompem no meio da pequena multidão, transportando, um deles, um porco. Ao passarem, apercebo-me de grande borborinho…é que as mulheres deveriam voltar as costas aos sacerdotes daquele estranho cerimonial, pois seria mau presságio elas visualizarem aquele misterioso cenário. Lá se dirigem ao poilão, aquilo que nós designamos de embondeiro, e sacrificam o animal. Fazem mais uns gestos esquisitíssimos, para mim, e deixam lá o porco já sem vida. Mais tarde, será saboreado pelos homens da família. O importante, para o defunto, estava feito: o sangue derramado pelo animal iria libertar a alma e levá-la à glória! Será bom lembrar que talvez a maioria dos Guineenses é animista… mesmo os Cristãos e Islâmicos vivem sob o universo dos Irãs (uma espécie de intermediários entre os homens e Deus), num mundo povoado de sacrifícios constantes, no mato grande" (...).
In: Fundação Evangelização e Culturas > 19 de Maio de 2005 > Fátima Rodrigues > Rituais
(iii) Saboreado o (belo) poema do Mendes Gomes, deixem-te também meter a minha colherada no caldo de cultura... Eu, que não sou especialista de botânica nem de línguas africanas, limito-me a consultar o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de que sou fã. Ora estes dois termos existem, estão lá, e pelo que percebo são termos comuns para árvores de espécies diferentes, embora aparentadas (vd. portal EcoPort).
Poilão - Designação comum, na Guiné-Bissau, a algumas árvores da família das bombacáceas. O mesmo que Sumaúma (Ceiba pentandra). Há diversos nomes comuns em português: ceba, mafuma, mafumeira, ocá, paina lisa, poilão, poilão de sumaúma, poilão forro, sumaúma, sumaúma da várzea... O português é a língua que tem mais nomes comuns para esta árvore.
Embondeiro - Árvore com comprimento até 20 m (Adansonia digitata), da família das bombacáceas, com tronco gigantesco, erecto, madeira branca, mole e porosa, etc. Nativa de regiões tropicais de África, pode viver mais de dois mil anos, e o seu tronco alcançar mais de 1 metros de diâmetro. As folhas, flores, frutos e sementes são comestíveis e têm diversas aplicações medicinais. Tem vários nomes comuns, como baobá.
Na Guiné-Bissau, os nalus também fazem a distição entre o poilão (n´kauuê) e o embondeiro, segundo a etnóloga Amélia Frazão-Moreira. Como nunca estive na Ilha de Caiar, também nunca vi o embondeiro do Cachil. Resta-me a consolação da sua evocação poética... Em Angola, vi alguns, esquelécticos e moribundos, nos musseques de Luanda... Outros, mais viris e portentosos, na região do Mussulo...Dizem que pode armazenar água até 120 litros de água dentro do seu bojo...
Foto: © Luís Graça (2004). Direitos reservados
Guiné-Bissau > Região do Óio > Maqué > 20 de Novembro de 2006 > O secular poilão, local de paragem obrigatória para tirar uma foto. No meio do grupo, o nosso camarada Carlos Fortunato, ex-Fur MIl da CCAÇ 13 (Os Leões Negros).
O poilão é uma árvore sagrada para os guineenses, habitada pelos irãs ou espíritos superiores, sendo um elemento de grande importância para a compreensão do papel do pensamento mágico na vida e na cultura, ainda hoje, dos nossos amigos da Guiné. Espero que eles saibam defender e preservar os seus belos poilões, verdadeiros monumentos vivos, do mundo vegetal, que nos fascinaram, quando lá chegámos... Não imagino a Guiné, as suas tabancas, sem os seus frondosos poilões... Oxalá os guineenses saibam defender o seu país e o seu património, as suas raízes, a sua identidade, dos novos colonialistas, internos e externos, que, quais predadores, farejam o lucro imediato e fácil que é o abate das árvores de grande porte... Não sei se é o caso do poilão. De qualquer modo, é preciso sensibilizar os guineenses mais jovens para a importância decisiva que tem já o ambiente para o futuro de todos nós, a começar pelos guineenses, hoje teoricamente donos do seu destino... (LG)
Foto: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.
1. Texto do Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins (Como, Cachil, Catió, 1964/66) (1), enviado em 5 de Abril de 2007:
Caríssimo Luís: Acabaram-se as crónicas (1)... Aqui vai mais um texto para publicares, se o entenderes. J.L. Mendes Gomes
Comentário de L.G.: Um ternura! Volta, temos saudades das tuas crónicas! E já agora esclarece a minha dúvida: embondeiro (termo que não se usava na Guiné no meu tempo, sim em Angola e em Moçambique) ou poilão ?
__________________
O Embondeiro do Cachil (2)
Havia um embondeiro (3)
no quartel dos Palmeirins,
erguido bem a prumo,
naquela ilha de ninguém.
Era um gigante,
eterno,
verdadeiro,
tão velho
como o mundo.
Tronco largo,
de mil nervuras,
fazia capelas,
em ogivas grossas.
Um enxame de raízes
agarrava-o firme
à terra,
ora seca
ou enlameada.
Uma floresta,
ramalhuda,
de toucado,
e mil grinaldas,
no chapéu.
Batia-lhe forte
o sol,
todo o dia,
mas não entrava.
Que majestoso paraíso
prós imponentes jagudis,
que em bandos multicores,
lhe poisavam
serenos,
em voo planado.
Um enxame de passaredo,
buliçoso e chilreante
acordava alegre,
cada manhã,
sua majestade,
aquele gigante.
À sombra perene
dos seus pés
três tendas
se ergueram:
Uma para escrita
do Primeiro...
outra pró bar
dos sargentos
e oficiais
e uma enfermaria
para os demais.
Índa fazia de catedral
prá missa de Natal,
p´rás folias
e noitadas
do fado e cavaqueira...
Não morreu...
desapareceu
de noite,
inteiro,
com a metralha da canalha...
que não queria bem
aos Palmeirins!
Que saudades
do embondeiro!...
J.L. Mendes Gomes~
_______________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu
29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez
11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)
8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha
22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-
Feira
8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo
11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar
1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG
20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia
2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo
20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo
(2) Uma dúvida para o poeta esclarecer: Já tenho visto confundir-se o embondeiro com o poilão. Dois exemplos:
(i) "Poilão - Correspondente do Imbondeiro, mas na Guiné-Bissau. Também pode significar mangalho, utilizado para não assustar as catorzinhas: Anda cá, põe-te à sombra do meu poilão!". In: DICIONÁRIO D'O BAZONGA DA KILUMBA.
(ii) (...) "Três homens [manjacos], munidos dumas estranhas vestes, uma faca enorme e outros apetrechos para mim desconhecidos, irrompem no meio da pequena multidão, transportando, um deles, um porco. Ao passarem, apercebo-me de grande borborinho…é que as mulheres deveriam voltar as costas aos sacerdotes daquele estranho cerimonial, pois seria mau presságio elas visualizarem aquele misterioso cenário. Lá se dirigem ao poilão, aquilo que nós designamos de embondeiro, e sacrificam o animal. Fazem mais uns gestos esquisitíssimos, para mim, e deixam lá o porco já sem vida. Mais tarde, será saboreado pelos homens da família. O importante, para o defunto, estava feito: o sangue derramado pelo animal iria libertar a alma e levá-la à glória! Será bom lembrar que talvez a maioria dos Guineenses é animista… mesmo os Cristãos e Islâmicos vivem sob o universo dos Irãs (uma espécie de intermediários entre os homens e Deus), num mundo povoado de sacrifícios constantes, no mato grande" (...).
In: Fundação Evangelização e Culturas > 19 de Maio de 2005 > Fátima Rodrigues > Rituais
(iii) Saboreado o (belo) poema do Mendes Gomes, deixem-te também meter a minha colherada no caldo de cultura... Eu, que não sou especialista de botânica nem de línguas africanas, limito-me a consultar o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de que sou fã. Ora estes dois termos existem, estão lá, e pelo que percebo são termos comuns para árvores de espécies diferentes, embora aparentadas (vd. portal EcoPort).
Poilão - Designação comum, na Guiné-Bissau, a algumas árvores da família das bombacáceas. O mesmo que Sumaúma (Ceiba pentandra). Há diversos nomes comuns em português: ceba, mafuma, mafumeira, ocá, paina lisa, poilão, poilão de sumaúma, poilão forro, sumaúma, sumaúma da várzea... O português é a língua que tem mais nomes comuns para esta árvore.
Embondeiro - Árvore com comprimento até 20 m (Adansonia digitata), da família das bombacáceas, com tronco gigantesco, erecto, madeira branca, mole e porosa, etc. Nativa de regiões tropicais de África, pode viver mais de dois mil anos, e o seu tronco alcançar mais de 1 metros de diâmetro. As folhas, flores, frutos e sementes são comestíveis e têm diversas aplicações medicinais. Tem vários nomes comuns, como baobá.
Na Guiné-Bissau, os nalus também fazem a distição entre o poilão (n´kauuê) e o embondeiro, segundo a etnóloga Amélia Frazão-Moreira. Como nunca estive na Ilha de Caiar, também nunca vi o embondeiro do Cachil. Resta-me a consolação da sua evocação poética... Em Angola, vi alguns, esquelécticos e moribundos, nos musseques de Luanda... Outros, mais viris e portentosos, na região do Mussulo...Dizem que pode armazenar água até 120 litros de água dentro do seu bojo...
Guiné 63/74 - P1962: Blogoterapia (25): Os Quirafos do nosso Passado (Torcato Mendonça / Virgínio Briote)
1. Mensagem do Torcato Mendonça:
Luis Graça:
Talvez no e-mail, de dia treze – em que o assunto era... O Passado – tenha sido pouco elegante, ou mesmo, rude. O Coronel (1) abriu-me uma, duas ou mais vezes o blogue. A primeira tudo bem, depois, e após a leitura na Única do Expresso, da semana passada, da reportagem sobre o jet-set angolano, foi o tal clique.
Não está ainda bem. Não se esquece facilmente. É necessária outra atitude. Fico satisfeito, em saber que, em Março de 2008 vai haver um Simpósio – A Memória de Guiledje na luta pela independência da Guiné. Parece uma incongruência, mas não. Há determinados acontecimentos, pessoas e não só a despoletarem, em mim, certas atitudes.
Repara que África diz-me muito. A Guiné, o Povo Guineense muito mais. Muitos dirigentes, do passado e do presente, nada me dizem. Um Psi, ou o trabalho da psicóloga Ângela Maia pode dar uma ajuda. É um trabalho com interesse. O V. Briote fez uma chamada de atenção à reportagem vinda na Notícias Magazine deste domingo. Têm vindo aqui neste blogue muitos textos sobre o tema. Não é, ao fim e ao cabo, este blogue uma terapia, um lugar onde pela escrita, pela leitura, por outras formas de participação, uma maneira em terapia, de exorcizar fantasmas do passado? É uma área que te diz mais respeito, não por sofreres de ou teres necessidade de, mas por uma questão profissional.
Além disso a maneira aberta como discutimos, a frontalidade e a liberdade na abordagem dos temas propiciam, a meu ver, o cimentar de sã convivência entre todos, não tendo visão ou fomentando, antes pelo contrário, um pensamento minimalista mas, isso sim, plural.
Qualquer atitude, como a do Passado não pode ser exemplo e, menos ainda, redutora dessa liberdade de expressão e pensamento. Temos que, aos poucos, lentamente, ir fomentando uma maneira de ajudar, de exigir que todos, desde que necessitem, tenham ajuda com dignidade. Que finalmente terminem com A GUERRA SEM FIM. Penso que é tempo de dizer BASTA.
Como sempre, alonguei a escrita, este amontoado de palavras para dizer: talvez me tenha excedido no comentário ao Comandante [da emboscada] do Quirafo e é preciso dar apoio, com dignidade, a todos os que precisam de parar a guerra. Apoiem trabalhos com exigência científica que retratem a realidade. Cumpram o prometido!
A nossa geração é especial, não deve, não teme, não se envergonha de nada. E paro.
Um abraço,
Torcato
2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:
Apesar de trinta e tal anos passados, há ainda muitos assuntos melindrosos e, apesar de todo este tempo decorrido, alguns ainda estão muito frescos, especialmente para quem os viveu. Porque, para muitos de nós, os factos embora possam ter ocorrido há três dezenas de anos, têm-nos acompanhado ao longo da vida. É como se estivessémos ainda debaixo de fogo, com feridos aos gritos.
Foram 13 anos, sem tréguas, 13 anos de fogachada, morteiradas, bazucadas, foguetes, 13 anos de minas e armadilhas de todos os tipos. Mas também não escassearam provas de amor ao povo guineense e àquela terra nesses 13 anos distantes.
O actual coronel das Forças Armadas da Guiné-Bissau, chefe da guerrilha, IN nos nossos tempos, merece-nos respeito como combatente, que muito dele deve ter dado por um ideal. Em sentido, é como me ponho, quando vejo alguém do nosso lado ou do deles, em linguagem antiga, dar a cara pelo que fez. Tal como em sentido me perfilo pelos nossos camaradas que deram a vida no Quirafo e por todos, de um lado e doutro, lá deixaram o que de melhor tinham, a vida ou bocados dela.
E, trinta e poucos anos depois, como é bom ver que há muito mais a juntar que a separar os povos guineense e português.
vb
__________
Nota de v.b.:
(1) Vd. post de 12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)
Luis Graça:
Talvez no e-mail, de dia treze – em que o assunto era... O Passado – tenha sido pouco elegante, ou mesmo, rude. O Coronel (1) abriu-me uma, duas ou mais vezes o blogue. A primeira tudo bem, depois, e após a leitura na Única do Expresso, da semana passada, da reportagem sobre o jet-set angolano, foi o tal clique.
Não está ainda bem. Não se esquece facilmente. É necessária outra atitude. Fico satisfeito, em saber que, em Março de 2008 vai haver um Simpósio – A Memória de Guiledje na luta pela independência da Guiné. Parece uma incongruência, mas não. Há determinados acontecimentos, pessoas e não só a despoletarem, em mim, certas atitudes.
Repara que África diz-me muito. A Guiné, o Povo Guineense muito mais. Muitos dirigentes, do passado e do presente, nada me dizem. Um Psi, ou o trabalho da psicóloga Ângela Maia pode dar uma ajuda. É um trabalho com interesse. O V. Briote fez uma chamada de atenção à reportagem vinda na Notícias Magazine deste domingo. Têm vindo aqui neste blogue muitos textos sobre o tema. Não é, ao fim e ao cabo, este blogue uma terapia, um lugar onde pela escrita, pela leitura, por outras formas de participação, uma maneira em terapia, de exorcizar fantasmas do passado? É uma área que te diz mais respeito, não por sofreres de ou teres necessidade de, mas por uma questão profissional.
Além disso a maneira aberta como discutimos, a frontalidade e a liberdade na abordagem dos temas propiciam, a meu ver, o cimentar de sã convivência entre todos, não tendo visão ou fomentando, antes pelo contrário, um pensamento minimalista mas, isso sim, plural.
Qualquer atitude, como a do Passado não pode ser exemplo e, menos ainda, redutora dessa liberdade de expressão e pensamento. Temos que, aos poucos, lentamente, ir fomentando uma maneira de ajudar, de exigir que todos, desde que necessitem, tenham ajuda com dignidade. Que finalmente terminem com A GUERRA SEM FIM. Penso que é tempo de dizer BASTA.
Como sempre, alonguei a escrita, este amontoado de palavras para dizer: talvez me tenha excedido no comentário ao Comandante [da emboscada] do Quirafo e é preciso dar apoio, com dignidade, a todos os que precisam de parar a guerra. Apoiem trabalhos com exigência científica que retratem a realidade. Cumpram o prometido!
A nossa geração é especial, não deve, não teme, não se envergonha de nada. E paro.
Um abraço,
Torcato
2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:
Apesar de trinta e tal anos passados, há ainda muitos assuntos melindrosos e, apesar de todo este tempo decorrido, alguns ainda estão muito frescos, especialmente para quem os viveu. Porque, para muitos de nós, os factos embora possam ter ocorrido há três dezenas de anos, têm-nos acompanhado ao longo da vida. É como se estivessémos ainda debaixo de fogo, com feridos aos gritos.
Foram 13 anos, sem tréguas, 13 anos de fogachada, morteiradas, bazucadas, foguetes, 13 anos de minas e armadilhas de todos os tipos. Mas também não escassearam provas de amor ao povo guineense e àquela terra nesses 13 anos distantes.
O actual coronel das Forças Armadas da Guiné-Bissau, chefe da guerrilha, IN nos nossos tempos, merece-nos respeito como combatente, que muito dele deve ter dado por um ideal. Em sentido, é como me ponho, quando vejo alguém do nosso lado ou do deles, em linguagem antiga, dar a cara pelo que fez. Tal como em sentido me perfilo pelos nossos camaradas que deram a vida no Quirafo e por todos, de um lado e doutro, lá deixaram o que de melhor tinham, a vida ou bocados dela.
E, trinta e poucos anos depois, como é bom ver que há muito mais a juntar que a separar os povos guineense e português.
vb
__________
Nota de v.b.:
(1) Vd. post de 12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)
Guiné 63/74 - P1961: António Pedro, meu amigo e irmão, cruz de guerra ao peito, morreu de stresse, a 12 de Agosto de 2003 (Mário Fitas)
PTSD (como dizem os americanos) ou Stresse pós-traumático de guerra (como dizemos nós) é um problema de saúde mental que continua a afectar os antigos combatentes, do Vietname à Guiné, muitos anos depois do seu regresso a casa. (vb)
Foto: © Virgínio Briote (2005). Direitos reservados
1. Mensagem do Mário Vicente:
Caro Briote, as tuas sábias palavras, são a súmula em que se revela a existência deste país. Não deve ser minha a frase, mas eu escrevia: "Quem entra numa Guerra jamais sairá dela". E é verdade!
Só que nós que, por qualquer motivo, resistimos ou não fomos tocados por essa psicótica bactéria, temos a força e talvez o saber de ajudar esses nossos queridos abandonados camaradas. Queridos!... Sim... porque só nós sabemos conviver e falar com eles. Agradecidos e reconhecidos aos pioneiros que levantaram o problema do stresse.
Permite-me que te faça uma narração de um nosso Camarada, meu amigo irmão. Não irei revelar algumas pessoas intervenientes,como é óbvio, mas se for necessário fá-lo-ei para ver como esses incógnitos trezentos mil foram abandonados.
António Pedro foi mobilizado para servir o seu País, nas bolanhas, matas e pântanos da Guiné. Com os seus vinte e um anos era já um homem impecável, respeitado e respeitador, era um rapaz a que nós vulgarmente chamamos de "Exemplar". Agora, aquilo que o vi fazer: rastejar debaixo de fogo e ir buscar camaradas feridos à zona de morte em emboscadas. Natural pois, no seu peito foi colocado um símbolo (Cruz de Guerra).
Voltou á sua terra e tornou-se um homem de valor. Mas!... próximo dos cinquenta anos apareceram os problemas!
24 de Dezembro de 2000, pelas 00H30, o meu telefone toca. Do outro lado reconheço a voz:
- Mário, perdi o cinturão, os carregadores e não sei dos meus homens!
Senti que tinha de voltar à MERDA.
Falei com ele como se estivesse enterrado nas matas que cheiravam a morte. Passados vinte minutos, uma voz feminina e delicada agradeceu. Calmamente o António Pedro tinha ido para a cama.
Pouco sei do que esta senhora e filhos teriam sofrido. A mim doeu-me quando, em 12 de Agosto de 2003, o telefone tocou, e a mesma voz feminina e de dor me informou:
-O António Pedro morreu hoje! Tirou o carro da garagem, subiu as escadas para se despedir de mim e dos filhos, e caiu na minha frente.
A sua Pátria nem uma flor depôs na urna daquele PORTUGUÊS.
Amigo se quiseres podes publicar porque infelizmente não é caso único.
Mário Fitas
2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:
De facto, parece não haver uma regra para o aparecimento dos sintomas do PTSD (como ficou designado, oficialmente, pela Associação Norte-Americana de Psiquiatria, e stresse pós-traumático, entre nós).
Todos nós conhecemos casos de camaradas que conseguiram resolver os pesadelos, ainda nos primeiros tempos após a comissão e, hoje, convivem saudavelmente com o seu passado, com os problemas bem arrumados, pelo menos aparentemente.
Outros casos vieram já definidos e estruturados, que evoluiram para a cronicidade alternando uma vez ou outra com episódios agudos. Famílias, amigos, colegas da actividade profissional, viveram largos anos ou ainda sentem diariamente quanto custa conviver com a doença. Nalguns casos, provavelmente, acabaram por ficar também com perturbações, com tantos anos de exposição. Parece pertencer a este grupo a maior percentagem dos actuais nossos camaradas que frequentam ainda grupos de ajuda.
Parabéns, Mário Vicente ("Pami Na Dondo"), pela tua contribuição. O stresse pós-traumático afectou e afecta ainda a vida dos nossos veteranos da guerra colonial, mas eles não viveram estes 30 ou 40 anos sozinhos. Constituiram família, tiveram filhos que cresceram, alguns sem se lembrarem de alguma vez o Pai ter pegado neles ao colo.
vb
___________
Nota de v.b.:
(1) Vd. 15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1955: 300 mil, vítimas de stresse pós-traumático de guerra: estude-nos depressa, doutora (Virgínio Briote)
Foto: © Virgínio Briote (2005). Direitos reservados
1. Mensagem do Mário Vicente:
Caro Briote, as tuas sábias palavras, são a súmula em que se revela a existência deste país. Não deve ser minha a frase, mas eu escrevia: "Quem entra numa Guerra jamais sairá dela". E é verdade!
Só que nós que, por qualquer motivo, resistimos ou não fomos tocados por essa psicótica bactéria, temos a força e talvez o saber de ajudar esses nossos queridos abandonados camaradas. Queridos!... Sim... porque só nós sabemos conviver e falar com eles. Agradecidos e reconhecidos aos pioneiros que levantaram o problema do stresse.
Permite-me que te faça uma narração de um nosso Camarada, meu amigo irmão. Não irei revelar algumas pessoas intervenientes,como é óbvio, mas se for necessário fá-lo-ei para ver como esses incógnitos trezentos mil foram abandonados.
António Pedro foi mobilizado para servir o seu País, nas bolanhas, matas e pântanos da Guiné. Com os seus vinte e um anos era já um homem impecável, respeitado e respeitador, era um rapaz a que nós vulgarmente chamamos de "Exemplar". Agora, aquilo que o vi fazer: rastejar debaixo de fogo e ir buscar camaradas feridos à zona de morte em emboscadas. Natural pois, no seu peito foi colocado um símbolo (Cruz de Guerra).
Voltou á sua terra e tornou-se um homem de valor. Mas!... próximo dos cinquenta anos apareceram os problemas!
24 de Dezembro de 2000, pelas 00H30, o meu telefone toca. Do outro lado reconheço a voz:
- Mário, perdi o cinturão, os carregadores e não sei dos meus homens!
Senti que tinha de voltar à MERDA.
Falei com ele como se estivesse enterrado nas matas que cheiravam a morte. Passados vinte minutos, uma voz feminina e delicada agradeceu. Calmamente o António Pedro tinha ido para a cama.
Pouco sei do que esta senhora e filhos teriam sofrido. A mim doeu-me quando, em 12 de Agosto de 2003, o telefone tocou, e a mesma voz feminina e de dor me informou:
-O António Pedro morreu hoje! Tirou o carro da garagem, subiu as escadas para se despedir de mim e dos filhos, e caiu na minha frente.
A sua Pátria nem uma flor depôs na urna daquele PORTUGUÊS.
Amigo se quiseres podes publicar porque infelizmente não é caso único.
Mário Fitas
2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:
De facto, parece não haver uma regra para o aparecimento dos sintomas do PTSD (como ficou designado, oficialmente, pela Associação Norte-Americana de Psiquiatria, e stresse pós-traumático, entre nós).
Todos nós conhecemos casos de camaradas que conseguiram resolver os pesadelos, ainda nos primeiros tempos após a comissão e, hoje, convivem saudavelmente com o seu passado, com os problemas bem arrumados, pelo menos aparentemente.
Outros casos vieram já definidos e estruturados, que evoluiram para a cronicidade alternando uma vez ou outra com episódios agudos. Famílias, amigos, colegas da actividade profissional, viveram largos anos ou ainda sentem diariamente quanto custa conviver com a doença. Nalguns casos, provavelmente, acabaram por ficar também com perturbações, com tantos anos de exposição. Parece pertencer a este grupo a maior percentagem dos actuais nossos camaradas que frequentam ainda grupos de ajuda.
Parabéns, Mário Vicente ("Pami Na Dondo"), pela tua contribuição. O stresse pós-traumático afectou e afecta ainda a vida dos nossos veteranos da guerra colonial, mas eles não viveram estes 30 ou 40 anos sozinhos. Constituiram família, tiveram filhos que cresceram, alguns sem se lembrarem de alguma vez o Pai ter pegado neles ao colo.
vb
___________
Nota de v.b.:
(1) Vd. 15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1955: 300 mil, vítimas de stresse pós-traumático de guerra: estude-nos depressa, doutora (Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P1960: Em busca de... (3): Os Soncó, a aristocracia mandinga do Cuor (Beja Santos)
Guiné > Zona Leste > Cuor > Missirá > 1968 > Retrato dos Soncó, várias gerações...
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):
Caro Luis, Precisei de mexer num album de fotografias da minha Mãe (1), saiu esta surpresa: uma recordação dos Soncó. Escrevi à minha Mãe:
Alguns filhotes e a grande mãe Soncó, na tabanca de Missirá. Meninos que usam armas, meninos que fogem espavoridos debaixo de fogo,meninos que gostam de futebol, correrias. Meninos de inocência.Que homens serão no futuro?
O maior deve ser Tumulu, um dos dois filhos vivos do régulo Malã Soncó. Penso que o Abudu está ao pé da sua Mãe. Abudu, meu querido Irmão, és capaz de falar e apresentar os membros da família? Para quem não sabe, o Abudu é o filho mais novo do régulo, trabalha em Portugal.
2. Mensagem, entretanto enviada, há dias, ao Engº Suncar Dabó:
Prezado Engº Suncar Dabó, através do meu amigo e irmão Abudu Soncó, venho-lhe pedir alguma ajuda para compreender e escrever sobre o que era o regulado do Cuor, antes da luta armada (1963).
Fui alferes em Missirá, sede do regulado, entre 1968 e 1969 e estou presentemente a escrever um romance num blogue intitulado Operação Macaréu à Vista (2). Se escrever em Google.pt "Luís Graça e camaradas da Guiné" pode consultar o blogue e ler tudo quanto escrevi, bem como as fotografias que temos vindo a publicar.
Penso que seria uma bonita homenagem às gentes do Cuor falarmos sobre as povoações existentes e as respectivas populações. Não sei quem vivia em São Belchior, Saliquinhé, Mato de Cão, Chicri, Gambana, Canturé, Sansão, Sancorlá, Paté Gidé, Salá, Quebã Jilá, Madina, Banir, Sinchã Corubal.
De onde vieram os Soncó? Lembra-se das histórias de Infali Soncó (3) ? Quais eram as grandes famílias do Cuor? De que viviam os Mandingas? Como vê, só lhe venho dar trabalho, mas penso que a causa é muito justa.
Bissimilai!
Receba os melhores cumprimentos
do Mário Beja Santos
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. 15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1952: Álbum das Glórias (18): A minha morada em Bambadinca (Beja Santos)
(2) Vd. últimos cinco posts desta série:
6 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1927: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (54): Ponta Varela e Mato Cão: Terror no Geba
29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1898: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (53): O ataque a Missirá de 15 de Julho de 1969, visto pelo bravo mas modesto Queta Baldé
13 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1948: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (52): Em Bissau, no julgamento do Ieró Djaló
22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1870: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (51): Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (5)
15 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1851: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (50): Do tiroteiro em Bambadinca na noite de 14 de Junho de 1969 à emboscada da bruxa
(3) Vd. posts de:
3 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1021: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (4): A minha paixão pelo Cuor
18 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P882: Infali Soncó e a lenda do Alferes Hermínio (Beja Santos)
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):
Caro Luis, Precisei de mexer num album de fotografias da minha Mãe (1), saiu esta surpresa: uma recordação dos Soncó. Escrevi à minha Mãe:
Alguns filhotes e a grande mãe Soncó, na tabanca de Missirá. Meninos que usam armas, meninos que fogem espavoridos debaixo de fogo,meninos que gostam de futebol, correrias. Meninos de inocência.Que homens serão no futuro?
O maior deve ser Tumulu, um dos dois filhos vivos do régulo Malã Soncó. Penso que o Abudu está ao pé da sua Mãe. Abudu, meu querido Irmão, és capaz de falar e apresentar os membros da família? Para quem não sabe, o Abudu é o filho mais novo do régulo, trabalha em Portugal.
2. Mensagem, entretanto enviada, há dias, ao Engº Suncar Dabó:
Prezado Engº Suncar Dabó, através do meu amigo e irmão Abudu Soncó, venho-lhe pedir alguma ajuda para compreender e escrever sobre o que era o regulado do Cuor, antes da luta armada (1963).
Fui alferes em Missirá, sede do regulado, entre 1968 e 1969 e estou presentemente a escrever um romance num blogue intitulado Operação Macaréu à Vista (2). Se escrever em Google.pt "Luís Graça e camaradas da Guiné" pode consultar o blogue e ler tudo quanto escrevi, bem como as fotografias que temos vindo a publicar.
Penso que seria uma bonita homenagem às gentes do Cuor falarmos sobre as povoações existentes e as respectivas populações. Não sei quem vivia em São Belchior, Saliquinhé, Mato de Cão, Chicri, Gambana, Canturé, Sansão, Sancorlá, Paté Gidé, Salá, Quebã Jilá, Madina, Banir, Sinchã Corubal.
De onde vieram os Soncó? Lembra-se das histórias de Infali Soncó (3) ? Quais eram as grandes famílias do Cuor? De que viviam os Mandingas? Como vê, só lhe venho dar trabalho, mas penso que a causa é muito justa.
Bissimilai!
Receba os melhores cumprimentos
do Mário Beja Santos
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. 15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1952: Álbum das Glórias (18): A minha morada em Bambadinca (Beja Santos)
(2) Vd. últimos cinco posts desta série:
6 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1927: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (54): Ponta Varela e Mato Cão: Terror no Geba
29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1898: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (53): O ataque a Missirá de 15 de Julho de 1969, visto pelo bravo mas modesto Queta Baldé
13 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1948: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (52): Em Bissau, no julgamento do Ieró Djaló
22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1870: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (51): Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (5)
15 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1851: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (50): Do tiroteiro em Bambadinca na noite de 14 de Junho de 1969 à emboscada da bruxa
(3) Vd. posts de:
3 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1021: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (4): A minha paixão pelo Cuor
18 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P882: Infali Soncó e a lenda do Alferes Hermínio (Beja Santos)
Guiné 63/74 - P1959: Em busca de... (2): António da Silva Batista, de Crestins, Moreira, Maia, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto / Paulo Santiago)
Maia > Moreira > Cemitério local > Foto do Jornal de Notícias, edição de 18 de Setembro de 1974, mostrando o soldado António da Silva Batista, a visitar a sua própria campa. A notícia do jornal era: "Morto-vivo depôs flores na sua campa". Na lápide pode ler-se: "À memória de António da Silva Batista. Faleceu em combate na província da Guiné em 17-4-1972".
A foto, de má qualidade, foi feita há dias pelo nosso camarada Álvaro Basto, com o seu telemóvel, na Biblioteca Pública Municipal do Porto, e remetida ao Paulo Santiago.
O Álvaro Basto, ex-fur mil enf da CART 3492 (Xitole, 1971/734), mora em Leça do Balio, Matosinhos.
Foto: © Álvaro Basto (2007). Todos os Direitos reservados.
1. Mensagem do Paulo Santiago enviada ao editor do blogue:
Luís: Vê esta mensagem, principalmente a foto do Batista.Vou fazer todos os esforços para o descobrir em Crestins-Maia. Irei talvez, pedir ajuda ao Casimiro Carvalho e ao Eduardo Magalhães Ribeiro
Abraço
Paulo
2. Mensagem do Paulo Santiago enviada ao Casimiro Carvalho, que mora na Maia:
Camarada Casimiro Carvalho:
Venho pedir-te ajuda. Deves já ter lido no blogue o post 1947 (1), falando na conversa do Pepito com o ex-comandante da guerrilha, hoje Coronel, Paulo Malu, que dirigiu a emboscada no Quirafo.
O Malu diz querer falar comigo, quando da minha próxima visita à Guiné, e estou também muito interessado em falar com ele. Mas,antes, há uma pessoa com quem quero falar, o prisioneiro, dado como morto em 17/04/72 e libertado em Setembro de 1974.
Trata-se de António da Silva Batista, natural de Crestins-Maia. Ontem, o Álvaro Bastos enviou-me uma foto, retirada do JN, de 18/09/74, onde aparece o Batista a depositar uma coroa de flores na campa com o seu nome no cemitério de Crestins. Parece que o Batista trabalhava no aeroporto, hoje chamado Sá Carneiro, antes de ir para a Guiné.
Como vives aí na Maia, agradecia-te muito se me pudesses ajudar nesta missão.
Aguardo que possas dizer algo sobre este assunto.
Um abraço amigo do Paulo Santiago
PS - Espero que tenhas recebido o CD em boas condições.
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)
(2) O António da Silva Baptista pertencia à CART 3490 (Saltinho, 1972/74)... Foi dado como morto na sequência da emboscada montada pelo PAIGC na picada do Quirafo, em 17 de Abril de 1972.
Vd. post de 20 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1681: Efemérides (4): Lista dos mortos no Quirafo (José Martins)
(...) "Lista dos camaradas que tombaram na emboscada de Quirafo, em 17 de Abril de 1972, de acordo com a pesquisa feita pelo José Marcelino Martins, membro da nossa tertúlia. Todos eles pertenciam ao Exército, e eram oriundos do Regimento de Infantaria 2 (RI 2), com sede em Abrantes. Julgo que pertenciam todos à CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74).
"Entre parênteses, indica-se o nome da terra de naturalidade (Infelizmente, falta a indicação do respectivo concelho). Repare-se que faltam os nomes de dois camaradas, já que o número de mortos terá sido de 11, entre o pessoal do exército, mais cinco milícias e um número indeterminado de civis.
"Nome / Posto / Local de nascimento
ANTÓNIO DA SILVA BATISTA / Soldado / Moreira [,Maia]ANTÓNIO DE MOURA MOREIRA / Soldado / São Cosme
ANTÓNIO FERREIRA / 1º Cabo / Cedofeita
ANTÓNIO MARQUES PEREIRA / Soldado / Fátima
ARMANDINO DA SILVA RIBEIRO / Alferes Mil / Magueija
BERNARDINO RAMOS DE OLIVEIRA / Soldado / Afonsim-Pedregoso
FRANCISCO OLIVEIRA DOS SANTOS / Furriel Mil / Marinha-Ovar
SÉRGIO DA COSTA PINTO REBELO / 1º Cabo / Samil-Vila Chã de S. Roque
ZÓZIMO DE AZEVEDO / Soldado / Alpendura [,provavelmente Alpendurada, Marco de Canaveses]" (...)
segunda-feira, 16 de julho de 2007
Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)
1. Comentário do editor do blogue:
É verdade: infelizmente, falamos aqui pouco dos homens e das mulheres que lutaram contra nós. Somos parcos em palavras, quando nos referimos a eles (e elas): IN, inimigo, turras, PAIGC… Uma vez por outro, guerrilheiros, combatentes, nacionalistas…
Tínhamos uma visão local do conflito: gente de Madina/Belel, escreve o Beja Santos em Missirá…Vizinhos, ao fim e ao cabo. Indesejáveis vizinhos que lutavam pelo controlo de recursos, território, bolanhas, rios, trilhos, picadas e, sobretudo, populações, almas, corpos, braços e pernas…
Fazíamos visitas uns aos outros, de vez em quando. Nada amistosas, por sinal. E a desoras. Às tantas da manhã, ou da noite. Muito raramente ao meio dia. A hora do almoço era sagrada. Tínhamos uma estranha maneira de nos cumprimentar quando nos cruzávamos no mato… Às vezes, aleijávamo-nos mutuamente. Às vezes matávamo-nos, uns aos outros.
Que sabíamos nós dos outros ? Conhecíamos as suas armas, sabíamos distinguir o cantar da costureirinha , o matraquear da kalash, o silvo da morteiro… A cor e o feitio das granadas, de RPG ou de canhão sem recuo… Mas, e os homens, e as mulheres, as crianças e os velhos que viviam no mato (regiões libertadas, diziam eles). Viamo-los, ao longe, quase sempre do ar, a cultivar o arroz na bolanha ou na montar segurança na orla da floresta…
Uma vez por ano, na época seca, fazíamos raides punitivos e queimávamos umas tantas moranças e algumas toneladas de arroz… Mas a maior parte dos dias, das semanas e dos meses, ficávamos nos nossos aquartelamentos e destacamentos a guardar a bandeira nacional, o símbolo da nossa soberania.
Quem era essa gente que nos atacava, quase sempre, à socapa, emboscada, escondida atrás das árvores e dos bagabagas, ocultos pelo capim alto ou pelo breu da noite ? Às vezes lá apanhávamos um ou outro, vivo, armado ou desarmado…
Quem era essa estranha gente que nos combatia e que, mais tarde, já lá para o final da guerra, é capaz de gritar:
- Viva Portugal, abaixo o colonialismo ?
De há uns meses a esta parte tenho estado a incentivar o Virgínio Briote para fazer uma exploração e uma pequena apresentação dos vídeos sobre a guerrilha do PAIGC que estão disponíveis no sítio do INA - Institut National de l' Audiovisuel
2. Mensagem do Virgínio Briote, datada de 3 de Dezembro de 2006:
(...) O INA tem de facto uns vídeos muito interessantes, descobri-os há uns meses e adquiri para já os da Guiné. Gravei-os num DVD e, se os não tiveres, ainda envio-tos pelo correio.
Tirei algumas fotos dos filmes, arte que não domino e achei interessante enviar-tas, a propósito da questão que o João Tunes levantou sobre os OUTROS. Os OUTROS não falam, os que directamente dialogaram connosco a tiro, não dão a cara, por motivos bem compreensíveis. Muitos já morreram e a maior parte não deve dominar a informática.
Seria de um inestimável valor fechar este ciclo com uma espécie de encontro de ex-combatentes de um lado e doutro. Em Guileje, porque não? Estou a apreciar muito a entrada dos novos camaradas, alguns com notável escrita. Estou a lembrar-me do Torcato, por ex. Até um dia destes. Um abraço,
vb
3. Mail enviado em 10 de Dezembro de 2006:
Caro Luís,
Mando-te amanhã um dvd com os 9 filmes da série Guiné. Em relação ao INA, junto cópia da mensagem que enviei há cerca de uma semana e ainda não obtive resposta.
Chers Mrs,
Nous sommes un group de plus de 100 anciens combattants de la guerre coloniale en Guinnée-Bissau et nous sommes réunis dans un blog Luis Graça e Camaradas où nous parlons de notre expérience dans le terrain guinnéen. Nous avons beaucoup d' histoires de la guerre coloniale et de centaines de photos, de 1965 à 1974.
J'ai découvert l' I.N.A. et les films que vous avez de cette període. J'ai dejá acheté la plupart de vôtres films et nous vous prions votre pérmis de linker l' I.N.A. à notre blog, bien comme votre authorisation pour obtenir des photos des films a fin de les publier dans le blog.
Nous remercions beaucoup votre attention et nous ne pouvons pas oublier l'inestimable contribut de l' Institut National de l' Audiovisuel pour documenter cette période de la colonisation en Afrique.
V. Briote
4. Resposta do INA, com data de 10 de Dezembro de 2006:
Subject: Votre demande de contact sur ina.fr a été prise en compte
Bonjour,
Nous avons bien reçu votre demande et nous vous confirmons sa prise en compte.
Nos équipes mettent tout en œuvre pour vous apporter une réponse dans les meilleurs délais.
A respota do INA veio-nos no dia 14 de Dezembro, autorizando-nos a inserir um link para o sítio francês, mas não a disponiblizar qualquer vídeo do INA no nosso blogue...
Cher monsieur Briote,
Nous vous remercions de l'intérêt que vous portez à nos archives, nous nous réjouissons que vous ayiez pu retrouver des documents qui vous tenaient à coeur.
Vous pouvez bien entendu faire un lien (link) vers les documents qui vous intéressent depuis votre blog. En revanche, pour l'instant, vous ne pouvez pas proposer la vidéo directement sur votre blog.
Pourriez-vous nous envoyer l'adresse de votre blog ? Merci encore pour vos encouragements.
Cordialement,
Nadine Laubacher
Ina.fr - responsable marketing et commercial
5. A minha mensagem ao Virginio, enviada a
Óptimo, querido amigo... Podemos fazer links e fazer uma pequena apresentação em português (para quem tiver mais dificuldade em compreender o francês, o que deve ser a grande maioria)…
Já tenho um texto de apresentação sobre o vídeo de Copá (+/- 12m), com uma tradução quase literal... Se quiseres partilhar esta tarefa comigo, seria óptimo... Ou melhor: vou abrir uma série sobre vídeos, a teu cargo...Serás o apresentador oficial destes vídeos, já que foste tu que descobriste a fonte e pagaste para os visionar... Concordas ?
Já mandaste ao INA a URL (o endereço) dos nossos blogues ? Já percebi que eles também estão interessados nos nossos materiais (...).
6. Finalmente, recebo luz verde do Virg+inio (5 de Janeiro de 2007):
Caro Luís,
Estive a dar uma vista de olhos pelos filmes e fiz um pequeno resumo que te envio em anexo. Não deve estar perfeito, mas penso que o essencial está lá. Se quiseres um resumo mais pormenorizado, depressa se faz.
Entretanto e para ficarmos com uma visão mais alargada comprei ao INA todos os documentos que eles têm da guerra da Guiné. Enviei também um mail à RTP, pedindo informações sobre a possibilidade de aquisição de filmes daquele tempo. E, depois, fazer depois um dvd com os aspectos mais relevantes.
Um ano feliz para o foranada. E um abraço para ti,
vb
LE GRAND JOUR (depois do 25/4) (cerca de 12 m).
António Borges fala à população.“Somos, enfim Livres”!
Termina com vivas ao PAIGC e a Portugal. Manuel Santos, Manecas fala do programa do Partido, do combate contra o tribalismo. Imagens de guerrilheiros em formatura.- Imagens de Copa (leste) abandonada pelas NT.- Manuel Batoréo, jornalista português conversa com Manecas. Guerrilheiros em difícil progressão no terreno lodoso. Armazéns do Povo em funcionamento, escola. "Regime nacionalista, democrático, é o que queremos”, diz Manecas.
É verdade: infelizmente, falamos aqui pouco dos homens e das mulheres que lutaram contra nós. Somos parcos em palavras, quando nos referimos a eles (e elas): IN, inimigo, turras, PAIGC… Uma vez por outro, guerrilheiros, combatentes, nacionalistas…
Tínhamos uma visão local do conflito: gente de Madina/Belel, escreve o Beja Santos em Missirá…Vizinhos, ao fim e ao cabo. Indesejáveis vizinhos que lutavam pelo controlo de recursos, território, bolanhas, rios, trilhos, picadas e, sobretudo, populações, almas, corpos, braços e pernas…
Fazíamos visitas uns aos outros, de vez em quando. Nada amistosas, por sinal. E a desoras. Às tantas da manhã, ou da noite. Muito raramente ao meio dia. A hora do almoço era sagrada. Tínhamos uma estranha maneira de nos cumprimentar quando nos cruzávamos no mato… Às vezes, aleijávamo-nos mutuamente. Às vezes matávamo-nos, uns aos outros.
Que sabíamos nós dos outros ? Conhecíamos as suas armas, sabíamos distinguir o cantar da costureirinha , o matraquear da kalash, o silvo da morteiro… A cor e o feitio das granadas, de RPG ou de canhão sem recuo… Mas, e os homens, e as mulheres, as crianças e os velhos que viviam no mato (regiões libertadas, diziam eles). Viamo-los, ao longe, quase sempre do ar, a cultivar o arroz na bolanha ou na montar segurança na orla da floresta…
Uma vez por ano, na época seca, fazíamos raides punitivos e queimávamos umas tantas moranças e algumas toneladas de arroz… Mas a maior parte dos dias, das semanas e dos meses, ficávamos nos nossos aquartelamentos e destacamentos a guardar a bandeira nacional, o símbolo da nossa soberania.
Quem era essa gente que nos atacava, quase sempre, à socapa, emboscada, escondida atrás das árvores e dos bagabagas, ocultos pelo capim alto ou pelo breu da noite ? Às vezes lá apanhávamos um ou outro, vivo, armado ou desarmado…
Quem era essa estranha gente que nos combatia e que, mais tarde, já lá para o final da guerra, é capaz de gritar:
- Viva Portugal, abaixo o colonialismo ?
De há uns meses a esta parte tenho estado a incentivar o Virgínio Briote para fazer uma exploração e uma pequena apresentação dos vídeos sobre a guerrilha do PAIGC que estão disponíveis no sítio do INA - Institut National de l' Audiovisuel
2. Mensagem do Virgínio Briote, datada de 3 de Dezembro de 2006:
(...) O INA tem de facto uns vídeos muito interessantes, descobri-os há uns meses e adquiri para já os da Guiné. Gravei-os num DVD e, se os não tiveres, ainda envio-tos pelo correio.
Tirei algumas fotos dos filmes, arte que não domino e achei interessante enviar-tas, a propósito da questão que o João Tunes levantou sobre os OUTROS. Os OUTROS não falam, os que directamente dialogaram connosco a tiro, não dão a cara, por motivos bem compreensíveis. Muitos já morreram e a maior parte não deve dominar a informática.
Seria de um inestimável valor fechar este ciclo com uma espécie de encontro de ex-combatentes de um lado e doutro. Em Guileje, porque não? Estou a apreciar muito a entrada dos novos camaradas, alguns com notável escrita. Estou a lembrar-me do Torcato, por ex. Até um dia destes. Um abraço,
vb
3. Mail enviado em 10 de Dezembro de 2006:
Caro Luís,
Mando-te amanhã um dvd com os 9 filmes da série Guiné. Em relação ao INA, junto cópia da mensagem que enviei há cerca de uma semana e ainda não obtive resposta.
Chers Mrs,
Nous sommes un group de plus de 100 anciens combattants de la guerre coloniale en Guinnée-Bissau et nous sommes réunis dans un blog Luis Graça e Camaradas où nous parlons de notre expérience dans le terrain guinnéen. Nous avons beaucoup d' histoires de la guerre coloniale et de centaines de photos, de 1965 à 1974.
J'ai découvert l' I.N.A. et les films que vous avez de cette període. J'ai dejá acheté la plupart de vôtres films et nous vous prions votre pérmis de linker l' I.N.A. à notre blog, bien comme votre authorisation pour obtenir des photos des films a fin de les publier dans le blog.
Nous remercions beaucoup votre attention et nous ne pouvons pas oublier l'inestimable contribut de l' Institut National de l' Audiovisuel pour documenter cette période de la colonisation en Afrique.
V. Briote
4. Resposta do INA, com data de 10 de Dezembro de 2006:
Subject: Votre demande de contact sur ina.fr a été prise en compte
Bonjour,
Nous avons bien reçu votre demande et nous vous confirmons sa prise en compte.
Nos équipes mettent tout en œuvre pour vous apporter une réponse dans les meilleurs délais.
A respota do INA veio-nos no dia 14 de Dezembro, autorizando-nos a inserir um link para o sítio francês, mas não a disponiblizar qualquer vídeo do INA no nosso blogue...
Cher monsieur Briote,
Nous vous remercions de l'intérêt que vous portez à nos archives, nous nous réjouissons que vous ayiez pu retrouver des documents qui vous tenaient à coeur.
Vous pouvez bien entendu faire un lien (link) vers les documents qui vous intéressent depuis votre blog. En revanche, pour l'instant, vous ne pouvez pas proposer la vidéo directement sur votre blog.
Pourriez-vous nous envoyer l'adresse de votre blog ? Merci encore pour vos encouragements.
Cordialement,
Nadine Laubacher
Ina.fr - responsable marketing et commercial
5. A minha mensagem ao Virginio, enviada a
Óptimo, querido amigo... Podemos fazer links e fazer uma pequena apresentação em português (para quem tiver mais dificuldade em compreender o francês, o que deve ser a grande maioria)…
Já tenho um texto de apresentação sobre o vídeo de Copá (+/- 12m), com uma tradução quase literal... Se quiseres partilhar esta tarefa comigo, seria óptimo... Ou melhor: vou abrir uma série sobre vídeos, a teu cargo...Serás o apresentador oficial destes vídeos, já que foste tu que descobriste a fonte e pagaste para os visionar... Concordas ?
Já mandaste ao INA a URL (o endereço) dos nossos blogues ? Já percebi que eles também estão interessados nos nossos materiais (...).
6. Finalmente, recebo luz verde do Virg+inio (5 de Janeiro de 2007):
Caro Luís,
Estive a dar uma vista de olhos pelos filmes e fiz um pequeno resumo que te envio em anexo. Não deve estar perfeito, mas penso que o essencial está lá. Se quiseres um resumo mais pormenorizado, depressa se faz.
Entretanto e para ficarmos com uma visão mais alargada comprei ao INA todos os documentos que eles têm da guerra da Guiné. Enviei também um mail à RTP, pedindo informações sobre a possibilidade de aquisição de filmes daquele tempo. E, depois, fazer depois um dvd com os aspectos mais relevantes.
Um ano feliz para o foranada. E um abraço para ti,
vb
LE GRAND JOUR (depois do 25/4) (cerca de 12 m).
António Borges fala à população.“Somos, enfim Livres”!
Termina com vivas ao PAIGC e a Portugal. Manuel Santos, Manecas fala do programa do Partido, do combate contra o tribalismo. Imagens de guerrilheiros em formatura.- Imagens de Copa (leste) abandonada pelas NT.- Manuel Batoréo, jornalista português conversa com Manecas. Guerrilheiros em difícil progressão no terreno lodoso. Armazéns do Povo em funcionamento, escola. "Regime nacionalista, democrático, é o que queremos”, diz Manecas.
Guiné 63/74 - P1957: Em busca de... (1): Antanho Victor Ribeiro Mendes Godinho, Cap Mil, CART 3492, Xitole, 1972/74 (Álvaro Basto)
1. Mensagem do Alvaro Basto (1) para Manuel Cruz:
Caro Manuel Silva F. Cruz:
Antes de mais gostaria de lhe pedir desculpa por esta abordagem mas, percorrendo o Blogue do Luís Graça, descobri que foi Capitão Miliciano na Guiné e comandante da CART 3493 [,BART 3873, Mansambo e Cobumba, 1972/74].
Eu fui Furriel Enfermeiro no Xitole, na mesma altura, na CART 3492 [, pertencente ao mesmo BART, com sede em Bambadinca,] e, com algum tempo livre actualmente, tenho-me dedicado a executar buscas no sentido de recolher informações actualizadas de todos os oficiais, sargentos e praças com quem (con)vivi de Novembro de 71 a Abril de 74 por terras de África.
Ora acontece que praticamente só me falta o contacto do Antanho Victor Ribeiro Mendes Godinho, na altura capitão miliciano da nossa CART e que decerto conheceu bem por força das responsabilidades que na altura sem dúvida partilharam.
Gostaria de saber se por acaso não tem um contacto qualquer dele, já que todas as tentativas que fiz no sentido de o encontrar têm sido goradas.
Antecipadamente grato e com votos de boa saúde, receba as minhas saudações amigas.
Álvaro Basto
_____________
Nota dos editores:
(1) Vd. post de 26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1888: Tabanca Grande (19): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf, CART 3492/BART 3873 (Xitole, 71/74)
Guiné 63/74 - P1956: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (2): Passa-se fome, muita fome
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª Companhia de Comandos > 1972 > O Comando Amílcar Mendes.
Guiné > Bissau > Brá > 38 CCmds > "Dia 14 de Agosto de 1972, na véspera de partir para Gampará, recebi o Crachá no quartel dos Comandos em Brá" (AM).
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > 38ª CCmds > "Estou atrás, à esquerda. Em segundo plano com o braço metido na ligadura o 1º cabo Cmd Simão que um ano mais tarde viria a morrer na ponte do Bachile" (AM).
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38 ª CCmds > 1972 > "Como vês, alojamentos de primeira classe. A ventoinha que aparece na imagem, nunca trabalhou em Gampará" (AM).
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª CCmds > 1972 > Gampará > "Eu, à direita, a almoçar na tabanca do padeiro. À esquerda o Sold Cmd Balsinha, de Borba, e ao meio o padeiro. Dias mais tarde num ataque a padaria foi c'os porcos " (AM).
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª CCmds > 1972 > "Começa a notar-se os efeitos de uma boa alimentação..." (AM).
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará), "assinalando a passagem da minha Companhia" por Gampará (AM). Vê-se que por ali também passaram, ao servlço do COP (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o Pel Art 29 e o Pel Mil 331.
Fotos e legendas: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Amílcar Mendes, com data de 24 de Junho de 2007:
Amigo Luís Graça: Assim que puder vou-te mandar a continuação do diário (III parte). Podes publicar o documento e as fotos que te envio, mas ressalvando sempre os direitos de autor.
Um abraço do A. Mendes,
ex-1º Ccabo Cmd da 38ª CCmds
2. Continuação de Diário de um Comando: Gampará (Agosto a Dezembro de 1972) > II Parte (1)
2ª quinzena de Agosto de 1972
Passa-se fome, mesmo muita fome. Saímos em patrulhamentos ofensivos dia sim dia não, para as regiões de Campana, Nhala, Guebambol, Ganjaurá, Sama, Gambachicha, etc. etc.
Dormimos em colchões pneumáticos mas já há muito que não tenho esse luxo porque as formigas roeram-me o colchão por baixo e estou a dormir no chão. A luz vem de candeeiros improvisados: uma garrafa de cerveja com gásoleo e com corda a servir de pavio.
Come-se muito mal, a não ser algum cabrito roubado ou alguns papagaios que se matam e o resto é bianda com marmelada, bianda com chouriço, bolachas com bianda e assim se vai vivendo. Perdi cerca de 10 kg até agora.
Tivemos problemas sérios com a população. O 1º cabo Simão (que meses mais tarde viria a morrer na estrada Teixeira Pinto -Cacheu) roubou um porco que se matou e assou no forno do padeiro para melhorar um pouco a diete do pessoal. Só que, e sabe-se lá como, o Homem Grande da tabanca descobriu e foi-se queixar ao comandante. Fomos obrigados a pagar o porco e de castigo fomos p'rá mata.
10 de Setembro de 1972
Os cabos da Companhia reuniram-se hoje todos e fomos falar com o comandante Capitão Pinto Ferreira. As condições de alimentação e dormida são péssimas e a intensa actividade operacional está a levar-nos a zero.
26 de Setembro de 1972
Hoje faço anos. Como prenda sai para o mato e à noite quando cheguei tinha muitas cartas e uma encomenda com alguns petiscos que desapareceram todos num instante.
13 de Setembro de 1972
Saímos hoje para uma operação helitransportada e vou anexar os relatórios (Acção Águia Errante):
38ª CCmds - História da Unidade > Cap II, página 9 > Registo da actividade da actividade operacional, em 12, 13, 16 e 18 do mês de Setembro de 1972, com destaque para o dia 13: Acção Águia Errante
Foto: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.
Missão: (
Guiné > Bissau > Brá > 38 CCmds > "Dia 14 de Agosto de 1972, na véspera de partir para Gampará, recebi o Crachá no quartel dos Comandos em Brá" (AM).
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > 38ª CCmds > "Estou atrás, à esquerda. Em segundo plano com o braço metido na ligadura o 1º cabo Cmd Simão que um ano mais tarde viria a morrer na ponte do Bachile" (AM).
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38 ª CCmds > 1972 > "Como vês, alojamentos de primeira classe. A ventoinha que aparece na imagem, nunca trabalhou em Gampará" (AM).
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª CCmds > 1972 > Gampará > "Eu, à direita, a almoçar na tabanca do padeiro. À esquerda o Sold Cmd Balsinha, de Borba, e ao meio o padeiro. Dias mais tarde num ataque a padaria foi c'os porcos " (AM).
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª CCmds > 1972 > "Começa a notar-se os efeitos de uma boa alimentação..." (AM).
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará), "assinalando a passagem da minha Companhia" por Gampará (AM). Vê-se que por ali também passaram, ao servlço do COP (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o Pel Art 29 e o Pel Mil 331.
Fotos e legendas: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Amílcar Mendes, com data de 24 de Junho de 2007:
Amigo Luís Graça: Assim que puder vou-te mandar a continuação do diário (III parte). Podes publicar o documento e as fotos que te envio, mas ressalvando sempre os direitos de autor.
Um abraço do A. Mendes,
ex-1º Ccabo Cmd da 38ª CCmds
2. Continuação de Diário de um Comando: Gampará (Agosto a Dezembro de 1972) > II Parte (1)
2ª quinzena de Agosto de 1972
Passa-se fome, mesmo muita fome. Saímos em patrulhamentos ofensivos dia sim dia não, para as regiões de Campana, Nhala, Guebambol, Ganjaurá, Sama, Gambachicha, etc. etc.
Dormimos em colchões pneumáticos mas já há muito que não tenho esse luxo porque as formigas roeram-me o colchão por baixo e estou a dormir no chão. A luz vem de candeeiros improvisados: uma garrafa de cerveja com gásoleo e com corda a servir de pavio.
Come-se muito mal, a não ser algum cabrito roubado ou alguns papagaios que se matam e o resto é bianda com marmelada, bianda com chouriço, bolachas com bianda e assim se vai vivendo. Perdi cerca de 10 kg até agora.
Tivemos problemas sérios com a população. O 1º cabo Simão (que meses mais tarde viria a morrer na estrada Teixeira Pinto -Cacheu) roubou um porco que se matou e assou no forno do padeiro para melhorar um pouco a diete do pessoal. Só que, e sabe-se lá como, o Homem Grande da tabanca descobriu e foi-se queixar ao comandante. Fomos obrigados a pagar o porco e de castigo fomos p'rá mata.
10 de Setembro de 1972
Os cabos da Companhia reuniram-se hoje todos e fomos falar com o comandante Capitão Pinto Ferreira. As condições de alimentação e dormida são péssimas e a intensa actividade operacional está a levar-nos a zero.
26 de Setembro de 1972
Hoje faço anos. Como prenda sai para o mato e à noite quando cheguei tinha muitas cartas e uma encomenda com alguns petiscos que desapareceram todos num instante.
13 de Setembro de 1972
Saímos hoje para uma operação helitransportada e vou anexar os relatórios (Acção Águia Errante):
38ª CCmds - História da Unidade > Cap II, página 9 > Registo da actividade da actividade operacional, em 12, 13, 16 e 18 do mês de Setembro de 1972, com destaque para o dia 13: Acção Águia Errante
Foto: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.
Missão: (
i) Acção de patrulhamento, emboscada e golpes de mão imediatos na região de Lagoa de Bionrá; (ii) Destruir instalações e meios de vida, criando um clima de instabilidade; (iii) Cpaturar ou aniquilar os elementos IN que se revelem e recuperar as opopulações.
Força Executante: 3 Gr Comb actuando isoladamente.
Força Executante: 3 Gr Comb actuando isoladamente.
Planos estabelecidos para acção:
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(i) Helitransportados os 3 Gr Comb, colocando-se na parte Norte de Lagoa de Bionrá, em locais diferentes,s endo recuperados de helicóptero a Norte de Farená Beafada; (ii) Apoio de DCON (DO 27 armado), em alerta no solo de Bissau e helicanhão, assim como helicópteriod e evacuações, em alerta no solo de Gampará; (iii) Apoio do Pel Art sediado em Gampará.
Duração da acção: 12 horas
Resultados obtidos:
(i) Pelo IN, 2 mortos e vários feridos, visto terem, sido deixados vários rastos de sangue; (ii) Feita a captura do seguinte material: 1 Met Lig Degtyarev; 1 Esp Semi-Aut Simonov; 1 Tambor de Met Lig Degtyarev com munições.
(i) Pelo IN, 2 mortos e vários feridos, visto terem, sido deixados vários rastos de sangue; (ii) Feita a captura do seguinte material: 1 Met Lig Degtyarev; 1 Esp Semi-Aut Simonov; 1 Tambor de Met Lig Degtyarev com munições.
(Continua)
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post anterior > 7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1930: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (1): Um sítio desolador
(...) "15 de Agosto de 1972:
(...) "Gampará à vista! Desolador! O quartel é só tabancas que a tropa divide com a POP, arame farpado a toda a volta e uma dúzia de torreões com sentinelas. É aqui que iremos viver até quando calhe" (...).
(...) "15 de Agosto de 1972:
(...) "Gampará à vista! Desolador! O quartel é só tabancas que a tropa divide com a POP, arame farpado a toda a volta e uma dúzia de torreões com sentinelas. É aqui que iremos viver até quando calhe" (...).
domingo, 15 de julho de 2007
Guiné 63/74 - P1955: 300 mil, vítimas de stresse pós-traumático de guerra: estude-nos depressa, doutora (Virgínio Briote)
1. Excerto de artigo publicad0 hoje no Diário de Notícias ("Guerra sem fim")
(...) Continuam em combate trinta anos após o fim da guerra colonial. À noite, são assolados pelas imagens de morte e chacina e, de dia, perpetuam o medo e a angústia. Vivem mal com eles próprios e com os outros. Uma equipa coordenada pela psicóloga Ângela Maia, tentou saber quem são e como vivem hoje os ex-combatentes. Concluiu que, no mínimo, 300.000 homens poderão estar profundamente doentes e abandonados à sua sorte. (...)
2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:
Toca-nos a todos. Não ficou nas matas e bolanhas da Guiné. Veio connosco nos Uíges e Niassas, pôs os pés em terra na Conde de Óbidos, entrou nas nossas casas. Muitos dos nossos pais, das nossas mulheres, dos nossos filhos, sentiram que havia algo em nós que não batia certo. Um assunto a continuar a debater, até que já não haja vestígio de ex-combatentes.
vb
(...) Continuam em combate trinta anos após o fim da guerra colonial. À noite, são assolados pelas imagens de morte e chacina e, de dia, perpetuam o medo e a angústia. Vivem mal com eles próprios e com os outros. Uma equipa coordenada pela psicóloga Ângela Maia, tentou saber quem são e como vivem hoje os ex-combatentes. Concluiu que, no mínimo, 300.000 homens poderão estar profundamente doentes e abandonados à sua sorte. (...)
2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:
Toca-nos a todos. Não ficou nas matas e bolanhas da Guiné. Veio connosco nos Uíges e Niassas, pôs os pés em terra na Conde de Óbidos, entrou nas nossas casas. Muitos dos nossos pais, das nossas mulheres, dos nossos filhos, sentiram que havia algo em nós que não batia certo. Um assunto a continuar a debater, até que já não haja vestígio de ex-combatentes.
vb
Guiné 63/74 - P1954: Tabanca Grande (25): Apresenta-se Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha (2ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Jugudul, 1972/74)
Foto: © A. Marques Lopes (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem de Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha para o nosso amigo Luís Miguel da Silva Malú (1), com conhecimento ao editor do blogue. Data: 18 de Junho de 2007.
Caro Luís Miguel:
Sou engenheiro civil, trabalho na REFER-EP e estive em Bedanda entre Junho e Setembro de 1974 – no final de um período de dois anos de Guiné, de 1972 a 1974.
Quando cheguei a Bedanda encontrei lá um antigo companheiro da Escola Secundária de Guimarães (período de 1960 a 1965), ao tempo dono (por parte do Pai dele) de uma mercearia.
Durante o tempo de permanência em Bedanda almocei e jantei em casa dele. Quer com ele, quer com conterrâneos seus ao tempo a estudar em Coimbra e em Lisboa, fazíamos, sobretudo ao fim de semana, autênticas tertúlias culturais e políticas.
Será possível saber o nome e morada desse amigo?
Um abraço e bem vindo à tertúlia.
Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha
TM > 91 891 2563
2. Mensagem enviada ao Luís Graça:
Só há dias soube do teu blogue e da tertúlia. Estive na Guiné no BCAÇ 4612/72 (1972/74), 2ª Companhia, no Jugudul. A sede do Batalhão era em Mansoa (onde às tantas até conheci o Pai do Luís Miguel!).
Além do Jugudul, estive em Cufar e em Bedanda…..
Os meus parabéns pelo teu trabalho e também de todos os que têm participado nesse extraordinário documentário.
Se possível gostaria de fazer parte desta tertúlia. Adoro África... A minha Mãe nasceu em Angola e o meu Avô está lá sepultado.
Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha
3. Comentário de L.G.:
Meu caro Jorge: Desculpa o atraso nas boas vindas. És seguramente bem vindo à nossa Tabanca Grande. Fico a aguardar as fotos da praxe. Espero também que nos contes mais estórias sobre os sítios por onde andaste, e nomeadamente sobre Jugudul. Já cá temos pelo menos um camarada do teu batalhão, o Jorge Canhão , que pertencia à 3ª Companhia (2). Sobre Jugudul, encontrei um post, do A. Marques Lopes (que lá esteve em 2006, com mais camaradas da nossa tertúlia). Como podes ver, o teu antigo aquartelamento é hoje uma destilaria de cana (3).
_____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 19 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1858: Tabanca Grande (14): Engº Luís Miguel da Silva Malú, nascido em Bedanda, em 1973, doutorando em urbanismo (Luís Graça)
(2) Vd. post de 18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1855: Tabanca Grande (13): Apresenta-se o ex-Fur Mil At Inf Jorge Canhão, da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72
(3) Vd. post de 7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P854: Do Porto a Bissau (26): leitão à moda de Jugudul (A. Marques Lopes)
Guiné 63/74 - P1953: O cruzeiro das nossas vidas (6): Ou a estória de uma garrafa, com o SPM de Mansoa, que viajou até às Bahamas (Germano Santos)
O Carvalho Araújo (1930-1973), um navio da frota da Empresa Insulana de Navegação (1871-1974). Por quem se interessa pela história da nossa marimha mercante, recomendo o belíssimo sítio do Carlos Alberto Monteiro, que é um velho passageiro da Insulana, e em especial do Funchal, e um apaixonado coleccionador de postais e outros documentos relacionados com a frota da Insulana.
Foto: Ships Insulana, página de Carlos Albert Monteiro (2006) (com a devida vénia...).
Guiné > Região do Oio > Mansoa > 1971 > "Foto 16 - Na rua principal de Mansoa. Eu estou de camuflado com o meu amigo Sampaio, de Guimarães, infelizmente falecido o ano passado" (GS)
Fotos e legendas: © Germano Santos (2007). Direitos reservados.
1. Texto do Germano Santos, ex-operador cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Mansoa, (1)
Caro Luís Graça,
Conforme prometido há já uns tempos, aqui vai, finalmente, a minha história sobre a garrafa que decidiu dar uma grande volta marítima.
É uma história sem guerra, mas que nasceu do facto de eu ter ido para a guerra.
Como sabes, eu fui Operador Cripto (1), logo não operacional, e portanto a minha guerra foi muito diferente das guerras de alguns dos nossos camaradas.
Contudo, também sei o que é a guerra, através das diversas flagelações que Mansoa sofreu durante a minha estada por lá.
Também vi coisas que não queria ver; também passei por coisas que não desejava ter passado, etc.
Mas falemos então da viagem da minha garrafa, que começa exactamente na minha viagem para a Guiné.
Estamos em 1970, 19 de Dezembro, quando a bordo do navio Carvalho Araújo (2) - que até aí, segundo me relataram, fazia constantemente o transporte de gado dos Açores para o Continente - inicia a sua viagem para a Guiné o Batalhão de Caçadores 3832, formado pela CCS e pelas Companhias de Caçadores 3303, 3304 e 3305. Eu era um dos dois Operadores de Cripto desta última Companhia.
Este início de viagem não correu lá muito bem, dado que logo nesse dia o navio avariou e passámos a noite sob a ponte 25 de Abril.
Porém, lá fomos navegando e a certa altura mais me parecia que estava num barco de amotinados do que outra coisa qualquer, tal era a quantidade de gente mal embriagada e indisposta com a viagem.
Convém referir que estávamos em vésperas de Natal e passar esta quadra festiva, longe da família e a caminho da guerra, não era evidentemente o que nós desejávamos mais.
Já não me recordo muito bem, mas nesse dia de Natal ou no dia a seguir, alguns de nós - talvez uns quatro ou cinco - decidimos carpir as nossas mágoas com alguém que estivesse noutras paragens, e do mar nos quisemos servir como meio de comunicação. Vai daí, lançámos ao mar algumas garrafas com as mais variadas mensagens. A minha era tão só um cartão de visita, no qual acrescentei o SPM do Batalhão ou do local para onde íamos (Mansoa).
O tempo foi passando e a guerra também.
E surpresa das surpresas. Em finais de Janeiro de 1972 (um ano e pouco após ter deitado ao mar a garrafa), recebo uma carta proveniente dos Estados Unidos da América, mais concretamente de Milwaukee, datada de 19 de Janeiro desse ano e assinada por uma Senhora de nome Lillian Drake, dando-me conta de ter encontrado a garrafa com o meu cartão.
Como não sabia inglês, fui pedir ajuda ao meu Major de Operações - o saudoso, porque falecido, Major Cerqueira Rocha, irmão do então, salvo êrro, Comandante Chefe das Forças Armadas em Portugal (não sei se era assim a designação, mas fica a idéia). Quero deixar aqui uma palavra de muito apreço para os familiares do Major Cerqueira Rocha, um militar e um homem extraordinário, com quem foi um prazer conviver durante dois anos na Guiné.
Foi ele que me leu a carta e que, tal como eu, ficou muito surpreendido por tudo o que nela era referido.
Dizia a Senhora que tinha encontrado a garrafa na Ilha de Eleuthera, nas Bahamas, a pouca distância do continente norte-americano, em 10 de Dezembro de 1971 quando se encontrava naquela ilha a visitar amigos. Mais dizia que estava a passear na praia, apanhando conchas e outras coisas, quando reparou na garrafa. Na carta perguntava-me quando e onde é que eu a tinha atirado ao mar.
Passados dias, com a ajuda do meu Major, satisfiz a curiosidade dela.
Aproveito para informar que naquela altura as Bahamas eram pertença dos Estados Unidos da América, sendo, desde 1973, um país independente.
Já após ter regressado a Portugal, tive oportunidade de me deslocar à Embaixada dos Estados Unidos da América e falado com um funcionário sobre esta história. Na altura esse funcionário pedíu-me para esperar um pouco e, passados uns minutos, fui recebido pelo Embaixador que ficou encantado com o ocorrido, e fez o favor de me mostrar não só o mapa americano como o Atlas, para me explicar todo o percurso que a garrafa tinha feito desde o Golfo da Guiné até às Bahamas.
Também li recentemente que o percurso efectuado pela minha garrafa está dentro das 50 maiores distâncias até hoje percorridas por uma garrafa lançada ao mar.
Eu sei que não é uma história de guerra, mas sem a minha ida para a guerra esta história não existiria.
Se achares que é interessante para colocar no blogue, força.
Um grande abraço.
Germano Santos
2. Comentário de L.G.:
Meu caro Germano: Aqui aparece todo o tipo de estórias, umas mais trágicas ou dramáticas, outras mais cómicas ou divertidas, umas outras ainda mais intimistas e pessoais... Estórias de guerra, de amor, de paz, de camaragem, de solidariedade, de humor... Todas elas estórias de homens (e de mulheres), afectados directa ou indirectamente por uma guerra. A tua estória merece a melhor atenção de nós, até pelo seu insólito e pelo seu simbolismo: o mar, apesar da sua imensa vastidão, é também um ponto de encontro...
Como já tive ocasião de te dizer, tenho uma estória parecida com essa. Um vizinho meu, da Lourinhã, costumava ir pescar para a Praia da Peralta, a sul da Praia da Areia Branca. Isto por volta de meados da década de 1960. Um belo dia apanhou, na praia, um garrafa de gin ou de rum, com uma carta lá dentro, redigida em inglês. De regresso a casa, deu a carta a ler à minha irmã. Era de um súbdito de Sua Majestade a Rainha de Inglaterra, embarcado num navio da Royal Navy. Ela mesmo respondeu à carta, com a mimnha ajuda, e fez um novo amigo. O marinheiro Barry começou a trocar correspondência com ela. Hoje, passados mais de quarenta anos, continuam amigos. E já se visitaram várias vezes: ele veio a Portugal, ela foi a Inglaterra... Ele inclusive aprendeu a falar e a escrever o português!...
Parabéns pela estória e pela tua garrafa que, na época, bem poderia ter entrado para o livro de recordes do Guiness (que já existia, desde 1951)... Obrigado pelas fotos (cerca de 20) que tu me mandaste, algumas da bela vila de Mansoa que tu ainda conheceste. Fica também aqui uma correcção: tu nunca pertenceste à CCS do BCAÇ 3832, mas sim à CCAÇ 3305, desse batalhão.
_______________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1814: Tabanca Grande (8): Apresenta-se o Operador Cripto da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 (Mansoa, 1970/73) , Germano Santos
11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73
12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1840: A trágica história dos sapadores Alho e Fernandes da CCS do BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73 (César Dias / Gerrmano Santos)
(2) Vd. posts anteriores desta série:
11 de Janeiro de 2007> Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)
21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)
21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)
19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)
12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)
Foto: Ships Insulana, página de Carlos Albert Monteiro (2006) (com a devida vénia...).
Guiné > Região do Oio > Mansoa > 1971 > "Foto 16 - Na rua principal de Mansoa. Eu estou de camuflado com o meu amigo Sampaio, de Guimarães, infelizmente falecido o ano passado" (GS)
Fotos e legendas: © Germano Santos (2007). Direitos reservados.
1. Texto do Germano Santos, ex-operador cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Mansoa, (1)
Caro Luís Graça,
Conforme prometido há já uns tempos, aqui vai, finalmente, a minha história sobre a garrafa que decidiu dar uma grande volta marítima.
É uma história sem guerra, mas que nasceu do facto de eu ter ido para a guerra.
Como sabes, eu fui Operador Cripto (1), logo não operacional, e portanto a minha guerra foi muito diferente das guerras de alguns dos nossos camaradas.
Contudo, também sei o que é a guerra, através das diversas flagelações que Mansoa sofreu durante a minha estada por lá.
Também vi coisas que não queria ver; também passei por coisas que não desejava ter passado, etc.
Mas falemos então da viagem da minha garrafa, que começa exactamente na minha viagem para a Guiné.
Estamos em 1970, 19 de Dezembro, quando a bordo do navio Carvalho Araújo (2) - que até aí, segundo me relataram, fazia constantemente o transporte de gado dos Açores para o Continente - inicia a sua viagem para a Guiné o Batalhão de Caçadores 3832, formado pela CCS e pelas Companhias de Caçadores 3303, 3304 e 3305. Eu era um dos dois Operadores de Cripto desta última Companhia.
Este início de viagem não correu lá muito bem, dado que logo nesse dia o navio avariou e passámos a noite sob a ponte 25 de Abril.
Porém, lá fomos navegando e a certa altura mais me parecia que estava num barco de amotinados do que outra coisa qualquer, tal era a quantidade de gente mal embriagada e indisposta com a viagem.
Convém referir que estávamos em vésperas de Natal e passar esta quadra festiva, longe da família e a caminho da guerra, não era evidentemente o que nós desejávamos mais.
Já não me recordo muito bem, mas nesse dia de Natal ou no dia a seguir, alguns de nós - talvez uns quatro ou cinco - decidimos carpir as nossas mágoas com alguém que estivesse noutras paragens, e do mar nos quisemos servir como meio de comunicação. Vai daí, lançámos ao mar algumas garrafas com as mais variadas mensagens. A minha era tão só um cartão de visita, no qual acrescentei o SPM do Batalhão ou do local para onde íamos (Mansoa).
O tempo foi passando e a guerra também.
E surpresa das surpresas. Em finais de Janeiro de 1972 (um ano e pouco após ter deitado ao mar a garrafa), recebo uma carta proveniente dos Estados Unidos da América, mais concretamente de Milwaukee, datada de 19 de Janeiro desse ano e assinada por uma Senhora de nome Lillian Drake, dando-me conta de ter encontrado a garrafa com o meu cartão.
Como não sabia inglês, fui pedir ajuda ao meu Major de Operações - o saudoso, porque falecido, Major Cerqueira Rocha, irmão do então, salvo êrro, Comandante Chefe das Forças Armadas em Portugal (não sei se era assim a designação, mas fica a idéia). Quero deixar aqui uma palavra de muito apreço para os familiares do Major Cerqueira Rocha, um militar e um homem extraordinário, com quem foi um prazer conviver durante dois anos na Guiné.
Foi ele que me leu a carta e que, tal como eu, ficou muito surpreendido por tudo o que nela era referido.
Dizia a Senhora que tinha encontrado a garrafa na Ilha de Eleuthera, nas Bahamas, a pouca distância do continente norte-americano, em 10 de Dezembro de 1971 quando se encontrava naquela ilha a visitar amigos. Mais dizia que estava a passear na praia, apanhando conchas e outras coisas, quando reparou na garrafa. Na carta perguntava-me quando e onde é que eu a tinha atirado ao mar.
Passados dias, com a ajuda do meu Major, satisfiz a curiosidade dela.
Aproveito para informar que naquela altura as Bahamas eram pertença dos Estados Unidos da América, sendo, desde 1973, um país independente.
Já após ter regressado a Portugal, tive oportunidade de me deslocar à Embaixada dos Estados Unidos da América e falado com um funcionário sobre esta história. Na altura esse funcionário pedíu-me para esperar um pouco e, passados uns minutos, fui recebido pelo Embaixador que ficou encantado com o ocorrido, e fez o favor de me mostrar não só o mapa americano como o Atlas, para me explicar todo o percurso que a garrafa tinha feito desde o Golfo da Guiné até às Bahamas.
Também li recentemente que o percurso efectuado pela minha garrafa está dentro das 50 maiores distâncias até hoje percorridas por uma garrafa lançada ao mar.
Eu sei que não é uma história de guerra, mas sem a minha ida para a guerra esta história não existiria.
Se achares que é interessante para colocar no blogue, força.
Um grande abraço.
Germano Santos
2. Comentário de L.G.:
Meu caro Germano: Aqui aparece todo o tipo de estórias, umas mais trágicas ou dramáticas, outras mais cómicas ou divertidas, umas outras ainda mais intimistas e pessoais... Estórias de guerra, de amor, de paz, de camaragem, de solidariedade, de humor... Todas elas estórias de homens (e de mulheres), afectados directa ou indirectamente por uma guerra. A tua estória merece a melhor atenção de nós, até pelo seu insólito e pelo seu simbolismo: o mar, apesar da sua imensa vastidão, é também um ponto de encontro...
Como já tive ocasião de te dizer, tenho uma estória parecida com essa. Um vizinho meu, da Lourinhã, costumava ir pescar para a Praia da Peralta, a sul da Praia da Areia Branca. Isto por volta de meados da década de 1960. Um belo dia apanhou, na praia, um garrafa de gin ou de rum, com uma carta lá dentro, redigida em inglês. De regresso a casa, deu a carta a ler à minha irmã. Era de um súbdito de Sua Majestade a Rainha de Inglaterra, embarcado num navio da Royal Navy. Ela mesmo respondeu à carta, com a mimnha ajuda, e fez um novo amigo. O marinheiro Barry começou a trocar correspondência com ela. Hoje, passados mais de quarenta anos, continuam amigos. E já se visitaram várias vezes: ele veio a Portugal, ela foi a Inglaterra... Ele inclusive aprendeu a falar e a escrever o português!...
Parabéns pela estória e pela tua garrafa que, na época, bem poderia ter entrado para o livro de recordes do Guiness (que já existia, desde 1951)... Obrigado pelas fotos (cerca de 20) que tu me mandaste, algumas da bela vila de Mansoa que tu ainda conheceste. Fica também aqui uma correcção: tu nunca pertenceste à CCS do BCAÇ 3832, mas sim à CCAÇ 3305, desse batalhão.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1814: Tabanca Grande (8): Apresenta-se o Operador Cripto da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 (Mansoa, 1970/73) , Germano Santos
11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73
12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1840: A trágica história dos sapadores Alho e Fernandes da CCS do BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73 (César Dias / Gerrmano Santos)
(2) Vd. posts anteriores desta série:
11 de Janeiro de 2007> Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)
21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)
21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)
19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)
12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)
Guiné 63/74 - P1952: Álbum das Glórias (18): A minha morada em Bambadinca (Mário Beja Santos)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1968 > Aquartelamento de Bambadinca, novinho em folha : edifício do comando e instalações de oficiais e sargentos. Ao fundo, vê-se já a tabanca de Bambadincazinha que era atravessada pela estrada que seguia para Mansambo e Xitole. À direita era a pista de aviação. Em primeoro palno, a parada com os esteios das árvores ainda recentemente plantas. Na altura, o sector L1 era guarnecido pelo BCAÇ 2852 (1968/70). (LG).
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea do aquartelamento de Bambadinca. Assinalado a vermelho, o edifício do comando e as instalações de oficiais e sargentos. Na altura, o sector L1 era guarnecido pelo BCAÇ 2852 (1968/70). (LG)
Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.
Guiné-Bissau > Zona Leste > Bambadinca > 1997 > Antigas instalações dos oficiais (à direita) e dos sargentos (à esquerda). A messe de sargentos ao fundo, do lado esquerdo; a dos oficiais, à direita (a cozinha era comum). Eram excelentes instalações hoteleiras, para a época (em que estive lá, eu e o pessoal da CCAÇ 12, Junho de 1969/Março de 1971) , por comparação com os aquartelamentos das unidades de quadrícula (Xime, Mansambo e Xitole).
Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.
Guiné-Bissau > Zona Leste > Bambadinca > 1997 > Antigas instalações dos oficiais (à direita) e dos sargentos (à esquerda). A messe de sargentos ao fundo, do lado esquerdo; a dos oficiais, à direita (a cozinha era comum). Eram excelentes instalações hoteleiras, para a época (em que estive lá, eu e o pessoal da CCAÇ 12, Junho de 1969/Março de 1971) , por comparação com os aquartelamentos das unidades de quadrícula (Xime, Mansambo e Xitole).
Depois da independência, Bambadinca foi palco de trágicos acontecimentos: julgamentos populares e execução sumária, por fuzilamento, de régulos fulas, além de combatentes que estiveram integrados nas NT. Em 1997, as forças armadas da nova república ocupavam o edifício. É patente o estado de degradação a que chegara ao fim de menos de 30 anos... (LG)
Foto: © Humberto Reis (2005)., Direitos reservados.
Foto: © Humberto Reis (2005)., Direitos reservados.
1. Texto do nosso camarada Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). O Beja Santos foi desenterrar o álbum de fotografias da mãe:
Como me lembro desta minha morada!... Até sinto as botas a calcar este saibro incendiado pela laterite... Por aquela porta terei entrado centenas e centenas de vezes, à procura de um duche, dormida,mesa,repouso.Entrei por ali em todos os segundos que faz um dia.
Contornando à squerda,vendo a linha de janelas, tínhamos o gabinete do Major de Operações,cheio de mapas e sigilo, depois o gabinete do 1ºComandante e depois do 2º. Ao fundo, o universo do cripto, ali o Calado (1) não deixava entrar ninguém.
Em frente a este corpo do edifício,estendia-se a estrada que,trezentos metros à frente, bifurcava para o Xime e Mansambo.Passei por ali a última vez em 1991,vindo de Aldeia Formosa. Depois do que vi à ida, preferi virar a cara,no regresso...
____________
Nota de L.G.:
(1) Fernando Calado, Alf Mil Trms, da CCS do BCAÇ 2852 (1968/70), membro da nossa tertúlia: Vd. posts:
27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1788: Convívios (10): Pessoal de Bambadinca 1968/71: CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e 63 (Luís Graça)
25 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1786: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (47): Finete já está a arder ? Ou o ataque a Bambadinca, a 28 de Maio de 1969
Como me lembro desta minha morada!... Até sinto as botas a calcar este saibro incendiado pela laterite... Por aquela porta terei entrado centenas e centenas de vezes, à procura de um duche, dormida,mesa,repouso.Entrei por ali em todos os segundos que faz um dia.
Contornando à squerda,vendo a linha de janelas, tínhamos o gabinete do Major de Operações,cheio de mapas e sigilo, depois o gabinete do 1ºComandante e depois do 2º. Ao fundo, o universo do cripto, ali o Calado (1) não deixava entrar ninguém.
Em frente a este corpo do edifício,estendia-se a estrada que,trezentos metros à frente, bifurcava para o Xime e Mansambo.Passei por ali a última vez em 1991,vindo de Aldeia Formosa. Depois do que vi à ida, preferi virar a cara,no regresso...
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Nota de L.G.:
(1) Fernando Calado, Alf Mil Trms, da CCS do BCAÇ 2852 (1968/70), membro da nossa tertúlia: Vd. posts:
27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1788: Convívios (10): Pessoal de Bambadinca 1968/71: CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e 63 (Luís Graça)
25 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1786: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (47): Finete já está a arder ? Ou o ataque a Bambadinca, a 28 de Maio de 1969
sábado, 14 de julho de 2007
Guiné 63/74 - P1951: Álbum das Glórias (17): A tabanca de Cutia (César Dias)
Guiné > Região do Óio > Mansoa > Cutia > Tabanca > c. 1970 > Foto enviada pelo César Vieira Dias, ex Furriel Miliciano Sapador, CCS / BCAÇ 2885, um batalhão que esteve em Mansoa e Mansabá desde Maio de 1969 a Março de 1971 (1) .
Não sei se Cutia era um reordenamento: a avaliar pela foto, parece-me bem que sim, os cibes cortados, em primeiro plano; o desenho europeu, colonial, rectangular, das casas; os arruamentos feitos a régua e esquadro; a falta de árvores seculares entre as moranças... De qualquer modo, há semore algo de mágico quando paramos para olhar o quotidiano da vida das pacíficas gentes da Guiné, sejam eles balantas, fulas ou mandingas (não conheci outras etnias)... Apesar da guerra, a vida continua(va)...
Por outro lado, o que é fantástico nesta tertúlia é a prontidão de resposta dos seus membros, a sua sensibilidade e a sua solidariedade... Não há ftos de Cutia, um buraco que ninguém sabe onde fica ? Um camarada responde de pronto: - Eh, eu estive lá, passei por lá, tenho uma chapa, memórias, recordações...
O meu muito obrigado ao César pelas suas fotos de Cutia, em meu nome, em nome do Aires Ferreira e do Mário de Oliveira. Em nome também dos anónimos habitántes de Cutia. Este também o seu Álbum das Glórias.
Foto: © César Vieira Dias / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do César Dias:
Camarada Aires Ferreira (1):
É verdade, o Luís Graça tem razão, essa foto do fortim de Cutia era minha, caso não tenhas nenhuma aí vai mais uma, esta da tabanca.
Um abraço
César Dias
2. Segunda mensagem do César Dias, a esclarecer melhor a foto, o seu conteúdo e contexto:
Olá Luis
Apreciei bastante a homenagem que fizeste às gentes daquele lugar, Cutia. Gostaria no entanto de dizer que as duas fotos que enviei, mostram a totalidade da aldeia em 1970, 4 ou 5 tabancas de cada lado na estrada Mansoa / Mansabá, e ao fundo o fortim que alojava a guarnição.
Este destacamento era bastante frequentado pelas gentes das armas pesadas, obuses 14, oriundos de Mansoa e Bissau. Foram deslocados até lá para flagelarem a mata do Morés, integrados em operações nesta zona.
O nosso co-editor Carlos Vinhal passou muitas vezes por este lugar, recordá-lo-á concerteza.
Foi só mais uma achega.
Um abraço
César Dias
Mansoa 69/71 (2)
_____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1472: Sobrevivente do BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá) (César Dias)
(2) Vd. post de 12 de Julho de 2007: Guiné 63/74 - P1946: Estórias de Mansoa (2): um capelão em apuros na estrada de Cutia (Aires Ferreira)
Não sei se Cutia era um reordenamento: a avaliar pela foto, parece-me bem que sim, os cibes cortados, em primeiro plano; o desenho europeu, colonial, rectangular, das casas; os arruamentos feitos a régua e esquadro; a falta de árvores seculares entre as moranças... De qualquer modo, há semore algo de mágico quando paramos para olhar o quotidiano da vida das pacíficas gentes da Guiné, sejam eles balantas, fulas ou mandingas (não conheci outras etnias)... Apesar da guerra, a vida continua(va)...
Por outro lado, o que é fantástico nesta tertúlia é a prontidão de resposta dos seus membros, a sua sensibilidade e a sua solidariedade... Não há ftos de Cutia, um buraco que ninguém sabe onde fica ? Um camarada responde de pronto: - Eh, eu estive lá, passei por lá, tenho uma chapa, memórias, recordações...
O meu muito obrigado ao César pelas suas fotos de Cutia, em meu nome, em nome do Aires Ferreira e do Mário de Oliveira. Em nome também dos anónimos habitántes de Cutia. Este também o seu Álbum das Glórias.
Foto: © César Vieira Dias / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do César Dias:
Camarada Aires Ferreira (1):
É verdade, o Luís Graça tem razão, essa foto do fortim de Cutia era minha, caso não tenhas nenhuma aí vai mais uma, esta da tabanca.
Um abraço
César Dias
2. Segunda mensagem do César Dias, a esclarecer melhor a foto, o seu conteúdo e contexto:
Olá Luis
Apreciei bastante a homenagem que fizeste às gentes daquele lugar, Cutia. Gostaria no entanto de dizer que as duas fotos que enviei, mostram a totalidade da aldeia em 1970, 4 ou 5 tabancas de cada lado na estrada Mansoa / Mansabá, e ao fundo o fortim que alojava a guarnição.
Este destacamento era bastante frequentado pelas gentes das armas pesadas, obuses 14, oriundos de Mansoa e Bissau. Foram deslocados até lá para flagelarem a mata do Morés, integrados em operações nesta zona.
O nosso co-editor Carlos Vinhal passou muitas vezes por este lugar, recordá-lo-á concerteza.
Foi só mais uma achega.
Um abraço
César Dias
Mansoa 69/71 (2)
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1472: Sobrevivente do BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá) (César Dias)
(2) Vd. post de 12 de Julho de 2007: Guiné 63/74 - P1946: Estórias de Mansoa (2): um capelão em apuros na estrada de Cutia (Aires Ferreira)
Guiné 63/74 - P1950: Louvores e condecorações (3): Louvores atribuídos a militares da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
A CART 2732 (1) foi uma Companhia de quadrícula que suportou alguns sacrifícios. Estando colocada numa ZA muito importante, tanto para as NT como para o PAIGC, a região do Oio e, tendo próximo a base do Morés e os corredores envolventes, foi obrigada a participar em imensas operações durante a sua subordinação ao BCAÇ 2885 e, posteriormente, ao COP 6.
Não foi por acaso que permaneceu em Mansabá durante 22 meses ininterruptos. A coragem e espírito de sacrifício dos seus militares foi inexcedível, chegando por vezes ao limite humano.
Colaborou de forma intensa na protecção aos trabalhos de construção do troço da estrada entre o Bironque e o K3, o que lhe trouxe como prémio inúmeros contactos com o IN no mato e ataques ao aquartelamento de Mansabá.
No mês de Dezembro de 1971, a escassos dois meses de acabar a Comissão, sofreu duas baixas por morte em combate em Mamboncó , no troço de Mansabá/Cutia, quando fazia mais uma das numerosas colunas auto a Mansoa.
Neste aziago mês, A CART 2732, em combate teve 2 mortos, 14 feridos graves e 27 feridos ligeiros. Muitos deste feridos foram evacuados para o Hospital Militar Principal de Lisboa.
Assim justifico a publicação destes louvores, não com vaidade, mas com orgulho de ter pertencido à CART 2732.
Louvores atribuídos a militares da CART 2732
Pelo General Comandante-Chefe das FA
Alf Mil At - Américo Almeida Nunes Bento
Sold At - António Góis Perestrelo
Sold At - Domingos Martins Perestrelo
Sold At - Fernando da Costa
Sold At - José Bernardo Rodrigues Espírito Santo
Sold At - José Figueira da Silva
1.º Cabo At - José Manuel Ornelas da Silva
Sold At - José Patrício Caldeira
Alf Mil At - Manuel António Casal
Pelo Brigadeiro Comandante Militar
1.º Srgt - João da Costa Rita
Sold At - José Espírito Santo Barbosa (A Título Póstumo)
Sold At - José Oliveira Torrinha
Alf Mil At - Luís Filipe Nunes Oliveira Rodrigues
Sold At - Manuel Vieira (A Título Póstumo)
Pelo Comandante do COP 6
1.º Srgt - António da Piedade dos Santos
Capitão - Armando Vieira Santos Caeiro
1.º Cabo Coz - Armindo Ferreira Lopes
Fur Mil At MA - Carlos Esteves Vinhal
Sold Trms - Francisco da Silveira Rebelo
1.º Cabo Ap Met - Inácio Rodrigues da Silva
Sold Trms - João Marcelino Malhão Gonçalves
1.º Cabo At - João Samuel Rodrigues Ramos
1.º Cabo M. A. R. - José Alves da Costa
Sold At - José Augusto Pinheiro Miranda
Sold At - José Dias Freitas Alves
Fur Mil Alim - José Gabriel Amorim da Costa
1.º Cabo Enf - José Mateus Reis Pedro
Sold At - Júlio Vieira Freitas Muchacho
1.º Cabo Op Cripto - Mário Romana Soares
Pelo Comandante da CART 2732
Sold At - Adelino Viveiro Francos
Sold At - Albertino da Ponte
Sold At - António Carlos dos Ramos
Sold At - António Ribeiro Teixeira
Sold At - António Rodrigues da Silva
Sold At - Avelino Gonçalves Pinto
1.º Cabo Escrit - Duarte Moreira Oliveira
Sold C.A.R. - Fernando da Costa Oliveira
Sold At - Francisco José Gouveia
1.º Cabo At - João Abel Gouveia
Sold C.A.R. - Joaquim Sousa Santos
1.º Cabo At - José João Pereira Pontes
Sold At - Silvestre dos Santos Pinto
Sold Coz - Virgílio Anastácio de Abreu
Carlos Vinhal
Fur Mil Art MA
_______________
Notas de CV:
(1) Sobre a madeirense CART 2732, vd. os seguintes posts (ordem: dos mais recentes para os mais antigos; lista exemplicativa)
27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)
17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1671: Efemérides (2): Há 37 anos a CART 2732 desembarcava em Bissau (Carlos Vinhal)
10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1163: Destacamento temporário do Bironque, inaugurado pela madeirense CART 2732 (Carlos Vinhal)
18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXI: Breve historial da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
Não foi por acaso que permaneceu em Mansabá durante 22 meses ininterruptos. A coragem e espírito de sacrifício dos seus militares foi inexcedível, chegando por vezes ao limite humano.
Colaborou de forma intensa na protecção aos trabalhos de construção do troço da estrada entre o Bironque e o K3, o que lhe trouxe como prémio inúmeros contactos com o IN no mato e ataques ao aquartelamento de Mansabá.
No mês de Dezembro de 1971, a escassos dois meses de acabar a Comissão, sofreu duas baixas por morte em combate em Mamboncó , no troço de Mansabá/Cutia, quando fazia mais uma das numerosas colunas auto a Mansoa.
Neste aziago mês, A CART 2732, em combate teve 2 mortos, 14 feridos graves e 27 feridos ligeiros. Muitos deste feridos foram evacuados para o Hospital Militar Principal de Lisboa.
Assim justifico a publicação destes louvores, não com vaidade, mas com orgulho de ter pertencido à CART 2732.
Louvores atribuídos a militares da CART 2732
Pelo General Comandante-Chefe das FA
Alf Mil At - Américo Almeida Nunes Bento
Sold At - António Góis Perestrelo
Sold At - Domingos Martins Perestrelo
Sold At - Fernando da Costa
Sold At - José Bernardo Rodrigues Espírito Santo
Sold At - José Figueira da Silva
1.º Cabo At - José Manuel Ornelas da Silva
Sold At - José Patrício Caldeira
Alf Mil At - Manuel António Casal
Pelo Brigadeiro Comandante Militar
1.º Srgt - João da Costa Rita
Sold At - José Espírito Santo Barbosa (A Título Póstumo)
Sold At - José Oliveira Torrinha
Alf Mil At - Luís Filipe Nunes Oliveira Rodrigues
Sold At - Manuel Vieira (A Título Póstumo)
Pelo Comandante do COP 6
1.º Srgt - António da Piedade dos Santos
Capitão - Armando Vieira Santos Caeiro
1.º Cabo Coz - Armindo Ferreira Lopes
Fur Mil At MA - Carlos Esteves Vinhal
Sold Trms - Francisco da Silveira Rebelo
1.º Cabo Ap Met - Inácio Rodrigues da Silva
Sold Trms - João Marcelino Malhão Gonçalves
1.º Cabo At - João Samuel Rodrigues Ramos
1.º Cabo M. A. R. - José Alves da Costa
Sold At - José Augusto Pinheiro Miranda
Sold At - José Dias Freitas Alves
Fur Mil Alim - José Gabriel Amorim da Costa
1.º Cabo Enf - José Mateus Reis Pedro
Sold At - Júlio Vieira Freitas Muchacho
1.º Cabo Op Cripto - Mário Romana Soares
Pelo Comandante da CART 2732
Sold At - Adelino Viveiro Francos
Sold At - Albertino da Ponte
Sold At - António Carlos dos Ramos
Sold At - António Ribeiro Teixeira
Sold At - António Rodrigues da Silva
Sold At - Avelino Gonçalves Pinto
1.º Cabo Escrit - Duarte Moreira Oliveira
Sold C.A.R. - Fernando da Costa Oliveira
Sold At - Francisco José Gouveia
1.º Cabo At - João Abel Gouveia
Sold C.A.R. - Joaquim Sousa Santos
1.º Cabo At - José João Pereira Pontes
Sold At - Silvestre dos Santos Pinto
Sold Coz - Virgílio Anastácio de Abreu
Carlos Vinhal
Fur Mil Art MA
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Notas de CV:
(1) Sobre a madeirense CART 2732, vd. os seguintes posts (ordem: dos mais recentes para os mais antigos; lista exemplicativa)
27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)
17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1671: Efemérides (2): Há 37 anos a CART 2732 desembarcava em Bissau (Carlos Vinhal)
10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1163: Destacamento temporário do Bironque, inaugurado pela madeirense CART 2732 (Carlos Vinhal)
18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXI: Breve historial da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
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