Nazaré > Sítio da Nazaré > 24 de novembro de 2007 > A terra, com nome de mulher, que é muito mais do que um magnífico "postal ilustrado"... Sobre a Nazaré Antiga, vd. aqui fotos no Facebook.
Foto (e legenda) © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
carta de amor e saudade à minha praia com nome de mulher
por António Lúcio Vieira
[ex-fur mil, CCAV 788 / BCAV 790 (Bula e Ingoré, 1965/67); natural de Alcanena, vive em Torres Novas; jornalista, poeta, dramaturgo, encenador; membro da Tabanca Grande, nº 794] (*)
Quantas vezes te sonho entre as frestas das ruelas. Rendido ao meu mar amado. Minha alcova de azul e espuma. Minha infância longe. Às memórias me afloras sempre que sonho. Assim me acalento no teu berço de ondas e suspiros que do meu corpo tomaram cativo embalo. Embalo e é de música que os meus olhos falam. Quando os meus olhos falam do teu nome. De mar de praias e lendas.
Cheiram sempre a maresia as casas que se estendem no aconchegado regaço do teu colo. E é de música que as casas vestem as ruelas e tangem os degraus e as areias. E bebem quanto amor criámos na polpa dos dedos entre as águas. Nas guias das asas das gaivotas ouço um bater compassado e lúgubre. Meu mar que já te afogas em saudades minhas.
Tinha quase esquecido como se altiva o torso rochoso que aponta a Berlenga. E falo-te da desgarrada do eterno faiscar dos faróis. Dessa tua luz guindada ante o Guilhim quando corteja o tremeluz difuso e distante no ilhéu.
Ainda te amo como nos dias da infância. Ainda sei da tua boca um sabor a algas. Ainda te afago as areias louras. Molhadas pelo cio do teu mar fecundador. E é também dessa voz das ondas, que não se aquieta, que te vim falar. Desse amor a ti que em ti me tarda. Quando tardas. Quando aguardas.
Não te fiques no silêncio das ruelas. Na nesga entre as casas sorvo o teu apelo das águas. Do teu céu. Lavo-me de espuma na proa do teu corpo exposto. Tocam-me de leve as memórias e a seiva. Não me deixes partir agora. Se te beijar fica-me o corpo a arder em mim no repousado refluxo das marés. Música. Ouves, é música. Não vás ao mar Toino.
Vou. Espera por mim. Não tardarei a voltar para o teu seio. À deriva no teu corpo deixo as memórias e deixo-te a seiva. Guarda-as. São eu.
Deixo-me. Deixo-te. Espera por mim, Nazaré. Até logo amor.
António Lúcio Vieira
Julho-2014
Cheiram sempre a maresia as casas que se estendem no aconchegado regaço do teu colo. E é de música que as casas vestem as ruelas e tangem os degraus e as areias. E bebem quanto amor criámos na polpa dos dedos entre as águas. Nas guias das asas das gaivotas ouço um bater compassado e lúgubre. Meu mar que já te afogas em saudades minhas.
Tinha quase esquecido como se altiva o torso rochoso que aponta a Berlenga. E falo-te da desgarrada do eterno faiscar dos faróis. Dessa tua luz guindada ante o Guilhim quando corteja o tremeluz difuso e distante no ilhéu.
Ainda te amo como nos dias da infância. Ainda sei da tua boca um sabor a algas. Ainda te afago as areias louras. Molhadas pelo cio do teu mar fecundador. E é também dessa voz das ondas, que não se aquieta, que te vim falar. Desse amor a ti que em ti me tarda. Quando tardas. Quando aguardas.
Não te fiques no silêncio das ruelas. Na nesga entre as casas sorvo o teu apelo das águas. Do teu céu. Lavo-me de espuma na proa do teu corpo exposto. Tocam-me de leve as memórias e a seiva. Não me deixes partir agora. Se te beijar fica-me o corpo a arder em mim no repousado refluxo das marés. Música. Ouves, é música. Não vás ao mar Toino.
Vou. Espera por mim. Não tardarei a voltar para o teu seio. À deriva no teu corpo deixo as memórias e deixo-te a seiva. Guarda-as. São eu.
Deixo-me. Deixo-te. Espera por mim, Nazaré. Até logo amor.
António Lúcio Vieira
Julho-2014
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Nota do editor:
Último poste da série > 6 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20038: Escritos do António Lúcio Vieira (2): De novo o tempo se quedou... (Excerto do livro "O Mouro da Praia da Foz")
Nota do editor:
Último poste da série > 6 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20038: Escritos do António Lúcio Vieira (2): De novo o tempo se quedou... (Excerto do livro "O Mouro da Praia da Foz")