quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8952: Notas de leitura (294): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte III): Cupelom, Pilum, Pilom, Pilão..., um bairro que dava de tudo, fervorosos muçulmanos, bajudas giras, futebolistas talentosos, destacados militantes do PAIGC, bravos comandos africanos... (Luís Graça)

1. Continuação da leitura do livro de memórias do Bobo Keita (*)...

Norberto Tavares de Carvalho (abreviadamente, NTC) dedica bastante tempo e espaço à infância, adolescência e juventude de Bobo Keita (abreviadamente, BK). Grosso modo, até aos seus 21 anos, quando BK, jogador do Sport Bissau e Benfica,  decide “mudar de campo”. São cerca de 50 páginas, de um total de 300 (pp. 18-68). (*)



NTC nem sempre segue um fio condutor, lógico e cronológico, na longa entrevista (ou série de entrevistas) que ao longo de 2 anos conduziu com o comandante do PAIGC, até praticamente às vésperas (18/12/2008) da sua morte (que ocorreu em 29/1/2009, num hospital dos tugas).  


Há saltos e desvios, muitas vezes impostos pelo discurso torrencial do entrevistado. De qualquer modo é prodigiosa a memória de BK, capaz de recordar com grande acuidade e vivacidade episódios dos seus primeiros anos de vida, além de datas, lugares e nomes (para não falar já da sua dura vida como combatente e dirigente do PAIGC).


O livro, edição do autor [, aqui na foto à esquerda, com o seu amigo e nosso camarada A. Marques Lopes, em Lisboa, no verão de 2008] está dividido em cinco partes, por sua vez subdivididas em pequenos (às vezes minúsculos) capítulos: 


- De Sundiata Keita a Kwame Nkrumah (Parte I, pp. 18-46);
- Das rotas do sul ao tráfico de armas (Parte II, pp. 47-121);
- Cerco à volta de Amílcar Cabral (Parte III. Pp. 122-180);
- Aviões de caça, Mig 21 prontos a descolar (Parte IV, pp. 181-236);
- e Guerrilheiros caídos no campo da honra (Parte V, pp. 237-246).

Num total são cerca de 250 pp., com o epílogo e o posfácio (, da autoria do A. Marques Lopes). O resto são anexos, alguns despropositados, como as dez páginas de listas nominais não só dos governadores da Guiné e Cabo Verde, como dos presidentes e primeiros ministros destes dois novos países lusófonos. Despropositados, porque o horizonte temporal das conversas de NTC com BK vai dos seus primeiros anos de vida (ele nasceu em 1939) até à partida do último Governador português, Carlos Fabião, em Outubro de 1974.


Ao longo do texto, e inseridas no corpo do livro (e não em rodapé, como deveria ser) também há muitas notas, algumas bastante extensas e espúrias, com informação recolhida pelo autor (por ex., sobre o Cupelom, o futebolista Joãozinho Burgo, a PIDE) ou extraída de outras fontes secundárias (desde o livro de Luís Cabral, Crónica da libertação,  ao nosso blogue, passando pela Wikipédia), notas essas que cortam o fio e o ritmo de leitura.


Vamos tentar reorganizar e resumir a informação, de modo a perceber, por exemplo, a decisão do BK de se juntar, em Conacri, ao movimento liderado por Amílcar Cabral.


BK nasceu em 24/9/1939 no Cupelom de Baixo. Num das suas notas intercalares, NTC diz que o Cupelom era, desde os anos 40, um dos bairros mais populares e povoados de Bissau. Estava dividido em 2 partes, a de cima e a de baixo. O topónimo Cupelom foi imposto pela autoridade colonial. Para os seus habitantes, era o Pilum (ou Pilom). em crioulo. Os tugas, como eu, conheciam-no simplesmente como Pilão.


O pai era alfaiate e a mãe doméstica. A origem do pai remonta ao Mali, mas nasceu perto de Boké, na Guiné-Conacri, e onde o PAIGC vai ter uma base militar importantíssima. A mãe de BK, a quem o ligavam fortes laços afetivos, era oriunda de Bissau. A família era muçulmana, praticante.


BK tinha mais 3 irmãos, um rapaz e duas raparigas. O rapaz e uma das raparigas, esta como “socorrista”, também participaram na “luta de libertação”. De acordo com a tradição africana, BK deveria seguir a profissão do pai, que foi alfaiate por conta própria mas também assalariado da empresa francesa NOSOCO.

A família vivia numa casa de colmo, sem água, sem saneamento básico, sem luz elétrica. BK andava descalço, e de calções. As primeiras sandálias que teve foi na “escola do Padre” (p. 24).


Não conseguiu matricular-se na escola pública, de modo a poder frequentar o ensino primário. Alega que na escola primária, em Bissau, ao tempo (do Governador Sarmento Rodrigues, 1945-1950), “só aceitavam alunos da praça” (sic”), “filhos de funcionários [públicos e empregados das casas comerciais] e gente de primeira classe” (p. 28). Pelo que teve de ir bater à porta da escola das Missões Católicas.


Na “escola do Padre” (sic)  obrigaram-no a tirar o bilhete de identidade e adotar um nome português. O seu padrinho de ocasião, Padre Henrique Santos, “sem mais cerimónias pôs-me o nome de Henrique Santos Keita” (p. 28).


Na “escola do Padre” não havia turmas mistas (tal como não havia em lado nenhum, no Portugal da época, do Minho a Timor, segundo julgo saber). Além disso, BK era obrigado a ir à missa dominical e a fazer prova disso, sob a forma de senha de presença, a apresentar na 2ª feira seguinte, no início das aulas. Quem não ia à missa, apanhava falta.


BK devia ter nessa altura 9 anos. Estaríamos, portanto, em 1948 (p.29). A obrigação de ir à missa dominical (e eventualmente  o risco de ver o filho convertido ao cristianismo) encontrou no pai, fervoroso muçulmano, uma forte resistência. Felizmente que BK pôde contar com  o bom senso, a compreensão, a tolerância e a caridade do missionário. Foi dispensado de frequentar a igreja, atendendo que era um aluno com bom aproveitamento e assiduidade.


"Mas só fiz a escola primária" - acrescenta BK.  "Não cheguei a ir ao Liceu. Resolvi dedicar-me ao futebol. De qualquer modo,  diziam que o Liceu não era para  os coitados, pois aí só chegavam gente da praça, filhos de funcionários e malta bem situada" (p. 29).


BK tinha uma noção clara do seu lugar na fortemente estratificada sociedade colonial da época, tendo aprendido bem a lição de Amílcar Cabral, seu futuro professor em Conacri. "Na escala social daquela época colonial vinha logicamente a classe  representada pelos portugueses. Qualquer indivíduo, seja ele pobre e analfabeto ou abastado e instruído, uma vez que era branco ocupava um lugar social superior a todas as outras classes" (p. 54).


A seguir vinham os "grumetes", em geral portadores de nomes e apelidos portugueses e que tinham um papel auxiliar na administração colonial. Por fim, vinham "os negros civilizados que tiveram acesso à escola,  falam um bom português, vestem-se e comportam-se na sociedade como estes" (p. 54). Na base da pirâmide, estavam por fim os "gentios", a grande maioria dos guineenses que não eram "assimilados".


O gentio, segundo BK, era também designado por "indígena": nativo, animista, pagão, idólatra, "senão selvagem, bárbaro e sem bilhete de identidade", logo socialmente marginalizado, a não a ser para "pagar imposto"... Era gente, como os balantas, onde o PAIGC vai recrutar a sua base de apoio, os seus homens do mato... "Alguns deram bons militantes e quadros" (p. 55).






Guiné-Bissau > Bissau, capital do país > Planta da cidade, pós-independência. (Vd. mapa ampliado na página sobre sobre Bafatá e Bissau)

Cortesia de A. Marques Lopes (2005)





Sobre o bairro do Cupelom (ou Pilão, para os tugas), diz o NTC em nota intercalar: "As ruas não tinham nome, mas todos sabiam quem morava e onde. Neste bairro avizinhavam-se diversas classes e etnias que viviam em perfeita comunhão (...)". 


Havia uma numerosa comunidade muçulmana (ou islamizada), tanto no Cupelom de Baixo como no de cima, a par de cristãos e animistas, em especial Mancanhas no Cupelom de Baixo. Com o início da guerra colonial,  vieram outras gentes, mas o bairro continuou a ser  predominante de população islamizada. De dia, era um bairro com vida própria, com muita azáfama. À noite, enchia-se "dum certo secretismo ligado não só ao sector das ditas 'mulheres de vida' - escreve NTC com algum pudor - mas também às estranhas reuniões furtivas onde se falava de assuntos guardados preciosamente longe de orelhas indiscretas" (p. 56).

O Cupelom, para além de ter sido um "enorme canteiro de gente feminina que perfumava o bairo" (sic),  foi um viveiro de jogadores de futebol mas também de combatentes, quer de um lado quer do outro. "Vários  dos melhores jogadores de futebol foram aí recrutados, os mais destacados combatentes do PAIGC tiveram aí as suas influências e conhecidos elementos dos Comandos Africanos também aí fizeram história" (NTC, p. 56).

BK recorda com saudade os seus tempos de infância e adolescência no Cupelom.  Pilum era um bairro lindo, a gente hospitaleira, a juventude unida,  os  mais velhos protegiam os mais novos... Também tinha as suas histórias de conflitos de territória, por causa das "moças de outros bairros" (p. 57)...


Era, por outro lado, um lugar de passagem e de encontro, obrigatório, "para os que habitavam nos bairros circundantes" (Santa Luzia,  Plubá, Penha, Péfine, Calequir, etc.): "para descerem à cidade, [tinham de] passar pelo Cupelom", o que em si já era "um acontecimento" - sublinha o BK.(p. 56).

"Quando a mobilização começou nos anos 60, os jovens do nosso bairro foram os que mais aderiram à luta. Chamavam [ao] Pilum Bairro de Terroristas" (p. 56) (**). E porquê ? "A maior parte de nós não acreditava no futuro, não havia trabalho, a estiva pagava mal e era muito pesado, o desânimo era geral" (p. 57)...






Guiné > Bissalanca > Finais dos anos 50 > "Fotografia tirada na despedida do gerente da NOSOCO, Monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata). O João Rosa, o guarda-livros, [e que foi um dos fundadores do MLG - Movimento de Libertação da Guiné] , está na segunda fila à direita; à sua frente, o 2º da direita é o Toi Cabral. Os restantes elementos da foto são alguns (quase todos) dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau (MD), incluindo eu próprio" (MD)... 


O terceiro elemento, a contar da esquerda, é o Armando Lopes (n. 1920), pai do nosso amigo Nelson Herbert, e antiga glória do futebol caboverdiano e guineense, e que o Bobo Keita, embora de outra geração, deve ter conhecido.  (NH/LG)


Foto (e legenda): © Mário Dias (2005).  Todos os direitos reservados. 




Mas voltando à adolescência do BK: aos 12/13 anos, por volta de 1951/52, teve a sua festa do fanado, na Granja do Pessubé, nos arredores de Bissau.  A cerimónia iniciática durou um mês. Foi circuncisado e tornou-se lambé (pp. 25-27).

Entretanto, a crise da NOSOCO  (onde, de resto, também trabalhou o nosso camarada Mário Dias, nos anos 50) levou o pai do BK  a procurar trabalho, no sul,  como alfaiate ambulante. Mas em breve deixou de dar notícias e a família perdeu-lhe o rasto.

BK tem agora de tomar conta da mãe e dos três irmãos. Pega na máquina de costura Singer que o pai deixara em casa, e começa a coser panos, a bordar, a vender. Os Saraculés é que tingiamos seus panos. Como jovem e como alfaiate, BK tinha a Guiné-Conacri como modelo de referência e fonte de inspiração (moda, vestuário, música e até política). Trabalhava muitas vezes até às tantas da madrugada.

Lembra-se da agitação que ia em Bissau no dia 3 de Agosto de 1959 (dia do chamado massacre do Pindjiguiti). Na altura, com quase 20 anos,  jogava à bola e trabalhava na "alfaiataria do tuga" (p. 24)... ...

No livro, BK refere-se sempre aos portugueses como tugas... NTC refere isso mesmo, "a irresístível tendência do ex-guerrilheiro em designar continuamente o português por tuga" (15)... O termo, depreciativo, designava originalmente os portugueses e, mais tarde por extensão,  os brancos.  Por parte dos combatentes do PAIGC, o termo era usado por oposição a turra (corruptela de terrorista)...

Este tratamento depreciativo do adversário é comum em todas as guerras, acrescenta NTC. Hoje o termo é usado, na Guiné-Bissau, com um outro sentido, sem a carga negativa que lhe atribuía Amílcar Cabral e os seus seguidores. Recorde-se, em todo caso, que o histórico fundador e dirigente do PAIGC sempre fazia questão de distinguir o povo português e os colonialistas,  Portugal e o regime político então em vigor...

O mais surpreendente é que BK não é coaptado diretamente pelo PAIGC. A sua ida para Conacri, largando tudo o que amava (a família, o bairro, a cidade, o futebol...), será contada em próximo poste. (**)


PS - Segundo informação do nosso camarada A. Marques Lopes, o livro está à venda no Porto, na UNICEPE, e em Lisboa, na Livraria Portugal, na Rua do Carmo, 70.

[Continua]

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Notas do editor

(*) Vd. 25 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8947: Notas de leitura (292): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte II): Futebol e Nacionalismo (Nelson Herbert / Luís Graça)

(**) Vd. poste de 13 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6848. Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (6): 1966, o ano das prov(oc)ações

(...) Numa sessão da Câmara Municipal, o Major Matos Guerra que era o Presidente anunciou-nos que ia destruir, com uma bulldozer nova encomendada, e por ordem do Sr. Governador Arnaldo Schultz, o bairro do Cupelom, suspeito de ser um ninho de terroristas.


Repliquei, pedindo-lhe para nos informar onde é que a população iria ser alojada. Respondeu que não sabia. Dei-lhe como exemplo o bairro de Alvalade, em Lisboa, onde se construiu o bairro, primeiro, para depois se desalojar as pessoas. 

Foi uma discussão que durou, foi suspensa para o jantar e depois retomada até de madrugada. Nós, a vereação, coesa, recusámos a proposta de decisão, que ficou suspensa. Isto pode ler-se na acta da Câmara Municipal. (...).

(***) Último poste da série > 26 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8949: Notas de leitura (293): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (José Manuel M. Dinis)


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8951: Humor de caserna (23): Uma insubordinação do c... ou uma viagem pelo polissémico país do c...!!!

1. Termos (ou expressões) considerados “insultuosos” no meio civil, à luz das nossas regras de boa educação e urbanidade, incluindo as regras do nosso blogue (ou livro de estilo),  podem ter outra leitura, apreciação ou abordagem,  vistas  de dentro da “caserna da tropa" e, consequentemente,  à luz do sacrossanto  RDM.

É, pelo menos, essa opinião dos senhores jurisprudentes, civis e militares… Ou, pelo menos,  de alguns. O termo em causa é o nosso tão familiar c..., típica forma de “linguagem de caserna”... Mas podiam  ser outras armas de arremesso do nosso arsenal de insultos verbais, em contexto castrense ou fora dele, algumas usadas até no nosso blogue, no calor das nossas batalhas que, felizmente, são apenas verbais: por exemplo,  fascho, comuna, corno, tuga, turra, filho da puta, cabrão, panasca, fujão, penetra…).


Das Caldas (onde o Bordalo Pinheiro transformou o  c... em faiança artística, e onde no RI5, no CSM, eramos tratados de c... para baixo) a Tavira (onde sofremos pra c... nas salinas), de Mafra (onde o cadete na formatura, na parada do EPI, não podia mexer uma pestana nem que lhe passasse um c... pela boca) a Bedanda (onde o obus 14 dava um coice pra c ...), enfim, por toda a parte onde andámos fardados e calçados pela tropa o dito c... acompanhou toda a nossa alegre e divertida vida militar... 


Mais: é um verdadeiro ferrete, faz já parte do nosso ADN... Falo por mim que já não o dispenso no meu léxico, com 4 anos de tropa mais... 36 anos de conbíbio com a gente nortenha pela bia uterina... 

Esta peça de jurisprudência, de que já dei conhecimento ao nosso “alfero Cabral” (sendo ele um fino e erudito colecionador desta produção dos nossos jurisconsultos), merece figurar (em forma de excerto e link) no nosso blogue e na nossa série Humor de caserna… 


Aqui fica, para os efeitos que foram julgados convenientes ou que se mostrem devidos (memória futura, enriquecimento linguístico, resiliência ao stress, reforço do sistema imunitário, preservação dos usos e costumes, desopilanço dos tabanqueiros, proteção da dentadura do proletariado, etc.) (LG)


PS - Ah!, já me esquecia,  tiro o quico e bato a pala ao senhor relator...



Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa  (reproduzido parcialmente com a devida vénia...)


Processo:  1/09.3F1STC.L1-9
Relator:  CALHEIROS DA GAMA
Descritores:  INSUBORDINAÇÃO POR OUTRAS OFENSAS
Nº do Documento: RL
Data do Acordão:  28-10-2010
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Meio Processual: RECURSO PENAL
Decisão:  NEGADO PROVIMENTO



(...) Sumário

I - A palavra “caralho”, proferida por militar (Cabo da Guarda Nacional Republicana), na presença do seu Comandante, em desabafo, perante a recusa de alteração de turnos, não consubstancia a prática do crime de insubordinação por outras ofensas, previsto e punível pelo artigo 89º, n.º 2, alínea b), do Código de Justiça Militar.

II - Será menos própria numa relação hierárquica, mas está dentro daquilo que vulgarmente se designa por “linguagem de caserna”, tal como no desporto existe a de “balneário”, em que expressões consideradas ordinárias e desrespeitosas noutros contextos, porque trocadas num âmbito restrito (dentro das instalações da GNR) e inter pares (o arguido não estava a falar com um oficial, subalterno, superior ou general, mas com um 2º Sargento, com quem tinha uma especial relação de proximidade e camaradagem) e são sinal de mera virilidade verbal. Como em outros meios, a linguagem castrense utilizada pelos membros das Forças Armadas e afins, tem por vezes significado ou peso específico diverso do mero coloquial.

(...) Decisão Texto Integral:

(...) Acordam, em conferência, na 9a Secção (Criminal) do Tribunal da Relação de Lisboa:  


(...) Se bem compreendemos, parece que para a Digna Magistrada do MP a ser por alguém proferida a palavra “caralho” esta terá de ser sempre entendida, seja em que circunstancialismo for, como ofensiva do bom nome honra e consideração quiçá de todos quantos estejam à volta de quem a proferiu, ainda que não lhes seja dirigida (vd. conclusões C) e D) do recurso).

Afigura-se-nos que, manifestamente, sem razão.

Segundo as fontes, para uns a palavra “caralho” vem do latim “caraculu” que significava pequena estaca, enquanto que, para outros, este termo surge utilizado pelos portugueses nos tempos das grandes navegações para, nas artes de marinhagem, designar o topo do mastro principal das naus, ou seja, um pau grande. Certo é que, independentemente da etimologia da palavra, o povo começou a associar a palavra ao órgão sexual masculino, o pénis. E esse é o significado actual da palavra, se bem que no seu uso popular quotidiano a conotação fálica nem sequer muitas vezes é racionalizada.

Com efeito, é público e notório, pois tal resulta da experiência comum, que CARALHO é palavra usada por alguns (muitos) para expressar, definir, explicar ou enfatizar toda uma gama de sentimentos humanos e diversos estados de ânimo.

Por exemplo “pra caralho” é usado para representar algo excessivo. Seja grande ou pequeno demais. Serve para referenciar realidades numéricas indefinidas (exº: "chove pra caralho"; "o Cristiano Ronaldo joga pra caralho"; "moras longe pra caralho"; "o ácaro é um animal pequeno pra caralho"; "esse filme é velho pra caralho").

Por seu turno, quem nunca disse ou pelo menos não terá ouvido dizer para apreciar que uma coisa é boa ou lhe agrada: “isto é mesmo bom, caralho”.  Por outro lado, se alguém fala de modo ininteligível poder-se-á ouvir: "não percebo um caralho do que dizes" e se A aborrece B, B dirá para A “vai pró caralho” e se alguma coisa não interessa: “isto não vale um caralho” e ainda se a forma de agir de uma pessoa causa admiração: "este gajo é do caralho" e até quando alguém encontra um amigo que há muito tempo não via “como vai essa vida, onde caralho te meteste?”.

Para alguns, tal como no Norte de Portugal com a expressão popular de espanto, impaciência ou irritação “carago”, não há nada a que não se possa juntar um “caralho”, funcionando este como verdadeira muleta oratória. 

Assim, dizer para alguém “vai para o caralho” é bem diferente de afirmar perante alguém e num quadro de contrariedade “ai o caralho” ou simplesmente “caralho”, como parece ter sucedido na situação em apreço nestes autos. No primeiro caso a expressão será ofensiva, enquanto que, ao invés, no segundo caso a expressão é tão-só designativa de admiração, surpresa, espanto, impaciência, irritação ou indignação (cfr. Dicionários da Língua Portuguesa da Priberam e da Porto Editora 2010).

Para a primeira hipótese vale aqui, entre outros e por todos, o Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 17 de Dezembro de 1997 (in www.dgsi.pt) onde se expendeu em síntese que: “Integra a prática de um crime de injúrias, qualificado em razão da qualidade profissional do ofendido, subchefe da PSP, aquele que, ao dirigir-se-lhe, no exercício das suas funções, diz "vai para o caralho".” (…)

(...) DECISÃO

Em conformidade com o exposto, tudo visto e ponderado, acordam os Juízes desta Relação em negar provimento ao recurso interposto pelo Ministério Público, confirmando, nos seus precisos termos, o despacho recorrido de não pronúncia do arguido A....
Sem custas, por não serem devidas.
Notifique-se nos termos legais. (O presente acórdão, integrado por vinte e uma páginas com os versos em branco, foi processado em computador e integralmente revisto pelo desembargador relator, seu primeiro signatário – artº 94º, nº 2 do Cód. Proc. Penal)

Lisboa, 28 de Outubro de 2010

Desembargador J. S. Calheiros da Gama
Juiz Militar Major-General Norberto Bernardes (...)

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8950: As músicas pop/rock anglo-americanas mais em voga em 1972/73 e que eu ouvia no mato (Parte II) (Luís Dias)



Guiné > Zona leste > Bambadinca > Alf Luís Dias "junto a um Harvard T-6, em Bambadinca Setembro/Outubro 1973".


Guiné > Zona leste > Galomaro > Dulombi > CCAÇ 3491 (1971/74)> "Vista Aérea do Aquartelamento do Dulombi, 1972"


"Se não encontrarmos o caminho, abrimos um" - Aníbal, General Cartaginês, aquando da passagem dos Alpes com as suas tropas para atacar Roma. A OBRIGAÇÃO DE COMBATER: Não foi tanto a bandeira, a farda ou a autoridade hierárquica que nos fez estar ali, nos trilhos, nas picadas, nas bolanhas e no mato denso: foi, antes de mais, os camaradas que estavam a nosso lado, com quem contávamos e que esperavam de nós o mesmo comportamento. 

Luís Dias dixit acerca de ele próprio, no seu perfil no Blogger. É consultor/formador em Ciências Criminais e de Segurança. Gosta de música (rock), cinema e futebol... Foi Alf Mil, CCAÇ 3491 /Galomaro e Dulombi, 1971/74).


Fotos (e legendas): © Luís Dias (2011).  Todos os direitos reservados. 



AS MÚSICAS POP/ROCK ANGLO-AMERICANAS MAIS EM VOGA EM 1972/73 E QUE EU OUVIA NA GUINÉ  (Parte II) (*)

por Luís Dias


Assim, o que estava na onda em matéria de música rock anglo-americana e que, para além das gravações que levei, ouvia com frequência eram:

ANO DE 1972

ALICE COOPER - “School´s out” é uma das músicas que lança a banda de Vincent Furnier para a fama. A banda iniciara o seu percurso em 1969 mas só no ano anterior, com o lançamento do álbum “Killer” que foi um êxito é que se torna internacionalmente conhecida. Em 1973 o seu álbum “Billion dollar babies” é também um êxito.

Cooper é bastante conhecido pelas suas apresentações ao vivo, que tem frequentemente como recurso cenas teatrais violentas e cheias de efeitos de horror, mas também de humor, como forma de chocar o público.

Actualmente, a banda Marilyn Manson, surgida em 1989 é, do meu ponto de vista, a sucessora dos Alice Cooper. Por sinal o líder e vocalista da banda, Brian Hugh Warner, nasceu em 1969, ano do lançamento do primeiro álbum de Cooper.

AMERICA - “A horse with no name”, “ I need you” e “Sandman”, foram êxitos desta banda que possuía uma grande harmonia vocal. O seu estilo folk rock chamou a atenção do produtor dos Beatles, George Martin, que produziu sete dos seus álbuns durante os anos 70. A canção “A horse with no name” fê-los ganhar um “Grammy” para “o melhor novo artista”.

ALLMAN BROTHERS BAND - ”One way out” (um original do cantor de blues, Elmore James) da banda de Southern Rock, Blues Rock e Country Rock Americano, é uma pérola do estilo boogie.

A banda iniciara-se em 1969 e em apenas dois anos eram considerados das melhores bandas de rock norte-americanas. O seu guitarrista Duane Allman (falecido em Outubro de 1971, num desastre de mota) foi considerado pela revista “Rolling Stone” como o segundo melhor guitarrista de sempre. O álbum de 1971, “ Live at Filmore East” é reconhecido como um dos melhores discos de música ao vivo.

BARCLAY JAMES HARVEST – “Medicine man”, da banda de rock sinfónico que dava os primeiros passos a caminho do êxito e que viria a ter o seu auge em finais dos anos 70 e princípios dos anos 80.

ARGENT- “Hold your head up” da banda do teclista Rod Argent (Ex-Zombies).

BEE GEES – “How can you mend a broken heart” e “Run to me”. A banda de origem australiana dos irmãos Gibb, já era famosa desde meados dos anos 60, praticando um som comercial mas de boa qualidade vocal.

Canções como “Spicks and specks”, “Massachussets”, “World”, “Words”, “To love somebody”, “I can´t see nobody”, “I started a joke”, “I just´ve got to get a message to you”, lançadas na década anterior eram conhecidas internacionalmente. No fim da década de 70, com o surgir do Disco Sound, os Bee-Gees alavancados no filme “Saturday night fever”, com John Travolta, atingiriam o cume do sucesso.

BLACK SABBATH – “Changes”, “Supernaut”, “Tomorrow´s dream”. O som hard da banda do vocalista Ozzie Osbourne e do guitarrista Tony Iommy, que juntamente com os Deep Purple e os Led Zeppelin, deram provimento aos estilos Hard Rock e Heavy Metal.

Em 1972 eram já um nome reconhecido na cena musical internacional depois dos álbuns anteriores de 1970 e 1971. O seu som pesado, de temáticas ocultistas e mesmo satanistas, catapultaram esta banda para um patamar de reconhecimento importante, com uma legião de fãs específica e muito fanática.

BOB DYLAN – “Watching the river flow” é um tema refinado do cantor de Folk e Folk Rock norte-americano que desde os anos 60 era considerado uma das figures emblemáticas da cena da música rock. 

Conhecido pelas canções de intervenção e de crítica social, Dylan é efectivamente uma star já bem instalada internacionalmente.

BREAD – “The guitar man”, da banda de Soft Rock norte-americana, que entre os anos 1970 e 1977, produziu 17 êxitos comerciais.

CARPENTERS – “Top of the world”, dos irmãos Richard e Karen Carpenters.

CAT STEVENS – “Cant´t keep it in” do cantor que, em 1977, converter-se-ia ao islão, passando a chamar-se Yusuf Islam e que se tornou conhecido com canções como: “Mathew & Son”, “Father and son”, “Lady d´Arbanville”, “Wild world” e “Morning has broken”.

CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL – “Someday never comes” e “Sweet hitch-hiker” deste grupo norte-americano, que já andava nas andanças musicais desde 1959 (John Fogerty, Tom Fogerty, Doug Clifford e Stu Cook), embora só em 1968 lançassem o seu primeiro álbum. Temas como: ”I put a spell on you”, “Susy Q”, “Proud Mary” (mais tarde um grande êxito cantado por Ike & Tina Turner),“Bad moon rising”, “Green river”, “Down on the corner”, "Travelin' Band", "Who'll Stop the Rain", "Up Around the Bend," e "Lookin' Out My Back Door", foram “smash hits” por todo o mundo.

CHICAGO – “Saturday in the park”, tema do ano para a banda de Chicago/Ilinois, que praticava um rock de Jazz fusion/rock progressive/Soft Rock e que era muito apreciada em Portugal, onde os temas “Does anybody knows what time it is?”, “Colour my world”, “Make me smile” e “25 or 6 to 4” e o álbum ao vivo, “Chicago Live At Carnegie Hall”, de 1971, tinham sido grandes êxitos junto da juventude.

DAVID BOWIE - “Starman” e “Ziggy stardust”, são os temas de viragem deste cantor inglês para o denominado Glam Rock, que ficara conhecido quando em 1969 lançou o tema “Space oddity”, que atingiu o top cindo dos “UK Singles Chart” e que viria a ter grandes sucessos nos anos 80.

DEEP PURPLE – “Higway star”, “Never before”, “Lazy”, “Space truckin´”, “When a blind man cries” e o excepcional “Smoke on the water”. Quem não conhece uma das bandas principais da cena Hard rock/Heavy Metal ?! 

O som da banda e as suas principais músicas são reconhecidos pelos amantes do género. Como esquecer o espantoso “Riff” da entrada de “Smoke on the water”, do guitarrista Ritchie Blackmore e aquela batida do baterista Ian Pace...

Este grupo já havia espantado toda a gente com o álbum “Deep Purple In Rock”, de 1970. Nesse álbum há um solo de guitarra que, a meu ver, é um dos mais especiais de toda a história do rock, pela beleza da sua concepção e execução, consagrando Ritchie Blackmore como um dos portentos mundiais do uso da guitarra, refiro-me, é claro ao tema “Child in time”. A banda ainda anda por aí e já actuou diversas vezes em Portugal, mas a força com que actuavam naqueles tempos era impressionante (Ian Gillan, voz, Jon Lord, teclas, Ritchie Blackmore, guitarra, Roger Glover, guitarra baixo e Ian Paice, bateria).

DIANA ROSS – “God bless the child”, do filme “Lady sings the blues”, foi uma das canções que sobressaiu do filme sobre a diva cantora (Billie Holliday) e que consagrou Diana Ross, que já nos anos 60 brilhava nas Supremes e com as Supremes.

DOOBIE BROTHERS – “Listen to the music” foi um dos grandes sucessos da banda do cantor Michael McDonald, que tiveram uma carreira interessante nos Estados Unidos durante a década de 70.

EAGLES – “Take it easy”, foi o seu primeiro sucesso tirado do álbum homónimo de 1972, mas outros se seguiriam em especial o tema “Hotel California”, de 1976. Uma das grandes bandas de Country Rock. Produziram 7 álbuns de estúdio, 2 álbuns ao vivo, 9 álbuns de compilações e 29 singles. Dos singles, 5 estiveram no top do “Bilboard Hot 100” e 17 foram top hits nas tabelas classificativas americanas. 

O álbum “Hotel California” recebeu 16 discos de platina e o single com o mesmo nome obteve também o disco de platina. Receberam 6 prémios “Grammy” e estão no “Rock and Roll Hall of Fame” desde 1998. Músicos como Glenn Frey, Don Felder, Don Henley, Joe Walsh, Timothy B. Schmidt e Randy Meisner, ficam indelevelmente ligados ao melhor que a música rock produziu.

EMERSON, LAKE & PALMER – “From the beginning” do álbum “Trilogy” foi um dos temas mais conhecidos desta banda de Rock Progressivo/Rock Sinfónico, que na década de 70 obteve bastante sucesso. 

Era composta por três excelentes músicos: Keith Emerson, nas teclas (Ex-The Nice); Greg Lake, no baixo e na voz (Ex-King Crimson) e Carl Palmer, na bateria (Ex-Atomic Rooster).

ELTON JOHN – “Rocket man” e “Honky cat”, eram os temas conhecidos deste conhecido cantor, depois dos sucessos de “Border song”, “Your song”(1970) e “Friends”(1971). 

Elton John era uma estrela em ascensão que iria atingir o zénite nos anos seguintes, em termos comerciais.

ELVIS PRESLEY – “Always on my mind”, um dos últimos sucessos comerciais do King, aquele que deu o corpo e alma ao Rock and roll, iniciando a sua carreira em 1954, que terminaria com a sua trágica morte, em 16 de Agosto de 1977.

GENESIS – “Get ´em out by Friday” e “Watcher of the skies”, do álbum “Foxtrot” vinham na continuidade iniciada em 1970 com “The knife” (álbum “Trespass”) e a sensacional “The musical box” (álbum “Nursery Cryme”, de 1971) e projectavam o que iria ser o tremendo sucesso desta banda de Rock Progressivo e dos seus músicos: Peter Gabriel, vocalista, Michael Rutherford, no baixo, Steve Hackett, na guitarra, Phil Collins, na bateria e Tony Banks, nas teclas. 

De facto, nos anos seguintes, a banda iria atingir um estatuto enorme. Em 1975 estive presente no concerto que os Genesis deram no Pavilhão de Cascais, onde tocaram o álbum por inteiro “The lamb lies down on Broadway” e outros temas já conhecidos. Um dos mais belos e fantásticos concertos que tive oportunidade de ver.

GILBERT O´SULLIVAN – “Alone again (naturally)” e “Claire” deste cantor irlandês eram a continuação do êxito conseguido em 1970 com “Nothing Rhimed”. No ano seguinte Gilbert ganha um “Grammy”, relativo à canção “Alone again (naturally)”. Não obstante a sua longa carreira (o último single foi editado em 2008), o sucesso não lhe voltou a sorrir como nos anos 70.

HAWKWIND -   “Silver machine” é, seguramente, o tema mais conhecido desta banda inglesa que praticava diversos estilos: Space Rock/Hard Rock/Acid Rock/Progressive Rock e Psychedelic Rock, mas que nunca alcançou um lugar no pódio internacional. 

JETHRO TULL – “Thick as a brick”, é o tema mais conhecido do álbum com o mesmo nome da banda inglesa nascida em 1967. Este era o seu quinto trabalho, sendo que o álbum anterior, de 1971, “Aqualung”, ainda é uma das melhores obras da música rock, com músicas excepcionais como: “Aqualung” e “Locomotive breath”.

A sua música caracteriza-se também e muito pelas histórias que apresentam. A apresentação ao vivo desta banda era muito bem conseguida, em especial devido à exuberância do seu líder, vocalista e flautista, Ian Anderson, bem acompanhado pelo guitarrista Martin Barre. O som era uma mistura de Folk Rock com Progressive Rock, Jazz Rock e Hard Rock.

JOHN DENVER – “Rocky mountain high” foi uma das mais importantes músicas apresentadas por este cantor/compositor/activista político/poeta/fotógrafo e piloto norte-americano, falecido aos 53 anos, quando pilotava o seu próprio avião e se despenhou no Oceano Pacífico, em 12 de Outubro de 1997. A sua carreira ficou recheada de excelentes canções, nos estilos Country, Folk e Pop.

LOU REED – “Vicious”, “Satellite of love” e “Walk on the wild side” foram dos temas mais importantes deste cantor, membro fundador da banda dos anos 60 Velvet Underground. O seu estilo insere-se no Rock Psicadélico, temperado também pelo Art Rock, Glam Rock e o Rock Progressivo.

MOODY BLUES – “For my lady”, “Isn´t life strange” e “I´m just a singer in a rock´n´roll band”, foram os temas que esta banda, nascida para a música em 1964, em Inglaterra, colocou na ribalta musical neste ano.

A banda praticava um som de fusão de Classical Music, com a inovação da introdução do Mellotron e de acompanhento por uma Orquestra Filarmónica e são inesquecíveis os temas dos anos 60: “Nights in white satin”, “Tuesday afternoon”, “Voices in the sky”, “Ride my see saw”, “The Actor”, “Lovely to see you”, “Lazy day”, “Candle of life”, “Watching and waiting”, “Question”, “Melancholy man” e “Story in your eyes”. 

O grupo terá vendido ao longo dos muitos anos que tem de carreira perto de 70 milhões de álbuns, por todo o mundo e foram premiados com 14 discos platina e ouro. Acresce que a banda ainda mexe em 2011, mantendo um dos músicos originais da linha de 1964 e ainda três dos músicos originais da linha de 1967.

MOTT THE HOOPLE – “All the young dudes” foi o tema mais conhecido desta banda de Glam Rock, escrito por David Bowie.

NEIL DIAMOND – “Song sung blue” do cantor e compositor norte-americano é uma entre muitas das suas composições que tiveram assinalável êxito. Os seus temas retratam muitas das vezes aspectos da sua vida. Compôs a música para o filme de 1973, “Fernão Capelo Gaivota” e foi o actor principal do filme “Jazz singer”.

NEIL YOUNG – “Heart of gold”, “The needle and the damage done”, são dois importantes temas do álbum de 1972 “Harvest”, deste cantor e compositor canadiano. 

Neil iniciou a sua carreira musical em 1960 no Canadá, mudando-se em 1966 para a Califórnia, onde fundou a banda de Country Rock, Buffalo Springfield, juntamente com Stephen Stills, vindo a integrar em 1969 (como quarto membro) o grupo, Crosby, Stills, Nash & Young. Guitarrista com grande versatilidade,  percorreu durante a sua longa carreira a solo um grande número de estilos e tendências, sendo reconhecido como um excelente performer.

PAUL SIMON – “Me and Julio down by the schooll yard” é um dos temas do 1º album a solo deste excelente cantor/compositor norte-americano. Paul é mais conhecido por ter integrado o famoso duo Simon & Garfunkel, de “Folk Rock”/”Soft Rock”, que ao longo de vários anos lançaram diversas músicas que ainda hoje são ouvidas com interesse, porque marcaram uma época. 

O duo separou-se em 1970, mas de quando em vez juntam-se para reaparições ao vivo. Os temas “The sound of silence”, “Mrs. Robinson”, “Scarborough Fair”, “I am a rock”, “The boxer”, “The bridge over troubled water”, “Homeward bound”, “A hazy shade of winter”, “At the zoo”, “Cecília”, “El condor pasa”, e “America”, foram estrondosos êxitos, que fizeram elevar este duo a um nível de reconhecimento ímpar.

ROBERTA FLACK – “The first time ever I saw your face” foi disco de ouro desta cantora negra norte Americana de “R&B”/”Soul”/Jazz que recebeu um “Grammy” no ano seguinte, por esta canção.

ROXY MUSIC – “Virgin plain”A banda do cantor Bryan Ferry iniciara os seus passos em 1970 e esta música pertencia ao seu primeiro álbum, saído em 1972. A banda inseria-se nos estilos Art Rock/Glam Rock/Psychedelic Roc e mais tarde na New Wave, onda que lhes daria o sucesso internacional. Tive o grato prazer de os ver ao vivo no Estádio do Restelo, julgo que no Verão de 1982, juntamente com o grupo King Crimson e a banda portuguesa Heróis do Mar.

STEVIE WONDER – “Superstition” e “You are the sunshine of my life” do cantor de R&B/Soul Music/Jazz/Funk e Pop eram os sucessos da altura, de um artista que se iniciou muito cedo na música (11 anos) e já tinha muitos êxitos na carreira surgidos na década anterior, tendo o seu primeiro sucesso surgido aos 13 anos, “Fingertips (Pt.2)”. 

Temas como: “Hi-heel sneakers”, “For once in my life”, “My Cherie amour”, “Yester-me, yester-you, yesterday”, “Signed, sealed, delivered, I´m yours”, “Never dreamed you´d leave in summer”, “”Master blaster”, “Ebony and Ivory”, ”I just call to say I love you”, “That´s what friends are for”, “Part time lover” e “Overjoyed”, projectaram Stevie como um dos mais importantes músicos do século XX. 

Durante a sua já longa carreira, Stevie Wonder produziu, até ao ano de 2009, 23 álbuns de originais, 3 álbuns de músicas para filmes, 4 álbuns ao vivo, 10 álbuns de compilações de êxitos, 1 colectânea box e 98 singles.

TEMPTATIONS – “Papa was a rolling stone” – Tema desta já muito experiente banda vocal que se iniciou nos anos 60 e que já tinha êxitos importantes como: “My girl”, “Don´t look back”, “Get ready”, “Ain´t too proud to beg”, “I wish it would rain”, “Cloud nine”, “I´m gonna make you love me (com as Supremes)”,”Runaway child, running wild”, “I second that emotion” e ”Ball of confusion”. A sua longa carreira perdurou até ao ano 2000.

URIAH HEEP – “Easin´livin´”, “The wizard”, “Circle of hands”, “Sunrise” e “Sweet Loraine”– Alguns dos melhores temas desta banda inglesa de Hard Rock/Heavy Metal, que se iniciara na cena musical em finais dos anos 60 e que já contavam com um álbum em 1970, dois em 1971 e dois em 1972. A banda prosseguiria o seu caminho por muitos e muitos anos, mas sem alcançar os êxitos obtidos nos primeiros anos da década de 70.

YES –“I get up, I get down/Close to the edge”, desta banda de Rock Progressivo /Rock Sinfónico, é um dos temas do excelente álbum “Close to the edge”. O grupo foi fundado em 1968 e no ano seguinte surgia o seu primeiro álbum com o título “Yes”, onde se destaca o tema “Survival”. 

Em 1970 surgia o álbum “Time and a Word”, com os temas principais “Time and a Word” e “Sweet dreams” e em 1971 o “Yes álbum”, com destaque para as músicas “I´ve seen all good people” e “Yours is no disgrace” e também o álbum “Fragile” com os brilhantes temas “Roundabout” e “Long distance runaround” (temas que eu ouvia com muita particulariedade já em 1972 na Guiné). 

A banda continuou a produzir excelentes álbuns e conseguiu sucesso com muitas outras canções, em especial: “Soon” de 1974 e “Owner of a lonely heart” de 1983, mas também “Going for the one”, “Wonderous stories” e “Onward”. A produção de álbuns manteve-se até 2001 e a banda continua activa, embora os seus membros tenham mudado diversas vezes em relação aos músicos originais.

Yes (1969), Time and a Word (1970),The Yes Album (1971),Fragile (1971),Close to the Edge (1972), Tales from Topographic Oceans (1973), Relayer (1974), Going for the One (1977),Tormato (1978), Drama (1980),90125 (1983), Big Generator (1987), Anderson Bruford Wakeman Howe (1989), Union (1991), Talk (1994), Open Your Eyes (1997), The Ladder (1999) e Magnification (2001).

Músicos mais importantes que passaram pela banda: Jon Anderson e Benoit David (vocalistas principais), Chris Squire (guitarra baixo), Steve Howe, Peter Banks, Trevor Rabin e Billy Sherwood (todos guitarristas), Rick Wakeman, Tony Kaye, Patrick Moraz, Geoff Downes, Igor Khoroshev e Oliver Wakeman (todos teclistas), Bill Bruford e Alan White (bateristas).

(Continua)

[Imagens: Capas de discos, do domínio público, selecionadas por L.D.]

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8932: As músicas pop/rock anglo-americanas mais em voga em 1972/73 e que eu ouvia no mato (Parte I) (Luís Dias)

Guiné 63/74 - P8949: Notas de leitura (293): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (José Manuel M. Dinis)




1. Em mensagem do dia 24 de Outubro de 2011, o nosso camarada José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), enviou-nos uma nota de leitura sobre o livro do Coronel Páraquedista José de Moura Calheiros, "A Última Missão".





A Última Missão, do coronel Moura Calheiros, é um catrapázio de mais de 600 páginas, com muitas fotografias, que se lê com facilidade e gosto. Tem uma parte inicial quase descritiva de alguma etnografia guineense (ou africana), e breves descrições das comissões passadas em Angola e Moçambique onde comandou CCP's.

O livro intercala dois discursos e dois estados-de-espírito do autor: um, a última missão, tem a ver com a recuperação dos restos mortais dos militares portugueses inumanos em Guidage, e é um muito humano cruzamento de sentimentos, recordações, levantamentos biográficos, que dá corpo a um excelente exercício sobre a juventude portuguesa de há 40 anos, sobre a sua formação, os seus anseios, as suas actividades, a inserção social, e as respostas que o país lhe dava ou deixava de dar; o outro estado-de-espírito tem a ver com a memorização da sua intervenção militar nos territórios de Angola, Moçambique e Guiné. A este propósito cabe aqui apreciar que o autor revela uma inopinada emboscada nos arredores de Luanda, declara a comissão em Moçambique como mais desgastante, perigosa e menos organizada, em virtude de uma malha muito espaçada e isolada das Unidades em quadrícula, com escassos meios de apoio, de comunicação e de socorro, em virtude da extensão da área operacional.

Assim, terá sido com agradável surpresa que, ao integrar o BCP 12, constatou que lhe sugeriu uma exemplar organização militar em guerra, onde aconteciam reuniões diárias no ComChefe, apoio aéreo quase instantâneo para evacuações, bem como o ambiente no Batalhão, onde havia coesão e as melhores instalações militares na Guiné, onde foi o Segundo Comandante.

Naturalmente, para quem combateu na mítica Guiné (estive a fazer intervenção em Piche, e depois em quadrícula em Bajocunda, nos quase pacíficos anos de 1970/71), os relatos sobre o Cantanhez, Guidage e Gadamael são sempre susceptíveis de curiosidade, e fonte de informação e interpretação crítica.
Por me propor fazer uma breve apreciação ao descrito, vou passar sobre muita da informação expandida, para me fixar apenas em poucos aspectos:

Assim, relativamente ao cerco de Guidaje fica nítido, que os nossos aquartelamentos mostravam vulnerabilidades, quando os ataques do IN eram bem dirigidos e organizados, consistindo de flagelações à Unidade, chamariz para a Força Aérea ali deslocar-se e confrontar-se com os Strela, enquanto por terra, a minagem e emboscadas aos itinerários, provocavam estragos e desmoralização nas NT, neutralizando-as. E deve notar-se, que em Guidage estiveram presentes todas as nossa tropas especiais, com maior ou menor envolvência, mas todas sofreram baixas antes inesperadas. É impressionante a descrição de uma emboscada na região de Cufeu, de onde os páras foram salvos pela decisiva e temerária intervenção dos Fiat's (temerária porque não pestanejaram perante a possibilidade da existência de mísseis nas redondezas), muito bem orientados sobre a localização do IN (a escassa distância das NT que já contavam duas baixas mortais), atacaram e dispersaram o IN colocando um ponto final à aflição.

Sobre o ataque perpetrado pelo Batalhão de Comandos Africanos à base IN de Cumbamory, destaco da leitura duas situações insólitas: primeira, que o BCA deslocou-se para a região com exagerada antecedência e o espalhafato da tropa especial, prejudicando o efeito surpresa que a Operação requeria; segunda, que a Operação foi precedida de um intenso bombardeamento onde se admitia ser a localização da base IN, o que não deve ter coincidido, caso contrário o IN teria sofrido baixas e abandonado o local. Ora, quando os Comandos chegaram à região, estiveram em combate e sofreram inúmeras baixas, pelo que o eventual êxito da Operação é suscetível de estar maquilhado, e pode tornar verosímil a declaração anexa de Manecas, Comandante do PAIGC. Ainda assim, proceder a um assalto sem o adequado conhecimento do local, enquanto, sabia-se, havia tropa apeada empenhada no cerco a Guidage, não parece aos meus olhos ter sido a melhor opção. E refere o autor na página 455: "O ataque à base de Cumbamory não veio aliviar em nada e muito menos solucionar a situação de Guidaje".

Também refere que no dia seguinte o BCA abandonou Guidaje a pé e a corta-mato, ao contrário do que lhe estaria destinado, escoltar as viaturas e o pessoal de regresso a Binta, que permaneciam em Guidaje havia 5 dias, incluindo "muitos feridos" a necessitar de evacuação. Outra medalha para AB.

Sobre Gadamael, destaco da leitura que em cerca de 15 dias o COP-5 conheceu os seguintes Comandantes: Coutinho e Lima, Rafael Durão, Ferreira da Silva, Mascarenhas Pessoa, e Araújo e Sá. Esta sucessão de Comandantes nomeados pelo ComChefe, parece-me reveladora da perturbação que ia em Bissau, e pode ser demonstrativa de alguma incapacidade para gerir sob pressão. Segundo o autor, a acção preponderante de Araújo e Sá foi determinante para a retoma da normalização em Gadamael. Não o diz no livro, mas foi um período em que a par de acções de heroísmo, aconteceram outras de total perturbação e abandono, reveladoras de incompetência e falta de comando, com o IN a atacar quando e como queria.

Refiro-me agora (porque contraria a temporalidade) à missão no Cantanhez de que o autor foi responsável. Tratou-se de uma participação dos 3 ramos das FA, bem planeada, e bem coordenada, com uma única falha (a do local do desembarque de uma Companhia), que provocou a ira do General Spínola. Dessa acção concertada, resultou com êxito a reocupação do Cantanhez, como resposta à visita de uma delegação da ONU que iludiu no percurso o QG e as NT. O autor escreve como se construíram aquartelamentos e estradas a partir do nada, sempre com a preocupação de manter acções de patrulhamento defensivas, de inicio, e ofensivas mais tarde, por forma a garantir um ambiente de segurança e paz. Na página 620 e seguintes elogia o Comandante Araújo e Sá (cuja extraordinária acção terá passado despercebida) e o BCP 12, em contraposição com a opinião expressa: "É que na Guiné de então, a Glória estava pré-determinada e as honrarias contemplavam normalmente apenas um circulo restrito junto do General Comandante-Chefe. Depois, o marketing e os círculos de amigos fizeram o resto. E apareceram as lendas, que progressivamente têm vindo a tomar o lugar da História". E dá exemplos através de excertos de conceituados cronistas de guerra que terão ido às fontes do costume. Do que pode resultar que, "Quando hoje lemos algo sobre aquele período da guerra na Guiné, parece que tudo o que de bem e de bom ali foi feito se deve a um pequeno grupo de militares próximos do Gen. António de Spínola, cujos nomes são exaustivamente citados. É copy and paste, já satura! Até deverá saturar a quase totalidade desses militares, pois em nada contribuíram para a situação que se criou".

A partir desta constatação o autor questiona o rigor da História de Portugal e a genuinidade das fontes, duvidando, "se os cronistas investigaram ou se, como os copistas de antanho, se limitaram a reproduzir a opinião da corrente dominante na corte, para, em coro com os bardos, cantarem as glórias dos príncipes".

Muito obrigado senhor Coronel.
JMMD
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Notas do Editor:

(*) Vd. poste de 13 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8900: Notas de leitura (286): Lugar de Massacre, de José Martins Garcia (José Manuel M. Dinis)

Vd. último poste da série de 25 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8947: Notas de leitura (292): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte II): Futebol e Nacionalismo (Nelson Herbert / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P8948: Blogues da nossa blogosfera (46): Sítio da AD com novo rosto e novo webmaster


A nova página de rosto do sitio da AD - Acção para o Desenvolvimento... A página tem a estrutura de um blogue, com postes organizados cronologicamente... E, mais importante ainda: passa a ter um webmaster da casa, guineense,  o Ali Djaló, que sucede ao tuga Filipe Santos, da Escola Superior de Educação de Leiria (ESEL)...

1. Mensagem dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento (, em festa, pelo seu 20º aniversário), com data de 25 do corrente:


Assunto: Site da AD com novo rosto

Amigos,

Estamos a celebrar o nosso XX Aniversário, com várias acções. Uma delas é o novo visual do site da AD (www.adbissau.org) em que começamos a libertar a dedicação, competência e tempo que o Filipe Santos, professor da ESE de Leiria, Portugal, concedeu à sua criação e actualização durante todos estes anos, desde o seu início.

No âmbito de várias acções de formação onde a AD procurou dar aos seus quadros a devida competência técnica, é com grande satisfação que podemos, a partir de agora, oferecer  um site dinamizado e alimentado por guineenses, em particular o Ali Djaló.  

Esta aposta permitirá oferecer um site que já tem condições de ser actualizado numa base quase diária,  podendo assim assumir novas dinâmicas (como divulgar o povo e a cultura deste país ao mundo) para além das já anteriormente realizadas (divulgação dos projectos, estudos e publicações, e áreas de intervenção da AD).

Igualmente importante, a AD procura oferecer um site onde a opinião dos seus visitantes pode ser ouvida (sendo mesmo encorajada) para que cada um possa ajudar a AD na sua missão de ajuda ao desenvolvimento. De momento o site da AD já possibilita esta participação, permitindo a introdução de comentários e opiniões em todas as notícias colocadas no site (sendo ainda, contudo, necessário ter uma conta no Facebook para poder usar esta funcionalidade).

Mais uma vez, sejam Bem Vindos!
Carlos Schwarz
Director Executivo
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Nota do editor

Último poste da série > 9 de Outubro de 2011 >
Guiné 63/74 - P8876: Blogues da nossa blogosfera (45): O Pel Rec Fox 8870 (Cufar, 1973/74)