domingo, 18 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8789: Blogpoesia (160): Na morte de Mamadú Baldé, descendente do régulo Monjur: E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu (Artur Augusto da Silva)

 1. Do poeta Artur Augusto da Silva (1912-1983), que foi casado com a decana da nossa Tabanca Grande, Clara Schwarz  da Silva (n. 1915) e é pai do nosso amigo Pepito (n. 1949), nunca é de mais divulgar os seus sublimes poemas sobre a Guiné que conhecemos... Desta vez fomos recuperar um texto em prosa, cuja última frase deu origem ao título da coletânea de poemas, recolhidos pela sua viúva e publicados, a título póstumo, em 1997 [, 14 anos depois da sua morte,], pelo Centro Cultural Português em Bissau. 

Não sabemos quem era exatamente a figura, Mamadú Baldé, aqui homenageada pelo poeta aquando da sua morte... O nome é vulgar, mas tudo indica ter sido um importante dignitário muçulmano da Guiné, um homem bom e sábio, tal como o Tcherno Rachid [ou Cherno Rachide] de quem Artur Augusto da Silva também era particular amigo e admirador... Talvez o Pepito nos possa dizer algo mais sobre esse Mamadú Baldé...  

A levar à letra o poema (que não está datado), Mamadú Baldé era descendente do famoso régulo do Gabu, Monjur, aliado dos portugueses no tempo do Cap Teixeira Pinto (1912-1915), e que é citado por Artur Augusto da Silva no seu livro Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas da Guiné Portuguesa (1958). Por sua vez, Jorge Velez Caroço escreveu, em 1948, uma biografia sobre Monjur (Monjur : o Gabú e a sua história. Bissau : Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, 1948, Vd. foto da capa à esquerda). 

Espero, por outro lado, que ele, Pepito, e a sua mãe me perdoem a ousadia de ter convertido, para formato poético, o texto original, em prosa. Respeitei ao máximo a oralidade do texto. (LG)



Morreu o homem

Ao meu amigo Mamadú Baldé

Mamadú Baldé,
filho de Salifo,
filho de Indjai,
filho de Tchamo,
filho de Monjur,
filho de Mutari,
cuja linhagem se perde há mais de dois mil anos
nas terras do Egito,
e de quem os antepassados remotos viram Moisés e Maomé
e com eles conversaram sobre o tempo e as colheitas.
Mamadú Baldé morreu.
Mamadú Baldé, o sábio que falava com Alá
e era bom
e era justo,
morreu.
Cavaleiros e tambores  levaram a notícia a toda a parte:
subiram as encostas do Futa-Djalon
e desceram para o mar.
Percorreram, o Sudão até Cao e Tombucutú
e desceram o lado  Tchade.
E toda a terra dos fulas repetiu:
morreu Mamadú Baldé.
O sol parou o seu caminho,
espreitou para Labé,
viu Mamadú morto,
e continuou.
A lua parou também o seu caminho,
espreitou e continuou.
Os rios que nascem no teto do mundo,
pararam na sua corrida para o mar
e prosseguiram.
E o poeta pegou num pedaço de papel 
e escreveu:
Morreu o Homem.

In: Artur Augusto da Silva -  E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu:  Poemas.
Bissau, Instituto Camões - Centro Cultural Português. 1997. p.21 [Vd. recensão feita ao livro pelo nosso camarada Beja Santos, no poste P8093, de 13 de Abril de 2011]


[Fixação de texto / Revisão em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico: L.G.]


2. Comentário de Felismina Costa [, foto atual, à esquerda,] sobre o poema Terra Negra, do supracitado autor,  publicado em 10 do corrente, sob o poste P8761, e que muito sensibilizou a nossa amiga Clara Schwarz, ao ponto de telefonar expressamente ao editor do blogue para manifestar o seu agradecimento:

(...) Eu já tinha lido e referido outro poema de Artur Augusto da Silva, mas, achei este extraordinário. É lindo! intemporal!
 
Os sentimentos, são intemporais! Manifestam-se em todas as eras naqueles que são capazes de os sentir e expressar: Quanto ignoramos do que de bom e mau sente o nosso semelhante?

Por isso fico tão feliz, quando descubro no poeta, no escritor, a expressão do sentimento grandioso como é o da fraternidade. 

A Dra. Clara Schwarz, foi sem dúvida uma mulher feliz, e, deve continuar a sentir-se assim. Quem ama desta forma a terra onde nasce e os seus irmãos, ama o mundo inteiro, tudo o que o rodeia, e é capaz de compreender e ser tolerante perante a intolerância alheia, porque sabe que nem todos são dotados dessa capacidade. Por isso, é preciso mostrar a diferença entre o amor e o ódio. Entre o construir e o destruir.

Sinto-me tão feliz, quando leio a paz, a alegria, a compreensão, a amizade, sentimentos que constroem, que enaltecem o ser humano, que o tornam grande, valoroso!

Através deste Blogue, tenho conhecido valores humanos extraordinários, de homens do meu tempo que, vivendo uma guerra longa e sem sentido, saíram dela, saudosos dos lugares que pisaram, da sua beleza, das gentes com quem confraternizaram... e até do próprio 'inimigo'.

Bem-hajam, todos os homens de boa-vontade! Felismina Costa (...)


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 Nota do editor:

Último poste desta série > 2 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8727: Blogpoesia (159): O Mar que nos levou (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 – P8788: Memórias de Gabú (José Saúde) (2): Os conflitos tribais e a acção da tropa portuguesa. A “Psicó”!

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos a segunda mensagem desta sua série.

OS CONFLITOS TRIBAIS E A ACÇÃO DA TROPA PORTUGUESA

A “PSICÓ”!

A vulgar “psicó”, ou seja, acção psicológica feita junto das populações visava, sobretudo, uma aproximação das nossas tropas às tabancas situadas no mais recôndito lugar. O primeiro passo da tropa aquando a chegada ao local previamente estabelecido, passava com rigor pela presença do chamado “homem grande”, normalmente chefe da tabanca, e a partir dele seguia-se inevitavelmente uma ampla conversação com toda a rapaziada, ouvindo os seus pedidos, os seus problemas, as suas queixas, mormente físicas, e dessa troca de impressões tentava-se arranjar formas de auxílio. Lembro que o Jau, e não Géo como antes o havia baptizado, dominava os dialectos das tribos da região – fulas, futa-fulas e mandingas – apresentando-se como o cordão umbilical decisivo para o contacto próximo com as populações que viviam em pequenas aldeias dispersadas no mato. Depois da auscultação ficava a promessa para o cumprimento das “faltas” sentidas no seio do aglomerado.

A manhã apresentava-se calma. Desbravávamos o trilho inseguro, suspeito, o capim e o mato cerrado, visualizávamos a nobreza das enormes árvores e rogávamos a todos os santinhos que nenhum dos motores dos nossos velhos “unimogues” não desse “buraco” e, sobretudo, um eventual contacto sempre indesejado com o IN. O momento impunha, naturalmente, cuidados redobrados. O pessoal, sempre feito para o facilitismo, deliciava-se com as brincadeiras dos macacos, os bandos de perdizes (galinhas do mato) que, a espaços, pintavam os nossos horizontes visuais, com a correria de uma cabra de mato, uma lebre que se havia levantado da malhada, sendo também certo que as informações previamente dadas ainda no quartel determinavam rigidez na nossa acção. Aprendi em Lamego no curso de Operações Especiais – Ranger – eloquentes formas do saber lidar com a guerrilha e a nossa firme determinação quando confrontado com o imprevisto. Por isso tentava passar a mensagem para a segurança do grupo mas… nem sempre o meu pedido era devidamente aceite.

Rodeados na densidade do capim, e com os estridentes motores dos “unimogues” a protagonizarem um ronco intenso, a dada altura pareceu-nos ouvir vozes exaltadas vindas de uma tabanca próxima. Parámos, troquei impressões com o Jau (um homem que dominava, e bem, os dialectos tribais) e partimos em direcção aos ecos que entretanto nos chegavam. A nossa reacção foi, em princípio, dúbia. Não entendíamos a razão do conflito. O Jau, atento como sempre, constatou de pronto que a desavença se prendia como uma afirmação pelo poder. Duas tribos, fulas e futa-fulas, discutiam entre si quem seria o novo chefe de tabanca dado que o anterior havia falecido. Claro que cada uma das etnias defendia a sua dama. Lembro perfeitamente o meu papel no conflito tribal. Pedi ao Jau que chamasse os dois homens grandes envolvidos na pretensa discussão, juntei-os frente a frente, e propus o fim da polémica com este dado: “A minha opinião é para acabarem de imediato com a algazarra e que atribuem o título de chefe de tabanca ao homem mais velho em idade”. E a verdade é que as partes da população envolvidas no confronto fizeram contas, penso eu, e passado pouco tempo a tabanca voltou à normalidade.

Soubemos mais tarde que a proposta foi aceite e o novo chefe de tabanca – o homem mais velho – já exercia o seu mandato.

Pormenores interessantes de um povo que vivia envolvido com a guerrilha mas nunca descurando princípios éticos herdados de gerações antecedentes!


 Foto 1 – Com a menina de Nova Lamego ao colo (FILHOS DO VENTO)


Foto 2 – No meio do conflito. Dois homens grandes – um fula e outro futa-fula – discutiam entre si qual deles seria o chefe de tabanca. Prevaleceu a minha opinião: o homem com mais anos de vida, ou seja, o mais velho (A “PSICÓ”)

Um abraço,


José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. primeiro poste desta série em:

13 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 – P8772: Memórias de Gabú (José Saúde) (1): No declinar da nossa presença em terras guineenses… A despedida!


sábado, 17 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8787: História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74): Encontros e reencontros com o PAIGC, de 1 de Maio a 31 de Julho de 1974 (Parte I) (Jorge Canhão)

1. Retomamos mais algumas páginas da História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74), unidade que foi rendida pelo BCAÇ 4612/74 (Mansoa, 1974)... (Sobre esta aparente confusão de dois batalhões com o mesmo número, ler o poste do nosso camarada Agostinho Gaspar, P7414, de 10 de Dezembro de 2010).



Um exemplar (aliás, uma boa cópia)  da história desta unidade, o BCAÇ 4612/72,  foi-nos oferecido em tempos  pelo nosso camarigo Jorge Canhão (ex-Fur Mil 3ª C/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) (*).  O Jorge há havia aqui publicado uma série de postes com a história do batalhão... (se bem que incompleta). 

Interessa-nos agora focar a atenção sobre os últimos 3 meses do batalhão, no setor de Mansoa, a seguir ao 25 de Abril de 1974. 
Vamos recorrer a alguns excertos do relato da atividade operacional nesses últimos 3 meses (Maio, Junho e Julho de 1974), para perceber melhor como se fez a aproximação, no terreno,  das duas partes em conflito (as NT e o PAIGC). Esta série poderá incentivar outros camaradas, que estiveram na mesma altura no TO da Guiné, neste e noutros setores,  a partilhar os seus documentos e as suas memórias.  
Recorde-se que o nosso camarada, coeditor, Eduardo Magalhães Ribeiro, já aqui publicou uma série de postes relativos á transferência de soberania entre o BCAÇ 4612/74 e o PAIGC, em Mansoa, em 9 de Setembro de 1974.   
Em Maio de 1974, no setor de Mansoa, a atividade operacional das NT e do PAIGC continuou, indiferente ao que se passava em Lisboa (o golpe militar de 25 de Abril)... As relações entre as duas partes estavam longe de ser amistosas... As NT continuavam empenhadas na construção da estrada Jugudul-Bambadinca, bem como no prosseguimento de uma série de reordenamentos... 

Neste período, o BCAÇ 4612/72 realizou 81 ações, para além da atividade operacional de rotina (emboscadas noturnas e diurnas, escoltas, colunas, etc.). Na primeira quinzena de Maio ainda há escaramuças, com baixas de parte a parte. No final do mês, começa a desenhar-se um pato (mútuo) de não agressão... 

O comando do BCAÇ 4612/72 reconhece que, "após o Movimento das Forças Armadas de 25ABR74, a atitude geral da população é de grande expetativa, reinando grande euforia entre a massa jovem com a perspetiva da Independência. Contudo os chefes, os homens grandes e pessoas mais idosas parecem não comungar dessa euforia"... 

 Quando o BCAÇ 4612/72 assumiu, em 28 de Novembro de 1972, a responsabilidade do Sector 04, o seu dispositivo no terreno era o seguinte, integrando cerca de 1300 homens em armas:


- CCS / BCAÇ 4612/72: Mansoa
- 1ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72: Porto Gole e Bissá
- 2ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72: Jugudul, Rossum, Uaque,  Bindoro
- 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612 /72: Mansoa, Infandre, Braiua, Pista e  Mancalã


Outras subunidades: CCAÇ 15 (Mansoa), CART 3567 (Mansabá), Pel Caç Nat 57 (Cutia), Pel Caç Nat 58 (Infandre e Braia), Pel Rec Daimler 3088 (Mansoa), Pel Mort 3030 (Mansoa, Mansabá, Porto Gole, Infandre, Braia, Rossum,  Uaque, Bindoro, Jugudul, Bissá), 13º Pel Art (obus 14) (Mansoa), além de diversos pelotões de milícia... (LG)






Extratos da História do BCAÇ 4612/2, Capítulo II, Fascículo VXIII, pp. 102, 104 e 105. Período correspondente ao mês de Maio de 1974.
 
Imagens: Cortesia de  Jorge Canhão (2011).

[ Selecção / edição / legendagem: L.G.] 
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 Nota do editor:

 (*) Vd. poste de 16 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8681: História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74): Ilustrações (Parte III) (Jorge Canhão)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8786: Nós da memória (Torcato Mendonça) (1): Hesitação





1. Em mensagem do dia 14 de Setembro de 2011, o nosso camarada Torcato Mendonça* (ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), enviou-nos este texto para publicação na sua nova série Nós da memória:






NÓS DA MEMÓRIA
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

1 – Hesitação

Estavam, sentados a uma mesa, três amigos em amena cavaqueira. Um ntrara de férias, o segundo período de férias, de sua comissão da Guiné. Os outros já haviam regressado de todo.

Um recentemente viera de Angola, Cabinda,  e ainda buscava rumo. O outro voltara há muito da Guiné e estivera nos Caçadores Especiais. Falavam, claro está, da guerra colonial.

Preferia ouvir mais e falar menos. Estava ainda, duas semanas após a chegada, confuso, desconfiado, irritadiço com tantas luzes e barulhos.

– ... O diabo da emboscada rebentou e atirei-me, sem o jeep parar, para uma vala da estrada. Demorou pouco mas marcou-me muito. De repente tudo se calou e fez-se um silêncio enorme. Voltei ao jeep e vi o assento, o meu assento, ao lado do condutor, todo esburacado das balas. Fiquei lixado…

– Lixado, uma ova. Ficaste borrado de medo  – dizia o que estivera na Guiné.

–  Talvez. Tu, vós sabeis como é.

– Pois sei. Por isso e porque não quero lixar este gajo. Que ainda por lá anda, só conto as mais leves.

Riam-se os dois.

 – Estás lá há quanto tempo?

 – Mais ou menos um ano.

 – Estás lixado,  pá. Tens que “papar” um ano mais. A Guiné é diferente, o clima, a humidade…

A conversa continuava ou da guerra virava para “gajas”. Aí só dois alinhavam. Os da Guiné. Ambos tinham os seus afazeres, as suas cumplicidades, gentes em amizades comuns e amores a serem escondidos ou as mulheres seriam olhadas de atravessado. Vidas de outrora, mas, como hoje, eram assuntos para pouco palavreado.

Despediram-se mais cedo nesse dia.

Ficou sozinho. Necessitava estar um pouco só. Necessitava de beber mais uma “1920”.

Bebeu mais uma “1920” ou “CRF" e, naturalmente navegou com seu pensamento até á Guiné, até às milhentas recordações. O álcool suavizava e abria aquele emaranhado de recordações. Sem querer (ou quis…?),  recordou-a. Lembrou-se das primeiras férias da Guiné. Do penúltimo dia, dia de partida – 8 de Setembro – o dia de regresso à Guiné.

Desta vez não a vira. Chegou quase a meio de Janeiro, dia dez ou doze. Ela, caso tenha vindo, teria vindo mais cedo por volta do Natal. Talvez. Não perguntou a ninguém. Seria aborrecido. Tinha namorada de alguns anos, amiga especial – digamos assim – e, naquele momento, recordou e sentiu o forte desejo de esquecer aquele ultimo encontro. Não foi um encontro normal, não. Foi só uma, duas visões, duas trocas de olhares a perdurarem no tempo. Forte recordação. Dia a não ser esquecido facilmente. Dia? Ou a fusão dos olhares e o que só eles disseram? Até isso roubaram a esta geração, até isso.

Agora só, ali estava em recordação e era quase presente. Lembrava bem o encontro fortuito, a troca forte de olhares, o sobressalto de ambos – ou só dele? – Não o olhar fala e diz muito, muito mesmo. Saiu e nada disse. Ficou confuso, pensativo e alterou a hora da partida. Adiou para a puder ver e falar.

Procurou-a mais tarde, pois sabia onde. Viu-a. Sentiu ter sido visto, sentiu o afastamento dela para uma hipotética troca de palavras. Parou. Pensou, hesitou, raio hesitou. Um turbilhão de pensamentos entulhou o seu querer, a sua decisão. Olhou, olharam-se e ele voltou para trás. Justificou-se a ele mesmo.
– Tens quem tens, a guerra é para aonde vais e apressa-te para chegares a Lisboa, à Portela, a horas.

Só que recordou lá, na Guiné, e ali naquele momento, o rosto, aquele corpo de mulher… diabo.

Na sua guerra não cabiam assuntos e prisões daquelas. Mesma a que tinha teria que desaparecer. Isso era para outros.

Agora ali estava só, mais só se encontrou no regresso final, na dita desmobilização. Mas aí começou a fúria de viver, a tentativa de recuperar tempo perdido. Felizmente por pouco tempo e, mesmo assim a deixar mossas…

E voltou a recordação. Haverá recordações eternas, algo eterno?

Lembra-se naquele dia ter rejeitado mais uma “1920” e ter saído para o frio da noite.
O frio e a humidade do rio, ali ao lado, limpavam a memória.

Agora não, agora não. É tarde, está calor, a memória tem demasiados nós… desatemos, de quando em vez, um…
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8770: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (25): A essas Mulheres o nosso reconhecimento e o nosso bem hajam (Torcato Mendonça)

Guiné 63/74 - P8785: Notas de leitura (274): Nha Bijagó, de António Estácio (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Agosto de 2011:

Queridos amigos,
António Estácio, um dos nossos confrades luso-guineenses, puxa pelos galões e descreve-nos Bissau e a sua mudança de vila obscura para buliçosa capital da província. Há que lhe fazer justiça, ele tinha que gravar a cinzel a Bissau da sua infância e adolescência. Escolhe muito bem o ambiente em que se moveu uma figura prestigiada de negociante influente da sociedade crioula, uma das últimas sinharas que os mais velhos ainda hoje recordam. Estácio foi feliz no delineamento desta sua viagem ao centro das memórias que guarda de Bissau, ficamos-lhe a dever mais esta incursão cultural e outras que seguramente nos dará, sempre com agradável surpresa.


Um abraço do
Mário


Nha Bijagó

Beja Santos

O nosso confrade António Estácio já nos tinha dado uma agradável surpresa, em 2010, quando escreveu “Nha Carlota”, uma distinta sinhara de Nhacra. Temos agora a “Nha Bijagó”, nome pela qual ficou conhecida outra sinhara, de seu nome Leopoldina Ferreira. O prefaciador avança as suas convicções para a atracção que move António Estácio para este tipo de estudos. Porque estamos diante de personalidades influentes, matriarcas que vêm na esteira das grandes figuras femininas que deram contributos decisivos para moldar a sociedade guineense, ao longo dos séculos.

Como escreve Eduardo J. R. Fernandes: “Essas mulheres eram na sua maioria crioulas, geriam com enorme maestria os negócios dos seus maridos europeus ou eurodescendentes, resolviam conflitos, realizavam pactos com as autoridades locais. A sua condição de crioula, dava à sinhara uma capacidade negocial ímpar, pois sendo detentora de uma dupla identidade cultural, era com facilidade que fazia a ponte entre as populações locais e os alógenos, nomeadamente os europeus. Algumas dessas sinharas ficaram famosas, como a Bibiana Vaz, a Aurélia Correia conhecida por mamé Aurélia, a Júlia Silva Cardoso também conhecida por mamé Júlia e a Rosa Carvalho Alvarenga, mãe de Honório Pereira Barreto, entre muitas outras”.

“Nha Bijagó, respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959) ” é uma edição de autor de António Estácio (citassi@yahoo.com.br).

António Estácio esmerou-se: consultou livros, boletins oficiais, documentos, entrevistou contemporâneos da sinhara e seus descendentes. Quando a sinhara veio ao mundo, as ruas de Bissau começaram a ser iluminadas a petróleo, a sede do Governo fora transferida para Bolama. Tornou-se tão influente que quando teve lugar o seu funeral, em 27 de Maio de 1959, nele tomaram parte centenas de pessoas que em marcha lenta se dirigiram para a zona de Tchada de Burro, na cidade velha, ficou sepultada no cemitério municipal de Bissau.

Era uma crioula austera, ter três ligações matrimoniais e um rancho de filhos. António Estácio procede a laborioso levantamento desta genealogia e até ao levantamento dos seus bens. Tudo isto é um bom pretexto para uma incursão do autor sobre a família Ledo Pontes, originária de Cabo Verde.

O autor aprimora-se no registo que faz sobre o ambiente urbano em que se moveu Nha Bijagó. E dá-nos logo um fresco de uma das maiores autoridades da época, o padre Marcelino Marques de Barros, que descreve assim Bissau no final de 1884: “… a vila de Bissau… tem uma vista agradável, e muito mais o seria se precipitassem do alto dos seus baluartes aqueles pilões medonhos, que se chamam onças. As casas descem num plano inclinado até às águas do Geba, e a praia é orlada de uma fileira de acácias, de mafumeiras e outras árvores. São baixas e umas 20 sobradas, postas em alinhamento menos que regular, olham todas para o porto e para as bandas do Sul e de Este, d‘onde sopram os ventos ardentes do deserto e os famosos tornados que fazem tanto mal às embarcações… Edifícios públicos que mereçam tal nome, nenhuns. No extremo esquerdo vê-se o baluarte de Pidjiquiti… à direita o primeiro sobrado… de portão ao centro e duas janelas no alto, pertence ao sr. César Gomes Barbosa e à esquerda, na rua de S. José, o do sr. Álvaro Ledo Pontes…”.

Trata-se de uma descrição minuciosa de quem é quem no que pode ser designado por Bissau Velho. A coroar a descrição, o padre Marcelino refere o cemitério murado por detrás da fortaleza, e refere o mausoléu que Tomás Ribeiro mandou erigir para honrar as cinzas de Honório Pereira Barreto, “enérgico e incorruptível, um misto reflexo do Marquês de Pombal e de D. João de Castro, no estilo e nas obras. Era um preto a quem Portugal deve muito”.

António Estácio é minucioso na toponímia do Bissau velho. Convém recordar que o concelho de Bissau foi criado em 1877, viviam 573 habitantes na área murada, uma população composta por 361 nativos, 166 cabo-verdianos e 16 europeus. Tinha a Nha Bijagó 12 anos quando a província da Guiné foi dividida em 4 circunscrições (Bolama, Bissau, Cacheu e Bolola). Ao chegar a adulta, a Nha Bijagó presenciou incidentes graves no interior da fortaleza de S. José da Amura, a vila sofreu um grande cerco movido por elementos da etnia Papel a que se juntaram os Balantas de Nhacra. Bissau parece cercada por hordas selvagens.

Na sequência das campanhas de Teixeira Pinto, Bissau é alvo de um plano de urbanização. A Avenida da República, que todos nós conhecemos (hoje Avenida Amílcar Cabral) data desse tempo. Tinha a Nha Bijagó 65 anos quando a comarca judicial da Guiné passou de Bolama para Bissau. Nha Bijagó assiste, pois, ao desenvolvimento urbanístico, ao aparecimento de monumentos, edifícios emblemáticos, à construção das moradias do Bairro Portugal, Bairro de S. Luzia, Catedral, Museu e Biblioteca, conclusão na nova ponte cais, aeroporto de Bissalanca, edifício da Associação Comercial e Industrial da Guiné, etc.

O que havia de incomum em Nha Bijagó? Filha de um comerciante branco e de uma Bijagó, D. Leopoldina tinha uma personalidade muito forte, era constantemente ouvida pelas autoridades locais que apreciam a sua capacidade organizadora e força mobilizadora. Era madrinha de meio mundo, uma das características de qualquer mulher influente. Viam-na a atravessar Bissau para ir à missa, se bem que severa pelava-se por organizar festas, ficaram célebres os bailes que organizava em casa. Presava a comemoração de eventos e encomendava pratos típicos quando juntava a família, como o brindge (à base de carne de pato, galinha ou porco, temperado, cozido e frito), servindo-se com mandioca ou batata cozida, o arroz é obrigatório.
António Estácio recolhe inúmeros depoimentos, é uma ternura o enlevo que ele põe neste testemunhos que atravessam décadas e que parece pôr Bissau a falar. A cidade é uma constante neste exercício monográfico sobre D. Leopoldina: a identificação dos negociantes, a listagem da gente famosa do tempo, a visita ao património da sinhara, o conteúdo dos testamentos.

No seu inconsciente, António Estácio, que nasceu em Bissau em 1947 e que aqui viveu até à sua adolescência, salvaguarda a memória de uma cidade que ele conheceu a palmo, vai do passado até à sua juventude, é uma viagem de afectos a pretexto de iluminar talvez aquela que tenha sido a última sinhara de uma Bissau que é hoje fantasmática. Percebe-se a saudade de António Estácio e ficamos devedores de este retrato de uma mulher de prestígio no contexto do desenvolvimento de Bissau, uma Bissau que todos nós conhecemos e que, sob muitos aspectos, se descaracterizou e profundamente decaiu.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8769: Notas de leitura (273): Dezoito anos em África, notas e documentos para a biografia do Conselheiro José D'Almeida (Mário Beja Santos / António José Pereira da Costa)

Guiné 63/74 - P8784: (De) Caras (9): Nunca desarmei os meus homens nem deixei que andassem desarmados (Vasco da Gama, Comandante da CCAV 8531, Os Tigres do Cumbijã, 1972/74)

1. Comentário do Vasco da Gama (ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74)  ao poste P8772 (*):


Camaradas, é válida a opinião de todos e cada um terá tido a sua vivência!


Se aqui entro é apenas e só porque se fala no Cumbijã! O Cumbijã, sim, também conheço!


Nunca a CCav 8351,  que tive a honra de comandar,  andou desarmada!


A minha Companhia saiu do Cumbijã a 25 e 26 de Junho de 1974 para Buba de onde embarcou na LDG Bombarda com destino a Bissau.


Em Maio o milícia nº 79173 Selo Baldé pisou uma mina na região de Nhacobá e a minha Companhia, a  8351,  fazia diariamente a coluna Cumbijã-Aldeia Formosa-Cumbijã.


Segundo o escrito pelo alferes encarregado de registar a "história" da minha Companhia,  em Junho - e passo a citar - "a actividade foi bastante reduzida... no entanto foram efectuadas todas as patrulhas que vinham sendo feitas do antecedente, muito embora não se realizassem contra-penetrações".


E mais à frente: "(...) Vários grupos IN, andaram nas proximidades da estrada... tendo as nossas colunas de reabastecimento, por duas vezes, avistado elementos do PAIGC,  que acenavam amigavelmente para as nossas tropas"


Nunca o Batalhão de Aldeia Formosa me deu qualquer ordem para desarmar os meus homens ou contactar com o ex-IN e nunca nenhum elemento do PAIGC entrou no arame farpado do Cumbijã até ao dia 26 de Junho de 1974! (ou pediu para entrar)!


Cada um penou o que penou!


Agora fazer colunas diárias do Cumbijã a Aldeia desarmado, onde embrulhei tantas vezes, olhem,  não era capaz, ou se preferirem, não tinha coragem!


Referir que procedemos ao levantamento das nossas minas em Maio e parte de Junho em Nhacobá, Lenguel, Galo Cumbijã e rio Habi, cumprindo ordens. (**)


Um abraço para todos
Vasco A. R. da Gama


2. Comentário do editor:

Recorde-se, aqui,  as andanças da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã  (1972/74) por terras da Guiné, e em especial na Região de Tombali, através das memórias do seu próprio comandante:



(i) Cumeré (de 27 de Outubro a 15 de Novembro de 1972);


(ii) Aldeia Formosa (desde Novembro de 1972 até inícios de 73);


(iii) A partir daqui, "dormíamos no mato na zona de Colibuía (desértica) quatro vezes por semana";
(iv) "Ocupámos o Cumbijã em Março de 1973 e ficámos lá até finais de Junho de 1974";


(v) Os Tigres do Cumbijã ainda estiveram em Nghacobá ("Depois de ter assaltado este local em 17 de Maio de 1973, estivemos lá, dia sim dia não, recebendo ordens para aí nos fixarmos em definitivo a 23 de Maio, e tendo abandonado esse local às 22h00 do dia 24 de Maio após ordens superiores");

(vi) Finalmente em Bissau, em Julho e Agosto de 1974, e depois regresso a casa.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 – P8772: Memórias de Gabú (José Saúde) (1): No declinar da nossa presença em terras guineenses… A despedida!



(**) Último poste da série > 15 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8777: (De) Caras (8): As relações entre o PAIGC e as NT, depois de 26 de Junho de 1974, em Cumbijã (Manuel Reis, ex-Alf Mil, CCAV 8350, 1972/74)

Guiné 63/74 - P8783: Humor de caserna (22): Quando os passageiros da LDG 101 Alfange urinavam... no fundo do bidão com areia que servia de apoio ao prato do morteiro de 60mm (Miguel Cunha, Fz 996/68, Cia 10 Fz, 1969/71)

1. Comentário do leitor (e nosso camarada, fuzileiro) Miguel Cunha, ao poste P1371, de 16 de Dezembro de 2006 (*):

Fiz várias escoltas nas LDG e principalmente na Alfange,  ao Xime e a Cacine. Era comandante o 1º Tenente Malhão Pereira. 


[Foto da LDG 101 Alfange, acima, à esquerda.  Foto do Museu de Marinha, gentilmente disponibilizada pelo Manuel Lema Santos, engenheiro, nosso camarada, 1º Ten RN, 1965/72, criador e editor do blogue Reserva Naval]



Tenho uma história passada a bordo da Alfange (**): 


Nas anteparas da lancha,  mais ou menos a meio,  existia, de cada lado, um fundo de bidão com areia para servir de apoio ao prato do morteiro de 60mm. 


Julgo que as tropas [do Exército] que transportávamos,  pensavam que os bidões com areia era para urinar. E alguns fizeram-no, de certeza.  O pior foi quando o comandante mandou fazer umas morteiradas de protecção.  Com o coice do prato do morteiro na areia, ficámos a cheirar a urina o dia todo!


Miguel Cunha, Fz 996/68,  Cia 10 Fz,  1969/1971. 

[ Texto e notas revistos  em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico]


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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de Dezembro de 2006 >Guiné 63/74 - P1371: Foi a LDG 101 Alfange que transportou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 até ao Xime em 2 de Junho de 1969 (Manuel Lema Santos).

 (...) Quem vos transportou no dia 2 de Junho de 1969 ao porto de Xime, no Geba, um pouco acima da confluência com o Corubal foi a LDG 101 Alfange, tendo regressado no mesmo dia, conforme consta dos registos oficiais de navegação da Alfange.

 "Esta LDG 101 foi a primeira de quatro desta classe (Alfange, Ariete, Cimitarra e Montante) e foi aumentada ao efetivo em 4 de Março de 1965. Permaneceu sempre na Guiné desde 10 de Outubro de 1965, data em que atracou em Bissau. Sempre aí permaneceu operacional até ao dia 14 de Outubro de 1974, data em que largou para S. Vicente, Cabo Verde e depois para Angola onde viria a ser abatida ao efetivo. 

"Inicialmente trazia como armamento 2 metralhadoras Oerlikon MK II de 20 mm e, posteriormente, por se revelarem insuficientes para o teatro de operações da Guiné, foram montadas peças Boffors, antiaéreas, de 40 mm, idênticas às da Bombarda. O restante armamento era idêntico. 

"Notavelmente, efetuou mais de 11.000 horas de navegação, a quase totalidade na Guiné ao serviço da Marinha mas sempre em muito estreita colaboração com o Exército" (...).


(**) Último poste da série > 6 de Setembro de 2011 >Guiné 63/74 - P8745: Humor de caserna (21): Vocês são danados p'ra brincadeira, diz o Manuel Reis, guilejista (Joaquim Mexia Alves)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8782: Convívios (374): Encontro do pessoal da CCAÇ 3461 do BCAÇ 3863 vai acontecer no próximo dia 17 de Setembro de 2011, em Coimbra (José Romão)



1. O nosso Camarada José Romão (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73), enviou a seguinte mensagem.

Amigo Luís Graça,

No dia 16 de Setembro de 2011, completam-se quarenta anos (40), desde que a CCaç 3461 do BCaç 3863 embarcou para a Guiné.

O encontro aberto, também a familiares e amigos, terá lugar no dia 17 de Setembro de 2011 (sábado), próximo de Coimbra.

A concentração será a partir das 12 horas e o almoço decorrerá no Restaurante "Patinhos", em Lavariz (na estrada entre Tentúgal e Montemor-o-Velho).



Um grande abraço para todos os ex-militares e para o meu amigo Luís Graça.

Zeca Romão
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Nota de MR:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P8781: Agenda Cultural (154): Comemorações do 37.º aniversário da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde e do 87.º aniversário do nascimento de Amílcar Cabral, dia 23 de Setembro de 2011, no ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa

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Notas de CV:

Vd. postes de:

5 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8508: Notas de leitura (253): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (1) (Mário Beja Santos)

13 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8549: Notas de leitura (256): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (2) (Mário Beja Santos)

19 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8570: Notas de leitura (257): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (3) (Mário Beja Santos)

2 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8629: Notas de leitura (261): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (4) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8776: Agenda Cultural (153): Lisboa, Mouraria, Festival Todos - Caminhada de Culturas 2011, 8-11 de Setembro de 2011 (Parte II)

Guiné 63/74 - P8780: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (6): O que se podia comprar em Bissau: os produtos e as marcas que não havia em Lisboa ou eram "proibitivos" - Parte IV (Joaquim Peixoto / Beja Santos)


 "Certificado de bagagem" (sic), passado em 14 de Setembro de 1973 pelo administrador do concelho de Bissau, José Júlio Costa de Araújo, licenciado em CSPU [, Ciências Sociais e Política Ultramarina, pelo ISCSPU - Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina,]  a pedido do Fur Mil Joaquim Carlos da Rocha Peixoto, natural de Penafiel e residente em Bissau ... Possivelmente o documento foi pedido pelo nosso camarada, de regresso à Metrópole, para evitar que o gravador Akay 1720 fosse "taxado" na Alfândega em Lisboa...

Foto: © Joaquim Peixoto (2011). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Joaquim Peixoto [, foto à direita, no T/T Niassa, em 1971,], com data  de 12 do corrente:

Assunto: O que se comprava em Bissau

Amigo Luís:

Ao ler os artigos que se compravam em Bissau, encontrei este documento em que provava que tinha adquirido um Gravador AKAY 1720, e que fazia parte do recheio da minha casa.

Não sei qual o motivo que me levou a requerer este documento. Servirá sempre como garantia.

Um abraço
Joaquim Peixoto


2. Comentário de Beja Santos  [, foto à esquerda, em Bambadinca, finais de 1969 ou princípios de 1970,] ao poste P8767 (*)

Meus caros confrades, convém também distinguir entre o proibitivo e proibido. Proibitivos eram igualmente os Christofle, os vidros de Murano, as louças Rosenthal, que se podiam adquirir na Taufik Saad.

Pinto da França foi embaixador na Guiné-Bissau, em 1977, e contou no seu livro "Tempo de Inocência", de que já aqui se fez recensão, que as lojas do Bissau Velho eram autênticas cavernas de Ali Babá, as posições pautais, durante a guerra, permitiram que estes produtos aparecessem mais facilmente nas "províncias ultramarinas" que na Europa.

Proibidos eram os livros que podíamos comprar no café Bento, pois que a censura não tinha preocupações com a Guiné: desde as actas do Congresso Democrático de Aveiro até aos livros de Roger Garaudy, tudo ali se podia comprar, mesmo ao lado da revista Flama.

E canção de protesto e intervenção? Havia de tudo, desde o Zeca Afonso até ao Adriano Correia de Oliveira. Mesmo em Bafatá, como escrevi nos meus livros, se comprava o último grito da música clássica: dois discos de vinilo com a ópera Carmen, última gravação operática da Callas, custaram-me 400 escudos.

Enfim, contradições e errâncias que até nos deram muito jeito. Um abraço do Mário
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 12 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8767: O que se comprava em Bissau com o patacão da guerra? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" (3) (Augusto Silva Santos / Hélder Sousa / Juvenal Amado / Luís Borrega / Luís Dias / Rui Santos)

Guiné 63/74 - P8779: Camaradas da diáspora (6): O nova-iorquino João Crisóstomo, português, cidadão do mundo, em Lisboa, no aeroporto a caminho de Paris... com vontade de conhecer mais camaradas da Tabanca Grande

1. Mensagem do nosso camarada, a viver em Nova Iorque,  João Crisóstomo [, foto à direita,],  que nos chegou ao conhecimento por intermédio do Beja Santos:



De: João Crisóstomo [mailto:crisostomo.joao2@gmail.com]
Enviada: domingo, 4 de Setembro de 2011 16:16
Para: Beja Santos
Assunto: Encontro?


Caríssimo Beja Santos,

Chego a Portugal dia 7 de Setembro. Não sei  qual é - nem posso programar ainda -  a minha agenda pois esta vai estar condicionada pelos ditames e exigências do meu dentista...  (E quero tirar uns dias para ir a Paris, onde tenho amigos que não vejo há quarenta anos).

Não sei se vou ter  fácil acesso ou não à Internet.  Tentarei o teu telefone para nos pormos em contacto. O meu celular em Portugal é o mesmo [...]. Gostaria muito  de te ver e custar-me-ia que tal não sucedesse. E gostava muito de conhecer o Luís Graça (e possivelmente outros que comungam connosco desta nostalgia da Guiné).

Eu até pensei que se fosse possível podíamos agendar um  encontro simples (com almoço ou não, mas se for o caso cada um paga o seu, para não se tornar pesado para ninguém.).  Diz algo, sim? Ou ...pega e não ignores o telefone, especialmente o telemóvel...

Abraço  grande
João

2. Comentário de L.G.:


Tanto como o Mário como eu manifestámos, ao João, de imediato, o nosso interesse em nos encontrarmos, pelo menos os três. Mais difícil foi depois acertar os ponteiros do relógio. No meu caso, por compromissos profissionais, relacionados com a seleção de candidatos aos cursos da ENSP/UNL onde trabalho: tenho estado ocupado toda esta semana.


Acabei por falar hoje ao João (mas também ontem, por breves instantes) e dizer-lhe quanto gostaria de o conhecer pessoalmente. Ele estava já no aeroporto, esta manhã, pronto para embarcar para Paris. Regressa daqui a dias, e  ainda cá fica algum tempito antes de regressar à sua tabanca pequena, que é Nova Iorque. Mas sempre com a agenda cheia... Ainda vamos ver se é desta que a gente se conhece ao vivo, antes de eu ir para a faca, dia 27...

O João (que é membro da nossa Tabanca Grande) costuma vir a Portugal uma vez por ano. Se não for desta, será para o próximo ano,  seguramente, que a gente se vai encontrar. De qualquer modo, estou-lhe grato pelo seu interesse em querer conhecer-me pessoalmente. Ao telefone, manifestou-me a sua alegria por ter estado com o Mário, camarada, não do seu tempo, mas da região do Cuor (por onde ele andou entre 1965 e 1967). Foi pena eu não ter podido ir ao encontro de ontem. Ficam a intenção e a camaradagem entre homens que têm como traço de união a Guiné e o nosso blogue. Um alfa bravo, muito afetuoso, para o João e o Mário.

[ Texto processado em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico]
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Nota do editor:

Vd. postes desta série:

 
18 de Março de 2010 > Guiné 63/74: P6013: Camaradas na diáspora (1): João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), militante de causas nobres, a viver em Nova Iorque.

(...) O João Crisóstomo é um português das Arábias....Um dos muitos camaradas nossos que, depois do regresso da guerra, se fez à vida, e quis conhecer o mundo, largo e farto...Que na casa materna, a nossa Pátria, não cabiam todos...ou só cabiam alguns. A história, invulgar, deste nosso camarada, vim a descobri-la na Net... Confirma-se que é um militante de causas nobres (Gravuras Rupestres de Foz Coa, Memória de Aristides Sousa Mendes, autodeterminação de Timor Leste e do Sara Ocidental). (...)

29 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6659: Camaradas na diáspora (2): Na morte do Luís Zagallo, (João Crisóstomo, Nova Iorque)
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22 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7488: Camaradas na diáspora (3): O lusoamericano Franklin Galina, aliás, ex-Fur Mil Franklin, Pel Mort 4575 (Bambadinca, Julho de 1972 / Agosto de 1974). 

17 de Janeiro de 2011> Guiné 63/74 - P7626: Camaradas na diáspora (4): José (ou Joe) Ribeiro, natural de Leiria, a viver em Toronto, Canadá, há mais de 35 anos: Sold Inf , 4º Gr Comb, CCAÇ 3307/BCAÇ 3833 (Pelundo, Jolmete, Ilha de Jete, 1970/72). 

20 de Janeiro de 2011 >Guiné 63/74 - P7646: Camaradas da diáspora (5): José Oliveira Marques, condutor de White, ERC 2640 (Bafatá e Piche, 1969/71), a viver em Estrasburgo, França.

Guiné 63/74 - P8778: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (47): De Cassiano Reginatto (Brasil) para o Mário Beja Santos, com pedido de sugestão de livros

1. De um nosso leitor, no Brasil:
 

De: Cassiano Reginatto [cassianoreginatto@ig.com.br]

Data: 14 de Setembro de 2011 00:00

Assunto: Sugestão de Livros

Senhor editor, peço a gentileza de encaminhar esta mensagem ao senhor Mário Beja Santos. Muito obrigado.

Senhor Mário Beja Santos,


Assiduamente acesso o blogue para aprender um pouco mais sobre a Guiné e Portugal. De tanto ler sobre o seu país, estou programando minhas férias para maio de 2012 e já acertei com minha esposa, vou conhecer um pouco de Portugal.


Buenas, o que me leva a escrever-lhe é que, como é o senhor quem sempre faz os comentários sobre as novas literaturas relacionadas a Guiné, gostaria que o senhor me informasse quais os livros o senhor aconselharia para leitura e em qual(is) a(s) livraria(s) de Lisboa poderia encontrar as obras.

Certo de sua atenção e no aguardo da sua sugestão.


Cassiano Reginatto, um novo apaixonado por Portugal e Guiné.


Cassiano Reginatto

(51) 9161-94-35

"Não viva para que sua presença seja notada, mas para que sua falta seja sentida" (Bob Marley) 


2. Comentário do editor:

 Caro Cassiano, obrigado pela gentileza das suas palavras, e pelo seu interesse por estes dois países lusófonos, Portugal e a Guiné-Bissau, hoje parte integrante, tal como o Brasil e mais outros cinco (Angola, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé & Príncipe, e Timor-Leste), da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa... Somos 260 milhões de falantes da língua portuguesa, e é bom estarmos aqui, à distância de um clique, comunicando (=pondo em comum, partilhando) informação e conhecimento. 

Já encaminhámos o seu pedido ao nosso colaborador, camarada e amigo Mário Beja Santos. Ele vai responder-lhe diretamente, ou através do blogue. Quando vier a Portugal, em maio de 2012, sinta-se à vontade para nos contactar, se na altura ainda estivermos em linha (como esperamos  estar)... 

Este blogue, iniciado em Abril de 2004, teve já cerca de 2,9 milhões de visitas (perto de 1,1 milhões desde Julho de 2009, das quais cerca de 13% são oriundas de utilizadores do Brasil, o país que mais visitantes nos dá, a seguir a Portugal com 74%). (LG).

[ Texto em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico]

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Nota do editor: