1. Mais uma crónica do Cherno Baldé, enviada em 31 de Julho último, com as memórias do seu tempo de menino e moço em Fajonquito (*):
Ambientes e ambiguidades > O meu amigo Julio e as brigas de futebol
por Cherno Baldé
O Júllio era um garoto muito estimado entre os colegas do grupo de Sambaro Djau, bem constituído, duro que nem um pau esculpido e ágil como um animal selvagem. No futebol de salão era o mestre no drible de frente a frente. O seu nome verdadeiro era Abibo. Ficámos amigos logo a seguir ao nosso primeiro duelo. Os bons adversários respeitam-se mutuamente, não é?...
Ele trabalhava na caserna de um dos pelotões da companhia, uma construção em betão armado enterrada alguns metros debaixo do solo e onde se alojavam mais de 20 homens e que estava situada nos confins do aquartelamento. Nós, que éramos crianças e naturais da terra, na altura, não sentíamos o efeito do calor, mas muitos anos depois, quando me recoradava daqueles homens brancos metidos naquele buraco, mal conseguia imaginar o tamanho do sacrifício a que estavam sujeitos.
Ele ficou a ser o Júlio e eu o Chico, nomes emprestados a dois técnicos africanos que tinham vindo a Fajonquito para efectuar a reparação de alguma avaria da rádio de transmissões do quartel. Desse dia para a frente passámos a constituir um duo infernal no futebol juvenil.
Para além da irreverência e alma de desportistas natos, unia-nos o gosto da aventura e a frequência do quartel o nosso palco de actuação predilecto. Ao contrário dos outros rapazes da mesma idade, tínhamos a particularidade de andar sempre de calções em saia, sem ligações entre as pernas, a violencia da prática de futebol e a vagabundagem constante não permitiam tanto aprumo e tambem éramos daqueles que raramente voltavam a casa para o habitual banho da tarde e a troca de roupas, a água lamacenta da bolanha para nós ja era suficiente mesmo se pareciamos mais com porcos de mato com a lama branca da bolanha a cobrir a maior parte do corpo e os olhos cor de tijolo.
Na altura toda a gente queria ser o Pelé ou o Eusébio, sobretudo este último que estava muito em voga. Mas nem tudo era assim tão simples, os mais fortes é que escolhiam primeiro, se o Sambaro era Eusébio, então tínhamos que contentar com outros nomes menos sonantes, o baixinho Simões, por exemplo, quem conhecia o Simões?..
Para nós tudo o que era afro era melhor, isto enchia-nos de orgulho contrabalançando assim um pouco a superioridade evidente dos brancos que, mesmo sendo nossos amigos não deixavam de ser diferentes de nós, na verdade, esta fronteira racial nunca deixou de existir e de se manifestar no comportamento dos actores em cena, verificando-se uma espécie de invasão ou interpenetração de comportamentos estranhos, a cultura e educação tradicional de parte a parte e em especial dentro das nossas moranças que a insolência e incontinência dos soldados no baixo do escalão da hierarquia militar, e não só, agudizavam cada dia mais.
Será que podia ser doutra forma?... Não se esqueçam, estamos no princípio dos anos 70 e já existe no ar uma certa africanizaçao dos espíritos e começa a apontar uma certa confrontação atiçada pelos desafios de futebol entre africanos (que ou são tropas auxiliares em preparação ou serviçais no quartel) contra soldados portugueses, que sempre terminavam em brigas, sem consequencias graves, de resto.
Nós ja tínhamos os nossos atletas preferidos entre os africanos, claro, mesmo se a vantagem era quase sempre do lado dos brancos mais fortes e exímios em jogadas rápidas e golpes traiçoeiros de bola parada. Quando havia briga, os brancos venciam na mesma. Não eram soldados preparados para a guerra?... Os africanos tomavam a sua desforra durante os bailes da noite, com ritmos de Angola e do Congo com a luz de vácuo meio apagada para apalpar, na escuridão, os corpos redondos e suados das bajudas nas coladeiras.
O mal estava feito e o fosso ganhava contornos de um racismo ainda primário e de um proto-nacionalismo africano. Na verdade, o que parecia ser, na nossa opinião, o início de um conflito entre raças nao era senão o confronto nascido da vontade de suplantar o outro, o estranho e usurpador que, na realidade, era considerado superior e logo dominador no exíguo espaço da aldeia que constituia o palco central do cenário dos actores envolvidos na peça.
Hoje, passados que foram os anos e depois de todas as verdades e inverdades â volta das independencias, as vitórias e as derrotas no palmarés dos clubes que uns e outros pertenceram, por vontade própria ou por força das circunstâncias (pondo de parte, só por alguns segundos, os ideais e a obra do Amílcar Cabral), ainda questiono-me se a essência da nossa "gloriosa luta de libertação nacional" não terá sido isso mesmo: A vontade de suplantar o outro, o dominador, e de ocupar o seu lugar mas no sentido de que tudo continue na mesma, apenas mudando a sua posição de baixo para cima, afastando para isso o outro, o estranho que o impedia de usufruir de privilégios e de ser o epicentro das atenções das imaculadas bajudas.
__________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes de:
2 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4767: Blogoterapia (118): Os Fulas, o PAIGC e... os tugas (Cherno Baldé / Luís Graça)
27 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4746: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (8): Misérias e grandezas de Fajonquito, 1970/75
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Guiné 63/74 - P4781: Também quero homenagear os nossos picadores (J. Mexia Alves)
1. Mensagem de J. Mexia Alves (*), ex-Alf Mil da CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), com data de 3 de Agosto de 2009:
Caros camarigos editores
Tenho andado ocupado com outras guerras, mas não tenho deixado de vir ao fogo acariciador da fogueira da nossa Tabanca.
Por isso aqui vai um texto de homenagem que também quero fazer aos picadores (**).
Peço-vos que me acusem a recepção do dito cujo, visto que por vezes esta coisa falha e os textos não vos chegam às mãos.
Abraço fortemente camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves
2. Em o poste 966...
Caro Luís Graça,
Quero dar as boas vindas ao Mexia Alves. Lembro-me que ele, à época, estava completamente apanhado. Era boa praça.
Recordo-me dele muito bem e de um incidente no início de 1973, numa farra em Bambadinca, em que estava o Major de Operações do Batalhão [BART 3873], os alferes e furriéis da CCAÇ 12 e o Mexia Alves [Alf Mil Op Especiais, comandante do PEL CAÇ NAT 52].
Armou-se uma bronca a propósito de uns versos de uma canção, adaptada ao Comandante do Batalhão (Ten Cor António Tiago, já falecido), em que ele era tratado por Manel Ceguinho, o que levou o Major a dizer ao Mexia Alves que "não estávamos ali para armar em cobardes".
Ficou um ambiente de cortar à faca, que se ultrapassou com uma tirada do Mexia Alves, na qual dizia:
- Cobarde, eu, meu Major ?!... Eu que pico a estrada com os pés... que avanço à frente do Pelotão quando não há picadores ?!...
O Major colocou um sorriso amarelo e recolheu aos seus aposentos e nós lá ficámos a beber e a cantar as canções habituais. Umas bem sérias e outras de baixo nível, bem ordinárias como a da famosa Maria Bardajona...
Um abraço a todos,
António Duarte
Os Picadores
Caros camarigos
Reproduzo o post 966 (***), para também fazer a minha homenagem aos picadores.
Sempre me admirou a coragem daqueles homens que com uma pica na mão, desafiavam constantemente as leis das probabilidades.
Lembremo-nos que a pica era um dos artefactos militares mais modernos da longa panóplia de armamento que o nosso Exército fornecia às tropas, aqui muito bem descrito pelo Luís Graça:
«espantosa tecnologia que era um pau, menos comprido que a altura de um homem, maneirinho, direito, suficientemente pesado para dar sensibilidade à mão, terminando numa das extremidades por um prego grosso e bem afiado...»
Enquanto o resto da tropa seguia junta, para se protegerem uns aos outros, aqueles homens seguiam destacados na frente, separados dos outros, para que, imagine-se, se rebentassem alguma mina os outros não fossem atingidos.
Coisa estranha e cruel, numa tropa tão solidária!
Mas era assim que tinha de ser e era assim que se fazia.
Heróis desconhecidos a maior parte deles, porque em cada saída para as colunas ou para a mata, eles executavam o seu acto heróico à frente dos nossos olhos, conscientemente.
Por isso a reprodução do post acima, para demonstrar que só um gajo muito apanhado do clima, executaria tal missão.
Bem, é que um dia, não faço ideia porquê, decidimos ir do Mato Cão a Missirá pela estrada que já não era percorrida há longos meses.
Pegámos no burrinho como apoio e lá fomos nós estrada fora, com os picadores à frente.
Mas a coisa estava a demorar muito tempo e era preciso voltar no mesmo dia pelo que, o Alferes da coisa, (este vosso humilde criado), já muito apanhado, decidiu ir durante um pouco à frente, servindo-se dos seus pés como picas.
Há um ditado que nos diz que, “ao menino e ao borracho, põe Deus a mão por baixo” que aqui neste caso se poderia alterar para, “ao militar que é tolo, protege-o Deus de ficar num bolo”.
Depois, se bem me lembro, optámos por tentar seguir paralelamente à dita estrada.
Não houve problemas e regressámos ao palácio do Mato Cão em paz e sossego.
Um abraço sentido aos picadores.
Abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves
As Picas em acção na estrada Catió/Ganjola
Foto e legenda: © Jorge Teixeira (Portojo) (2009). Direitos reservados.
Bironque, 03DEZ71 > Esta mina AC felizmente foi detectada pelo método científico da vareta, ou pica.
Foto e legenda: © Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 3 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4773: Blogoterapia (119): Ainda choro e me revolto por todas as nossas mentiras... (Joaquim Mexia Alves, Pel Caç Nat 52 e CCAÇ 15)
(**) Vd. poste de 30 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4760: Pensamento do dia (17): Recordando as Picas (Jorge Teixeira)
(***) Vd. poste de 17 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P966: O Mexia Alves que eu conheci em Bambadinca (António Duarte, CCAÇ 12, 1973)
Caros camarigos editores
Tenho andado ocupado com outras guerras, mas não tenho deixado de vir ao fogo acariciador da fogueira da nossa Tabanca.
Por isso aqui vai um texto de homenagem que também quero fazer aos picadores (**).
Peço-vos que me acusem a recepção do dito cujo, visto que por vezes esta coisa falha e os textos não vos chegam às mãos.
Abraço fortemente camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves
2. Em o poste 966...
Caro Luís Graça,
Quero dar as boas vindas ao Mexia Alves. Lembro-me que ele, à época, estava completamente apanhado. Era boa praça.
Recordo-me dele muito bem e de um incidente no início de 1973, numa farra em Bambadinca, em que estava o Major de Operações do Batalhão [BART 3873], os alferes e furriéis da CCAÇ 12 e o Mexia Alves [Alf Mil Op Especiais, comandante do PEL CAÇ NAT 52].
Armou-se uma bronca a propósito de uns versos de uma canção, adaptada ao Comandante do Batalhão (Ten Cor António Tiago, já falecido), em que ele era tratado por Manel Ceguinho, o que levou o Major a dizer ao Mexia Alves que "não estávamos ali para armar em cobardes".
Ficou um ambiente de cortar à faca, que se ultrapassou com uma tirada do Mexia Alves, na qual dizia:
- Cobarde, eu, meu Major ?!... Eu que pico a estrada com os pés... que avanço à frente do Pelotão quando não há picadores ?!...
O Major colocou um sorriso amarelo e recolheu aos seus aposentos e nós lá ficámos a beber e a cantar as canções habituais. Umas bem sérias e outras de baixo nível, bem ordinárias como a da famosa Maria Bardajona...
Um abraço a todos,
António Duarte
Os Picadores
Caros camarigos
Reproduzo o post 966 (***), para também fazer a minha homenagem aos picadores.
Sempre me admirou a coragem daqueles homens que com uma pica na mão, desafiavam constantemente as leis das probabilidades.
Lembremo-nos que a pica era um dos artefactos militares mais modernos da longa panóplia de armamento que o nosso Exército fornecia às tropas, aqui muito bem descrito pelo Luís Graça:
«espantosa tecnologia que era um pau, menos comprido que a altura de um homem, maneirinho, direito, suficientemente pesado para dar sensibilidade à mão, terminando numa das extremidades por um prego grosso e bem afiado...»
Enquanto o resto da tropa seguia junta, para se protegerem uns aos outros, aqueles homens seguiam destacados na frente, separados dos outros, para que, imagine-se, se rebentassem alguma mina os outros não fossem atingidos.
Coisa estranha e cruel, numa tropa tão solidária!
Mas era assim que tinha de ser e era assim que se fazia.
Heróis desconhecidos a maior parte deles, porque em cada saída para as colunas ou para a mata, eles executavam o seu acto heróico à frente dos nossos olhos, conscientemente.
Por isso a reprodução do post acima, para demonstrar que só um gajo muito apanhado do clima, executaria tal missão.
Bem, é que um dia, não faço ideia porquê, decidimos ir do Mato Cão a Missirá pela estrada que já não era percorrida há longos meses.
Pegámos no burrinho como apoio e lá fomos nós estrada fora, com os picadores à frente.
Mas a coisa estava a demorar muito tempo e era preciso voltar no mesmo dia pelo que, o Alferes da coisa, (este vosso humilde criado), já muito apanhado, decidiu ir durante um pouco à frente, servindo-se dos seus pés como picas.
Há um ditado que nos diz que, “ao menino e ao borracho, põe Deus a mão por baixo” que aqui neste caso se poderia alterar para, “ao militar que é tolo, protege-o Deus de ficar num bolo”.
Depois, se bem me lembro, optámos por tentar seguir paralelamente à dita estrada.
Não houve problemas e regressámos ao palácio do Mato Cão em paz e sossego.
Um abraço sentido aos picadores.
Abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves
As Picas em acção na estrada Catió/Ganjola
Foto e legenda: © Jorge Teixeira (Portojo) (2009). Direitos reservados.
Bironque, 03DEZ71 > Esta mina AC felizmente foi detectada pelo método científico da vareta, ou pica.
Foto e legenda: © Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 3 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4773: Blogoterapia (119): Ainda choro e me revolto por todas as nossas mentiras... (Joaquim Mexia Alves, Pel Caç Nat 52 e CCAÇ 15)
(**) Vd. poste de 30 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4760: Pensamento do dia (17): Recordando as Picas (Jorge Teixeira)
(***) Vd. poste de 17 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P966: O Mexia Alves que eu conheci em Bambadinca (António Duarte, CCAÇ 12, 1973)
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Guiné 63/74 - P4780: In Memoriam (29): Manuel Canhão, ex-Fur Mil (Guiné, 1968/70), faleceu ontem, dia 3 de Agosto de 2009 (Jorge Teixeira/Portojo)
1. Mensagem de hoje, dia 4 de Agosto de 2009, do nosso camarada e tertuliano Jorge Teixeira (Portojo):
Amigo Vinhal
O Manuel Canhão deixou-nos.
Camarada de muitos de nós desde Vendas Novas em 1967 até à Guiné, amigo, desenfiado, mulherengo, aceitava todas as brincadeiras com o maior desportivismo.
Tantas estórias que temos dele e com ele, algumas já as referi num post antigo, deixa principalmente o nosso ainda pequeno grupo do Bando dos Furrieis do Café Progresso bem tristes.
A maior parte dos camaradas que com ele conviveu muitos momentos, espalharam-se principalmente pelas ex-Companhias independentes desde a CART 2410 até à 2414.
O corpo está em câmara ardente na Igreja de Gueifães, Maia, realizando-se o funeral amanhã pelas 10 horas.
Jorge Teixeira
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Amigo Vinhal
O Manuel Canhão deixou-nos.
Camarada de muitos de nós desde Vendas Novas em 1967 até à Guiné, amigo, desenfiado, mulherengo, aceitava todas as brincadeiras com o maior desportivismo.
Tantas estórias que temos dele e com ele, algumas já as referi num post antigo, deixa principalmente o nosso ainda pequeno grupo do Bando dos Furrieis do Café Progresso bem tristes.
A maior parte dos camaradas que com ele conviveu muitos momentos, espalharam-se principalmente pelas ex-Companhias independentes desde a CART 2410 até à 2414.
O corpo está em câmara ardente na Igreja de Gueifães, Maia, realizando-se o funeral amanhã pelas 10 horas.
Jorge Teixeira
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Guiné 63/74 - P4779: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (5): “O Campo de Ourique” da CCAÇ 675, Binta - 1964/66
1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), enviou-nos a sua 5ª estória, com data de 03 de Agosto de 2009, a que deu o seguinte título:
O «Campo de Ourique»
Carlos Dias Rodrigues de seu nome era um alfacinha de gema. Cenógrafo na vida civil foi na “675” 1º Cabo – Auto.
O «Campo de Ourique»
Carlos Dias Rodrigues de seu nome era um alfacinha de gema. Cenógrafo na vida civil foi na “675” 1º Cabo – Auto.
Opinioso e de palavra fácil percebia-se que se sentia melhor junto de Sargentos e Oficiais de que junto dos seus «pares».
Era metódico e cuidadoso na sua especialidade e, sempre que podia, questionava as ordens e... não deixava de "dar troco" ao seu furriel das «viaturas»...
O «Campo de Ourique» não tinha complexos de inferioridade...
Durante a fase mais complicada da vida da Companhia em termos operacionais «apanhou» com um mini-estilhaço de granada que o fez cliente assíduo do Posto de Socorros.
Queixava-se da cabeça e tantas queixas fez que a sua «crónica» dor de cabeça nem sempre foi levada muito a sério.
Pelo menos com a «seriedade» que o «Campo de Ourique» julgava que merecia. Julgamos que o «mini-estilhaçado» nunca foi localizado!
Depois na 2ª. Fase da Companhia – regresso das populações e melhorias do aquartelamento – foi sempre colaborante embora com pecadilho de anunciar «super-produções» que...demoraram o seu tempo a realizar.
Mas finalmente fez obra e foi o grande responsável pelo embelezamento da “Avenida Capitão de Binta”, com uma gigantesca “estrela” feita com garrafas de cerveja... Garrafas vazias, está claro...
Depois... no regresso foi presença assídua nos convívios da Companhia – referindo sempre que estava por perto alguém ligado ao S. Saúde o célebre estilhaço da cabeça.
Com estilhaço ou sem ele... esteve ligado a um dos momentos mais conseguidos de uma das festas realizadas em Lisboa.
Ligado ao teatro – recordamos que era cenógrafo – conseguiu bilhetes para a malta da “675” que, nesse ano, depois do almoço, foi assistir a uma peça que era protagonizada por Jacinto Ramos e Irene Cruz.
Foi um momento muito bonito que ficámos a dever ao...Campo de Ourique.
Depois os anos passaram e... o «Campo de Ourique» foi sempre aparecendo mas percebia-se que já não era o mesmo.
Num dos últimos convívios ficámos ao pé dele. Conversámos muito e ouvimos da sua boca um testemunho impressionante.
Tinha um filho apanhado pela droga. Estava a fazer uma «autêntica Via Sacra» pelos locais onde se vendia e consumia droga para tentar perceber o que tinha levado o seu filho para aquela «zona da vida»... tão perto da morte.
Confessou-me que já tinha ido vezes sem conta ao Casal Ventoso e não conseguia perceber a opção de vida... dos drogados.
Era um homem amargurado. Muito amargurado.
Desconhecemos como acabou o drama que o atormentava.
Julgamos que... não acabou bem.
Um homem da cidade, da grande cidade, refugiou-se nos últimos anos da sua vida na Madeira. Na Ilha de Porto Santo...
Onde veio a falecer em 18 de Outubro de 2005.
Recordamos com respeito o «Campo de Ourique».
Carregou penas bem pesadas. Que a terra lhe seja leve.
Em tempo:
Telefonou-me ontem o Tavares. O ex-Alferes Belmiro Tavares, da CCaç. 675. Havia boas notícias do filho do “Campo de Ourique”.
O rapaz estava curado. Tinha casado e era um homem novo.
Caro Carlos estejas onde estiveres aqui fica a boa nova e, por favor, descansa em paz.
Os teus amigos( ainda por cá…) podem agora ,de novo, recordar-te com um sorriso .
Algures no tempo… a tua gigantesca “estrela” da Avenida Capitão de Binta brilha agora de novo na noite do Norte da Guiné “Estrela” feita com garrafas de cerveja... Garrafas vazias, está claro...mas com a tua marca de cenógrafo, de homem das artes, de artista, de sonhador!.
Boa noite, Carlos.
Um abraço Amigo,
JERO
Fur Mil da CCAÇ 675
____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
Guiné 63/74 - P4778: Tabanca Grande (168): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã (1969/70)
1. Mensagem de Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70, com data de 1 de Agosto de 2009:
Caro Editor.
Em anexo segue o texto bem com as fotos que o ilustram.
Qualquer dúvida pode ser prontamente respondida pelo telefone 96 293 88 17.
Se momentanteamente não me fôr possível atender, é porque estou na praia.
Mas descanse que a 16 já cá estou.
Um grande abraço do
Armando Pires
2. Camaradas.
Com vossa licença, e sem dispêndio para a Fazenda Nacional, apresenta-se o ex-Furriel Miliciano Armando Pires, Enfermeiro da CCS do BCAÇ 2861, Guiné, Fev69 a Dez70.
E apresento-me de baraço ao pescoço, porque faz tempo que entrei aqui na Tabanca, furtivamente, sem um olá, como vai isso, abri armários, saltitei de prateleira em prateleira, vasculhei gavetas, lendo-vos a alma e vendo como o tempo vos (nos) enrugou o rosto.
Reconheço que não foi bonito.
Todavia, tenho a atenuante de não vos ter tomado a aldeia num golpe de mão premeditado. Estava, até, longe de saber as vossas coordenadas. Não foi um de vós que me ensinou o caminho, mas alguém que vos conhece.
A coisa foi assim:
Estava eu à conversa com um camarada de profissão acerca de um trabalho que ele realizava sobre a guerra na Guiné e perguntei-lhe:
- Olha lá, onde é que descobriste esse matreco?
- Pesquisei no blog de um tipo chamado Luís Graça. Não conheces?.
E porque não conhecia, deu-me o endereço e foi assim que cá vim parar.
Entrei pela porta dentro a gritar pela minha gente, mas deles, da minha gente, não estava cá ninguém.
De todo o Batalhão, que incluía as CCAÇ 2464, 2465 e 2466, nem um só homem respondeu ao chamamento.
Talvez vocês os conheçam.
É tudo malta que andou ali pelo sector de Bula e Bissorã.
Bula primeiro, chegamos lá em Fevereiro, 14. As Companhias foram distribuídas por Binar, Biambe, Encheia e arredores.
Em Agosto de 69 vim de férias, a casa, e quando regressei, no final do mês, foi-me dito que ia de DO para Bissorã, porque a sede do Batalhão passara para lá.
Bom, não encontrei aqui nenhum dos meus, mas, de tanto esgravatar, na segunda gaveta do armário da entrada, dei de caras com uma pasta que, ao abri-la, até me deu estremeções.
Havia ali nomes que não me eram estranhos, relatos que reconheci.
Desde logo quando o Leão Lopes, numa resposta ao Benjamim, do BART 2917, dizia lembrar-se de um tal Vinagre que admitia ser de Coruche.
Antes que me perca nas entrelhinhas, fica já um apelo ao Leão para, quando puderes, me explicares essa do tal Vinagre.
Porque Vinagre, de Coruche, sem margem para dúvidas, era o Alferes de Informações do meu Batalhão e não me consta que o Polidoro tenha ficado com ele na Guiné.
Seria familiar? Podemos tirar isso a limpo?
Se puder ser agradeço e prometo explicar depois porquê.
E por falar em Polidoro, vejam só, num comentário do Luís Graça li esta passagem:
- "sendo então comandante (do BART 2917) o ten-cor Polidoro Monteiro".
Ó Luís, o Polidoro, João Polidoro Monteiro, foi comandante do meu Batalhão, do 2861.
Chegou periquito a Bissorã, em finais de Novembro de 1969, vindo de Moçambique, onde comandou a Guarda Fiscal, para render o Ten Cor César Correia da Silva.
Estou a vê-lo, ao Polidoro, galões reluzentes sobre um camuflado acabadinho de saír do Casão Militar, olhos protegidos pelas lentes escuras de uns inevitáveis Ray-Ban's, pingalim tremelicando na mão direita, voz forte e decidida advertindo a força em parada:
- Não me tomem por periquito, que de guerra venho eu farto.
Depois, a ordem que obrigava todos os militares a andarem devidamente fardados e ataviados quando não em serviço (???).
Se esta não fosse já um mimo, a cereja em cima do bolo veio de seguida.
Íamos fazer exercícios de protecção ao aquartelamento.
Poupo-vos ao relato e consequências, embora fossem de ir às lágrimas.
Já mais tarimbado na função, o Paulo Santiago, ex-comandante do Pel Caç Nat 53, aqui nos relatos da Tabanca mostra-o, ao Polidoro, numa foto (1) tirada nas margens do Geba, ali no Mato Cão, exibindo um magnifico troféu de caça.
Com a mais respeitosa vénia ao Santiago, recoloco aqui a tal foto, ao lado de uma outra (2) tirada por mim, em Bissorã, pedindo-lhes que descubram a semelhança.
(1) - Guiné > Mato Cão > 1971
(2) - Bissorã > 1970 > Festa tribal. À esquerda o Alf Capelão Batista, à direita o Ten Cor Polidoro Monteiro
- Hum!!! Já viram? Reparem outra vez… olhem bem… não deram por ela?... É A FACA DE MATO, caramba! Ali, sempre pendurada no ombro direito.
Já agora, aquele tipo baixinho e anafadinho que também está na foto, a fingir que está lá por engano, mas sem conseguir esconder o sorriso travesso e olhar guloso, é o Batista, o Alferes Batista, O CAPELÃO, a quem aproveito para prestar a homenagem devida a quem, ano após ano, continua a marcar presença nos nossos encontros para celebrar a missa que só ele pode celebrar e sentir em Honra dos Nossos Mortos.
Disse.
Começo a olhar para trás e a sentir que o texto já vai longo, que se calhar o Editor não vai achar graça nenhuma, mas como é a primeira vez e, já se sabe, à primeira vez todos somos desajeitados, vou prosseguir.
Não para contar como foi que através do “Jornal da Tabanca” cheguei até um tal ex-furriel miliciano Cerqueira, de Braga, o enfermeiro que me rendeu, de quem eu tinha uma foto, que ele de todo não tinha, dando-lhe um abraço à sua chegada a Bissorã, foto, cuja, lhe quis enviar na presunção de que lhe daria tanto prazer a ele como a mim.
O recordar desse instante ocorrido há quase 40 anos, e que quando lhe telefonei (com emoção, senhores, que emoção) para saber do seu endereço electrónico, usei a norma inscrita nas NEP’s da Tabanca tratando-o por Camarada, o que eu fui arranjar porque... “eu não sou camarada, ouviu” - claro que ouvi, estupefacto, mas ouvi, mas dê lá o seu email, lá foram as fotos mas um “pronto recebi e obrigado” é que nada e assim sendo, assunto encerrado.
Deixem-me então contar como foi que me encontrei com o Carlos Fortunato.
Como disse, andava eu a vasculhar sem pudor e sem licença nas vossas memórias, quando ouço relatos de um tipo que estivera em Bissorã nos anos 70, pertencente à CCAÇ 13, vulgo “Os Leões Negros”.
Pimba já está que isto é comigo – gritei eu - eu tenho de conhecer este gajo, eu conheço este gajo da 13, abri a gaveta das minhas recordações e lá estava, o crachá da 13, o tipo, o Fortunato até tinha ali um link para a página dos leoesnegros.com, lá vou eu devorando tudo o que havia para ver e ler, abro a pasta que se titulava de “ataque à outra banda”, mergulho no relato, fechei os olhos a meio, recostei-me na cadeira e completei o resto, ouvindo de novo as armas, as correrias, os gritos, as ordens, o chão a tremer, o cheiro que fica no ar quando as armas se calam, “oh Sousa, traz o jeep para levar este para baixo "(estava ferido), isto gritei eu, que estava lá, na Outra Banda, não porque tivesse que lá estar, mas porque nessa noite me apeteceu lá ir beber umas cervejolas com a malta, e o Fortunato, na sua página, tinha uma foto (3) tirada do interior da caserna para o exterior, através de um buraco de RPG 7, e eu tinha uma outra (4) tirada exactamente ao mesmo buraco, mas do exterior para o interior.
Deixem-me partilhar convosco esses documentos.
(3) - O impacto da granada visto do interior da caserna
(4) - O mesmo impacto, mas de fora para dentro. O caretas sou eu.
O tipo que faz caretas à máquina (ou à outra?) sou eu!
Num ápice escrevi ao Fortunato, mandei-lhe a minha foto e, como vivemos próximos, marcamos um encontro.
Face a face não nos reconhecemos, mas nenhum de nós precisa de se reconhecer, basta o santo e a senha, Guiné!, e é como se toda uma vida houvesse para nos unir.
Aquela manhã, à mesa do Aquários, teve o sabor dos velhos tempos dos bancos da escola.
Regressei a casa e gastei uma pipa em telefone (porque há quem não tenha esta maquineta) a dar conta à malta da minha turma do encontro com o Fortunato.
E pronto, como acho que já me estiquei nos caractéres, fico por aqui.
Claro que quero pedir para ser admitido à mesa da Tabanca.
Nas formalidades que faltam, vão as fotos do antes e do depois.
E dizer que nasci em Santarém, que sou da recruta de Jan/67 nas Caldas da Rainha, que daí fui para Tavira com a Especialidade de Atirador e como Tavira ficava muito longe da universidade nocturna de Lisboa, onde depois da Licenciatura me preparava para fazer o Mestrado, uns gajos que conheciam umas gajas que conheciam uns gajos que mexiam nos cartões mecanográficos do Exército, concluíram que o melhor, para estarmos juntos, era ficar na Estrela a fazer a Especialidade de Enfermeiro.
São ínvios os caminhos da vida, e assim a coisa aconteceu.
Como é que os cartões mexeram é que não conto, porque não sei se os crimes já prescreveram.
Acabou-se a tropa, deixei a seringa lá dentro, e fiz-me à vida que foi o sonho de toda a vida.
Vivo agora acalmado em Miraflores e estou danado para lançar um convite ao meu vizinho Luís Graça.
Se quiseres beber um copo combina que eu é só atravessar a rua.
Agora vou uns dias de vacances.
Se quando voltar tiver sido aceite na Tabanca, prometo acrescentar algumas estórias a este poderoso livro de contos.
A todos o meu abraço.
3. Comentário de CV:
Caro Pires, depois deste texto de apresentação, só posso dizer-te que entres, que escolhas o melhor lugar, talvez junto a uma janela, ainda há por aí algumas cadeiras vagas, e que te instales o melhor possível.
Não demos por que andasses a mexer nas nossas coisas, situação a que estamos habituaddos desde há muito. Sabemos que até jovens estudantes nos rebuscam quando pretendem elementos sobre a guerra colonial, particularmente a da Guiné. Como deves depreender é para nós uma honra ter uma página recheada de histórias contadas pelos intervenientes naquela guerra, possuír um acervo de fotografias inéditas, com instantâneos verdadeiramente espectaculares. Nada de truques ou fotomontagens.
A tua entrada promete que irás ter um papel activo no nosso Blogue. Não desiludas, porque jeito não te falta e material terás de sobejo.
Eu ainda sou teu contemporâneo (ABR70/MAR72) e estive em Bissorã julgo que em 1970, ou 71? Não me perguntes o que lá fui fazer.
Fomos quase vizinhos, já que eu estive em Mansabá o tempo todo. Curiosamente havia a oeste de Mansabá uma pequena elevação conhecida por Alto de Bissorã, donde éramos atacados vezes sem conta. Má vizinhança tínhamos por ali.
Caro novo camarada e amigo, em nome de toda a tertúlia envio-te o inevitável abraço de boas-vindas. A partir de hoje tens mais 360 amigos e camaradas, camarigos, a quem poderás contar a tua experiência como militar, muito mais, como elemento do Serviço de Saúde do Exército Português, que tinha na nossa guerra uma função ímpar junto da população nativa. Tens que nos contar tudo.
Um abraço do novo camarada
Carlos Vinhal
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4774: Tabanca Grande (167): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissorã e Mansabá (1965/67)
Caro Editor.
Em anexo segue o texto bem com as fotos que o ilustram.
Qualquer dúvida pode ser prontamente respondida pelo telefone 96 293 88 17.
Se momentanteamente não me fôr possível atender, é porque estou na praia.
Mas descanse que a 16 já cá estou.
Um grande abraço do
Armando Pires
2. Camaradas.
Com vossa licença, e sem dispêndio para a Fazenda Nacional, apresenta-se o ex-Furriel Miliciano Armando Pires, Enfermeiro da CCS do BCAÇ 2861, Guiné, Fev69 a Dez70.
E apresento-me de baraço ao pescoço, porque faz tempo que entrei aqui na Tabanca, furtivamente, sem um olá, como vai isso, abri armários, saltitei de prateleira em prateleira, vasculhei gavetas, lendo-vos a alma e vendo como o tempo vos (nos) enrugou o rosto.
Reconheço que não foi bonito.
Todavia, tenho a atenuante de não vos ter tomado a aldeia num golpe de mão premeditado. Estava, até, longe de saber as vossas coordenadas. Não foi um de vós que me ensinou o caminho, mas alguém que vos conhece.
A coisa foi assim:
Estava eu à conversa com um camarada de profissão acerca de um trabalho que ele realizava sobre a guerra na Guiné e perguntei-lhe:
- Olha lá, onde é que descobriste esse matreco?
- Pesquisei no blog de um tipo chamado Luís Graça. Não conheces?.
E porque não conhecia, deu-me o endereço e foi assim que cá vim parar.
Entrei pela porta dentro a gritar pela minha gente, mas deles, da minha gente, não estava cá ninguém.
De todo o Batalhão, que incluía as CCAÇ 2464, 2465 e 2466, nem um só homem respondeu ao chamamento.
Talvez vocês os conheçam.
É tudo malta que andou ali pelo sector de Bula e Bissorã.
Bula primeiro, chegamos lá em Fevereiro, 14. As Companhias foram distribuídas por Binar, Biambe, Encheia e arredores.
Em Agosto de 69 vim de férias, a casa, e quando regressei, no final do mês, foi-me dito que ia de DO para Bissorã, porque a sede do Batalhão passara para lá.
Bom, não encontrei aqui nenhum dos meus, mas, de tanto esgravatar, na segunda gaveta do armário da entrada, dei de caras com uma pasta que, ao abri-la, até me deu estremeções.
Havia ali nomes que não me eram estranhos, relatos que reconheci.
Desde logo quando o Leão Lopes, numa resposta ao Benjamim, do BART 2917, dizia lembrar-se de um tal Vinagre que admitia ser de Coruche.
Antes que me perca nas entrelhinhas, fica já um apelo ao Leão para, quando puderes, me explicares essa do tal Vinagre.
Porque Vinagre, de Coruche, sem margem para dúvidas, era o Alferes de Informações do meu Batalhão e não me consta que o Polidoro tenha ficado com ele na Guiné.
Seria familiar? Podemos tirar isso a limpo?
Se puder ser agradeço e prometo explicar depois porquê.
E por falar em Polidoro, vejam só, num comentário do Luís Graça li esta passagem:
- "sendo então comandante (do BART 2917) o ten-cor Polidoro Monteiro".
Ó Luís, o Polidoro, João Polidoro Monteiro, foi comandante do meu Batalhão, do 2861.
Chegou periquito a Bissorã, em finais de Novembro de 1969, vindo de Moçambique, onde comandou a Guarda Fiscal, para render o Ten Cor César Correia da Silva.
Estou a vê-lo, ao Polidoro, galões reluzentes sobre um camuflado acabadinho de saír do Casão Militar, olhos protegidos pelas lentes escuras de uns inevitáveis Ray-Ban's, pingalim tremelicando na mão direita, voz forte e decidida advertindo a força em parada:
- Não me tomem por periquito, que de guerra venho eu farto.
Depois, a ordem que obrigava todos os militares a andarem devidamente fardados e ataviados quando não em serviço (???).
Se esta não fosse já um mimo, a cereja em cima do bolo veio de seguida.
Íamos fazer exercícios de protecção ao aquartelamento.
Poupo-vos ao relato e consequências, embora fossem de ir às lágrimas.
Já mais tarimbado na função, o Paulo Santiago, ex-comandante do Pel Caç Nat 53, aqui nos relatos da Tabanca mostra-o, ao Polidoro, numa foto (1) tirada nas margens do Geba, ali no Mato Cão, exibindo um magnifico troféu de caça.
Com a mais respeitosa vénia ao Santiago, recoloco aqui a tal foto, ao lado de uma outra (2) tirada por mim, em Bissorã, pedindo-lhes que descubram a semelhança.
(1) - Guiné > Mato Cão > 1971
(2) - Bissorã > 1970 > Festa tribal. À esquerda o Alf Capelão Batista, à direita o Ten Cor Polidoro Monteiro
- Hum!!! Já viram? Reparem outra vez… olhem bem… não deram por ela?... É A FACA DE MATO, caramba! Ali, sempre pendurada no ombro direito.
Já agora, aquele tipo baixinho e anafadinho que também está na foto, a fingir que está lá por engano, mas sem conseguir esconder o sorriso travesso e olhar guloso, é o Batista, o Alferes Batista, O CAPELÃO, a quem aproveito para prestar a homenagem devida a quem, ano após ano, continua a marcar presença nos nossos encontros para celebrar a missa que só ele pode celebrar e sentir em Honra dos Nossos Mortos.
Disse.
Começo a olhar para trás e a sentir que o texto já vai longo, que se calhar o Editor não vai achar graça nenhuma, mas como é a primeira vez e, já se sabe, à primeira vez todos somos desajeitados, vou prosseguir.
Não para contar como foi que através do “Jornal da Tabanca” cheguei até um tal ex-furriel miliciano Cerqueira, de Braga, o enfermeiro que me rendeu, de quem eu tinha uma foto, que ele de todo não tinha, dando-lhe um abraço à sua chegada a Bissorã, foto, cuja, lhe quis enviar na presunção de que lhe daria tanto prazer a ele como a mim.
O recordar desse instante ocorrido há quase 40 anos, e que quando lhe telefonei (com emoção, senhores, que emoção) para saber do seu endereço electrónico, usei a norma inscrita nas NEP’s da Tabanca tratando-o por Camarada, o que eu fui arranjar porque... “eu não sou camarada, ouviu” - claro que ouvi, estupefacto, mas ouvi, mas dê lá o seu email, lá foram as fotos mas um “pronto recebi e obrigado” é que nada e assim sendo, assunto encerrado.
Deixem-me então contar como foi que me encontrei com o Carlos Fortunato.
Como disse, andava eu a vasculhar sem pudor e sem licença nas vossas memórias, quando ouço relatos de um tipo que estivera em Bissorã nos anos 70, pertencente à CCAÇ 13, vulgo “Os Leões Negros”.
Pimba já está que isto é comigo – gritei eu - eu tenho de conhecer este gajo, eu conheço este gajo da 13, abri a gaveta das minhas recordações e lá estava, o crachá da 13, o tipo, o Fortunato até tinha ali um link para a página dos leoesnegros.com, lá vou eu devorando tudo o que havia para ver e ler, abro a pasta que se titulava de “ataque à outra banda”, mergulho no relato, fechei os olhos a meio, recostei-me na cadeira e completei o resto, ouvindo de novo as armas, as correrias, os gritos, as ordens, o chão a tremer, o cheiro que fica no ar quando as armas se calam, “oh Sousa, traz o jeep para levar este para baixo "(estava ferido), isto gritei eu, que estava lá, na Outra Banda, não porque tivesse que lá estar, mas porque nessa noite me apeteceu lá ir beber umas cervejolas com a malta, e o Fortunato, na sua página, tinha uma foto (3) tirada do interior da caserna para o exterior, através de um buraco de RPG 7, e eu tinha uma outra (4) tirada exactamente ao mesmo buraco, mas do exterior para o interior.
Deixem-me partilhar convosco esses documentos.
(3) - O impacto da granada visto do interior da caserna
(4) - O mesmo impacto, mas de fora para dentro. O caretas sou eu.
O tipo que faz caretas à máquina (ou à outra?) sou eu!
Num ápice escrevi ao Fortunato, mandei-lhe a minha foto e, como vivemos próximos, marcamos um encontro.
Face a face não nos reconhecemos, mas nenhum de nós precisa de se reconhecer, basta o santo e a senha, Guiné!, e é como se toda uma vida houvesse para nos unir.
Aquela manhã, à mesa do Aquários, teve o sabor dos velhos tempos dos bancos da escola.
Regressei a casa e gastei uma pipa em telefone (porque há quem não tenha esta maquineta) a dar conta à malta da minha turma do encontro com o Fortunato.
E pronto, como acho que já me estiquei nos caractéres, fico por aqui.
Claro que quero pedir para ser admitido à mesa da Tabanca.
Nas formalidades que faltam, vão as fotos do antes e do depois.
E dizer que nasci em Santarém, que sou da recruta de Jan/67 nas Caldas da Rainha, que daí fui para Tavira com a Especialidade de Atirador e como Tavira ficava muito longe da universidade nocturna de Lisboa, onde depois da Licenciatura me preparava para fazer o Mestrado, uns gajos que conheciam umas gajas que conheciam uns gajos que mexiam nos cartões mecanográficos do Exército, concluíram que o melhor, para estarmos juntos, era ficar na Estrela a fazer a Especialidade de Enfermeiro.
São ínvios os caminhos da vida, e assim a coisa aconteceu.
Como é que os cartões mexeram é que não conto, porque não sei se os crimes já prescreveram.
Acabou-se a tropa, deixei a seringa lá dentro, e fiz-me à vida que foi o sonho de toda a vida.
Vivo agora acalmado em Miraflores e estou danado para lançar um convite ao meu vizinho Luís Graça.
Se quiseres beber um copo combina que eu é só atravessar a rua.
Agora vou uns dias de vacances.
Se quando voltar tiver sido aceite na Tabanca, prometo acrescentar algumas estórias a este poderoso livro de contos.
A todos o meu abraço.
3. Comentário de CV:
Caro Pires, depois deste texto de apresentação, só posso dizer-te que entres, que escolhas o melhor lugar, talvez junto a uma janela, ainda há por aí algumas cadeiras vagas, e que te instales o melhor possível.
Não demos por que andasses a mexer nas nossas coisas, situação a que estamos habituaddos desde há muito. Sabemos que até jovens estudantes nos rebuscam quando pretendem elementos sobre a guerra colonial, particularmente a da Guiné. Como deves depreender é para nós uma honra ter uma página recheada de histórias contadas pelos intervenientes naquela guerra, possuír um acervo de fotografias inéditas, com instantâneos verdadeiramente espectaculares. Nada de truques ou fotomontagens.
A tua entrada promete que irás ter um papel activo no nosso Blogue. Não desiludas, porque jeito não te falta e material terás de sobejo.
Eu ainda sou teu contemporâneo (ABR70/MAR72) e estive em Bissorã julgo que em 1970, ou 71? Não me perguntes o que lá fui fazer.
Fomos quase vizinhos, já que eu estive em Mansabá o tempo todo. Curiosamente havia a oeste de Mansabá uma pequena elevação conhecida por Alto de Bissorã, donde éramos atacados vezes sem conta. Má vizinhança tínhamos por ali.
Caro novo camarada e amigo, em nome de toda a tertúlia envio-te o inevitável abraço de boas-vindas. A partir de hoje tens mais 360 amigos e camaradas, camarigos, a quem poderás contar a tua experiência como militar, muito mais, como elemento do Serviço de Saúde do Exército Português, que tinha na nossa guerra uma função ímpar junto da população nativa. Tens que nos contar tudo.
Um abraço do novo camarada
Carlos Vinhal
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4774: Tabanca Grande (167): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissorã e Mansabá (1965/67)
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Guiné 63/74 - P4777: Estórias do Mário Pinto (5): “O Palácio das Confusões” e o “Pilão”
1. Mais uma mensagem, que nos trás muitas saudosas memórias, enviada pelo nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71:
Amigos e Camaradas,
Hoje venho recordar ao pessoal da Tabanca Grande, uma degradada instalação militar em Bissau, que era posta à disposição dos furriéis milicianos e demais Sargentos, em trânsito por aquela cidade, nos anos 1969/71, vindos do interior do C.T.I.G..
Refiro-me àquele que ficou tristemente então conhecido por:
"O Palácio das Confusões"
No meu tempo, os elementos da classe de sargentos, à qual eu pertencia, que tinham necessidade de transitar (passar uns dias) em Bissau, vindos das suas unidades do meio do mato, por diversas situações (férias, consultas, tratamentos médicos que não necessitavam de internamento hospitalar e outros assuntos pessoais), tinham como destino o Q.G. de Bissau.
Sempre que esses militares necessitavam de pernoitar, o Quartel-General colocava ao seu dispor, uma camarata sem o mínimo de condições de higiene e habitabilidade, para que, os mesmos, pudessem repousar digna e satisfatoriamente.
Assim, quem não aceitava aqueles “alojamentos”, como era o meu caso, restava-lhe gastar então os seus preciosos e parcos Pesos, numa das várias pensões que haviam espalhadas pela cidade, ou dormindo em instalações de camaradas nossos amigos, ou conhecidos, que estavam colocados nas diversas unidades da capital.
Quantas vezes não nos valeu, para “dormirmos”, o tão “atractivo” Pilão?
Quem pode esquecer aquele temido e místico bairro periférico de Bissau, com as suas numerosas e famosas rameiras, onde muitos de nós nas nossas aventureiras e saudosas juventudes, por lá se arriscavam a ficar uma(s) noite(s), apesar dos eminentes e graves perigos que corríamos (onde se incluía o da própria vida)?
Eu não esqueço!
Desconheço quem foi o autor deste adequado e justo nome de baptismo: "O Palácio das Confusões", mas que no meu tempo fez escola e era conhecido de todos nós, pelos piores motivos, disso ninguém duvide.
É certo que a grande maioria de nós não estava habituado a instalações de luxo nas nossas unidades, como eu e os meus camaradas que estávamos bem cientes de estarmos devidamente “instancionados” no bu… rako de Mampatá, sem nunca termos visto casernas ou instalações condignas, pois tudo o que nos servia de abrigo era desenrascado com enorme “engenho e arte”, pela malta (raros “feiticeiros” de sacrifício e trabalho)… nos confins da Guiné.
Agora, em Bissau “aquele nojo”?!
Devia ter sido questão de honra e lealdade, para os então respectivos serviços do exército, prestarem alojamento aos seus sargentos, condignamente, viessem eles deslocados de longe ou de perto de Bissau, porque eram estes homens que davam o corpo ao manifesto no tarrafo e nas bolanhas, para reter e combater o IN, de modo que nunca os atacassem a eles, no “bem-bom”.
Creio que anos mais tarde, alguém mais consciencioso e decidido do Q.G., resolveu acabar com estas macabras instalações e construir, no mesmo local, não outra mísera caserna, mas um edifício sólido construído em blocos, com quartos já com alguma comodidade, para o tal pessoal “passageiro”.
Termino esta crónica a citar um “ditado”, a meu modo torneado, para condizer com a narração: “Não havia bem que sempre durasse, nem mal que não se acabasse”.
Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Foto: © Casimiro Carvalho (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
31 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4762: Estórias do Mário Pinto (4): Fotógrafos de guerra
Amigos e Camaradas,
Hoje venho recordar ao pessoal da Tabanca Grande, uma degradada instalação militar em Bissau, que era posta à disposição dos furriéis milicianos e demais Sargentos, em trânsito por aquela cidade, nos anos 1969/71, vindos do interior do C.T.I.G..
Refiro-me àquele que ficou tristemente então conhecido por:
"O Palácio das Confusões"
No meu tempo, os elementos da classe de sargentos, à qual eu pertencia, que tinham necessidade de transitar (passar uns dias) em Bissau, vindos das suas unidades do meio do mato, por diversas situações (férias, consultas, tratamentos médicos que não necessitavam de internamento hospitalar e outros assuntos pessoais), tinham como destino o Q.G. de Bissau.
Sempre que esses militares necessitavam de pernoitar, o Quartel-General colocava ao seu dispor, uma camarata sem o mínimo de condições de higiene e habitabilidade, para que, os mesmos, pudessem repousar digna e satisfatoriamente.
Assim, quem não aceitava aqueles “alojamentos”, como era o meu caso, restava-lhe gastar então os seus preciosos e parcos Pesos, numa das várias pensões que haviam espalhadas pela cidade, ou dormindo em instalações de camaradas nossos amigos, ou conhecidos, que estavam colocados nas diversas unidades da capital.
Quantas vezes não nos valeu, para “dormirmos”, o tão “atractivo” Pilão?
Quem pode esquecer aquele temido e místico bairro periférico de Bissau, com as suas numerosas e famosas rameiras, onde muitos de nós nas nossas aventureiras e saudosas juventudes, por lá se arriscavam a ficar uma(s) noite(s), apesar dos eminentes e graves perigos que corríamos (onde se incluía o da própria vida)?
Eu não esqueço!
Desconheço quem foi o autor deste adequado e justo nome de baptismo: "O Palácio das Confusões", mas que no meu tempo fez escola e era conhecido de todos nós, pelos piores motivos, disso ninguém duvide.
É certo que a grande maioria de nós não estava habituado a instalações de luxo nas nossas unidades, como eu e os meus camaradas que estávamos bem cientes de estarmos devidamente “instancionados” no bu… rako de Mampatá, sem nunca termos visto casernas ou instalações condignas, pois tudo o que nos servia de abrigo era desenrascado com enorme “engenho e arte”, pela malta (raros “feiticeiros” de sacrifício e trabalho)… nos confins da Guiné.
Agora, em Bissau “aquele nojo”?!
Devia ter sido questão de honra e lealdade, para os então respectivos serviços do exército, prestarem alojamento aos seus sargentos, condignamente, viessem eles deslocados de longe ou de perto de Bissau, porque eram estes homens que davam o corpo ao manifesto no tarrafo e nas bolanhas, para reter e combater o IN, de modo que nunca os atacassem a eles, no “bem-bom”.
Creio que anos mais tarde, alguém mais consciencioso e decidido do Q.G., resolveu acabar com estas macabras instalações e construir, no mesmo local, não outra mísera caserna, mas um edifício sólido construído em blocos, com quartos já com alguma comodidade, para o tal pessoal “passageiro”.
Termino esta crónica a citar um “ditado”, a meu modo torneado, para condizer com a narração: “Não havia bem que sempre durasse, nem mal que não se acabasse”.
Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Foto: © Casimiro Carvalho (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
31 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4762: Estórias do Mário Pinto (4): Fotógrafos de guerra
Guiné 63/74 - P4776: Parabéns a você (16): Rui Alexandrino Ferreira, Cor Reformado (Editores)
Hoje, dia 4 de Agosto, acrescenta mais um ano de vida, que desejamos se prolongue por mais algumas décadas, o nosso camarada RUI ALEXANDRINO FERREIRA.
Desde já os nossos parabéns ao Rui, neste dia em que vimos desejar-lhe a melhor saúde na companhia dos que lhe são mais queridos.
Rui Alexandrino Ferreira (*) é natural de Angola (Lubango, 1943) e vive em Viseu, terra que adaptou e onde tem muitos e bons amigos.
Fez o COM em Mafra em 1964.
Tem duas comissões na Guiné:
- como Alferes Miliciano (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67)
- como Capitão Miliciano (CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72).
Fez ainda uma comissão em Angola, como capitão.
Publicou em 2000 a sua primeira obra literária, "Rumo a Fulacunda".
Rumo a Fulacunda.
2.ª edição, 2003
Palimage Editores
(Colecção Imagens de Hoje).
415 páginas
Preço: capa 20€.
Aproveitamos para publicar uma mensagem que nos foi enviada, em tempos, pelo nosso outro camarada/escritor Mário Fitas, a propósito do livro "Rumo a Fulacunda".
Luís,
Se me é permitido, queria deixar na Tabanca Grande, uma mensagem em louvor de um Homem, precisamente com H grande.
Acabei de ler - pela segunda vez - “Rumo a Fulacunda”. Um livro que me confirmou de facto como o mundo é pequeno, pois não esperava neste livro tão bem escrito da nossa verdadeira História, algo que a mim estivesse ligado e que refiro:
1 – CART 1525 - da qual conheço toda a sua permanência em terras da Guiné - do meu amigo e companheiro de brincadeiras de criança, Cor Tirocinado Jorge Piçarra Mourão.
2 – Ser o autor conterrâneo - Angolano - de um também meu grande amigo e companheiro ornitófilo, eng.º Alípio Pinheiro da Silva.
3 – Referir na sua obra a Companhia 816 da qual fez parte o actual presidente da Freguesia do Estoril, e o qual acarinhou a publicação do meu livro.
Isto diz-me qualquer coisa portanto sinto.
Quanto à Obra em si, quero referir a sensibilidade do autor.
Desculpa Rui mas tenho de te copiar:
Agradecimento:
Todo o caminho é belo se cumprido
Ficar no meio é que é perder o sonho
É deixá-lo apodrecer no resumido
Circulo da angústia e do abandono
(Alda Lara)
Lindo!...
Dedicatória:
A quem:
“ao unir ao meu o seu destino, lhe insuflou a força, norteou o sentido”
“ À minha querida mãe e à memória e saudade do meu pai,……..deixou em mim um profundo vazio”
Belo!... São as únicas coisas que ainda hoje nos fazem reviver, o mundo maravilhoso de crianças!
Rumo a Fulacunda é Guiné terra bonita!
Rumo a Fulacunda é mata, lama, suor e sangue!
Rumo a Fulacunda é o imprevisto e as carências de quem vive a esperança do amanhã!
Rumo a Fulacunda é o amadurecimento de um Homem a quem não deixaram viver a juventude envolvendo-o no angustiante drama da Guerra!
Para o Rui Ferreira o fraterno abraço e agradecimento, pelas belas páginas de uma Verdade esquecida e escondida.
Força Rui!
Obrigado Luís
Mário Fitas
Algumas fotos ao acaso:
Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2.º encontro da nossa tertúlia > Foto (parcial) do grupo: assinalado com um círculo a amarelo, o Rui Alexandrino Ferreira, coronel na reforma, autor do livro de memórias Rumo a Fulacunda
Viseu > 2001 > O Rui Alexandrino Ferreira, faz a apresentação do seu livro de memórias Rumo a Fulacunda, editado pela Palimage.
Guiné > Aldeia Formosa (Quebo) > CCAÇ 18 (1970/72) > 1971 > "No meu quarto no Quebo com camuflado Cubano".
Guiné > Fulacunda > CCAÇ 1420 (1965/67) > 1967 > "Com a Eusébia, a mascote da companhia".
Guiné > Fulacunda > CCAÇ 1420 (1965/67) 1966 > O Alf Mil Rui Ferreira "com um chapéu turra".
Guiné > Aldeia Formosa > CCAÇ 18 (1970/72) > 1971 > Os primeiros foguetões 122 capturados aos guerrilheiros do PAIGC. O Cap Mil Rui Ferreira, comandante da CCAÇ 18, é o elemento do meio, na fotografia.
Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 >Da esquerda para a direita: Luís Raínha, Vasco da Gama, Rui Ferreia e António Carvalho > Fnalmente, o bacalhau da reconciliação e da paz, acarinhado pelo Vasco, testemunhado pelo Carvalho e fotografado pelo Luís Graça...
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)
31 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1639: Estórias de Bissau (12): uma cidade militarizada (Rui Alexandrino Ferreira)
1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1718: Lendo de um fôlego o livro do Rui Ferreira, Rumo a Fulacunda (Virgínio Briote)
15 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1761: A floresta-galeria na escrita de Rui Ferreira
30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1797: Convívios (13): Viseu: Homenagem ao Rui Ferreira e apresentação do último livro do Gertrurdes da Silva (Paulo Santiago)
30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1800: Álbum das Glórias (14): De Alferes (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) a Capitão (CCAÇ 18, Quebo, 1970/72) (Rui Ferreira)
4 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)
11 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2523: Estórias de Guileje (7): Um capitão, cacimbado, e um médico, periquito, aos tiros um ao outro... (Rui Ferreira)
22 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3144: Dando a mão à palmatória (15): Alf Mil Rainha era comandante do Gr Cmds Centuriões (Rui A. Ferreira)
29 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3155: Ainda o "Rumo a Fulacunda" e o ex-Alf Mil Luís Rainha (Carlos Vinhal/Luís Rainha/Rui Ferreira)
15 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3744: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (12): Spínola podia ter feito muito mais... (Rui Alexandrino Ferreira)
24 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4568: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (11): Um modelo de gestão de conflitos: Vasco da Gama, Luis Raínha, Rui Ferreira...
28 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4599: Em busca de... (78): Antigo camarada do RI 10, Aveiro, 1965 (Rui Alexandrino Ferreira)
29 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4601: Estórias avulsas (36): O insólito aconteceu (Rui A. Ferreira)
23 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4728: Dando a mão à palmatória (22): Nota Prévia em defesa do bom nome de Luís Rainha (Rui A. Ferreira)
Vd. último poste da série de 30 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4758: Parabéns a você (15): Francisco Palma da CCAV 2748 e Júlio Abreu do BCAÇ 506 e Companhia de Comandos do CTIG (Editores)
Desde já os nossos parabéns ao Rui, neste dia em que vimos desejar-lhe a melhor saúde na companhia dos que lhe são mais queridos.
Rui Alexandrino Ferreira (*) é natural de Angola (Lubango, 1943) e vive em Viseu, terra que adaptou e onde tem muitos e bons amigos.
Fez o COM em Mafra em 1964.
Tem duas comissões na Guiné:
- como Alferes Miliciano (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67)
- como Capitão Miliciano (CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72).
Fez ainda uma comissão em Angola, como capitão.
Publicou em 2000 a sua primeira obra literária, "Rumo a Fulacunda".
Rumo a Fulacunda.
2.ª edição, 2003
Palimage Editores
(Colecção Imagens de Hoje).
415 páginas
Preço: capa 20€.
Aproveitamos para publicar uma mensagem que nos foi enviada, em tempos, pelo nosso outro camarada/escritor Mário Fitas, a propósito do livro "Rumo a Fulacunda".
Luís,
Se me é permitido, queria deixar na Tabanca Grande, uma mensagem em louvor de um Homem, precisamente com H grande.
Acabei de ler - pela segunda vez - “Rumo a Fulacunda”. Um livro que me confirmou de facto como o mundo é pequeno, pois não esperava neste livro tão bem escrito da nossa verdadeira História, algo que a mim estivesse ligado e que refiro:
1 – CART 1525 - da qual conheço toda a sua permanência em terras da Guiné - do meu amigo e companheiro de brincadeiras de criança, Cor Tirocinado Jorge Piçarra Mourão.
2 – Ser o autor conterrâneo - Angolano - de um também meu grande amigo e companheiro ornitófilo, eng.º Alípio Pinheiro da Silva.
3 – Referir na sua obra a Companhia 816 da qual fez parte o actual presidente da Freguesia do Estoril, e o qual acarinhou a publicação do meu livro.
Isto diz-me qualquer coisa portanto sinto.
Quanto à Obra em si, quero referir a sensibilidade do autor.
Desculpa Rui mas tenho de te copiar:
Agradecimento:
Todo o caminho é belo se cumprido
Ficar no meio é que é perder o sonho
É deixá-lo apodrecer no resumido
Circulo da angústia e do abandono
(Alda Lara)
Lindo!...
Dedicatória:
A quem:
“ao unir ao meu o seu destino, lhe insuflou a força, norteou o sentido”
“ À minha querida mãe e à memória e saudade do meu pai,……..deixou em mim um profundo vazio”
Belo!... São as únicas coisas que ainda hoje nos fazem reviver, o mundo maravilhoso de crianças!
Rumo a Fulacunda é Guiné terra bonita!
Rumo a Fulacunda é mata, lama, suor e sangue!
Rumo a Fulacunda é o imprevisto e as carências de quem vive a esperança do amanhã!
Rumo a Fulacunda é o amadurecimento de um Homem a quem não deixaram viver a juventude envolvendo-o no angustiante drama da Guerra!
Para o Rui Ferreira o fraterno abraço e agradecimento, pelas belas páginas de uma Verdade esquecida e escondida.
Força Rui!
Obrigado Luís
Mário Fitas
Algumas fotos ao acaso:
Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2.º encontro da nossa tertúlia > Foto (parcial) do grupo: assinalado com um círculo a amarelo, o Rui Alexandrino Ferreira, coronel na reforma, autor do livro de memórias Rumo a Fulacunda
Viseu > 2001 > O Rui Alexandrino Ferreira, faz a apresentação do seu livro de memórias Rumo a Fulacunda, editado pela Palimage.
Guiné > Aldeia Formosa (Quebo) > CCAÇ 18 (1970/72) > 1971 > "No meu quarto no Quebo com camuflado Cubano".
Guiné > Fulacunda > CCAÇ 1420 (1965/67) > 1967 > "Com a Eusébia, a mascote da companhia".
Guiné > Fulacunda > CCAÇ 1420 (1965/67) 1966 > O Alf Mil Rui Ferreira "com um chapéu turra".
Guiné > Aldeia Formosa > CCAÇ 18 (1970/72) > 1971 > Os primeiros foguetões 122 capturados aos guerrilheiros do PAIGC. O Cap Mil Rui Ferreira, comandante da CCAÇ 18, é o elemento do meio, na fotografia.
Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 >Da esquerda para a direita: Luís Raínha, Vasco da Gama, Rui Ferreia e António Carvalho > Fnalmente, o bacalhau da reconciliação e da paz, acarinhado pelo Vasco, testemunhado pelo Carvalho e fotografado pelo Luís Graça...
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)
31 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1639: Estórias de Bissau (12): uma cidade militarizada (Rui Alexandrino Ferreira)
1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1718: Lendo de um fôlego o livro do Rui Ferreira, Rumo a Fulacunda (Virgínio Briote)
15 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1761: A floresta-galeria na escrita de Rui Ferreira
30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1797: Convívios (13): Viseu: Homenagem ao Rui Ferreira e apresentação do último livro do Gertrurdes da Silva (Paulo Santiago)
30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1800: Álbum das Glórias (14): De Alferes (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) a Capitão (CCAÇ 18, Quebo, 1970/72) (Rui Ferreira)
4 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)
11 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2523: Estórias de Guileje (7): Um capitão, cacimbado, e um médico, periquito, aos tiros um ao outro... (Rui Ferreira)
22 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3144: Dando a mão à palmatória (15): Alf Mil Rainha era comandante do Gr Cmds Centuriões (Rui A. Ferreira)
29 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3155: Ainda o "Rumo a Fulacunda" e o ex-Alf Mil Luís Rainha (Carlos Vinhal/Luís Rainha/Rui Ferreira)
15 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3744: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (12): Spínola podia ter feito muito mais... (Rui Alexandrino Ferreira)
24 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4568: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (11): Um modelo de gestão de conflitos: Vasco da Gama, Luis Raínha, Rui Ferreira...
28 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4599: Em busca de... (78): Antigo camarada do RI 10, Aveiro, 1965 (Rui Alexandrino Ferreira)
29 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4601: Estórias avulsas (36): O insólito aconteceu (Rui A. Ferreira)
23 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4728: Dando a mão à palmatória (22): Nota Prévia em defesa do bom nome de Luís Rainha (Rui A. Ferreira)
Vd. último poste da série de 30 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4758: Parabéns a você (15): Francisco Palma da CCAV 2748 e Júlio Abreu do BCAÇ 506 e Companhia de Comandos do CTIG (Editores)
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Guiné 63/74 - P4775: Notas de Leitura (14): Mariazinha em África (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (*), ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70, com data de 31 de Julho de 2009:
Querido amigo,
Valeu a pena reler esta jóia de Fernanda de Castro e atrevi-me a sugerir a sua leitura aos nossos confrades.
Parto amanhã para a minha casa de pedra dentro de uma floresta silenciosa, algures no concelho de Pedrógão Grande.
Ando a redescobrir a vida depois de uma catástrofe inusitada.
Um abraço do Mário
Mariazinha em África:
O despontar da literatura colonial guineense
Beja Santos
Foi o estudioso Leopoldo Amado quem, no seu ensaio A Literatura Colonial Guineense (várias vezes aqui referido no blogue), chamou a atenção para as obras de Fernanda de Castro (1900 – 1994), uma escritora que viveu na sua adolescência em Bolama e que teve um indesmentível papel pioneiro na literatura colonial da Guiné. O destaque deve ser posto em Mariazinha em África, um best-seller da literatura infantil cuja primeira edição surgiu em 1926 e que neste momento está ainda disponível na edição das obras completas de Fernanda de Castro no Círculo de Leitores.
No critério de Leopoldo Amado prevalece o facto de Fernanda de Castro evidenciar no seu trabalho as atitudes do Estado Novo perante as colónias. Ele escreve: “Não é apenas o exotismo, o paternalismo e o desconhecimento do Outro civilizacional que da produção literária–colonial de Fernanda de Castro numa peça chave para compreender as metamorfoses da política oficial. É, por assim dizer, a idiossincrasia com que encarou a sua produção literária-colonial, o que a forçou nas edições seguintes a alterações conteudísticas de forma a se equidistar da política oficial do Estado Novo que, paradoxalmente, apregoava a multiracialidade. O racismo colonial, hábil, tinha também uma actuação e respectiva teorização correspondente. Ao longo das diferentes edições de Mariazinha em África, Fernanda de Castro procedeu a uma suavização da visão colonialista do negro. Mariazinha em África está entre os livros mais vendidos em Portugal”.
Esta obra original de literatura infantil, uma pequena gema do modernismo literário, é de facto um livro muito bem estruturado e que vai espelhar a manifestação do que se pensava, designadamente nos anos 20 e 30, do negro e do espírito de missão do branco. Mariazinha tem o pai a viver em Bolama, dirige os serviços da capitania de Bolama e era o chefe dos serviços marítimos da Guiné. Viaja com a sua mãe e o seu irmão Afonso de Lisboa para Bissau, integra-se nas lides marítimas, aprende o que são as toninhas e os peixes voadores e um dia chega-se ao calor africano, o vapor vai ancorar no porto de Bissau onde o pai de Mariazinha abraça a mulher e os filhos. Descobre que os tubarões não devoram os negrinhos que mergulham para apanhar as moedas lançadas à água pelos passageiros. Mariazinha deslumbra-se com a viagem para Bolama: “Palmeira e coqueiros, de grandes leques de folhas, vinham até à praia, nasciam quase dentro de água e pareciam as sentinelas vigilantes daquela região misteriosa.
De vez em quando, um pássaro de cores vivas voava sobre o barco. Macacos, aos guinchos, saltavam de ramo em ramo. E o calor, sufocante, tornava-lhes a respiração pesada e difícil”. Sempre curiosa, faz perguntas e aprende o que são papaias, assiste a uma festa dos Mancanhas, constata que os pretos falam “uma língua de trapos”, experimenta as inclemências de um tornado, assiste a uma caçada no Oio, delicia-se com a água do coco, é pedida em casamento por um poderoso chefe tribal depois de uma recepção em Buba, deslumbra-se com os cavaleiros cujos animais vinham ricamente ajaezados com arreios de couro lavrado, vai constituindo um pequeno jardim zoológico e um belo dia regressam todos, trazem o Vicente, um menino da região e vão viver para a outra banda. Certamente acicatada pelo sucesso deste livro, Fernanda de Castro irá publicar em 1935 Novas Aventuras de Mariazinha, a acção decorre na Quinta da Amoreira e reaparece Vicente que se impõe pelo seu afecto, pela sua delicadeza, mas também pela sua “língua de trapos”, exprimindo-se, aqui e acolá, em crioulo (Manga di arroz! Arroz bom di mais!). Vicente é o expoente do exotismo em terra de brancos: “Os meninos que vinham visitá-los – Mariazinha e os irmãos tinham muitos primos e muitos amigos – andavam à roda de Vicente como borboletas tontas em volta da luz. Riam dos seus menores gestos, da sua estranha e divertida linguagem, e Vicente, encantado com tão inesperado êxito, andava cada vez mais feliz e mais brincalhão”. Vicente sofre um processo de civilização, é muito bem tratado, mais não é par dos meninos brancos a não ser para as brincadeiras: come na cozinha com os criados e vive noutro espaço, cada um no seu lugar. Este segundo livro de Fernanda de Castro, no entanto, incorpora outra dimensão da moral do Estado Novo, investindo em histórias exemplares que têm a ver com os valores do trabalho, a solidariedade filial, as diversões construtivas, a aprendizagem da modéstia e da humildade, o papel da religião. Não terá sido por acaso que o livro terminava com as crianças a rezar o Pai-nosso na Quinta da Amoreira e Vicente rezava assim: “Santificada seja o vossi nomi”. A integração na civilização superior passava pela cristianização. Décadas depois a mentalidade mudou e o Estado Novo passou a conviver melhor com o islamismo, aceitando na Guiné limites para o fervor missionário.
Recomenda-se a todos os tertulianos que ainda não conheçam estes livros de Fernanda de Castro que os adquiram e os comentem depois aos seus netos. Foi com Fernanda de Castro que se abriu um ciclo literário que também será preenchido por importante literatura nativa, como será o caso de Juvenal Cabral, pai de Amílcar Cabral.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 29 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4756: Historiografia da presença portuguesa (20): 1º Cruzeiro de férias às colónias de C. Verde, Guiné, S. Tomé... (Beja Santos)
Vd. último poste da série de 2 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4766: Notas de leitura (13): "Os Anos da Guerra Colonial" e as suas incorrecções (António Dâmaso)
Querido amigo,
Valeu a pena reler esta jóia de Fernanda de Castro e atrevi-me a sugerir a sua leitura aos nossos confrades.
Parto amanhã para a minha casa de pedra dentro de uma floresta silenciosa, algures no concelho de Pedrógão Grande.
Ando a redescobrir a vida depois de uma catástrofe inusitada.
Um abraço do Mário
Mariazinha em África:
O despontar da literatura colonial guineense
Beja Santos
Foi o estudioso Leopoldo Amado quem, no seu ensaio A Literatura Colonial Guineense (várias vezes aqui referido no blogue), chamou a atenção para as obras de Fernanda de Castro (1900 – 1994), uma escritora que viveu na sua adolescência em Bolama e que teve um indesmentível papel pioneiro na literatura colonial da Guiné. O destaque deve ser posto em Mariazinha em África, um best-seller da literatura infantil cuja primeira edição surgiu em 1926 e que neste momento está ainda disponível na edição das obras completas de Fernanda de Castro no Círculo de Leitores.
No critério de Leopoldo Amado prevalece o facto de Fernanda de Castro evidenciar no seu trabalho as atitudes do Estado Novo perante as colónias. Ele escreve: “Não é apenas o exotismo, o paternalismo e o desconhecimento do Outro civilizacional que da produção literária–colonial de Fernanda de Castro numa peça chave para compreender as metamorfoses da política oficial. É, por assim dizer, a idiossincrasia com que encarou a sua produção literária-colonial, o que a forçou nas edições seguintes a alterações conteudísticas de forma a se equidistar da política oficial do Estado Novo que, paradoxalmente, apregoava a multiracialidade. O racismo colonial, hábil, tinha também uma actuação e respectiva teorização correspondente. Ao longo das diferentes edições de Mariazinha em África, Fernanda de Castro procedeu a uma suavização da visão colonialista do negro. Mariazinha em África está entre os livros mais vendidos em Portugal”.
Esta obra original de literatura infantil, uma pequena gema do modernismo literário, é de facto um livro muito bem estruturado e que vai espelhar a manifestação do que se pensava, designadamente nos anos 20 e 30, do negro e do espírito de missão do branco. Mariazinha tem o pai a viver em Bolama, dirige os serviços da capitania de Bolama e era o chefe dos serviços marítimos da Guiné. Viaja com a sua mãe e o seu irmão Afonso de Lisboa para Bissau, integra-se nas lides marítimas, aprende o que são as toninhas e os peixes voadores e um dia chega-se ao calor africano, o vapor vai ancorar no porto de Bissau onde o pai de Mariazinha abraça a mulher e os filhos. Descobre que os tubarões não devoram os negrinhos que mergulham para apanhar as moedas lançadas à água pelos passageiros. Mariazinha deslumbra-se com a viagem para Bolama: “Palmeira e coqueiros, de grandes leques de folhas, vinham até à praia, nasciam quase dentro de água e pareciam as sentinelas vigilantes daquela região misteriosa.
De vez em quando, um pássaro de cores vivas voava sobre o barco. Macacos, aos guinchos, saltavam de ramo em ramo. E o calor, sufocante, tornava-lhes a respiração pesada e difícil”. Sempre curiosa, faz perguntas e aprende o que são papaias, assiste a uma festa dos Mancanhas, constata que os pretos falam “uma língua de trapos”, experimenta as inclemências de um tornado, assiste a uma caçada no Oio, delicia-se com a água do coco, é pedida em casamento por um poderoso chefe tribal depois de uma recepção em Buba, deslumbra-se com os cavaleiros cujos animais vinham ricamente ajaezados com arreios de couro lavrado, vai constituindo um pequeno jardim zoológico e um belo dia regressam todos, trazem o Vicente, um menino da região e vão viver para a outra banda. Certamente acicatada pelo sucesso deste livro, Fernanda de Castro irá publicar em 1935 Novas Aventuras de Mariazinha, a acção decorre na Quinta da Amoreira e reaparece Vicente que se impõe pelo seu afecto, pela sua delicadeza, mas também pela sua “língua de trapos”, exprimindo-se, aqui e acolá, em crioulo (Manga di arroz! Arroz bom di mais!). Vicente é o expoente do exotismo em terra de brancos: “Os meninos que vinham visitá-los – Mariazinha e os irmãos tinham muitos primos e muitos amigos – andavam à roda de Vicente como borboletas tontas em volta da luz. Riam dos seus menores gestos, da sua estranha e divertida linguagem, e Vicente, encantado com tão inesperado êxito, andava cada vez mais feliz e mais brincalhão”. Vicente sofre um processo de civilização, é muito bem tratado, mais não é par dos meninos brancos a não ser para as brincadeiras: come na cozinha com os criados e vive noutro espaço, cada um no seu lugar. Este segundo livro de Fernanda de Castro, no entanto, incorpora outra dimensão da moral do Estado Novo, investindo em histórias exemplares que têm a ver com os valores do trabalho, a solidariedade filial, as diversões construtivas, a aprendizagem da modéstia e da humildade, o papel da religião. Não terá sido por acaso que o livro terminava com as crianças a rezar o Pai-nosso na Quinta da Amoreira e Vicente rezava assim: “Santificada seja o vossi nomi”. A integração na civilização superior passava pela cristianização. Décadas depois a mentalidade mudou e o Estado Novo passou a conviver melhor com o islamismo, aceitando na Guiné limites para o fervor missionário.
Recomenda-se a todos os tertulianos que ainda não conheçam estes livros de Fernanda de Castro que os adquiram e os comentem depois aos seus netos. Foi com Fernanda de Castro que se abriu um ciclo literário que também será preenchido por importante literatura nativa, como será o caso de Juvenal Cabral, pai de Amílcar Cabral.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 29 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4756: Historiografia da presença portuguesa (20): 1º Cruzeiro de férias às colónias de C. Verde, Guiné, S. Tomé... (Beja Santos)
Vd. último poste da série de 2 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4766: Notas de leitura (13): "Os Anos da Guerra Colonial" e as suas incorrecções (António Dâmaso)
Guiné 63/74 - P4774: Tabanca Grande (167): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissorã e Mansabá (1965/67)
1. Mensagem do nosso novo camarada Manuel Joaquim, ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67, com data de 31 de Julho de 2009:
Apresento-me já:
Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCaç 1419 (Bissau, Bissorã, Mansabá, 1965/67).
Meu caro Luis Graça:
Quero inscrever-me na Tabanca, mas ainda não sei bem utilizar esta coisa (mandar fotos p.ex.); estou mesmo no início.
Um info-excluído, ou quase, que está a tentar sair desta situação e dando os primeiros passos na net, encontra um blogue (Luis Graça & Camaradas da Guiné) e... que descoberta!
Já lá vão umas boas horas de emoção! Mas nunca é tarde, nem para aprender a manipular o computador nem para começar a participar nesta rede de emoções/recordações.
Por isso aqui estou a dar notícia de mim e a pedir que me aguardem. Para já, meu caro LUIS Manuel da GRAÇA Henriques (Algures no cu do mundo, longe do Vietnam) - Luis Graça (A tropa macaca e a elite da tropa), (Eu por cá fico bem, graças a Deus), (Subsídios para a história da africanização da guerra), a pessoa a quem me estou a dirigir só pode ser a mesma que colaborou - títulos em itálico - nas MEMÓRIAS DA GUERRA COLONIAL publicadas no semanário O JORNAL no princípio dos anos oitenta. É que eu também colaborei (Fafé) e o teu nome e teus textos ficaram-me na memória! Não estou enganado, pois não?
Fui professor do ensino básico (Escola Gago Coutinho/Amadora) e director da Escola Profissional de Recuperação do Património/Sintra.
Estou aposentado e perto dos 68 anos (1/9).
Sou sócio da "Ajuda Amiga-Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento", muito ligada à Guiné.
Espero voltar brevemente ao contacto.
Saudações amigas e solidárias!
Manuel Joaquim
PS: Estou a olhar para a formatação do texto e estou envergonhado.
Ah, moro em AGUALVA-CACÉM.
2. Comentário de CV:
Uma vez que o Chefe está em pleno gozo de férias, estou a representá-lo nesta nobre missão de recepção aos novos camaradas.
Assim sendo, caro Manuel Joaquim, sê bem-vindo a esta família que o Luís Graça fundou há cerca de 4 anos e que não pára de aumentar.
Na verdade, o Luís Graça é a pessoa que referes e que leste nos anos 80. Ele e o jornalista Afonso Praça, ex-Alf Mil em Angola, infelizmente já falecido, alimentavam, no extinto semanário "O Jornal", uma rubrica com o título "Memórias da Guerra Colonial". Deve-se aliás ao Luís o slogan "Exorcizar os fantasmas da Guerra Colonial".
Já reparaste que entraste na Tabanca sem cumprir as formalidades, porque o preço de inscrição é o envio de duas fotos (antiga e actual) mais uma história. Até à próxima Assembleia Geral ficas à consideração.
Agora a sério, não te preocupes com os poucos conhecimentos que dizes ter em matéria de informática. O que é preciso é tempo para ir aos poucos entrando nesta coisa tão complicada e, no fundo, tão simples.
Para poderes enviares as tuas fotos tens que ter um digitalizador para as transferires para As tuas Imagens e dispores delas sempre que queiras, por exemplo para nos enviares para publicação.
Há-de haver aí por casa, ou na família, alguém que dê uma ajuda.
Os textos poderás escrevê-los directamente no corpo da mensagem, como fizeste desta vez. Não te preocupes com a formatação que nós resolvemos isso cá. Gralhas, podes mandar à vontade que nós também as matamos. Temos a preocupação de passar os textos a pente fino, porque há sempre uma letra que está na tecla ao lado, naquela que não teclamos.
Espero que já te sintas mais à vontade connosco. A malta é fixe.
Já que falaste de Mansabá, não posso deixar de referir os meus 22 meses passados lá. Boas instalações, bons acessos (sei que no teu tempo não era assim), boa água e muita, mas mesmo muita porrada. Coube-nos fazer protecção aos trabalhos de finalização da estrada Mansabá/Farim, mais propriamente, o troço entre o Bironque e o K3 (Saliquinhedim). Deves lembrar-te destes nomes. Se clicares nas palavras sublinhadas abres os respectivos mapas.
Caro companheiro, cá ficamos à espera de novas tuas. Envia-nos os teus textos para publicar e fotos com legenda, por favor.
Em nome da Tertúlia deixo-te um abraço fraterno de boas-vindas.
(Carlos Vinhal)
__________
Nota de CV.
Vd. último poste da série de 1 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4764: Tabanca Grande (166): António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP (Guiné, 1966/68, 1969/70 e 1972/74)
Apresento-me já:
Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCaç 1419 (Bissau, Bissorã, Mansabá, 1965/67).
Meu caro Luis Graça:
Quero inscrever-me na Tabanca, mas ainda não sei bem utilizar esta coisa (mandar fotos p.ex.); estou mesmo no início.
Um info-excluído, ou quase, que está a tentar sair desta situação e dando os primeiros passos na net, encontra um blogue (Luis Graça & Camaradas da Guiné) e... que descoberta!
Já lá vão umas boas horas de emoção! Mas nunca é tarde, nem para aprender a manipular o computador nem para começar a participar nesta rede de emoções/recordações.
Por isso aqui estou a dar notícia de mim e a pedir que me aguardem. Para já, meu caro LUIS Manuel da GRAÇA Henriques (Algures no cu do mundo, longe do Vietnam) - Luis Graça (A tropa macaca e a elite da tropa), (Eu por cá fico bem, graças a Deus), (Subsídios para a história da africanização da guerra), a pessoa a quem me estou a dirigir só pode ser a mesma que colaborou - títulos em itálico - nas MEMÓRIAS DA GUERRA COLONIAL publicadas no semanário O JORNAL no princípio dos anos oitenta. É que eu também colaborei (Fafé) e o teu nome e teus textos ficaram-me na memória! Não estou enganado, pois não?
Fui professor do ensino básico (Escola Gago Coutinho/Amadora) e director da Escola Profissional de Recuperação do Património/Sintra.
Estou aposentado e perto dos 68 anos (1/9).
Sou sócio da "Ajuda Amiga-Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento", muito ligada à Guiné.
Espero voltar brevemente ao contacto.
Saudações amigas e solidárias!
Manuel Joaquim
PS: Estou a olhar para a formatação do texto e estou envergonhado.
Ah, moro em AGUALVA-CACÉM.
2. Comentário de CV:
Uma vez que o Chefe está em pleno gozo de férias, estou a representá-lo nesta nobre missão de recepção aos novos camaradas.
Assim sendo, caro Manuel Joaquim, sê bem-vindo a esta família que o Luís Graça fundou há cerca de 4 anos e que não pára de aumentar.
Na verdade, o Luís Graça é a pessoa que referes e que leste nos anos 80. Ele e o jornalista Afonso Praça, ex-Alf Mil em Angola, infelizmente já falecido, alimentavam, no extinto semanário "O Jornal", uma rubrica com o título "Memórias da Guerra Colonial". Deve-se aliás ao Luís o slogan "Exorcizar os fantasmas da Guerra Colonial".
Já reparaste que entraste na Tabanca sem cumprir as formalidades, porque o preço de inscrição é o envio de duas fotos (antiga e actual) mais uma história. Até à próxima Assembleia Geral ficas à consideração.
Agora a sério, não te preocupes com os poucos conhecimentos que dizes ter em matéria de informática. O que é preciso é tempo para ir aos poucos entrando nesta coisa tão complicada e, no fundo, tão simples.
Para poderes enviares as tuas fotos tens que ter um digitalizador para as transferires para As tuas Imagens e dispores delas sempre que queiras, por exemplo para nos enviares para publicação.
Há-de haver aí por casa, ou na família, alguém que dê uma ajuda.
Os textos poderás escrevê-los directamente no corpo da mensagem, como fizeste desta vez. Não te preocupes com a formatação que nós resolvemos isso cá. Gralhas, podes mandar à vontade que nós também as matamos. Temos a preocupação de passar os textos a pente fino, porque há sempre uma letra que está na tecla ao lado, naquela que não teclamos.
Espero que já te sintas mais à vontade connosco. A malta é fixe.
Já que falaste de Mansabá, não posso deixar de referir os meus 22 meses passados lá. Boas instalações, bons acessos (sei que no teu tempo não era assim), boa água e muita, mas mesmo muita porrada. Coube-nos fazer protecção aos trabalhos de finalização da estrada Mansabá/Farim, mais propriamente, o troço entre o Bironque e o K3 (Saliquinhedim). Deves lembrar-te destes nomes. Se clicares nas palavras sublinhadas abres os respectivos mapas.
Caro companheiro, cá ficamos à espera de novas tuas. Envia-nos os teus textos para publicar e fotos com legenda, por favor.
Em nome da Tertúlia deixo-te um abraço fraterno de boas-vindas.
(Carlos Vinhal)
__________
Nota de CV.
Vd. último poste da série de 1 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4764: Tabanca Grande (166): António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP (Guiné, 1966/68, 1969/70 e 1972/74)
Guiné 63/74 - P4773: Blogoterapia (122): Ainda choro e me revolto por todas as nossas mentiras... (Joaquim Mexia Alves, Pel Caç Nat 52 e CCAÇ 15)
1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves que, como ele hoje nos diz, "tem andado ocupado com outras 'guerras' [mas nem por isso tem] deixado de vir ao fogo acariciador da fogueira da nossa Tabanca"... (na foto, à esquerda, no Mato Cão, três primatas: o Joaquim é o primeiro do lado esquerdo, em tronco nu):
Meus camarigos editores
Para quem andou de longe há uns tempos, o dia tem sido emotivo. Como comentário, resposta, ou o que lhe quiserem chamar, ao Cherno Baldé aqui fica este meu escrito.
O choro não é figura de retórica, é verdadeiro e as lágrimas também. Um abraço camarigo para tdos. Joaquim Mexia Alves
2. Comentário do Joaquim Mexia Alves ao poste do Cherno Baldé (**)
Quando vim da Guiné e sobretudo depois da descolonização, era-me muito difícil falar da guerra, não porque tivesse tido assim tantos problemas ou acções militares de consequências funestas, mas porque as noticias que nos chegavam indiciavam uma incrível barbárie exercida sobre aqueles que connosco tinham combatido.
Aqueles que tal como nós tinham jurado a Bandeira Portuguesa, que tinham acreditado que éramos uma Nação, que tinham acreditado que Portugal honrava os seus compromissos, viam-se agora abandonados à sua sorte e alvos de vinganças cruéis e desnecessárias.
Curiosamente, ou talvez não, condenava mais as autoridades portuguesas que as recém-empossadas guineenses, porque achava e ainda acho que nos competia a nós, portugueses, assegurar no território a transição pacífica defendendo aqueles que connosco tinham combatido, e, se tal não fosse possível, então trazer aqueles que o quisessem para Portugal, visto que eram por direito cidadãos portugueses como os demais.
Por vezes pressionado por outras pessoas falava da Guiné e acabava sempre com um choro de lágrimas verdadeiras, numa mistura de saudade e de revolta, até contra mim próprio, que me sentia em grande parte responsável pela mentira que tínhamos praticado sobre aqueles que comandei no Pel Caç Nat 52 e na CCaç 15 e que tanto deram de si, e por mim também.
Quem me conhece sabe que não sou homem de relações frias e distantes, mas sim que me entrego e dou completamente à amizade, pelo que aqueles homens não eram “meus” soldados, mas sim meus amigos que me protegiam e eu protegia.
Por causa deles tive muitas discussões com comandantes, que nos julgavam carne para canhão, e arrostando muitas vezes com possíveis retaliações, nunca deixei de os defender em tudo o que me era possível.
Ver o meu país cobrir-se de vergonha, abandonando os seus filhos de pleno direito, era demais para a minha ainda insípida recuperação da guerra e então as lágrimas brotavam e muitas vezes a irritação que me levou de quando em vez à violência com aqueles que não me compreendiam, ou melhor que não compreendiam a incrível vergonha que sentia.
Abro aqui o meu coração, mesmo que a dor ainda cá more, mas o texto do Cherno teve o condão de abrir as portas à minha memória e à minha indignação.
E não choro e não me revolto apenas por aqueles que lá ficaram porque os abandonámos, (e não há outra forma de o dizer), mas também por aqueles que regressaram connosco e não lhes demos condições de integração, ou que até hoje ainda não viram os seus direitos como portugueses verdadeiramente reconhecidos.
E junto a todos estes os mortos vivos, os estropiados física e mentalmente, sejam eles quais forem, negros e brancos da Guiné até Timor, e que ao fim de 35 anos continuam a lutar por uma migalha do Estado, do mesmíssimo Estado que os enviou ou chamou para a guerra.
As pessoas mudam, mas a Nação é a mesma, e esta Nação velha de quase 900 anos, escreveu uma página de vergonha na sua história e, pior ainda, não consegue olhar para trás e corrigir o seu erro.
Pois fiquem sabendo, meus camarigos, nos quais envolvo o Cherno e todos os guineenses de boa vontade, que ainda choro e ainda me revolto, por isso fico por aqui neste texto que me dói como uma ferida que não fecha e sempre sangra.
Já uma vez o escrevi e volto a escrever: Que esperamos nós para fazer ouvir a nossa voz?
Abraço sentidamente camarigo do
Joaquim Mexia Alves
[ Fixação de texto / bold: L.G.]
_____________
Notas de L.G.
(*) Joaquim Mexia Alves, co-organizador do nosso último encontro (Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, 20 de Junho de 2009), foi Alf Mil da CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa).
Vd. também postes de:
6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4288: Espelho meu, diz-me quem sou eu (1): Joaquim Mexia Alves
6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)
(**) 2 de Agosto de 2009 >Guiné 63/74 - P4767: Blogoterapia (118): Os Fulas, o PAIGC e... os tugas (Cherno Baldé / Luís Graça)
Meus camarigos editores
Para quem andou de longe há uns tempos, o dia tem sido emotivo. Como comentário, resposta, ou o que lhe quiserem chamar, ao Cherno Baldé aqui fica este meu escrito.
O choro não é figura de retórica, é verdadeiro e as lágrimas também. Um abraço camarigo para tdos. Joaquim Mexia Alves
2. Comentário do Joaquim Mexia Alves ao poste do Cherno Baldé (**)
Quando vim da Guiné e sobretudo depois da descolonização, era-me muito difícil falar da guerra, não porque tivesse tido assim tantos problemas ou acções militares de consequências funestas, mas porque as noticias que nos chegavam indiciavam uma incrível barbárie exercida sobre aqueles que connosco tinham combatido.
Aqueles que tal como nós tinham jurado a Bandeira Portuguesa, que tinham acreditado que éramos uma Nação, que tinham acreditado que Portugal honrava os seus compromissos, viam-se agora abandonados à sua sorte e alvos de vinganças cruéis e desnecessárias.
Curiosamente, ou talvez não, condenava mais as autoridades portuguesas que as recém-empossadas guineenses, porque achava e ainda acho que nos competia a nós, portugueses, assegurar no território a transição pacífica defendendo aqueles que connosco tinham combatido, e, se tal não fosse possível, então trazer aqueles que o quisessem para Portugal, visto que eram por direito cidadãos portugueses como os demais.
Por vezes pressionado por outras pessoas falava da Guiné e acabava sempre com um choro de lágrimas verdadeiras, numa mistura de saudade e de revolta, até contra mim próprio, que me sentia em grande parte responsável pela mentira que tínhamos praticado sobre aqueles que comandei no Pel Caç Nat 52 e na CCaç 15 e que tanto deram de si, e por mim também.
Quem me conhece sabe que não sou homem de relações frias e distantes, mas sim que me entrego e dou completamente à amizade, pelo que aqueles homens não eram “meus” soldados, mas sim meus amigos que me protegiam e eu protegia.
Por causa deles tive muitas discussões com comandantes, que nos julgavam carne para canhão, e arrostando muitas vezes com possíveis retaliações, nunca deixei de os defender em tudo o que me era possível.
Ver o meu país cobrir-se de vergonha, abandonando os seus filhos de pleno direito, era demais para a minha ainda insípida recuperação da guerra e então as lágrimas brotavam e muitas vezes a irritação que me levou de quando em vez à violência com aqueles que não me compreendiam, ou melhor que não compreendiam a incrível vergonha que sentia.
Abro aqui o meu coração, mesmo que a dor ainda cá more, mas o texto do Cherno teve o condão de abrir as portas à minha memória e à minha indignação.
E não choro e não me revolto apenas por aqueles que lá ficaram porque os abandonámos, (e não há outra forma de o dizer), mas também por aqueles que regressaram connosco e não lhes demos condições de integração, ou que até hoje ainda não viram os seus direitos como portugueses verdadeiramente reconhecidos.
E junto a todos estes os mortos vivos, os estropiados física e mentalmente, sejam eles quais forem, negros e brancos da Guiné até Timor, e que ao fim de 35 anos continuam a lutar por uma migalha do Estado, do mesmíssimo Estado que os enviou ou chamou para a guerra.
As pessoas mudam, mas a Nação é a mesma, e esta Nação velha de quase 900 anos, escreveu uma página de vergonha na sua história e, pior ainda, não consegue olhar para trás e corrigir o seu erro.
Pois fiquem sabendo, meus camarigos, nos quais envolvo o Cherno e todos os guineenses de boa vontade, que ainda choro e ainda me revolto, por isso fico por aqui neste texto que me dói como uma ferida que não fecha e sempre sangra.
Já uma vez o escrevi e volto a escrever: Que esperamos nós para fazer ouvir a nossa voz?
Abraço sentidamente camarigo do
Joaquim Mexia Alves
[ Fixação de texto / bold: L.G.]
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Notas de L.G.
(*) Joaquim Mexia Alves, co-organizador do nosso último encontro (Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, 20 de Junho de 2009), foi Alf Mil da CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa).
Vd. também postes de:
6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4288: Espelho meu, diz-me quem sou eu (1): Joaquim Mexia Alves
6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)
(**) 2 de Agosto de 2009 >Guiné 63/74 - P4767: Blogoterapia (118): Os Fulas, o PAIGC e... os tugas (Cherno Baldé / Luís Graça)
Guiné 63/74 - P4772: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (6): Sinalização de sítios históricos no Parque Nacional do Cantanhez
Guiné-Bissau > Parque Nacional do Cantanhez > Gandembel > Sinalização de um sítio de interesse para o turismo histórico... Iniciativa da AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau.
Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados
1. Extractos de:
VENHA CONHECER CANTANHEZ A MATA MAIS BONITA DA GUINÉ-BISSAU
Brochura editada pela AD - Acção para o Desenvolvimento:
[Selecção / fixação de texto / bold: L.G.]
O ecoturismo no Parque Nacional de Cantanhez compreende entre outros o turismo ambiental baseado na contemplação de paisagens nas 14 matas, na observação de animais (macacos, chimpanzés, elefantes e búfalos), aves (pelicanos e aves migratórias na foz do rio Cacine), passeios fluviais no rio Cacine e afluentes, itinerários pedestres ou de bicicleta de 1 a 2 horas, visita à ilha dos Pássaros, ilhéu de Melo, Ilha de Nuno Tristão ou ao Parque Natural Marinho de João Vieira e Poilão, bem como a miradouros de bebedouros de animais.
Macaco Fidalgo Passeio fluvial Itinerário pedestre
Também o turismo histórico onde se valoriza o facto de Cantanhez ter sido o berço da nacionalidade guineense e onde ainda estão presentes alguns vestígios luta de libertação nacional, tendo como grupo-alvo os quadros guineenses sentimentalmente ligados à história recente da Guiné-Bissau.
O turismo da saudade tendo como grupo-alvo os antigos militares portugueses que fizeram a guerra naquela zona, em especial em Guiledje, Gandembel, Cacine, Gadamael-Porto, Bedanda, Iemberém, Cafine, Cadique, Caboxanque, etc.
O turismo cultural com formas de percepção e de estar da vida das diferentes etnias locais (nalús, tandas, balantas, fulas, djacancas, sossos), danças e música de cada uma das etnias, história e estórias, lendas, religiões e crenças, modos de vida, formas de vestir, instrumentos de trabalho (agricultura e colecta) e organização social das tabancas e regulados
O 'turismo' científico com a procura do conhecimento da geografia física, do estudo dos diferentes biótipos da região (bolanhas, florestas, palmar, mangal), identificação da exploração da fauna e flora pelo homem (alimentos, construção, medicamentos, energia, canoas) e dinâmicas da fauna (chimpanzés e babuínos) e flora.
Em termos de instalações de acolhimento já existem 3 bungalows em Iemberém, com todas as condições de higiene e conforto, apresentando a sua construção um enquadramento com o habitat tradicional, tendo-se utilizado maioritariamente material local (adobe e palha).
Começaram a ser construídos na tabanca de Faro Sadjuma mais 3 bungalows que estarão concluídos no final de 2008, bem como em Canamina vai ser construído a partir de Novembro um bungalow para os que quiserem estar junto ao mar no rio Cacine.
Para que o ecoturismo tenha uma verdadeira apropriação comunitária, definiram-se as seguintes regras de ouro:
(i) o maior número possível de tabancas devem sentir-se envolvidas no processo, beneficiando, por pouco que seja, das actividades promovidas. Isto evitará a tendência natural para a auto-exclusão e rejeição das que não forem incluídas;
(ii) envolver todos os grupos sociais e etários (horticultoras, pescadores, fruticultores, jovens, mulheres, adultos, etc.), procurando responder ao que verdadeiramente os interessa e são as suas prioridades;
(iii) ter a consciência clara de que “ninguém luta pelas ideias que estão na cabeça dos outros”, mas só naquilo em que acredita. Daí que os promotores do ecoturismo devam sempre fazer o exercício de se colocarem no lugar da comunidade para cada iniciativa que pretendam implementar e nunca impor a sua agenda de prioridades;
(iv) a preservação e boa gestão dos recursos naturais tem de andar de par com a melhoria real (e sempre que possível rápida) das condições de vida e trabalho das comunidades;
(v) não esquecer que o ambiente, cultura, associativismo, agricultura, pesca, desporto, etc. são actividades interdependentes no dia a dia das populações locais e querer resumir tudo a uma delas é o primeiro passo para o insucesso do programa (...)
Os desafios de curto prazo que se apresentam ao ecoturismo são os de:
(i) promover uma imagem da Guiné-Bissau enquanto país de história, cultura e pioneira em certos processos de gestão ambiental, capaz de mobilizar turistas preocupados com valores nobres e progressistas;
(ii) desenvolver uma visão que não seja geograficamente restrita, isto é, que não tome apenas Cantanhez como única área de intervenção. O ecoturismo só será viável se incluir de forma coerente e em conjunto outras zonas: Parque Marinho de João Vieira e Poilão, Ilhas de Melo e Tristão, Dulombi, Saltinho, Parque transfronteiriço de Guiledje-Boé e Xitole (macaréu).
(iii) encontrar para cada tabanca, pelo menos um motivo de oferta turística capaz de fazer deslocar os potenciais ecoturistas mobilizando simultaneamente o interesse da comunidade.
(iv) criar uma cultura de exigência em termos de higiene e remoção / tratamento de lixo;
(v) favorecer a identificação e formação de operadores e trabalhadores turísticos locais, tais como gerentes de unidades de alojamento e restauração, empregados de mesa, de bar e de quartos;
(vi) ir encontrando formas e soluções que sintonizem uma boa gestão dos recursos ambientais com as necessidades pressionantes das comunidades (...)
2. Comentário de L.G.:
O nosso amigo Pepito (Carlos Schwarz, engenheiro agrónomo, co-fundador e director executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, sedeada em Bissau, e nosso parceiro privilegiado para acções de cooperação e solidariedade na Guiné-Bissau) está em Portugal, com a família, para passar as habituais férias de verão, na antiga casa dos pais (Clara Schwarz e Artur Augusto Silva), em São Martinho do Porto.
Vou ter o privilégio de estar com ele, a Isabel, os filhos, as netas e a Dona Clara Schwarz, de 94 anos, dentro de alguns dias... Mas já falámos mais de uma hora, procurando saber notícias de um lado e do outro (**) e falando do momento actual da Guiné-Bissau, da esperança que nunca falta a este extraordinário povo, resiliente e resistente, que são os guineenses, do exemplo de civismo que foram as últimas eleições para a Presidência da República, bem como do trabalho da AD, em especial aquele que nos diz mais directamente respeito (Musealização de Guileje e outros antigos aquartelamentos das tropas portuguesas, no Cantanhez, no período da guerra colonial/luta de libertação).
Fiquei feliz por saber que a sua saúde vai bem, e que a malta da equipa da AD que eu conheci por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje, em Março de 2008, vai bem e continua a fazer o seu trabalho de não já de formiguinha mas de elefante (!), em prol da preservação e divulgação do património, ambiental, humano, social, cultural e histórico do Parque Nacional do Cantanhez... Bem hajam a todos!...
Citando de cor e correndo por isso o risco de ser injusto por omitir alguém, aqui vai um especial Alfa Bravo (abraço, em linguagem bloguística) para alguns dos muitos amigos que fiz por ocasião do Simpósio Internacionald e Guileje, e que estão de uma maneira ou de outra ligados à AD e aos seus projectos: Abubacar Serra, director do PIC - Programa Integrado de Cubucaré (teve há uns tempos de um problema sério de saúde, do qual espero que tenha recuperado), o Domingos Fonseca (o homem dos sete ofícios e o notável arqueólogo das ruínas de Guileje), o Tomané Camará, engenheiro agrónomo, coordenador de programas da AD, mas também a simpatiquíssima e corajosa Isabel Miranda, a presidente da AD, o Roberto Quessangue, presidente da Assembleia Geral, e o Nelson Dias, outro sócio fundador da AD... Sem esquecer a malta fantástica do Grupo de Teatro "Os Fidalgos" (Amélia da Silva, Jorge Quintino Biaguê...).
Pelo Pepito, fico a saber que os trabalhos do Museu da Memória de Guileje, incluindo a capelinha, vão em bom ritmo, mas que agora é preciso apostar no desenvolvimento nos conteúdos (seria desejável que houvesse um bom Centro de Interpretação do que foi e o que representou, em termos militares e históricos, Guileje, Gadamael, Gandembel, o corredor de Guileje, etc.).
Esperemos que o nosso Ministério da Defesa português colabore, mais uma vez, com esta notável iniciativa. Espero também poder fazer uma visita, com o Pepito, ao magnífico Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, para conhecer e tirar ideias... Ao que parece é um exemplo muito bem conseguido da confluência de múltiplos talentos e recursos (da arquitectura à novas tecnologias da informação, da museologia ao mecenato, do turismo à cultura...). ____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 31 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: Histórias de vida (13): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)
(**) Vd. postes anteriores desta série:
21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4391: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (5): O Museu Memória de Guiledje e o video de homenagem dos Homens Grandes (Pepito)
29 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4264: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (4): Inauguração em Setembro do Museu Memória de Guiledje
15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3895: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (3): Governo entrega antigo quartel de Guileje e o Pepito chega hoje a Lisboa
31 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3822: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (2): Segurança alimentar (o mangal que dá de comer...) e turismo de saudade
6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3573: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (1): Os elefantes voltam ao Cantanhez
Guiné 63/74 - P4771: Em busca de... (82): Domingos Alves procura pessoal da CCAV 8352, Guiné 1973/74
1. Mensagem de Domingos Alves, ex-combatente da Guiné, integrado na CCAV 8352, com data de 30 de Abril de 2009:
Caro Luis Graça:
Estive na guerra da Guiné, desde Outubro de 73 até Agosto de 74, integrado na CCAV 8352 (os "Águias Negras"), nessa altura destacados no CANTANHÊS, mais concretamente em Caboxanque. Desde então, jamais tive notícias dos meus camaradas, com uma ou outra excepção. Tanto quanto sei, nunca houve qualquer convívio dos "Águias Negras".
Se me puder ajudar na descoberta do paradeiro dessa malta ficar-lhe-ei muito grato.
Actualmente, sou professor de Português/Latim no Ensino Secundário e resido em Braga.
Com um abraço amigo,
Domingos Alves
Tlm: 919 454 052
Email: domsalves@sapo.pt
2. Hoje, 2 de Agsoto de 2009, foi enviada a seguinte mensagem ao nosso camarada Domingos Alves
Caro camarada Domingos Alves
Estou a responder em nome do Luís Graça.
Provavelmente não teve resposta a esta mensagem enviada para o seu endereço pessoal.
Para futuros contactos deve priveligiar este: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
Fui à página do nosso camarada Jorge Santos http://guerracolonial.home.sapo.pt, onde existe uma área destinada a Ponto de Encontro de camaradas e encontrei estes dois pedidos de contactos da sua CCAV 8352
- José Silva - Telem 938 345 231 e josé.azevedo.silva8352@hotmail.com
- Joaquim Conceição Monteiro - Telem 965 808 492
Se não conhece nenhum destes camaradas, pode obter aqui apoio para as suas buscas.
Entretanto vou publicar a sua mensagem no nosso Blogue na eventualidade de alguém conhecer algum dos seus camaradas.
Com o nosso pedido de desculpa pela resposta tardia, deixo-lhe um abraço fraterno.
O seu camarada
Carlos Vinhal
3. Comentário de CV:
Caros camaradas tertulianos e não só, se alguém conhecer ex-combatentes da CCAV 8352, por favor informem este nosso amigo e ajudem-no a reconstruir o passado.
Desde já o nosso (e o dele) agradecimento.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4733: Em busca de... (81): Jantar, retribui-se (José Carlos Neves)
Caro Luis Graça:
Estive na guerra da Guiné, desde Outubro de 73 até Agosto de 74, integrado na CCAV 8352 (os "Águias Negras"), nessa altura destacados no CANTANHÊS, mais concretamente em Caboxanque. Desde então, jamais tive notícias dos meus camaradas, com uma ou outra excepção. Tanto quanto sei, nunca houve qualquer convívio dos "Águias Negras".
Se me puder ajudar na descoberta do paradeiro dessa malta ficar-lhe-ei muito grato.
Actualmente, sou professor de Português/Latim no Ensino Secundário e resido em Braga.
Com um abraço amigo,
Domingos Alves
Tlm: 919 454 052
Email: domsalves@sapo.pt
2. Hoje, 2 de Agsoto de 2009, foi enviada a seguinte mensagem ao nosso camarada Domingos Alves
Caro camarada Domingos Alves
Estou a responder em nome do Luís Graça.
Provavelmente não teve resposta a esta mensagem enviada para o seu endereço pessoal.
Para futuros contactos deve priveligiar este: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
Fui à página do nosso camarada Jorge Santos http://guerracolonial.home.sapo.pt, onde existe uma área destinada a Ponto de Encontro de camaradas e encontrei estes dois pedidos de contactos da sua CCAV 8352
- José Silva - Telem 938 345 231 e josé.azevedo.silva8352@hotmail.com
- Joaquim Conceição Monteiro - Telem 965 808 492
Se não conhece nenhum destes camaradas, pode obter aqui apoio para as suas buscas.
Entretanto vou publicar a sua mensagem no nosso Blogue na eventualidade de alguém conhecer algum dos seus camaradas.
Com o nosso pedido de desculpa pela resposta tardia, deixo-lhe um abraço fraterno.
O seu camarada
Carlos Vinhal
3. Comentário de CV:
Caros camaradas tertulianos e não só, se alguém conhecer ex-combatentes da CCAV 8352, por favor informem este nosso amigo e ajudem-no a reconstruir o passado.
Desde já o nosso (e o dele) agradecimento.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4733: Em busca de... (81): Jantar, retribui-se (José Carlos Neves)
Guiné 63/74 - P4770: Estórias do Juvenal Amado (19): O cabrito do nosso Comandante
1. Mensagem de Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74, com data de 30 de Julho de 2009:
Caros Carlos, Luís, Briote, Magalhães e restante Tabanca Grande
Cá estou novamente com mais uma recordação.
O cabrito do nosso Comandante, não era dele
O Coronel José Maria Castro e Lemos era um militar muito rígido e exigia muita disciplina.
Proibiu terminantemente que houvesse animais à solta dentro do quartel.
Um dia um homem grande ofereceu-lhe um cabrito que ele mandou prender atrás do meu abrigo. O Aljustrel pôs-se com avarias e mata sem querer o cabrito. Muito enfiado foi direito ao nosso Comandante dizendo-lhe que o cabrito dele andava à solta e que ele sem querer o tinha morto. A resposta do Coronel foi curta: - Se andava à solta não era o meu.
Como era de esperar tinha a alcunha de "pica paradas" graças à sua inseparável bengala.
Ten Cor Castro e Lemos numa coluna
Ten Cor Castro e Lemos, Lopes, Estufa, Sacristão e Alf Veigas
Doutor, Narciso, Alf Farinha, Sardeira, Catroga, Correia e André
Fotos e legendas: © Juvenal Amado (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 27 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4744: Estórias do Juvenal Amado (18): Romão, o único prejudicado
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