quarta-feira, 27 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16336: (Ex)citações (313): A minha faca de mato, de aço temperado mas não de inox, "made in Portugal", velhinha de 45 anos, amiga inseparável, ainda hoje nas jornadas de caça... (Augusto Silva Santos, ex-fur mil, CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Fotos: © Augusto Silva Santos (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de Augusto Silva Santos, com data de 26 do corrente:

Augusto Silva Santos 
(ex-fur mil, CCAÇ 3306/BCAÇ 3833,



Olá,  Carlos Vinhal, boa tarde!
Espero que esteja tudo bem contigo.

Relativamente ao assunto em referência, estou a juntar a minha modesta colaboração, com um pequeno texto e algumas fotos para ilustrar que, caso assim o entendas, agradeço publicação.

Um Grande e Forte Abraço
Augusto Silva Santos


2. A minha Faca de Mato

Esta é a minha faca de mato, velhinha de 45 anos, que sempre me acompanhou durante toda a minha comissão na Guiné, conforme fotos [4] que o confirmam. Foi uma amiga inseparável, tal como a G3, e que muita utilidade teve em diversas situações, umas mais agradáveis que outras.

Sempre a usei no cinturão. Foi com ela que abri latas de conserva e ostras, que fiz petiscos, que amanhei peixe da bolanha, que colhi ramos de palmeira para fazer abrigos ou camas improvisadas, que tentei detectar minas, mas também para infelizmente ter de abrir a camisa de um camarada ferido por estilhaços de uma roquetada.

Também me lembro de com ela ter gravado,  numa árvore junto ao rio Cacheu, o meu nome e da minha namorada, e agora minha mulher.

Será sempre um objecto muito versátil e de muita importância no campo militar. Sendo caçador, confesso que algumas vezes (será por nostalgia?) já a levei comigo nalgumas jornadas de caça.

No meu caso, julgo tratar-se de uma faca de aço temperado, mas não de aço inox, até porque já apresenta alguns pontos de ferrugem, apesar dos cuidados que ao longo destes anos lhe tenho dispensado. Não tem qualquer designação ou marca para saber onde foi produzida, mas penso tratar-se de cutelaria nacional, pois foi por mim adquirida numa feira / mercado antes do meu embarque para a Guiné. Portanto, não me foi distribuída, era e é de minha propriedade.
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terça-feira, 26 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16335: Tabanca Grande (491): Adão Pinho da Cruz, Médico Cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Adão Pinho da Cruz(*), Médico Cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com data de 22 de Julho de 2016:

Amigo Carlos Vinhal

Obrigado pelas vossas palavras.

Aí vai a informação que pedem:

Adão Cruz
Alferes miliciano médico na Guiné, de 1966 a fim de 1968.
Companhia 1547 do Batalhão 1887, salvo erro.
Locais onde estive com maior permanência: Canquelifá e Bigene.
Outros locais: Bissau, Bafatá, Gabu-Sará, Piche, Farim, K3, Binta, Guidage, Jumbembem, Cuntima, Barro e… Bijagós.

No início da minha carreira de médico fiz clínica geral em Vale de Cambra, três anos antes de ir para a Guiné e mais três depois de vir.

Fiz a especialidade de Cardiologia, com sub-especialização em ecocardiografia, tendo sido um dos pioneiros desta técnica em Portugal.

Exerci clínica privada no Porto e S. João da Madeira. Fui médico do quadro de cardiologia do Hospital de Santo António durante duas décadas, acabando a carreira hospitalar no Hospital de Gaia como assistente hospitalar graduado.

Ainda hoje, já bem velho, tenho a honra de ir semanalmente à reunião do prestigiado Serviço de Cardiologia deste hospital. Ainda vou ao consultório dois dias por semana.

Escrevo desde jovem e pinto desde a década de oitenta. Tenho onze livros publicados, entre pintura e literatura, especialmente poesia.

Vivo no Porto. Tenho três filhos e quatro netos.

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 2. Apontamento do editor:

Lembramos que o nosso camarada Adão Cruz chegou ao conhecimento do Blogue, e vice-versa, porque o seu filho Marcos é amigo da Joana, que por sua vez é filha do nosso camarada tertuliano Francisco Baptista. Sendo o mundo pequeno e a nossa Tabanca (tão) grande, natural esta aproximação. Há já duas entradas de Adão Cruz no nosso Blogue, textos enviados por Francisco Baptista.

Do muito que encontrei na Net sobre o nosso novo camarada, aqui fica:

I - Biografia transcrita, com a devida vénia, publicada na página "A Viagem dos Argonautas":

APRESENTAÇÃO DO ARGONAUTA ADÃO CRUZ

Adão Pinho da Cruz nasceu no lugar de Figueiras, freguesia de Castelões, concelho de Vale de Cambra, em 1937.

Licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, especializado em Cardiologia e sub-especializado em ecocardiografia.

Prestou serviço militar na Guiné, entre 1966 e 1967, como alferes médico. Usando palavras suas: «a profunda vivência da guerra e o profundo contacto com uma população miserável, constituíram uma das mais ricas e marcantes experiências da sua vida».

Apanhado pela explosão do 25 de Abril, não fugiu ao novos deveres de cidadania criados pela Revolução e, nomeado pelo Governador Civil de Aveiro, exerceu durante um ano as funções de Presidente da Comissão Administrativa da Câmara municipal de Vale de Cambra.

É membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, da Sociedade Europeia de Cardiologia, da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos e foi também membro da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos.

Para além da sua actividade como médico, é escritor e pintor, com diversos livros publicados, de contos, poemas e pinturas. Fez várias exposições, individuais e colectivas, realizadas em Portugal e no estrangeiro.

Principais obras publicadas: Esta Água Que Aqui Vem Dar (poemas e pinturas-1993), Vem Comigo Comer Amendoim (contos, ilustrados por Manuel Cruz-1994), Palavras e Cores (prosa poética e álbum de pinturas-1995), Adão Cruz – Tempo, Sonho e Razão (álbum de pinturas e textos de Albano Martins e César Príncipe-2003), Nova Ponte Sobre um Velho Rio (conjunto de três pequenos volumes de poesia, com capas sobre pinturas do autor-2006), Adão Cruz – Hora a hora rente ao tempo (álbum de pinturas e texto do autor-2007), Adão Cruz – Um gesto de silêncio (álbum de pinturas e poemas, com texto do autor -2010), VAI O RIO NO ESTUÁRIO, poemas de braços abertos (poesia e textos) e VAI O RIO NO ESTUÁRIO, cores de braços abertos (pintura e texto do autor).


II - Vídeo no Youtube referente a uma Exposição de pintura de Adão Cruz, inaugurada em 14 de Maio de 2011, na galeria Zeller, Rua 14 nº 750 - 4500 ESPINHO - onde se pode ficar com uma ideia do seu trabalho.

Ver aqui  
Com a devida vénia a Carlos Wanzeller


III - No Jornal Labor, Secção Sociedade

Com a devida à autora do texto, Anabela S. Carvalho

Adão Cruz, poeta da natureza, pintor da liberdade

Médico, poeta e pintor, Adão Cruz exibe na biblioteca um excerto da sua intimidade. Razão para uma conversa que começou nas artes e atravessou, de forma ligeira, uma vida que se cruza com a história recente do país


O cardiologista Adão Cruz tem na biblioteca municipal uma exposição de quadros e poemas, inaugurada em clima de “Poesia à Mesa”. É uma das raras oportunidades para ver em S. João da Madeira o trabalho do médico, que já publicou sete livros de poesia e nove de pintura. E motivo de conversa com o labor sobre a poesia, a arte e a vida.

Adão Cruz cresceu no lugar de Figueiras, freguesia de São Pedro de Castelões, Vale de Cambra, em completa harmonia com a natureza. Essa infância, que tanta nostalgia lhe traz, transborda facilmente para os versos, que escreve desde catraio. É talvez o único tema, por assim dizer, da poesia de Adão Cruz, que, na verdade, não tem tema nenhum.

Já a pintura surgiu mais tarde. O médico tentou transpor os mesmos sentimentos para a tela e saiu-lhe uma espécie de “expressionismo ficcionista do sentimento”. Um figurativo à sua maneira, ou seja, “rude” e “espontâneo”, sem regras ou preocupações técnicas e académicas que, como disse Júlio Pomar, “é a doença congénita das artes”. Uma espontaneidade e liberdade que o médico mantém também quando escreve e que, na sua opinião, mais fielmente respeita o sentimento que o move.

Falar com Adão Cruz sobre poesia e arte é falar sobre o próprio conceito de uma e de outra. A questão tem-no ocupado nos últimos anos. “Qualquer expressão artística tem na sua essência o sentimento poético”, afirma. O que é o mesmo que dizer que a poesia está em todas as formas artísticas. O que é a poesia? Defini-la é como tentar definir o próprio amor, exemplifica. “O sentimento poético e o sentimento artístico não nascem do dia para a noite. Pode haver algum componente genético mas têm de ser vividos, esculpidos pela vida”, explica. E essa depuração só se faz através daquela que para o médico de 77 anos é a maior riqueza dos homens: o pensamento e a razão. Depois o desafio é expressar esse sentimento, sem tender para o sentimental. “Costumo dizer que somos uma espécie de garimpeiros a peneirar o cascalho das palavras”, afirma.

Para Adão Cruz, na poesia e na pintura, de pouco vale a forma. É no efeito das suas palavras ou traços em quem os observa que está o real valor da obra. Por isso não dá nomes aos quadros, por exemplo. “Essa coisa da obra ser nossa, é de facto. Mas depois é de toda a gente que a vê”, revela. Essa gente verá no poema ou no quadro algo que não estaria na sua origem mas é uma interpretação válida porque gerada através dos estímulos que o artista criou. A consciência disto alicia Adão Cruz, avesso a descodificações que muitas vezes “empobrecem a obra e as capacidades de interpretação” da mesma.

O seminário, a guerra e o 25 de Abril

A vida do médico cardiologista está repleta de episódios que marcam e definem um rumo de vida. Aos 11 anos, depois de uma infância em total “ordenação com a natureza”, foi internado num seminário jesuíta, donde fugiu três anos depois. “Aquilo foi a trucidação da minha vida de infância. Foi um corte radical que me marcou a vida toda. Até hoje!”, revela. Na hora de rezar o jovem Adão brincava com o terço e na hora de meditar olhava irrequieto em volta. Estava entre os piores comportados do seminário e o reitor, resignado, até já tinha concluído pela ausência de vocação no jovem. Numa manhã, Adão pirou-se.

Daí foi para Colégio de Vale de Cambra mas as boas vindas do reitor - outro padre que, numa das primeiras abordagens ao novo aluno, deu-lhe uma chapada - não o convenceram. Acabou por mudar-se para o Colégio de Oliveira de Azeméis, que frequentava com a irmã, a professora Eva Cruz.

Fez-se médico e andou seis anos a calcorrear montes e vales de Vale de Cambra e da região, numa altura em que a medicina transitava para a era moderna. “Foi a minha grande escola de medicina”, comenta. Chamado para a guerra colonial, esteve destacado na Guiné durante dois anos. Nesse período, o jovem médico, que já levava de Portugal sentimentos antifascistas e anticolonialistas, despertou a consciência social e política. Assistiu à exploração dos agricultores, fez-se amigo dos nativos e até hoje troca correspondência com alguns.

Quando voltou, foi recebido em apoteose. Os habitantes de Vale de Cambra receberam o médico com a pompa e circunstância da época: banda de música e missa solene. Mas o 25 de Abril virou o bico ao prego. A oposição de Adão Cruz ao regime fascista e os ideais de esquerda empurraram-no para a presidência da comissão administrativa da câmara de Vale de Cambra, período do qual não guarda especial saudade. Em pleno PREC, os ânimos estavam acerbados e o extremismo eclodia. A população estranhou ver o médico ao lado dos comunistas e, estimulada pelos líderes de direita, começou a contestá-lo. Adão Cruz chegou a correr para Vale de Cambra a meio da noite porque uma multidão de 300 pessoas ameaçava invadir a câmara. Quando lá chegou, nenhum dos contestatários o olhava de frente. O episódio não deu em nada porque o respeito que granjeou no passado acabou por falar mais alto.

A ruína dos sonhos

Desiludido, um ano depois de tomar posse, candidatou-se à Assembleia Constituinte. Era a única forma de abandonar o cargo e o médico estava decidido a fazê-lo. “Fiquei muito magoado porque dei tudo para dar alguma dignidade àquela gente”, recorda. Lembra nomeadamente as reuniões de câmara com representantes das freguesias e com quem mais quisesse aparecer, em oposição ao que acontecia durante o fascismo. “O nosso empenho era democratizar”, conclui, ainda com mágoa.

Por esta altura, o médico já vivia em S. João da Madeira, onde até hoje mantém um consultório modesto e discreto na Rua do Visconde. Desde que se mudou para o Porto, é o consultório com 40 anos que o traz à cidade duas vezes por semana.

Aposentou-se há anos mas esporadicamente ainda volta ao Hospital Santo António, onde fez o grosso da carreira. Olha com muito desalento para a evolução do Serviço Nacional de Saúde em particular e do país em geral. “Estou convencido que qualquer pessoa vê que isto é a destruição de tudo o que se adquiriu até aqui”, lamenta, convencido de que só muito mais tarde se voltará a adquirir tudo o que se perder agora. Teme que a ganância, a escassez e a pressão sobre a população façam emergir uma sociedade pobre e individualista onde os seus filhos e netos viverão. “Dos direitos mais importantes do homem é o direito ao trabalho. Qualquer sociedade devia tê-lo como prioritário”, comenta, lembrando que o SNS chegou a estar na 12.ª posição mundial mas hoje não dá resposta a quem precisa. “Nunca pensei que os meus sonhos ruíssem desta forma”, confessa.

A conversa com Adão Cruz esteve para terminar neste tom mas a fotografia dos netos e o regresso à poesia rapidamente lhe mudaram a expressão.

Por: Anabela S. Carvalho


IV - No Blogue Jardim das Delícias, estão publicados alguns textos e reproduções de trabalhos de pintura do camarada Adão Cruz, do qual extraímos, com a devida vénia ao autor da obra e ao editor do Blogue, esta bela pintura intitulada "Mãe".



3. Ficam agora algumas fotos enviadas por Adão Cruz que o remetem para a Guiné e para a sua nobre função de médico militar.








O nosso camarada Adão Cruz actualmente

OBS: - As fotos não vieram legendadas, só com a indicação de que eram de Bigene e Canquelifá. Se a todo o tempo o camarada Adão Cruz quiser identificar os seus companheiros, proceder-se-á à inclusão das respectivas legendas.


4. Era suposto agora publicar uma pequena história, habitual no postes de apresentação, mas como este já vai longo, e porque temos já dois belíssimos textos em carteira, estes serão publicados brevemente.

Ao nosso novo amigo e tertuliano Adão Cruz, um dos médicos militares, aos quais, assim como a todo o pessoal do serviço de saúde, tanto devemos, damos as boas-vindas e convidamo-lo a sentar-se à sombra do nosso poilão, não para descansar, mas para nos falar da sua experiência como médico em teatro de guerra, cuja missão era salvar vidas, amigas ou não, ao contrário de nós tínhamos de defender, a todo o custo, as populações amigas e as zonas de acção que nos estavam confiadas.

Correndo risco de esquecer algum, aqui ficam os camaradas médicos militares que fazem parte da nossa tertúlia:

Amaral Bernardo (BCAÇ 2930)

José Pardete Ferreira (CAOP 1 e HM 241)

Manuel Valente Fernandes (BCAV 8323)

Mário Silva Bravo (CCAÇ 6)
e
Rui Vieira Coelho (BCAÇ 3872 e 4518).

CV
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

25 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16134: (In)citações (91): "Um gajo não sabe o que foi a guerra colonial", diz Marcos Cruz, filho do Dr. Adão Cruz, um dos médicos do BCAÇ 1887 (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)
e
25 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16235: Os nossos médicos (86): O Parto - ou o nascimento do Adão Doutor em Bigene (Adão Cruz / Francisco Baptista)

Último poste da série de 11 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16294: Tabanca Grande (490): Adelaide Barata Carrêlo, filha do ten SGE Barata, CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71)... Com sete anos apenas, sofreu a brutal flagelação do IN ao quartel e vila do Gabu, em 15/11/1970, que causou 3 mortos e 4 feridos graves entre as NT e 8 mortos e 80 feridos (graves e ligeiros) entre a população... Passou a ser a nossa grã-tabanqueira nº 721

Guiné 63/74 - P16334: (Ex)citações (312): O que nós (não) sabíamos sobre a nossa faca de mato... Tal como a G3, veio da Alemanha, e não de Guimarães, capital da cutelaria portuguesa... O fornecedor da lâmina de aço inoxidável era, passe a publicidade, a Solingen! (José Colaço / António J. Pereira da Costa / Henrique Cerqueira / Sousa e Faro / Hélder Sousa / Manuel Carvalho)




A faca de mato do nosso camarada José Colaço  (ex-soldado trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde 2 de junho de 2008 com 70 referência no nosso blogue....

Sobreviveu a uma incêndio, no paiol, em Camamude, setor de Bafatá, por volta  de 1965 (*)... Emopra "destempertada",  a lâmina aguentou... O dono pôs-lhe um novo cabo, de madeira, A lâmina, da aço inoxidável ("stainless"), era alemã, da célebre marca de cutelaria SOLINGEN. Aqui tem o leitor o sítio oficial do fabricante, passe a indevida publicidade.  O negócio é chorudo, continuam a fabricar "military knifes"...

Foto: © José Colaço (2016). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continua em curso, até quinta-feira, dia 28, um inquérito "on line" (, visível no canto superior esquerdo do nosso blogue)  sobre as nossas facas de mato (**) que, afinal, não eram nossas, "made in Portugal", tal como a G3 não era nossa,  tal como a Kalash não era do PAIGC, era russa...

Enfim, e a talhe de foice, pergunto-me o que é que andámos a fazer naquela p... de guerra, com material  que nem sequer era nosso, da bazuca ao Fiat G-91, do obus à faca de mato... Que raio de imperialistas e colonialistas eram nós ?!... Não admira que a lâmina da faca de mata fosse importada da Alemanha... A nossa Siderurgia Nacional só foi inaugurada em 1961... Em suma, era a carne para canhão é que era nossa!...Valha-nos o bom humor (negro)...


 2. Mensagem do José Colaço, de ontem:

Escreveu o camarada António J. Pereira da Costa: "As facas de mato eram um utensílio de boa qualidade. Ainda gostava de saber onde eram feitas. Não sei se as OGFE [Oficinas Gerais de Fardamento do Exército] ou alguma fábrica de armamento as produzisse. Ou então algum cuteleiro da área de Guimarães (capital da cutelaria, naquele tempo...)" (*9[poste P16332}.

Pequena dica: por curiosidade, estive a fazer uma pequena limpeza à minha faca de mato e notei a sua origem que se pode comprovar na foto que envio aos nossos editores: SOLIGEN STAINLESS GERMANY.

Por este motivo, além das dos artesãos, a sua maioria teria origem na importação da Alemanha, Solingen Stadt Messer, tal como por cá Guimarães cidade das facas.

Um abraço,
Colaço.


3. Comentário do editor:

O que sabemos (ou não sabemos) mais sobre a nossa faca de mato ? 

Eis alguns contributos, generosos, de camaradas nossos que nos têm escrito sobre o tema (por email ou na caixa de comentários):

(i) António J. Pereira da Costa (27/7/2016):

Agradecido pela dica. Embora a maioria usasse a faca no cinturão, existiam no ombro dos camuflados debaixo da platina do lado esquerdo, duas pequenas "meias-platinas": uma implanta à esquerda e outra à direita e onde era possível colocar a bainha da faca que ficava pendente no ombro. Era uma maneira de a ter à mão, dispersando a carga de equipamento pelo corpo do militar. Vejam o desenho da bainha.

(ii) Henrique Cerqueira (25/7/2016):

A minha faca de mato era um sabre baioneta da espingarda Mauser ou Mannlicher. Era uma faca com uma bainha executada em pele por um soldado milícia Mandinga que ma ofereceu em troca de algo que já não me lembro. Essa faca na altura eu a usava àcinta pois que,  estando eu numa CCAÇ Africana [, CCAÇ 13]  dava um certo ar de valentia, pois que era muito importante nós darmos esse ar junto das tropas africanas que chefiávamos. De resto,  a faca era tendencialmente usada para abrir as latas de conserva que compunham a ração de combate. Mas que dava um certo ronco,  lá isso dava. Enfim,  velhos tempos...

Já agora,  e segundo me lembro,  a faca de mato não fazia parte do equipamento obrigatório da nossa tropa. Mas também pode ser que em algumas unidades tenha sido diferente.

(iii) José Colaço (25/7/2016):

Henrique,  penso ter sido o primeiro a contestar e afirmar que a faca de mato no meu tempo, 1963/65, não fazia parte do equipamento militar, mas podia ser adquirida/comprada em Bissau. O sabre baioneta, esse, sim, no meu tempo era parte integrante do equipamento militar embora a minha companhia tenha recebido a G3 e não a Mauser a que o sabre se adaptava, mas tinha que ser 
devolvido no espólio no final da campanha militar obrigatória. 

Em resposta passo o termo de um comentário de um camarada que disse que a faca de mato fazia parte do equipamento militar.

Um abraço
Colaço

PS - Resumindo a história do meu sabre baioneta que foi utilizado como ferramenta de sapador para abrir um caixote de um camarada em Catió: com a azáfama na partida da saída para o mato (Operação tridente),  ficou lá esquecido e eu se há coisas que a memória não guarda essa foi uma delas, já tinha falado com o capitão e uma das hipóteses possíveis era o desaparecimento numa nas passagem de um dos muitos canais existentes na Ilha para evitar o levantamento de um auto,  caso o mesmo não aparecesse.
Mas eis que um dia,  em conversa com um camarada,  ele me disse que dentro do caixote dele vindo de Catió tinham-lhe roubado a colher, mas em contrapartida tinham lá deixado um sabre baioneta e aí se fez luz sobre a minha memória,  contei-lhe a história e pelo número, verificou-se que o sabre era o meu, tudo ficou resolvido sem processo disciplinar auto de guerra sei lá mais quê e só com umas "bejecas" na cantina que nessa altura já contemplava o aquartelamento do Cachil. 

(iv) Henrique Cerquerias (25/7/2016)

Camarada José Colaço: eu, na realidade,  sou um periquito á tua beira pois que estive na Guiné em 72/74. Isto porque eu não tive a Mauser mas sim a G3. Quem ainda tinha essas armas e até sem controlo rigoroso eram alguns milícias mais antigos e certamente o dito sabre baioneta era de uma dessas armas.E como saberás não era muito difícil,  a troco de umas bebidas ou uns patacões,  comprar esses artefactos que foi esse o meu caso. Inclusivamente e como quase toda a gente comprei outras facas artesanais e embelezadas com a arte Mandinga ou Bijagó. Que serviram mais tarde para pendurar na parede.Hoje já lhes perdi o rasto.

Também é certo que as armas, facas ou não,  nunca foram o meu forte. Mas quando deram jeito lá se foram usando conforme as situações.

(v) Manuel  Carvalho (25/7/2016)

Tinha uma faca de mato Solingen que comprei no Niassa. No pelotão julgo que era o único que tinha e na companhia penso que haviam mais algumas mas poucas.Naqueles lugares era usada para muitas tarefas.No mato pediam-ma muitas vezes e eu nem sempre sabia muito bem para quê. Havia quem levasse catanas normais e algumas mais pequenas e afiadas e de bom aço. Numa operação abatemos uma vaca,  já não me lembro muito bem em que circunstancias, que retalhamos e veio para o quartel toda,  até as tripas.

(vi) Hélder Sousa (22/7/2016):

Ao inquérito respondi que "nunca tive" mas isso é uma verdade relativa. De facto não a tive para uso pessoal ou de serviço mas recordo de ter adquirido uma que veio comigo no final, só que com as mudanças de casa perdi-lhe a pista e não sei onde possa estar. Recordei-me disso ao ver as fotos do Valdemar Queiroz e tenho ideia que a decoração da minha era semelhante.


(vii) José Diniz Carneiro de Sousa e Faro (22/7/2016):

A minha faca/punhal foi feita por um artesão de Cacine em 1968 com o cartucho da granada do obus. Andava sempre comigo. Foi feito uma mézinha pelo Homem Grande da tabanca. Acredito, ão sei, mas que cheguei são e salvo, cheguei e ainda cá estou com o meu Ronco.

(viii) António J. Pereira da Costa (22/7/2016):

Creio que as últimas unidades recebiam uma faca de mato por homem. Não fazia parte do equipamento individual.

O artesão de que o Brito e Faro fala deve ser o "Ferreiro de Cacoca". Veio de lá e fixou-se em casa de familiares, na altura em que a tabanca foi abandonada. Era hemiplégico e tinha a oficina "adapatada". A saber: deslocava-se à força de braços, arrastando-se, sentado numa almofade de cabedal; as ferramentas estavam dispersas pelo chão; a bigorna era pequena e estava solidamente cravada no chão; a fornalha era aquecida por um daqueles dispositivos que havia nas oficinas para o mesmo efeito, só que quase enterrado no chão e o ar que soprava as brasas corria por uma espécie de tubo cavado no chão.

Guine 63/74 - P16333: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte II: Bissau Velho



Guiné-Bissau >  Bissau > Foto nº 1 > 3/11/2015 > Praça dos Mártires de Pindjiguiti (que foi inaugurada há um ano,m em 3/8/2015)


Guiné-Bissau > Bissau > Foto nº 2 > 3/11/2015 > Praça Che Guevara (antiga Praça Honório Barreto, onde ficava o Hotel Portugal)


Guiné-Bissau >  Bissau > Foto nº 3 > 3/11/2015 >  Aspeto parcial de uma das praças de Bissau Velho


Guiné-Bissau >  Bissau > Foto nº 4 > 3/11/2015 > Avenida marginal e cais do Pindjiguiti (ou Pidjiguiti, no nosso tempo)


Guiné-Bissau > Bissau > Foto nº 5 > 3/11/2015 > Café Império. e ao fundo vê-se a o edifício da UDIB




Guiné-Bissau > Bissau > Foto nº 6 > 3/11/2015 > O edifício da UDIB -União Desportiva Internacional de Bissau, na atual av Amílcar Cabral.


Fotos (e legendas): © Adelaide Barata Carrêlo (2016). Todos os direitos reservados



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico da nossa grã-tabanqueira Adelaide Barata Carrêlo, filha do tenente SGE Barata, da CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71), que esteve com a família (pai, mãe, irmã gémea e e irmão mais velho) em Nova Lamego na altura da segunda parte da comissão de serviço do pai (1970/71), entretanto falecido, em 1979, com o posto de capitão. 

Voltou à Guiné 40 e tal anos depois, em novembro de 2015.

[Foto à esquerda: na inauguração de uma nova escola em Nova Lamego, na qual a Adelaide foi a menina branca a pegar na fita, segura do outro lado por uma menina preta, que se vê perto de dela, para o gen António Spínola cortar]

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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16332: Inquérito on line (61): A lâmina da faca de mata do fur mil MA Manuel Joaquim Mesquita Isidro dos Santos, natural de Benavente, CART 1692 / BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69), era de bom aço temperado, foi partida ao meio por uma mina russa A/P PMD-6 (António J. Pereira da Costa, cor art ref)



Guiné > Zona Leste > Xitole > 1970  > Mina antipessoal PMD-6,  de origem russa, reforçada com uma carga de trotil de 9 kg (as barras do lado direito). detectada e levantada na estrada Bambadinca-Xitole pelo furriel de minas e armadilhas David Guimarães da CART 2716 (Xitole, 1970/72). "Bem, ia uma GMC ao ar, isso sim!...".

Foto (e legenda): © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservado



Guiné > Região de Tombali > Cacine >  CART 1692/BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69) > Coluna ao limite do sector de Cacine, na estrada Cameconde-Sangonhá, quando fomos levantar três abatizes que o IN ali colocou. Em 26 de outubro de 1968 realizámos uma coluna pela estrada Cameconde - Ganturé para retirar três abatizes que o IN tinha colocado (um mangueiro e dois bissilões) e oito minas PMD - 6. Uma rebentou na roda traseira de um Unimog 404, a penúltima viatura da coluna. O João Almeida (o "Alce") levanta uma mina PMD-6 que estava logo ali.

Foto (e legenda): © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do António José Pereira da Costa ao poste P16324 (*):

[Foto à esquerda: António José Pereira da Costa, cor art ref  (ex-alf art da CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt  das CART 3494/BART 3873, XimeMansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74],

Volto à antena para recordar a faca de mato do fur MA Isidro,  da CArt 1692, falecido no HM 241.

Na estradeca para Porto Cantede surgiu um campo de PMD-6 com algumas estavam à vista em consequência da chuva (setembro de 1968). No final da operação eram 65 + 1 (detonada) em 12 metros de estrada e 2 metros para cada lado do respetivo leito.

O Furriel de Minas e Armadilhas avançou e começou o seu trabalho, porém agachado em vez de joelhado e em posição estável.

Foi, como se diria hoje, um erro humano.

A dado momento desequilibrou-se e apoiou a mão que tinha a faca no chão. A explosão da mina não se deu de modo a decepar-lhe a mão, levando-lhe 2 ou 3 dedos e cegou-o do olho do mesmo lado. Evacuação perto do local!

Mas o falecimento, em outubro  ou novembro de 1968 foi em consequência de uma "úlcera fulminante", doença descoberta na II Guerra Mundial, de origem nervosa e da qual o paciente não se apercebe. Quando se manifesta não há (ou não havia) hipóteses.

Recordo a faca do Isidro com a lâmina partida e pude constatar que era um bom pedaço de lâmina de aço bem temperado.


As facas de mato eram um utensílio de boa qualidade. Ainda gostava de saber onde eram feitas. Não sei se as OGFE [Oficinas Gerais de Fardamento do Exército] ou alguma fábrica de armamento as produzisse. Ou então algum cuteleiro da área de Guimarães (capital da cutelaria, naquele tempo...). (*)

PS - Creio que as últimas unidades recebiam uma faca de mato por homem. Não fazia parte do equipamento individual.


2. Comentário do editor:

Tó Zé, o fur mil MA Isidro, de seu nome completo Manuel Joaquim Mesquita Isidro dos Santos, é dado como tendo morrido em combate, em 17/11/1968. Pertencia à tua CART 1692, subunidade de quadrícula do BART 1914 (e não BCAÇ 2834,  como vem indicado, certamente por lapso).  Os seus restos mortais repousam no cemitério da sua terra, Benavente.

Fonte: Portal Ultramar Terraweb > Mortos do Ultramar > Concelho de Benavente 
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(**) Dois últimos postes da série

25 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16328: Inquérito 'on line' (59) A minha faca de mato ficará associada para sempre a um acontecimento doloroso: a morte do soldado da minha secção, Aladje Silá, em 20/7/1970 (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

25 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16330: Inquérito 'on line' (60) Para quie servia a faca de mato ? Num total (provisóro) de 55 respostas, um terço diz que nunca teve nenhuma; era sobretudo: (i) um objeto multiuso (38%); (ii) ferramenta de sapador (M/A) (29%); e (iii) abre-latas (29%)... Mais respostas precisam-se até 5ª feira, dia 28... José Colaço mandou.nos uma foto da sua faca de mato que sobreviveu ao incêndio do paiol em Camamude

Guiné 63/74 - P16331: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (46): Quando Bismarck, Leopoldo II e as outras potências, Inglaterra e França (Cecil Rodhes e outros) dividiram África em Berlim, estavam-se nas tintas para os africanos... Ensaiaram depois o neocolonialismo a que chamaram independências e

1. Comentário de António Rosinha ao poste P16322(*)



[Foto à esquerda: Antº Rosinha: (i)  é um dos nossos 'mais velhos', membro ´senior da Tabanca Grande;
(ii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;
(iii) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62, (iv) diz que foi 'colon' até 1974;
(v) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil):
(vi) até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência'; 
(vii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'] (**`*)



Talvez a Diamang fosse em Angola a única Companhia que melhor imitava as grandes companhias inglesas, alemãs, belgas e francesas em África.

Quando Bismarck, Leopoldo II e as outras potências, Inglaterra e França (Cecil Rodhes e outros) dividiram África em Berlim, era simplesmente para dividir a exploração dos recursos naturais, ouro diamantes, volfrâmio, madeiras e o que aparecesse.

Estavam-se nas tintas para os africanos, nem para escravos os queriam, pois estes já estavam a ficar muito exigentes, já queriam trocar a tanga de pele de gazela por tirylene, e a querer uma retrete para o preto ao lado da do branco,  além da escola para o preto ao lado da do branco.

Então ensaiaram o neocolonialismo a que chamaram independências e abandoram em África os pobres dos portugas sozinhos que foram os últimos europeus, (Europeus?, só se forem de segunda, dizem aqueles sacanas), a sair de África e a deixar os diamantes sem sangue, a ficar como todos os outros diamantes, petróleos e volfrâmios completamente ensanguentados.

Honra a [Nelson] Mandela que não deixou que os boers fossem expulsos de sopetão e as riquezas continuam na África do Sul.

Sorte dos sul-africanos e azar das zebras, búfalos e girafas da Rodésia, Zimbabué de Mugabe, que já vende em leilão todos os animais das reservas de caça por falta de água, que morrem à sede (jornais)

A guerra de Pirada e Guidaje visava principalmente a Lunda do Comandante Vilhena, pai do museu do Dundo e os Bothas da África do Sul, o cone de África.

Os Guineenses eram, e são o mexilhão.

JD, é difícil explicar, mas sabes que também não leio pela tua cartilha, és mais Norton e Galvão,  como eram muitos imperialistas.  eu sou mais Antoninho da calçada.

Nós nunca podiamos imitar aqueles grandes exploradores.

Fui teu colega 1 mês, comia no refeitório dos solteiros no Cafunfo, já contei. (**)

Grandes e complicadas vidas, mas que mundo estuporado.

Não deixemos cair a "peteca" (como dizem os brasileiros). Falta muito para contar o fim dos impérios!

Antº Rosinha (***)

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(**) Vd, poste de  19 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12603: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (30): Só os diamantes são eternos... Ou: hoje ainda se esconde se são os "restos mortais" do Império ou do Eusébio que se votaram no parlamento, para o Panteão.


(...) Amigo José M. Diniz (e penso que me estou a dirigir a C. Martins também), eu andei na Lunda na tropa e a fazer uma estrada na região de Henrique de Carvalho.

E para a Diamang estive em Cafunfo (1970) a fazer uma picada entre uma futuro lavandaria e um rio que foi desviado para exploração.

Estive perto de um mês a conviver com algarvios exclusivamente, no refeitório dos solteiros, que trabalhavam numa lavandaria no Cafunfo.

Era um mundo à parte dentro de Angola e da própria Lunda. Não havia minhotos, beirões, transmontanos nem das Ilhas, e o meu contacto profissional era com um homem chamado Bastos, alentejano, de Elvas (?) e conheci e trabalhei recentemente com um neto desse homem (há 10 anos, antes de me reformar).

Diniz, afinal também estavas informado e encostado, meu malandro. Será que havia segregação nos seleccionados para funcionários da Diamang? (...) 

(***) Os últimos postes da série, desde 2014 (há um nº, o 42, repetido, por lapso):

12 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16079: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (45): A brutal emboscada do dia 22/3/1974, na estrada (alcatroada, construida pela TECNIL ) Piche-Nova Lamego: só por negligência, propositada ou intencional ou casual, estes casos podiam acontecer... É coincidência apenas, ou as Forças Armadas só já estavam preocupadas com outros valores?...

3 de maio 2016 > Guiné 63/74 - P16044: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (44): Os desentendimentos constantes entre alguns PALOP e Portugal... A luta continua.!...


30 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15913: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (43): Os receios europeus de um antigo colonialista português, gen Norton de Matos, em dezembro de 1943


22 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15781: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (42): A unidade que os cabo-verdianos ajudaram a criar


5 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15748: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (42): As riquezas das matéria primas africanas e as fantasias criadas


16 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15623: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (41): o que foi mais devastador para o PAIGC foi precisamente a campanha psicológica spinolista por uma "Guiné Melhor"


9 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15464: Caderno de Notas de um Mais Velho (40): "A colónia onde todas as Fatumata tinham de se chamar Maria" -Guiné Bissau (Sobre a reportagem do jornal Público)

30 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15428: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (39): 'Colon' e 'retornado'... É difícil de transmitir o que se passou e se sentiu... Os estudiosos metem os pés pelas mãos quando abrem boca.

8 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14985: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (38): é possível barrar a emigração a muitos milhões de jovens africanos sem perspectiva de vida? Nem Luís Cabral conseguiu fechar as entradas na Praça de Bissau...


7 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14583: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (37): Sempre houve emigrantes europeus para África, agora dá-se o inverso


29 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14202: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (36): Fazendo votos para que o tchon Manjaco, o tchon Fula, o tchon Pepel e o tchon do Largo São Domingos se entendam sempre como nestes últimos 40 anos.


12 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14015: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (35): IMPÉRIO sem TAP versus TAP sem IMPÉRIO


25 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13040: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (34): Ramos Horta & Ana Gomes hoje na Guiné-Bissau como ontem em Timor, uma dupla guerreira, sem armas de fogo, que está a fazer um belo e corajoso trabalho pela paz e pela lusofonia


10 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12817 : Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (33): O racismo mal disfarçado na África Lusófona, tão complicado e difícil de contornar como a divisão étnica tradicional
26 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12777: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (32): Mário Coluna (1935-2014) na verdadeira nação "Arco-Íris" (Portugal e Ultramar e a sua selecção de futebol)


3 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12668: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (31): Natália Correia e os filhos dos retornados (vingativos)


19 de janeiro de 2014 > 63/74 - P12603: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (30): Só os diamantes são eternos... Ou: hoje ainda se esconde se são os "restos mortais" do Império ou do Eusébio que se votaram no parlamento, para o Panteão.


10 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12568: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (29): O que os rapazes dos cachecóis precisam de saber: que o Eusébio foi um português muito especial, que ajudou a escrever uma página muito especial da história de Portugal, da Europa e de África...

Guiné 63/74 - P16330: Inquérito 'on line' (60) Para que servia a faca de mato? Num total (provisóro) de 55 respostas, um terço diz que nunca teve nenhuma; era sobretudo: (i) um objeto multiuso (38%); (ii) ferramenta de sapador (M/A) (29%); e (iii) abre-latas (29%)... Mais respostas precisam-se até 5ª feira, dia 28... José Colaço mandou-nos uma foto da sua faca de mato que sobreviveu ao incêndio do paiol em Camamude


Se a  minha faca de mato falasse...

Foto (e legenda): ©  José Colaço (2016). Todos os direitos reservados.


I. INQUÉRITO DE OPINIÃO: 

"PARA QUE SERVIA A FACA DE MATO ?" (PODES DAR MAIS DO QUE UMA RESPOSTA)... 

RESULTADOS PRELIMINARES (n=55)



1. Arma de defesa  > 7 (12%)


2. Limpar o sebo ao IN  > 2 (3%)



3. Abre-latas > 16 (29%) 


4. Talher 3 em 1 (faca, garfo, colher)  > 11 (20%)



5. Ferramenta de sapador (MA)  > 16 (29%)



6. Adereço / ronco  > 10 (18%)



7. Outros usos (mato/quartel)  > 21 (38%)


8. "A minha amiga inseparável"  > 6 (10%

9. Objeto completamente inútil  > 0 (0%)



10. Nunca tive faca de mato  > 19 (34%)



11. Não sei / não me lembro  > 0 (0%)



Votos apurados às 12h00 de 25/7/201 6 > : 55 
Dias que restam para votar: 3




Foto: José [Botelho] Colaço ex-soldado trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde 2 de junho de 2008: tem 70 referência no nosso blogue.

II. Mensagem do nosso veteraníssimo José Colaço, com data de 23 do corrente:

Para arquivo do blogue, junto uma foto da minha faca de mato...

Se a minha faca de mato falasse, teria algo importante a contar. Eis o que resta da minha faca de mato depois de ter passado pelas agruras e , malefícios da guerra da Guiné, inclusive ter estado envolvida no incêndio do paiol em Camamude, no  sector de Bafatá, onde só a parte metálica resistiu. Devido ao calor que sofreu, perdeu a têmpera, o cabo que ostenta é em madeira feito por mim. 

É um exemplo de resistência, mas está velha igual ao dono.

Um alfa bravo,
José Colaço.
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P16329: Notas de leitura (862): “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016 - Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Julho de 2016:

Queridos amigos,
Porventura são estes testemunhos na primeira pessoa a matéria mais aliciante para o leitor que foi combatente, pela diversidade, pela sinceridade, pelo feliz entrosamento entre a memória e um distanciamento que não deixou rancores.
O livro de António Inácio Nogueira merecia andar pelas mãos de todos. Estes jovens capitães, salvo melhor opinião, são um inequívoco termómetro da atmosfera que se vivia em muitos pontos da Guiné, são testemunhos que não iludem a desmotivação, a descrença, o salve-se quem puder. A despeito deste estado de espírito, é impressionante como a generalidade destes jovens capitães sentiu a responsabilidade do mando e a vontade de trazerem todos os seus homens nas melhores condições físicas e psíquicas. E muitos não escondem o orgulho de isso ter acontecido, ou quase.

Um abraço do
Mário


Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (3)

Beja Santos

O livro “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016, é o mais minucioso olhar até hoje lançado àqueles a quem depreciativamente se chamavam os capitães proveta, naquele dado momento em que nos batalhões os oficiais do quadro permanente se cingiam ao comando e por vezes à CCS, aquelas centenas de jovens de oficiais que tinha sido aprovados nos cursos de comandantes de companhia, dados em Mafra passaram a ser os executantes operacionais por excelência.

Na análise que temos estado a efetuar, abordou-se a síntese que o autor nos dá sobre o enquadramento histórico e político da guerra, os modos de seleção e formação dos jovens capitães, passou-se em revista textos autobiográficos de cinco desses jovens capitães e entrou-se num importante capítulo abarcando cerca de três dezenas de testemunhos na primeira pessoa. Obviamente que nos cingimos ao que se escreve sobre a Guiné, sem prejuízo, é dito insistentemente, que o documento é suficientemente importante para ser lido do princípio ao fim por qualquer combatente de qualquer dos três teatros de guerra.

Vejamos o que nos diz José Fernando Real Magalhães Mendes que embarcou para a Guiné em Setembro de 1971 e deixou Bissau em Dezembro de 1973. Depois do 25 de Abril, ligou-se à LUAR e até se envolveu no assalto à Embaixada de Espanha. Teve pressão e recompôs-se, acabou os estudos e foi para advocacia. Ofereceu-se como voluntário, fez estágio em Angola na zona dos Dembos. Coube-lhe Bajocunda na Guiné. Investiu na população, andou nos trabalhos de reordenamento. Não esconde que de vez em quando investia pelo Senegal adentro para trazer vacas, pagava sempre, a contrapartida era o médico e o enfermeiro tratarem a população. “Um dia veio um sujeito muito atrapalhado dizer que tinha a mulher grávida e estava muito mal. Eu fui com o pelotão do alferes Sequeira ao Senegal. Fomos até lá, levámos o furriel enfermeiro e depois pedimos uma evacuação para junto da fronteira, o furriel enfermeiro disse que a mulher ia morrer se não fosse tratada. Veio um helicóptero e levou-a para Bissau, soube depois que ela se safou e o filho também, isso caiu muito bem na população”. Permaneceu em Bajocunda os 27 meses. Guarda na memória alguns aspetos chistosos:
“Quando saiu legislação que nos permitia entrar no quadro permanente, o comandante do batalhão chamou-me: 
- Ó Mendes, saiu agora uma lei… Você frequente lá aquilo não sei quanto tempo, é promovido ao quadro. Você tem capacidade, aproveite. 
Apresentou-me um papelinho e eu respondi: 
- Meu comandante, vou pensar. Nesse dia reuni os meus alferes todos, mandei vir uma garrafa de uísque, rasguei o papel e peguei-lhe fogo. 
Mais tarde disse: 
- O meu comandante desculpe, mas quero acabar o meu curso de Direito. 
- É uma pena para si, é uma boa carreira – retorquiu ele”.

Confessa que cometeu muitos erros, por ser muito novo.

José Manuel Nunes Marques fez estágio na Guiné, em Aldeia Formosa, era já licenciado em Engenharia Civil. Esteve em Cumbijã, depois Nhacobá. “Não me aconteceu rigorosamente nada, mas vi muita gente morrer”. Viveu uma situação disciplinar tumultuosa em Bolama, acabou por ir parar a Jemberém. Um dia, pelas três da manhã, chegou uma comunicação encriptada para abandonar Jemberém, foram para Cacine. A desmotivação era enorme, ninguém estava para arriscar a vida. Seguiu-se um alto de averiguações pelo modo como se tinha feito a desocupação de Jemberém, ficou tudo abafado, o castigo foi tirarem-lhe o comando da companhia. Nas novas funções, andou a fazer entrega de vários aquartelamentos ao PAIGC.

Há um capitão que foi depois coronel, Luís de Jesus Ferreira Marcelino, esteve na Guiné entre Junho de 1972 e Agosto de 1974. Ingressou na GNR mais tarde, terminou a sua carreira como coronel, Chefe do Estado-Maior da Brigada de Trânsito. No comando de uma companhia independente percorreu diversos sítios da Guiné: Aldeia Formosa, Mampatá, Colibuia. Não esquece a vida em tabanca, as missões humanitárias, o reordenamento das populações. Manuel da Silva Ferreira da Cruz teve uma vida difícil em Cobumba, antes da incorporação fez estágio como engenheiro técnico de química e depois de 1974 reiniciou a sua vida profissional numa empresa da indústria de plástico. Fez estágio no Leste de Angola, o IAO realizou-se em Bolama, seguiu-se Mansambo no Leste, participou numa operação gigantesca e depois seguiu para Cobumba, que o PAIGC classificava como zona libertada, houve inúmeros ataques. Dá relevo a um episódio passado durante uma visita do Comandante do COP 4 à sua Companhia. O oficial disse-lhe que “a companhia não apresentava ações e contactos significativos com o IN, que deveria ativar mais a companhia, já que os soldados deveriam estar preparados psicologicamente para morrer, se necessário fosse – tudo dito assim a frio”. Ao que Ferreira da Cruz retorquiu que iria chamar o pessoal e que ele, enquanto comandante, lhe transmitiria esta mensagem. Ao que o comandante do COP 4 respondeu: “Não, não é assunto urgente”.

Ainda há mais histórias, conto abreviadamente. Marcos António Blanch da Fonseca Dinis foi colocado em Piche, a seguir ao 25 de Abril a sua guerra foi de papel e polícia, a impedir roubos nas lojas. Nuno Álvares da Graça Matias Ferreira considera-se um privilegiado, não teve nenhuma experiência de guerra, era licenciado em Direito, foi delegado do procurador da República da Guiné, Fidélis Cabral Almada pediu-lhe para ficar até ao último dia. Óscar António Soeiro Soares andou por Caboxanque, Cadique e outras paragens. “No aquartelamento de Caboxanque, em 6 meses, sofri 14 ataques com artilharia. Tentava responder, mas os nossos morteiros tinham menor alcance que os canhões sem recuo deles. Era só para fazer barulho”. Em Bissau, participou na detenção do General Bettencourt Rodrigues. “Ouvi o Bettencourt nas telecomunicações, na noite de 24 para 25 perguntar ao chefe da PIDE: que unidades é que temos do nosso lado? E o da PIDE respondeu: que eu saiba nenhuma”. Raul Manuel Bivar de Azevedo andou pelo Chão Felupe. Rui Jorge Martins Pedro e Silva foi um dos capitães da operação “Grande Empresa”.

Há notas avulsas, o nosso confrade Vasco da Gama é um dos contadores. Aqui chegamos ao fim de um trabalho de doutoramento, alguém que andou à procura dos Capitães do Fim passados mais de 40 anos do seu regresso da guerra.

Uma história muito bem contada que deve ser por todos conhecida.
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Nota do editor:

Vd. postes anteriores de:

18 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16314: Notas de leitura (859): “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016 - Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (1) (Mário Beja Santos)
e
22 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16325: Notas de leitura (860): “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016 - Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16328: Inquérito 'on line' (59) A minha faca de mato ficará associada para sempre a um acontecimento doloroso: a morte do soldado da minha secção, Aladje Silá, em 20/7/1970 (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

1. Mensagem de Abílio Duarte [, ex-fur mil, CART 2479, mais tarde CART 11 e, finalmente, já depois do regresso à metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa Companhia de “Os Lacraus de Paunca” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)]:


Data: 24 de julho de 2016 às 21:18
Assunto: A minha faca de mato.


A minha faca era igual a todas as outras, servia para tudo e mais alguma coisa, como todos nós que por lá andamos, sabemos. Teve muito uso e útil. 

No entanto a minha teve uma utilização muito critica e dolorosa. Quando no dia 20 de Julho de 1970, como já referi neste blog, o  meu Grupo de Combate teve que ir em socorro de uma Tabanca, atacada e incendiada pelo PAIGC, e o soldado da minha Secção Aladje Silá accionou uma mina antipessoal, e veio a falecer em resultado deste triste acontecimento. (*)

Quando os ânimos se acalmaram um pouco, depois de explosão, do pó e confusão de fogo cruzado, e se verificou  que o Aladje estava caído e a lamentar-se das sequelas da explosão, o Cabo Enfermeiro, depois de me avisar que eu estava todo chamuscado, pediu-me para abrir as calças do Aladje, o que eu fiz com a minha faca de mato, mas ao tentar usá-la, quando peguei no seu pé, fiquei com o mesmo na mão, pois o mesmo se tinha separado da respectiva perna. 

Quando comecei a rasgar a calça do camuflado, foi  quando me apercebi da desgraça, que vinha a caminho. Assim a minha faca de mato ficou associada a um muito triste acontecimento, que ain
da hoje me persegue e nunca consigo esquecer. (**)

Abílio Duarte
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Notas do editor:

domingo, 24 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16327: Blogpoesia (462): "A mulher de bengala..." e "Densa carapaça de nevoeiro...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Dois belíssimos poemas do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), dos muitos que nos vai enviando ao longo da semana, e que nós recebemos com prazer:


A mulher de bengala...

Pé antepé.
Atravessa a estrada,
Desde o lado de lá.
Vem para o café
Onde passa seu tempo.

Largas janelas.
Gente que chega e que vai.
Numa mesa sózinha,
Ela vive por dentro
O passado que foi.

Ali vem de bengala.
Cabelos pintados,
Para mitigar sua idade,
Porque as rugas não escondem,
Ela sobe as escadas.
Pede um café
E ali fica sentada,
Mirando quem chega
E que sai...

Bar Castelão, em Mafra, 21 de Julho de 2016
10h1m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

************

Densa carapaça de nevoeiro...

Densa carapaça me tolda a testa.
Tudo tapa.
Nada sai e nada entra.

O farol nervosamente não para de tocar.
E o mar revolto,
extravazando a espuma,
ainda mais sombreia o horizonte.

Só o sol, omnipotente,
rasgará, por certo,
esta bruma, crua e inclemente
que me tolhe de escrever.

É mesmo assim a vida dura de pescador!...

Bar 7 momentos em Mafra, 18 de Julho de 2016

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16312: Blogpoesia (461): "Ó mar azul..." e "Brisa verde...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728