Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4647: Estórias avulsas (41): Fotos de Gandembel e Ponte Balana (Manuel Oliveira)
Guiné 63/74 - P4646: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (5): A família extensa, reunida em Fajonquito, em 1968
As crónicas do Cherno têm tido, entre os leitores do nosso blogue, um grande sucesso, pelço seu cunho espontâneo e autêntico, bem como pela qualidade da sua escrita. Fazemos votos para que ele dê continuidade a esta série, nomeadamente com as memórias do tempo que passou em Fajonquito (de 1968 até ao final da guerra e primeiros meses da independência) (LG)
FAJONQUITO: Terra da minha adolescência
por Cherno Baldé
Em 1968, [ e não 1958, como por lapso escreve o autor ], o meu pai foi transferido para Fajonquito e com ele toda a nossa família. Todavia, o meu pai não estava satisfeito com a transferência porque ela tinha provocado a separação com o seu irmão Dembaro, cuja família não podia sair de lá naquela época de rigoroso controlo do movimento de pessoas, por parte das autoridades tradicionais fortemente empenhadas na guerra, sem um pretexto muito forte.
A nossa família, sobretudo, era muito suspeita após a fuga espectacular de Sambagaia, com quem [as autoridades tradicionais] tinham contas a ajustar. Durante mais de um ano, o meu pai esteve à procura de uma maneira de tirar de Cambajú o seu irmão mais velho ao qual tinha jurado fidelidade e assistência.
Finalmente, um ano após a nossa vinda chegou a outra metade da família com Dembaro à testa, para alívio e alegria do meu pai. Este me contaria, mais tarde, que tinha conseguido [isso], graças à ajuda e cumplicidade do Capitão da Companhia que estava colocado em Fajonquito (Cap Carvalho?) e que enviava regularmente um destacamento de 20 dos seus homens para Cambajú. Através de amigos, conseguiu falar com o capitão, explicando-lhe todo o melindre da situação. Este não deu muita importância ao caso e esperou até a altura de proceder à troca de destacamentos e disse ao meu pai para transmitir ao irmão de que devia estar preparado a qualquer momento para embarcar na coluna que traria de volta o destacamento que se encontrava em Cambajú. (**)
E foi assim que, de forma rápida e inesperada, o Dembaro e a família viajaram num camião GMC militar para Fajonquito, colocando tudo e todos perante o facto consumado e granjeando ainda o respeito devido aos amigos do Capitão da Companhia que detinha um poder enorme nas redondezas e, aparentemente, suplantava mesmo as autoridades civis.
Fajonquito, naquela altura, era enorme, devido à concentração das famílias que aqui encontraram refúgio depois dos ataques às suas aldeias ou por imposição das autoridades locais.
Em Fajonquito nasceram os meus irmãos mais novos: Barbosa, Aissatú e Cántaba; e, mais tarde, os filhos da segunda mulher do meu pai, Assiatu Embalo: Umo, Rosa, Mariama e Mamadu-Bobo.
Cherno Abdulai Baldé, Chico
Natural de Fajonquito,
Sector de Contuboel,
Região de Bafatá.
____________________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores:
18 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...
(...) Chamo-me Cherno Abdulai Baldé, nasci por volta de 1959/60. No quartel de Fajonquito chamavam-me Chico (de Francisco) e tinha amigos soldados que, na sua maioria, eram condutores ou mecânicos-auto. Tive as minhas primeiras aulas com oficiais Portugueses, em Cambajú e Fajonquito. (...)
19 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4553: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (1): A primeira visão, aterradora, de um helicanhão
(...) Foi naquela época que, na idade de 4 ou 5 anos, aconteceu a minha primeira visão de uma máquina voadora, que terá sido, provavelmente em meados de 1964, precisamente na altura em que estávamos em Samagaia, pouco tempo antes do ataque à zona que nos obrigaria a deixar a aldeia para nos refugiarmos em Cambajú, onde o meu pai já se encontrava a trabalhar alguns anos antes. (...)
24 de Junho de 2009 > Guine 63/74 - P4567: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (2): Cambajú, uma janela para o mundo
(...) Em Cambajú, pequeno centro comercial, começou o despertar da minha infância, altura em que, saído da pequeníssima aldeia de Sintchã Samagaya, fundada por meus pais, aterrei-me numa aldeia de muito maior concentração de moranças e de gente. Cambaju estava situada mesmo na linha da fronteira com o Senegal, o que lhe emprestava um certo ar cosmopolita onde se cruzavam pessoas de várias origens e destinos e um certo movimento de vaivém de pessoas e mercadorias com as suas três ou quatro casas comerciais, algumas pequenas boutiques e o contrabando pra cá e pra lá das duas fronteiras. (...)
25 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio
(...) No ano de 1965, altura em que a guerra para a independência se alastrava rapidamente e aterroriza as aldeias daquela área e obrigava a uma concentração maior da população em certos locais com algumas garantias de defesa e protecção militar, Contuboel, Saré-Bacar, Cambajú e Fajonquito constituíam as praças-fortes da área. Em Cambajú foi estacionado um destacamento de milícias que assegurava a defesa da localidade e que mais tarde foi reforçado com um destacamento de tropas portuguesas. Pela primeira vez na minha vida ainda jovem, via pessoas de uma raça diferente. Foi um choque tremendo. (...)
30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4611: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (4): O ataque dos meus primos a Cambajú e o meu pai que foi um herói
(...) Ainda hoje, a nossa mãe está convencida que este ataque foi obra dos primos do meu pai que viviam do outro lado da fronteira, não muito longe de Cambajú. Aconteceu que, no dia anterior ao ataque, o meu pai tinha recebido uma grande quantidade de mercadorias e, por coincidência, no mesmo dia tinha-se despedido uma pessoa que estava hospedada em casa para tratamento e que voltara junto dos tais primos da outra banda. Assim, nesse dia do ano de 1966, na calada da noite, pouco depois das quatro horas de madrugada, ouvimos tiros. Primeiro os disparos se fizeram ouvir a oeste para os lados do quartel, fazendo pensar que o objectivo era militar, depois se espalharam rapidamente contornando a aldeia. (...)
(**) Pode tratar-se da CCAÇ 2435, comandada pelo Cap Inf José António Rodrigues de Carvalho e, posteriormente, pelo Cap Inf Raul Afonso Reis, unidade orgânica do BCaç 2856, mobilizada em Abrantes no Regimento de Infantaria n.º 2, que assumiu a responsabilidade do subsector de Fajonquito, rendendo a CCaç 1685, em 7 de Dezembro de 1968, e vindo a ser substituída pela CCaç 2436, em 20 de Abril de 1970.
Ou então, mais provavelmente, trata-se da CCaç 1685, comandada pelo Cap Inf Alcino de Jesus Raiano, unidade orgânica do BCaç 1912, e mobilizada em Évora no RI 16: assumiu a responsabilidade do subsector de Fajonquito, rendendo a CCaç 1501, em 19 de Setembro de 1967, e vindo a ser substituída pela CCaç 2435 em 14 de Dezembro de 1968.
No entanto, o Chico diz-nos que "quando a minha familia se transferiu para Fajonquito, a companhia 1501 já estava no fim ou já tinha terminado a sua comissão mas, na memória de todos, em Fajonquito, tinham ficado gravadas estas insígnias em forma de números que perduraram no tempo. No meu caso, não sei explicar as razões, ainda era muito pequeno, mas a insígnia ficou para sempre"...
Recorde-se que CCAÇ 1501, comandada pelo Cap Inf Rui Antunes Tomaz, era uma unidade orgânica do BCAÇ 1877, mobilizada em Tomar no RI 15, tendo assumido a responsabilidade do subsector de Fajonquito e rendido a CCaç 1497, em 26 de Janeiro de 1967. Veio a ser substituída pela CCaç 1685, em 19 de Setembro de 1967.
Guiné 63/74 - P4645: In Memoriam (25): Maria da Glória Allen Revez Beja dos Santos (1976-2009): Missa do 7º dia, 4ª feira, 19h, Igreja do Campo Grande
Perante o irreparável, perante a dor devastadora que nos causa a morte de um(a) filho(a), aos amigos pede-lhes apenas que saibam ouvir, escutar, entender, ter compaixão, e ajudar o(s) outro(s) a começar a fazer o luto... Fui encontrar o Mário agarrado ao trabalho. Obstinado como um poilão secular do Cuor... É dele a mensagem que agora publico:
É para vos informar que a missa do 7º dia da minha Adorada Locas será celebrada na Igreja do Campo Grande, [Lisboa,] dia, 8, pelas 19:15 horas. Escuso de vos dizer como nos comoverá a vossa presença.
Recebemos, a minha família e eu, provas de um enorme carinho de todos aqueles que amavam a Locas e nutrem por nós estima intensa, consolaram-nos muito, mitigaram o nosso indescritível sofrimento.
A Locas adorava Sintra, será ali que depositaremos as suas cinzas. Depois, dou-vos notícias dessa romagem.
Como no poema de Manuel Bandeira, a Locas nem precisou de pedir licença para entrar no Céu (**).
Mário
2. Comentário de L.G.:
Lá estaremos, Mário, Cristina e Joana, no dia 8, 4ª feira, às 19h, na Igreja do Campo Grande...
_____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4644: In Memoriam (24): Maria da Glória Alln Revez Beja dos Santos: "Morte, onde está a tua vitória ?" (Mário Beja Santos / Luís Graça)
(**) Irene no céu, de Manuel Bandeira (Recife, 1886 - Rio de Janeiro, 1968)
IRENE NO CÉU
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão [bonacheirão]:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
In Libertinagem (1930)
Guiné 63/74 - P4644: In Memoriam (24): Maria da Glória Revez Allen Beja Santos: "Morte, onde está a tua vitória ?" (Mário Beja Santos / Luís Graça)
1. Estive fora de Lisboa, desde 6ª feira. Sem internet. Domingo à noite, abri a minha caixa de correio profissional, e dou de caras com a brutal notícia da morte da Glória, dada em primeira mão pelo seu pai, o nosso camarada Mário Beja Santos.
É um extraordinário texto o que ele mandou, só para algum amigos, incluindo a minha pessoa, e que eu tenho o dever de partilhar, publicamente, com os seus/nossos camaradas da Guiné, que se reconhecem neste blogue, e que são seus amigos, uns, ou simples leitores, outros. É uma verdadeira oração fúnebre, um extraordinário documento humano e sobretudo um grande acto de amor paternal e uma belíssima homenagem póstuma à sua adorada Locas...
A Maria da Glória Revez Allen Beja Santos era a filha mais nova do Mário Beja Santos e da Cristina Revez Allen. Nascera em 1976, trinta anos e dois... A outra filha do casal é a Joana. A família, e sobretudo o Mário, nunca escondeu o problema de saúde que infernalizava a vida da Maria da Glória. Estiveram os quatro inclusive, num programa de televisão, da SIC, em Março passado - se não me engano - a falar da doença bipolar e a dar o seu testemunho, enquanto família. Por tudo isso, e pela sua enorme coragem e fé, o Mário é credor da nossa admiração, extensiva naturalmente à Cristina e à Joana (LG).
Ontem de manhã [, 2 de Julho de 2009], a minha Adorada Glória morreu. O que sempre pedi a Deus que não acontecesse (perder uma filha), aconteceu. A Glória sofria muito com a sua perturbação bipolar, diagnosticada em 2003 (seguramente com manifestações há muito mais tempo, que nós sabíamos interpretar), tomava medicamentos potentes, por vezes misturava-os com álcool, outras vezes abandonava a medicação, com consequências lamentáveis.
Voltara aos estudos, encontrara um namorado com quem estava feliz, estava com projectos (ia agora frequentar um curso livre na Universidade Nova). Quando estava estabilizada, enchia a nossa vida com alegria, manifestava orgulho nos pais e irmã, vivia intensamente a pensar no futuro, com pensamentos construtivos. Maravilhava-se com as coisas mais simples, íamos hoje ao teatro, domingo à ópera.
Num dos últimos telefonemas prometeu não se exceder no uso dos medicamentos nem misturar a medicação obrigatória com substâncias adversas. Foi uma criança dócil, meiga, discreta. Tornou-se uma mulher bela, qualquer roupa realçava a sua beleza.
A doença mudou alguns aspectos da sua personalidade, mas a nossa Locas impunha-se no nosso coração, vivíamos sempre preocupados com a sua autonomia possível e o seu bem-estar, quando nós, os pais, partíssemos deste mundo.
Passei os últimos anos à espera de um milagre, só pedia a Deus que lhe desse a possibilidade de viver aquela vida com permanente alegria, sem delírios, acompanhada de gente que estimasse as suas admiráveis qualidades.
"Morte, onde está a tua vitória?»
Agradeço as vossas orações, o amor e a ternura que por ela nutriram. A Locas irá esta tarde para a Igreja do Campo Grande.
Mário
2. Comentário de L.G.:
Já telefonei, em vão, à Cristina. Deixei-lhe, no atendedor automático, uma mensagem de solidariedade na dor e no luto. Ao Mário, vou arranjar corajem para lhe escrever, publicamente, estas palavras.
É devastador para qualquer mãe e qualquer pai a morte de um filho ou filha. É um dos acontecimentos de vida, mais brutais, que nos podem destroçar pura e simplesmemnte, ou deixar um rasto de amargura até ao fim dos nossos dias. Nada será como dantes, depois da perda de um filho ou filha... A lei natural da vida é que sejam eles, os nossos filhos, a enterrar-nos. Não o contrário.
A Glória não teve tempo de viver em pleno a vida a que tinha direito e que ela tanto amava, apesar do sofrimento, por vezes atroz, que a doença lhe causava. Há pouco mais de três meses tive o privilégio de a conhecer pessoalmente. Era uma mulher deslumbrante, que se fazia notar pela vivavidade do seu olhar, pela sua inteligência e pela beleza do seu porte.
Tinha já tido conhecimento da sua doença, através do Mário, que me falou dela, com a natural preocupação e solicitude de um bom pai. Ainda tive o privilégio de a conhecer numa das suas fases solares. Era também alvo de especial atenção e compaixão da sua mãe, Cristina, que tinha muito orgulho nela. Em conversa ao telefone, sugeriu-me inclusive que a convidasse para um próximo encontro do nosso blogue, para podermos ter a felicidade de ouvir a sua voz, excepcionalmente dotada para cantar o fado.
Há três ou quatro meses atrás, a Glória veio entrevistar-me sobre a história do nosso blogue, a sua génese e o seu desenvolvimento. Essa entrevista foi gravada. Esforcei-me por responder, detalha e demoradamente, às suas interessantes questões, que constavam de um guião de entrevista que ela seguiu com grande competência e segurança...
Essa entrevista serviu de base a um trabalho escolar, “A Guerra da Guiné vista pelos Ex-Combatentes Portugueses”, que eu prometi, ao pai, publicar no nosso blogue, desde que não houvesse qualquer inconveniente, tanto por parte da autora como da instituição, a Universidade Católica.
Achei a Glória feliz e em boa forma. Vinha acompanhada de um amigo. Em Maio o Mário deu-me feedback, que o trabalho tinha merecido uma boa nota (16 valores). Mandou-me inclusive uma cópia do original (**). Mais recentemente, talvez em princípios de Junho, encontrei o Mário, no Chiado, mais a sua Joana, que é psicóloga numa instituição militar, e que estava acompanhada do seu marido. Tinham acabado de casar, há pouco tempo. O Mário, embora cansado e sempre sobrecarregado de trabalho, era um pai feliz. Nada parecia prever esta tragédia de início de verão (***).
Para o nosso camarada Mário Beja Santos e para a nossa amiga Cristina Revez Allen, ambos membros da nossa Tabanca Grande, aqui vão os nossos sentimentos mais profundos de solidariedade na dor e no luto. Mário e Cristina, a morte só nos ganha se não formos capazes de honrar a memória dos entes queridos que ela, precoce e traiçoeiramente, nos leva.
Mário, a ti que te conheço um pouco melhor, que estivemos juntos nalgumas batalhas da guerra da Guiné, e que és um homem crente, a tua fé, hoje como ontem, vai dar-te um ajuda, vai dar-te mais força para conseguires lidar com esta situação-limite. Nenhum de nós está à partida preparado para a morte que irrompe, assim, tão brutal, sem pré-aviso, no nosso círculo íntimo, na nossa família... É uma perda irreparável, mas talvez a Glória quisesse também dizer-nos, muito simplesmente, que há limites, humanos, para o sofrimento, que às vezes na terra há muito mais inferno do que céu...
Vejo, em todo o caso, na célebre interpelação do Apóstolo São Paulo, no discurso aos Coríntios, que tu citas ("Oh, morte!, onde está a tua vitória" ?), a reafirmação e a assumpção da tua firmeza de carácter, e da coragem (física e moral) de que sempre deste provas, na paz e na guerra, a par da tua fé inabalável que sempre deste público testemunho, aqui e noutros lugares.
Não tendo ido ao funeral da tua/nossa querida Locas, gostaria, ao menos, de ir à sua missa do sétimo dia, eu e a Alice, e levar-te pessoalmente, a ti, à Cristina e à Joana, as manifestaçõs do nosso apreço, carinho, amizade e camaradagem, em meu nome, em nome da minha famíla, em nome dos teus antigos camaradas de Bambadinca (1968/70), em nome de toda a nossa Tabanca Grande, em nome dos leitores e admiradores que tens no nosso blogue. Luís Graça
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Notas de L.G.:
(*) Último poste desta série: 1 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4449: In Memoriam (23): Luís Cabral ou o respeito por um homem que lutou por um ideal (Virgínio Briote)
(**) A Glória era aluna da Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Ciências Humanas, Curso de Comunicação Social e Cultural, 3º Ano, Turma 2. Fez um trabalho para a disciplina de História Contemporânea, intitulado “A Guerra da Guiné vista pelos Ex-Combatentes Portugueses”, e que irá ser oportunamente publicado no nosso blogue.
(***) Reprodução do meu mail, de 1 de Maio de 2009:
Mário: Recebi o trabalho da tua filha, que apreciei e vou publicar, se não houver 'conflito' com a Católica... (Não sei se já foi entregue, discutido, avaliado)... Dá-lhe os parabéns (e ao pai que lhe deu umas dicas, de resto fazemos tudo pelos nossos filhos...). Em relação à transcrição da entrevista, reconheço que não é fácil, há pequenas correcções a fazer. Não a queres trazer ao nosso encontro de 20 de Junho ? A mãe disse-me que ela tem uma excelente voz para o fado (...)... Do Porto com um abraço. Luís
Mail do Mário, de 16 de Maio de 2009:
Luís, Acabo de vir de férias. A Joana comunicou-me que ia casar depois de eu já ter pedido a vários amigos hospedagem em Paris, Namur e Bruxelas. Venho deliciado, e o casamento da Joana também foi muito bonito.
Falei há minutos com a Glória, teve 16, parece que houve lá hoje [ na Universidade Católica,] um colóquio com vários escritores, todos falaram no blogue (*). Sem querer perder o viço das férias, vou mergulhar no trabalho, tanto no profissional como na 'Mulher Grande' que quero concluir até Setembro.
Não tenho lido nada no blogue e fiquei surpreendido com esta data de 20 de Junho. Vou ver o que posso fazer. (...).
Desculpa ser breve, a ver se nos encontramos, Mário.
domingo, 5 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4643: Blogoterapia (113): Saudades do blogue dos primeiros tempos, em que tudo se contava na primeira pessoa (Vítor Junqueira)
Carlos, olha o que deu uma noite de insónia!
Agora vou dormir.
Até logo.
VJ
Estimado Carlos Vinhal,
Para ti, aquele abraço que não pude dar-te em Monte Real.
Vai fazendo tempo que me mantenho sossegadito no meu cantinho. Têm aparecido tantos camaradas, com tanto para contar, que as minhas cantigas para além de não adormecerem ninguém, ficam a milhas da profundidade e até da beleza de algumas reflexões expendidas ultimamente no Blog, que continuo a seguir com toda a atenção.
Além disso, o Luís Graça ao nomear-me “Senador”, criou-me uma tremenda responsabilidade. Por um lado, retirou-me a prerrogativa de dizer calinadas, para o que sinto uma natural propensão. Mas por outro, se quis apontar-me como modelo de pessoa assisada, então mostrou que não é assim tão bom psicólogo! Porém, meu caro Vinhal, contigo sinto-me a jogar em casa.
As nossas Companhias eram irmãs. Respirámos o mesmo ar, calcorreamos os mesmos trilhos, descansámos à mesma sombra. Porventura até bebemos água da mesma bolanha. Falar-te dos meus estados de alma, nem necessita de cogitação prévia, porque eu sei que tu sabes aquilo que eu sei.
Hoje, porém, sinto-me um homem novo, liberto. Depois de, já lá vão uns tempos, ter visto na televisão um deputado a mandar outro pr’ó caralho em plena AR, ao mesmo tempo que prometia ir-lhe aos cornos “lá fora”, ontem, numa espécie de remake de baixo custo, vi um ministro a fazer uns cornitos mefistofélicos a um senhor deputado. Isto depois de uma conversa em que se ilustraram as baixezas de uns e de outros, sendo também consensual entre os tribunos que pelo menos alguns eram mentirosos.
Assim sendo, como sou humano e tenho emoções, dos usos e os costumes deste Blog alegremente abusarei e, desde já, requeiro o direito de me arrepender como fez o tal ministro.
Por falar em Blog, o nosso está um must. Pelo número de visitas e de páginas consultadas, podemos aferir da sua popularidade. Aqui bebem mestrandos, Doutorandos, autodidactas, jornalistas e simples internautas. Ainda que o core se centre na guerra da Guiné, a vastidão dos temas vai do segredo do tempero do cabrito que serviu de repasto no convívio dos camaradas da CCaç tal (e preço, porque o carcanhol está curto!) até às elucubrações de cariz sociológico acerca do posicionamento das populações nativas sob o domínio colonial e sua adesão às teses da libertação.
Navegando, ficamos a conhecer tão bem a táctica, a estratégia e os meios do IN, como se nas reuniões do seu Estado-Maior tivéssemos participado. Sim, porque o IN parece que tinha uma táctica, uma estratégia e uma determinação que, segundo alguns, mingavam nas hostes portuguesas. E com esses requisitos obteve brilhantes vitórias sobre as forças de ocupação, exaustivamente explanadas em dezenas e dezenas de páginas deste Blog que, muito justamente glorificam a superior inteligência e bravura dos soldados do IN e seus chefes. Propaganda, dirão alguns.
Mas o Blog também fala de nós. Apresenta por exemplo listas imensas (e inúteis) com nome, número mecanográfico e posto de paletes maralhal que passou pelo CTI da Guiné, fala dos feridos, dos mortos e dos burakos (?) onde vivos viveram enterrados, da alimentação para porcos, dos levantamentos de rancho, da falta de lençóis, da incompetência dos comandantes, de actos de insubordinação dos comandados, da revolta, da angústia e do medo dos soldados portugueses, mobilizados para uma guerra injusta e que não compreendiam, do desespero das famílias e do arrojo daqueles que, em vésperas de embarque, davam ao slaide.
Ficamos a conhecer camaradas que juraram a si próprios nunca disparar um tiro e, galhardamente, se aventuravam pelo mato adentro deixando a canhota pendurada no ferro do beliche, enquanto outros mataram porque sim. Mais recentemente, (post 4634) ouvimos falar do estoicismo do pessoal escalado para operações que nunca passaram do papel, de pessoal desmotivado e psicologicamente destroçado (não confundir com bandos!) que nunca ou raramente saiu dos abrigos, de SITREP’s falsos em que se reportavam acções de patrulhamento e combate que nunca existiram, da suprema humilhação infligida por um reles inimigo que tem o desplante de vir cagar junto ao nosso arame farpado, da mortificação do ego quando palavras como retirar, recuar, abandonar, entram na rotina.
Mas só agora, porque alguém neste Blog ousou abrir-nos os olhos e os ouvidos é que ficámos a saber que situações destas existiram, porque enquanto lá estivemos nunca tal ouvíramos dizer, não é verdade!?
Também tivemos oportunidade de conhecer uma extensa, desapaixonada e ideologicamente isenta filmografia que veio esclarecer aquilo que para os não iniciados parece um quebra cabeças, ou seja, como conseguiu o IN, que pelos melhores números nunca terá ultrapassado os três mil operacionais, pôr em cheque – para não dizer que derrotou militarmente –, uma força armada com o triplo dos seus efectivos, implantada no terreno, com uma capacidade logística incomparavelmente superior já que dominava as principais vias de comunicação incluindo as fluviais, dispondo ainda de meios pesados como artilharia, auto-metralhadoras, aviação e força naval.
Tenho ainda que fazer uma breve referência a alguma bibliografia reproduzida ou publicitada no Blog: Vasta, profunda e sem quaisquer objectivos comerciais, evidentemente. Acho que já só falto eu a dar ao manifesto a minha produção literária. Não tenho palheta para tanto e como tenho dúvidas sobre a firmeza do meu carácter, correria o risco de me transformar a mim próprio em mais um herói ou relatar factos de acordo com alguma inconfessa conveniência. Nessa não caio eu! Porque se a História é sempre escrita pelos vencedores, também é certo que a verdade é como o azeite, mais tarde ou mais cedo, acaba por vir ao cimo.
Ah, quantas saudades do Blog dos primeiros tempos! Tudo se contava na primeira pessoa. Era tão simples, directo e autêntico.
Camaradas, desculpem lá qualquer coisinha.
Para toda a tertúlia, caso o bitate mereça publicação, segue um forte abraço deste que já não tem muito para dar.
Vitor Junqueira
Fotografia do aquartelamento do K3. Por aqui permaneceu a CCAÇ 2753 do Alf Mil Vítor Junqueira durante boa parte da sua comissão.
Foto: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.
Mansabá, local e quartel onde a CCAÇ 2753 do Alf Mil Vítor Junqueira substituiu a CART 2732 do Fur Mil Carlos Vinhal.
Foto: © Carlos Vinhal (2008). Direitos reservados.
2. Comentário de CV:
Caro Vítor, que bom ouvir-te de novo.
Tínha-me passado ao lado, desculpa a ignorância, a tua promoção a Senador. Se o Luís assim o entendeu, e sabemos como ele sabe avaliar as pessoas, estou inteiramente de acordo.
Dizes que a tua prosa, cantigas como chamas, não adormece ninguém. Pois não, como se pode ficar indiferente à qualidade da tua escrita? Pena que de vez em quando entres em hibernação e deixes de aparecer. Sabes que tens os teus fãs, entre os quais me incluo eu.
Voltando ao título de Senador, não há dúvida que exerces o cargo com alta competência, ou não vinhas junto de nós expôr as tuas oportunas críticas, daquelas que gostamos de ler, porque não ofendem, sendo antes o pensar de alguém com honestidade intelectual, como reconhecemos em ti.
Na verdade calcorreámos as mesmas picadas, refugiámo-nos atrás das mesmas árvores, emboscámos nos mesmos locais e sofremos igualmente pelas desventuras de cada uma das nossas Companhias e dos nossos camaradas. O que de mau acontecia numa Companhia era motivo de preocupação para a outra. Não eram ambas compostas, na sua maioria, por valentes ilhéus? Fomos vizinhos, primeiro, e locatários do mesmo aquartelamento, no fim. Não nos conhecemos então, mas temos a certeza de que faríamos, um pelo outro, na hora, o impossível.
Não comento os teus comentários, mas deixo-os aqui à consideração de quem nos lê.
Esperando que não nos voltes a privar de ti, tanto tempo como fizeste desta vez, deixo-te um abraço em nome dos editores em particular e da tertúlia, em geral.
O teu camarada e amigo desde as terras do Óio
Carlos Vinhal
__________
Notas de CV:
(*) vd. postes de:
18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1083: Histórias de Vitor Junqueira (1): Os Barões da açoriana CCAÇ 2753 (Madina Fula, Bironque, K3, 1970/72)
e
Guiné 63/74 - P1084: Histórias de Vitor Junqueira (2): O guerrilheiro desconhecido que foi 'capturado' no K3 por um básico da CCAÇ 2753
23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1110: Histórias de Vitor Junqueira (3): Do Bironque ao K3 ou as andanças da açoriana CCAÇ 2753 pela região de Farim
27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74: P1215: Histórias de Vitor Junqueira (4): Irmãos de sangue, suor e lágrimas
31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1224: Histórias de Vitor Junqueira (5): Não ao politicamente correcto
5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1403: Histórias de Vitor Junqueira (6): A açoriana CCAÇ 2753: uma família, uma unidade feita à medida
31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: Histórias de Vitor Junqueira (7): A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação
6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1567: Histórias de Vitor Junqueira (8): Operação Larga Agora, na região do Tancroal, com a CCAÇ 2753
11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3438: Histórias de Vitor Junqueira: (9): O Líbio e o alferes gazeteiro
17 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3464: Histórias de Vitor Junqueira (10): Santa Paz
Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4624: Blogoterapia (112): Saudades de outra idade (Juvenal Amado)
Guiné 63/74 - P4642: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (18): Manuel Traquina, ribatejano, escritor... e fadista (Luís Graça)
Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > (*) Novos talentos musicais: o ribatejano Manuel Traquina, interpretando o Fado do Sobreiro, um fado tradicional, recriado pelo fadista João Brasa, de Évora (vd. álbum de 2006, Vida Fadista), com acompanhamento à viola por Álvaro Basto (à esqureda) e David Guimarães (à direita)...
Eu sei que faltaram outros camaradas nossos, instrumentistas do fado, talentosos e versáteis, como o J. L. Vacas de Carvalho e o Jorge Félix... Mas a nossa Tabanca Grande tem sido uma caixinha de surpresas: este ano, no nosso encontro, houve, para além do Joaquim Mexias Alves e do Manuel Traquina, outros espontâneos que se ofereceram para cantar...
Infelizmente não tenho registo de todos, mas sei que, depois do Traquina, ainda acturam o José Martins, o José Pedro Neves e o Victor Barata (o nosso Zé Especial)... (Actuações que perdi por ter ido ao carro buscar pilhas para a máquina fotográfica e ter ficado depois a dar as despeddas ao Fernando Calado e ao Augusto Ismael, meus velhos companheiros de Bambadinca)...
Para o ano proponho, aos organizadores, que se promova um concurso de (novos e velhos) talentos musicais.
O Manuel Traquina, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, é também o autor de Os Tempos de Guerra - De Abrantes à Guiné. (**) . É autor, no nosso blogue, da série Venturas e Desventuras do Zé Olho Vivo (***)... Viveu em Angola, depois de ter cumprido o serviço militar
na Guiné. É natural do concelho de Abrantes, onde vive. Foi técnico de emprego, está hoje reformado.
Vídeo (2' 04''): © Luís Graça (2009). Direitos reservados
2. IV Encontro Nacional do Nosso Blogue
Fado do Sobreiro
Mesmo ao cimo do montado,
No ponto mais elevado,
Havia um enorme sobreiro
Que a dar bolota e cortiça,
De todos era a cobiça,
No montado era o primeiro.
Certa noite a tempestade,
Fez-se ouvir lá na herdade
O rebumbar de um trovão.
E no céu uma faixa risca,
Quando uma enorme faísca
Fez o sobreiro em carvão.
Passaram-se anos e agora
No mesmo sítio lá mora
Um chaparro altaneiro,
Mas em noites de luar
Houve-se o montado a chorar
Com saudades do sobreiro.
É assim a nossa vida,
Constantemente vivida,
Sempre e sempre a trabalhar.
Mas quando a morte vem,
Nós deixamos sempre alguém
Com saudades a chorar.
Letra tradicional
Do álbum Vida Fadista (2006), de João Brasa
Música: Fado marcha Alfredo Marceneiro
_____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4609: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (17): Comentários para rescaldo (Carlos Vinhal)
22 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4559: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (5): Esse nobre sentimento..., na voz do fadista J. Mexia Alves... (Luís Graça)
(**) 30 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4441: Bibliografia de uma guerra (48) "Os Tempos de Guerra - De Abrantes à Guiné", de autoria de Manuel Batista Traquina
(...) "É um relato da minha vida militar, em especial a comissão na Guiné, acontecimentos dentro e fora dos aquartelamentos que de um modo geral são comuns a todos quantos passaram pela Guiné. Penso que muitos dos acontecimentos dizem muito aos milhares de militares que passaram pela região de Buba e Aldeia Formosa.
"Além de mais pretendi com este livro deixar um testemunho da realidade que foi a Guerra Colonial e homenagear todos quantos por lá passaram, em especial aqueles que lá perderam a vida.
"O livro está a ser vendido ao preço de 15,00 € mais portes, e poderei enviá-lo a quem o solicitar. Poderei também enviá-lo à cobrança ou a quem fizer a tranferncia bancária neste caso 16,00 €". (...)
Traquina, Manuel Batista - Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné. (?): Palha. 2009 (?). 230 pp., 70 fotos [Contactos do autor, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70: Telefones: 241 107 046 / 933 442 582; E-mail: traquinamanuel@sapo.pt]
(***)Vd. postes anteriores do Manuel Traquina:
2 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2500: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (1): CCAÇ 2382 - A hora da partida
19 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3141: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (2): O ataque de 22 de Junho de 1968 a Contabane
17 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3214: Venturas e Desventuras do Zé do Ollho Vivo (3): Contabane, 22 e 23 de Junho de 1968: O Fur Mil Trms Pinho e os seus rádios
15 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3457: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (4): Baptismo de fogo e gemidos na noite
8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3855: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (5): As colunas Buba-Aldeia Formosa
12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4019: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (6): Estrada nova Buba - Aldeia Formosa
12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4327: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (7): O saxofone que não tinha sapatilhas
14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2944: Convívios (66): Pessoal da CCAÇ 2382, no dia 3 de Maio de 2008 na Vila de Óbidos (Manuel Batista Traquina)
23 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2791: Álbum das Glórias (46): O distintivo da CCAÇ 2382, 1968/70 (Manuel Baptista Traquina).
13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)
2 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2399: Tabanca Grande (47): Manuel Traquina, ex-Fur Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)
Guiné 63/74 - P4641: Memória dos lugares (32): A ponte de S.Vicente ou Euro-Africana – Designação oficial (José Marques Ferreira)
A foto do missionário italiano (muito idêntica à do Engº Pedro Moço – Soares da Costa)
sábado, 4 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4640: Tabanca Grande (158): José Albino P. Sousa, ex-Fur Mil Inf do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Bula e Tite, 1969/71)
Caro Carlos Vinhal:
A vontade de entrar na Tabanca, já vem de algum tempo atrás, mas agora, e por insistência do António Maria, resolvi avançar.
Entretanto, já elaborei o texto que me parece relatar a minha história na Guiné.
Entretanto te direi que estive em Bula com o Pelotão de Morteiros 2117, Maio, Junho e Julho de 1969, tendo depois sido chamado a Bissau para tirar um curso de obuses, avançando depois para Tite com um Pelotão de guineenses onde passei o resto da comissão.
Ao fim de um ano fui baptisado com os famosos foguetões a que se seguiram mais três ataques.
Abraço do Zé Albino
APRESENTAÇÃO
Nome: José Albino Pereira de Sousa
Nascido em 23.1.1946
Natural do Porto (fui nascer à Maternidade) mas considero-me de Matosinhos.
Casado
Dois filhos e dois netos
Morada: Senhora da Hora
Curso Industrial de Montador Electricista (Matosinhos)
Ex-técnico da Portugal Telecom na Pré-reforma
Ex-Furriel Miliciano de Infantaria
A MINHA HISTÓRIA MILITAR
Assentei praça no RI5 (Caldas da Rainha) a 15 de Janeiro de 1968, onde fiz a recruta, tendo efectuado o juramento de bandeira a 5.4.1968.
Foi-me atribuida a especialidade de Armas Pesadas, (teria eu força para pegar nelas?) e segui para o CISMI (Tavira), onde conclui o curso de Sargentos.
Segui para o RI8 (Braga), onde colaborei em duas formações de recrutas.
Na véspera de Natal de 1968, sou particularmente informado que estou mobilizado para a Guiné.
No início de 1969 sou integrado no Pelotão de Morteiros 2117, que faz o IAO em Chaves, e em finais de Maio, lá vou eu no Niassa, rumo a África em defesa da Pátria (assim nos tinham convencido).
O Pelotão de Morteiros é enviado para Bula, e aí passo os meses de Junho e Julho de 1969, sem qualquer episódio de ataque ao aquartelamento.
Entretanto, sou informado que teria de ir a Bissau tirar um curso no BAC.(Sabia lá eu o que era aquilo).
Chegado ao tal BAC (Bataria de Artilharia de Campanha) é que percebi que éramos três dezenas de graduados (alferes, sargentos e furrieis, oriundos de Pelotões de Morteiros e de Canhões sem Recuo), e estávamos ali para receber formação de Obuses, como que emprestados à Arma de Artilharia, constituir Pelotões de Obuses 10,5; 11,4 e 14, com militares guineenses.
Confesso que com os morteiros em Bula, teria de adaptar os quase esquecidos conhecimentos adquiridos, ao terreno, mas com Obuses, as granadas iam mais longe, pelo que a responsabilidade aumentava, e daí o meu esforço em adquirir o máximo de conhecimentos para tentar safar a pele.
Quero dizer com isto que me esforçei para ter uma boa classificação, o que me permitiu escolher o Quartel de destino.
Lembro-me de o Comandante da BAC ler a lista de quartéis a serem reforçados com Obuses, e no fim eu lhe dizer que só conhecia Bula e mal.
Então eu vou ler de novo - disse ele.
...
TITE??!!!!!
...
Bem, talvez Tite disse eu, pensando, seja o que Deus quiser.
OK! Vai ver que não é tão mau como se diz. Como está do outro lado do rio, aqui em Bissau ouvem-se as saídas e rebentamentos, mas normalmente é a bater a zona.
E lá fui eu numa LDG, com dois Obuses 10.5, cunhetes de granadas, e talvez duas dezenas de guineenses de várias etnias, acompanhados das respectivas famílias.
Chegados ao destacamento do Enxudé, lá estavam os matadores para rebocarem os dois Obuses para o quartel de Tite.
Lá chegado, apresentei-me aos superiores e ao meu colega artilheiro, Fur Mil Figueiredo de Coimbra, responsável pelo 8.8 existente.
Por sorte não sofri alguns dos ataques por não estar presente no quartel.
Bula e Tite foram atacadas, mas eu estava no curso na BAC, outra vez tinha ido a Bissau levantar os vencimentos do pessoal, etc.
Até que chegou a minha vez a 19.5.70, ao fim de um ano de espectativa, e logo com os tais foguetões.
Lembro-me de os dois obuses terem disparado cerca de 140 tiros nessa noite. Foi medonho.
Entretanto o Fur Mil Figueiredo regressou à metrópole e algum tempo depois chegou o Alferes Rocha do Porto, que comigo apanhou um violento ataque a 3.8.70, com morteiros e canhões sem recuo, estava eu a chegar de férias e o Salazar a morrer.
Contrariando as ordens do Major Martins Ferreira (BCAV 2867), (fogo só á ordem), reagimos ao ataque do PAIGC e os valentes artilheiros responderam com cerca de duas dezenas de granadas. Assim acabámos com o ataque.
Porque a iniciativa de reacção ao ataque foi da minha responsabilidade, (o Alferes Rocha também mandou umas ameixas, mas o Major não se apercebeu), fui ameaçado de ser despromovido, ser enviado para Pirada e pagar as cerca de duas dezenas de granadas. Calei-me e não deu em nada.
Depois disto, o Alferes foi não sei para onde e eu fiquei a comandar o pelotão até ao final da comissão, tendo vindo mais um Obus 10,5 com um novo camarada de Artilharia, Fur Mil Costa, dos Arcos de Valdevez, com a função de evitar que a partir de Bissássema, o PAIGC alcançasse Bissau, o que tentaram fazer no meu tempo, e mais tarde, penso que com êxito.
Lembrei-me agora que uma vez mandaram-me fazer cálculos de tiro para o mar (?) e apontar as peças quando recebesse as ordens. Era a operação Mar Verde.... em Conakri.
Refiro ainda outro ataque a Tite, já no final da comissão, com as granadas a cair fora do arame farpado.
Foram cerca de 17 meses em Tite, colaborando com o BCAV 2867 e BART 2924, até que recebi ordem para regressar a Bissau e juntar-me ao Pelotão de Morteiros 2117, de onde era originário, regressando à Metrópole no Angra do Heroismo, nos princípios de Fevereiro de 1971.
Obs:- Nunca disparei um Obus, apenas conferia os elementros de pontaria no limbo e no tambor que transmitia ao apontador, quando era para bater a zona, e por vezes ainda dava mais duas maniveladas.
Quero ainda deixar aqui o meu grande respeito aos guineenses, vítimas de políticas desumanas e políticos dementes, que lutaram heróicamente em nome de Portugal.
Zé Albino
Bula > Junho de 1969. Com dois meses de Guiné, claro que não era o pai.
Bula > Morteiro 81 > Pel Mort 2117
Tite > Pelotão de obuses 10,5 (190/71)
2. Comentário de CV:
Tenho o prazer de apresentar à Tertúlia mais um amigo, daqueles que, embora não se vendo com frequência, não se esquecem. Nos últimos três anos temo-nos encontrado no almoço dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos. O nosso novo camarada José Albino, Zé Albino para os amigos, é um companheiro dos velhos tempos da Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, frequentou o mesmo curso de Formação de Montador Electricista ao mesmo tempo que eu e o António Maria, camarada recentemente entrado para a Tabanca. Temos na Tertúlia ainda mais um ex-aluno da mesma Escola, o António Tavares e um professor, o ex-Cap Mil Ferreira Neto.
Se começasse a enumerar os tertulianos do nosso Blogue residentes no concelho de Matosinhos, arranjava uma longa lista.
Caro Zé Albino, estás apresentado à Tertúlia. A partir de agora tens a responsabilidade de contribuir para o espólio do nosso Blogue. Há sempre algo para contar, resquícios de uma vivência contidos nos confis da memória, que podem e devem ser patilhados por todos.
Deixo-te o habitual abraço de boas-vindas em nome de toda a tertúlia. A partir de hoje tens mais três centenas e meia de amigos que não conheces ainda, mas que tiveram a mesma experiência que tu, viveram e lutaram contra o clima, falta de condições, fome, estado de guerra e outras privações, naquela terra que ainda hoje temos no nosso coração, a Guiné-Bissau.
Para ti, um especial abraço do teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4625: Tabanca Grande (157): Constantino Costa (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/74)