Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > Lar de Paradas > s/d > O João Crisóstomo, na "última foto com as duas minhas manas": no Lar das Paradas, fomos visitar minha irmã mais velha, Maria Rosa (na cadeira de rodas) e apresentar-lhe o seu último bisneto." As manas freiras do João, as irmãs Franciscanas Hospitaleira Maria Augusta Crisóstomo e Emília de Jesus Bárbara Crisóstomo, aparecem em segundo plano.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2021
Guiné 61/74 - P21723: In Memoriam (379): as minhas manas freiras, franciscanas hospitaleiras, Maria Augusta Crisóstomo e Emília de Jesus Bárbara Crisóstomo, que acabam de morrer em Portugal, vítimas de Covid-19, e cujas vidas foram uma grande história de amor a Deus, aos pais e ao próximo (João Crisóstomo, Nova Iorque)
Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > Lar de Paradas > s/d > O João Crisóstomo, na "última foto com as duas minhas manas": no Lar das Paradas, fomos visitar minha irmã mais velha, Maria Rosa (na cadeira de rodas) e apresentar-lhe o seu último bisneto." As manas freiras do João, as irmãs Franciscanas Hospitaleira Maria Augusta Crisóstomo e Emília de Jesus Bárbara Crisóstomo, aparecem em segundo plano.
Guiné 61/74 - P21722: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (33): A funda que arremessa para o fundo da memória
Queridos amigos,
Era necessário criar a circunstância de Paulo Guilherme nos dar minimamente a saber em que trabalha nessa viragem de século, como reflete sobre os desafios prementes que se põem às causas em que está envolvido. Fez amizade com este Gilles Jacquemin , este, esporadicamente, pergunta que livro é que ele está a escrever com Annette, e pede alguns detalhes sobre essa bizarra guerra de guerrilhas de que nunca ouviu falar, pois para um belga a África é o Congo. E Paulo, sem grandes minudências, conta-lhe a história de uma grande flagelação, estavam todos convencidos em Missirá, com o potencial fogo que tinham visto e ouvido, Finete ficara reduzida a escombros, pois não era verdade, era o primeiro ataque a Bambadinca, provocou pânico, mas foi conduzido desastradamente pela guerrilha, teve consequências, aquele local que parecia tão sossegado passou a viver em permanente estado de alerta. E Paulo disse a Gilles que os meses que se seguiram foram duríssimos, um imprevisto castigo depois de pôr de pé Missirá. Talvez seja uma outra história que Paulo contará a Gilles, se ele mostrar interesse, claro está.
Um abraço do
Mário
Esboços para um romance – II (Mário Beja Santos):
Rua do Eclipse (33): A funda que arremessa para o fundo da memória
Mário Beja Santos
Cher Gilles Jacquemain, Estou a escrever-te à pressa, parto amanhã cedo para Bruxelas, a Annette vai-me buscar a Zaventem, partimos logo para Lier, vamos fazer a campina até Antuérpia, passaremos mesmo um dia em Eindhoven e Groningen, voltamos a Bruxelas e preciso de conversar contigo a sério, a política dos consumidores está em risco de anquilosar, preparei um documento para distribuir pelos outros diretores da minha associação, noto uma incompreensível relutância na parceria proposta pelo comissário com as medidas de política de Saúde, acho que é um grande desafio a que nos devemos afoitar, não há perigo nenhum na perda de identidade, as questões da sustentabilidade crescem de importância, devemos saber corresponder aos desafios da mudança de milénio. Não se pode ficar insensível às tendências do consumo no final do século, a esta sociedade móvel centrada na rede das redes, falava-se nos jovens mileuristas, tudo indicia que os jovens vão viver com muito menos dinheiro neste capitalismo de mão-de-obra barata, onde há tanto entusiasmo pelo low-cost, vivemos agora com os jargões do empreendedorismo, inovação e criatividade, com os benefícios da microeletrónica, energias renováveis e mercado global do comércio eletrónico. O que está a dar é a flexibilidade do trabalho, o que chamam a reengenharia para fazer mais com menos. E entrámos na tirania do instante, na cultura da urgência. Na esfera relacional, estou totalmente de acordo com Zygmunt Bauman, é o tempo da modernidade líquida, das relações de fachada, dos sorrisos que não chegam ao coração, que se limitam às relações públicas. E a política dos consumidores entrosa perfeitamente com as questões de saúde e ambiente, este novo século está confrontado com o envelhecimento. Parece que a política dos consumidores se esqueceu que em 1999 o Conselho Económico e Social das Nações Unidas reconheceu o consumo sustentável como parte dos direitos dos consumidores. Somos úteis para os ambientalistas e temos um histórico ao serviço das políticas de saúde, foram os consumidores europeus que denunciaram o que se estava a passar com a talidomida e conseguiram fazer aprovar o código do medicamento. Temos colegas com uma visão paroquial, temem perder apoios financeiros se acaso se estabelecer uma ligação programática com a saúde. Esta conceção da defesa do consumidor técnica poderá levar-nos ao apagamento, não me custa nada vaticinar que passaremos a ser uma política subsidiária no futuro, só representada pelas instituições estatais e por associações transformadas em empresas, a vender serviços. Não contem comigo. Por isso, meu estimado Gilles, preciso de me encontrar contigo antes de regressar a Lisboa, coordeno amanhã com a Annette a nossa viagem e espero de ti alguma disponibilidade para, por exemplo, nos encontrarmos durante uma refeição.
Perguntas-me pela Annette, sinto-a feliz, viaja que se farta, mas anda sempre com os meus papéis da guerra da Guiné, é uma pasta que a acompanha com tudo que eu lhe envio, há dias atrás contou-me que nas noites de Liège estava exatamente a falar de um episódio inesquecível, vou dar-te um lamiré, creio que a guerra em que participei num ponto minúsculo de África Ocidental não é assunto que te acalore, mas como tu és um amigo do coração apanha com os dados explicativos, os tais que entusiasmam Annette.
Estamos no final de maio de 1969, houve sucesso numa emboscada noturna, não era atividade muito comum, havia mesmo quem a desaconselhasse, tem muitos riscos, felizmente que eu dispunha de gente que conhecia as matas, eram soldados experientes. No dia seguinte a este episódio, imagina tu, ao anoitecer ouvimos troar os canhões e o disparo constante das metralhadoras e os estrondos dos morteiros, julgávamos que a guerrilha estava a retaliar sobre outro dos nossos quartéis, qualquer coisa como a 14 quilómetros dali. Estávamos especados na parada a ouvir aquele fogo ensurdecedor, a ver o céu riscado pelas balas, bem cedo começou a chegar o odor de toda aquela pólvora, o vento soprava de feição para o nosso lado. Não resisti, pedi voluntários, e da forma mais imprudente do mundo fomos numa corrida disparada até perto do nosso outro quartel. E começou o insólito, eramos aguardados com entusiasmo e abraços, com voz embargada perguntei a alguém que eu tratava por irmão se havia mortos e feridos, a que ele me respondeu que todo aquele fogo fora disparado sobre Bambadinca, a poucos quilómetros dali. Lá fomos, atravessámos um rio e fomos levados para Bambadinca, que estava num perfeito pandemónio, fora uma surpresa total, os guerrilheiros tinham-se aproximado do campo de futebol, por milagre não houvera acidentes graves, mal eu suspeitava que era o princípio da queda dos oficiais de comando em Bambadinca, em breve serão punidos e afastados, o sistema defensivo irá ser alterado e eu próprio sofrerei as consequências dessa mudança quando for viver para Bambadinca, em novembro desse ano. E regressámos ao amanhecer. São esses os papéis agora que eu estou a juntar para a Annette, o meu quartel está-se a recompor, o trabalho não para, chegamos a ir montar vigilância à navegação duas vezes por dia, são uns duros 25 quilómetros ou com calor sufocante ou chuva diluviana, a qualquer hora do dia, andamos à mercê da tabela das marés.
Para findar esta curta narrativa à volta dos papéis que Annette está a organizar, e como não espero tão cedo voltar-te a falar da Guiné, tu ficas a saber que se muita canseira já tivemos, os meses que se seguem, entre junho e novembro vão significar para este teu amigo uma sucessão de flagelações em Missirá, onde habitualmente vivo (a primeira, logo em junho, será um amargo de boca para os guerrilheiros, deixarão baixas confirmadas), mas também em Finete; haverá episódios burlescos, caso de uma noite em que Missirá, por vários desencontros, ficou defendida por escassos doze homens, eu estava lá, à cautela mandei toda a população para os abrigos e os homens puseram-se em posição defensiva com as suas espingardas, felizmente não houve flagelações e tudo está bem quando acaba bem nestas vigílias inquietantes. Estou agora a juntar papéis porque tenho que ir a Bissau como testemunha de defesa de um militar que deixou fugir um prisioneiro durante uma operação. E aproveitando a tal vigilância aos barcos que vão ou partem de Bambadinca, haverá nova emboscada, que nos foi favorável. Paro por aqui, tu tens mais que fazer, não te irei contar que em agosto, numa emboscada noturna em Finete, inopinadamente me surge um vulto esbranquiçado à frente, disparei sobre uma pobre mulher que vinha numa coluna de reabastecimento dos rebeldes, um dos meus colaboradores perdeu a cabeça, tive que pôr a disciplina militar a funcionar; um sargento, em completo estado de exaustão, ameaçou matar meio mundo, teve que ser evacuado, passou dois anos na psiquiatria; e em outubro, foi a vez da guerrilha nos atingir a fundo com uma mina anticarro. Nada mais te digo, se me quiseres fazer perguntas, esta guerra da Guiné não era uma mera reminiscência, faz parte da minha transformação em homem, procurei ao longo destas décadas recuperar as solidariedades e as amizades que me animaram e de algum modo fizeram de mim esta pessoa de quem tu dizes que és profundo amigo. Por aqui fico, já preparei a bagagem, mas tenho que dormir umas horas para fazer uma viagem que me vai pôr nos braços da minha amada. Bien à toi, Paulo.
(continua)
Vista aérea de Bambadinca, fico com a sensação que podia entrar e percorrer todo este território que me foi familiar, desde o campo de futebol onde me comportei como um frangueiro, a residência naquele grande U, com tantas recordações, o edifício do comando, a secretaria e as transmissões, a capela, a manutenção militar, a delegação do batalhão de engenharia, e posso mesmo imaginar que me dirijo à rampa para cambar o Geba, estou a correr contra o tempo, são três e meia da tarde, preciso de chegar a Missirá ainda com luz, partirei pelas três da manhã para Mato de Cão. Uma imagem que reterei até ao último dos meus dias.
Fernando Calado, alferes das transmissões do BCAÇ 2852, de braço ao peito, mostra-nos as marcas da flagelação da noite de 28 de maio de 1969
Nota do editor
Último poste da série de 25 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21690: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (32): A funda que arremessa para o fundo da memória
Guiné 61/74 - P21721: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (122): Notícias do blogue no ano de 2050, por Jorge Cabral
1. Amigos e camaradas, nada como começar o ano de 2021, dando um salto para 2050, antecipando as notícias. Nessa altura, já poderemos fazer viagens tanto ao passado como ao futuro.
Felizmente, alguns de nós ainda não morreram de Alhzeimer em 2050. E mesmo os que entretanto foram morrendo (, desta e doutras doenças crónicas degenerativas), vivem agora num condomínio de luxo lá no Olimpo dos combatentes, e podem manter uma janela aberta sobre a terra... Sempre distraem a vista...Notícias do ano 2050
por Jorge Cabral
Tenho, como sabem, uma máquina do tempo, na qual viajo ao passado. Porém hoje a máquina avariou e, em vez de recuar os quarenta anos programados, avançou e eis-me aqui no ano de 2050.
Estou vivo e ainda trabalho pois agora já ninguém tem direito à reforma. Exerço as minhas funções no Instituto da Promoção da Pobreza. Preparo um estudo sobre o Empobrecimento Lícito e o certo é que já sei as conclusões - empobrecer é legítimo, justo, lícito e patriótico.
Precisam-se mais pobres para manter os serviços sociais. O crime tem diminuído assustadoramente. Os polícias passam os dias a jogar às cartas, a contar anedotas ou a ver televisão. Felizmente vai ser inaugurada, em breve, uma Escola de Delinquência, na qual sepodem licenciar ladrões e vigaristas, estando até previsto um Doutoramento em Tráfico de Influências.
O meu quotidiano é simples. Apanho de manhã o transporte e, se o perco, tenho logo apoio psicológico, pois há em cada paragem um Psicólogo. Aliás, existem por todo lado.
Ainda na semana passada, quando no Restaurante entornei a sopa, tive logo o respectivo apoio da Psicóloga do Estabelecimento.
Também há Advogados nos restaurantes, nos cafés e até nas casas de alterne, sempre disponíveis, pois são quatro por cada cidadão.
Moro num Velhil, destinado aos que U.P.V. (Ultrapassaram Prazo de Validade). Embora fosse um antigo canil, a casa é agradável. Recebemos muitas visitas de estudantes e uns gostam muito, outros preferem o Jardim Zoológico.
No meu quarto afixei fotografias da Guiné e no outro dia uma professora perguntou-me se eu é que era o Soldado Desconhecido. Respondi-lhe afirmativamente. Quanto à guerra, já ouvira falar… Foi depois de Aljubarrota, não foi?
O Blogue sobrevive. O Maestro Luís comanda-o com o olhar, pois já não se usam teclas.
Qualquer dia, teremos mais um encontro da Tabanca Grande. Virtual, claro… mas, com chá e biscoitos!
Último poste da série > 21 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21189: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (119): com a ajuda do José Martins (, o nosso "Sherlock Holmes"), o João Crisóstomo, a partir de Nova Iorque, acaba de reencontrar, mais de 50 anos depois, o seu camarada de Mafra, Lamego e Beja, Luís Filipe Galhardo Lopes Ponte, hoje ten cor ref
quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
Guiné 61/74 - P21720: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (39): E já aí bem a bacina, / Diz a gente aqui do Norte, / Não é santa a medicina, / Mas quem a tem, está com sorte! (Os editores do blogue)
Lisboa > Praça do Comércio > Dezembro de 2020 > As... luzes ao fundo do túnel...
seu mal espanta!
Que ando, desde o Natal,
Mas a todos eu vos peço
Que não me levem a mal.
“Annus horribilis”, este
Ano que agora acaba,
Mas não acaba a Peste,
Nem com um... abracadraba!
Com muita fé e esperança,
O Novo vamos saudar,
Qu’ o Velho fique de lembrança,
Não o podemos olvidar!
Foge, foge, c’um caraças!,
Qu’ o Covid, e outras maleitas,
Semeado tem desgraças,
Com ou sem as malas feitas.
Em sendo a doença mortal,
Não te vale nenhum doutor,
Mas mal por mal hospital,
Lá tens um ventilador.
Entre mortos e feridos,
Haveremos de escapar,
Uns mais que outros, sofridos,
Inda é tempo d'aguentar.
Estar aqui é um bom presságio,
Na praia não morreremos,
Tendo escapado ao naufrágio,
Muito ainda contaremos.
É meio caminho andado,
Não esquecer a nossa história,
Não há futuro projetado,
P’ra quem perder a memória.
Doze passas são desejos,
P’rós meses que hão de vir,
Não havendo mais festejos,
... Toca a comer,beber, rir!
E já aí bem a bacina,
Diz a gente aqui do Norte,
Não é santa a medicina,
Mas quem a tem, está com sorte!
E quem as janeiras canta,
Dizendo a sua asneira,
Também o seu mal espanta,
A fingir que' é brincadeira.
Diz o povo, que é otimista,
“A cada dia Deus m’lhora”,
Eu, que sou racionalista,
Não me fui ainda embora.
Pandemias, pandemónios
Vão e vêm com o inverno,
Entre anjos e demónios,
... Pois, as janeiras, senhores,
Cantadas sob o poilão,
São de nós todos, editores,
Que p'ró ano aqui estarão.
(*) Vd.poste de 5 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21647: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (8): Lisboa resiste, mas também nós resistiremos: Mil alegrias natalícias para todos vós (Mário Beja Santos, ex-Alf Mil)
Guiné 61/74 - P21719: (Ex)citações (382): Tavira, CISMI, por quem nenhum de nós morreu de amores... (João Candeias da Silva / Carlos Silva / Luís Graça)
Facebook > Grupo dos Antigos Militares do CIQ-CISMI, Tavira e QG Évora > Carlos Cordeiro > 17 de janeiro de 2017
(...) CISMI. 1.º turno de 1968 (recruta). Um dos pelotões da 4.ª Companhia (não me lembro o n.º), "foto de família". Regressámos da "visita" às salinas já tarde e não havia muito tempo para vestir a farda n.º 2, tirar a foto e a seguir formar para o almoço. O aspirante (que talvez tivesse feito com que chegássemos tarde de propósito) disse então para vestirmos a parte de cima da farda n.º 2 e ficarmos com as botas e calças como se pode ver pela foto.
(i) João Candeias da Silva [ex-fur mil at inf, de rendição individual, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1973) e CIM Bolama (1973/74)]
CISMI, Tavira. Terceiro turno de 1971.
Depois da recruta no Hotel das Caldas, rumámos a sul até Tavira para fazermos a especialidade de atirador de infantaria.
A viagem longa e demorada foi feita sem paragens em vilas onde pudessemos dar ao dente, a excepção era para fazer xixi no meio do mato.
Em Tavira, no CISMI, destaco 3 personagens:
(a)-Tenente Moleiro, que no primeiro dia aparaceu no campo da feira, conhecido por Atalaia. O pelotão formou e depois do blá, blá da retórica, tirou o quico e disse: "é este o corte de cabelo da companhia;
(b) Caifás, o barbeiro onde nos iríamos apresentar e dizer #corte à tenente Moleiro":
(c) O capitão capelão que dava palestras aos sábado ao fim da manhã no refeitório.
O pessoal estava exausto, sentado e com o queixo apoiado ao cano da G3, não tardava em adormecer. A palestra que alertava para o "respeito" pelas meninas e ameaçava que quando tal não acontecia termimava em casamento na parada. E dava como exemplo o que, na recruta / especialidade, anterior, tinha acontecido.
Depois era ouvi-lo: "tu aí ao fundo levanta-te e castiga-te a ti próprio".... "Sim tu que estavas a dormir"...
A malta como não sabia a quem ele se dirigia, levantavam-se dois ou três. Então dizia: "não és tu, ele sabe quem é". À segunda ou terceira acertava.
A malta que sabia tocar e cantar e fosse "actuar" na missa de domingo tinha tratamento VIP. Também havia outros VIP por serem futebolistas, destaco o Vaqueiro, um dos chamados bebés do Varzim. Havia mais.
A salina era onde os mais tesos eram humilhados por resistirem onde não havia hipótese de vencer. Terminava quando todos estavamos encharcados de água podre e mal cheirosa. O cheiro ficava presente por dias.
Na Guiné, onde fui dos primeiros a chegar por ir em rendição individual, encontrei vários camaradas. Destaco o Penedos, que tocava trompete e em Tavira já tinha um Renault.
João Silva, terceiro turno de 1971, com passagem por Beja, Depósito de Adidos e Guiné.
(ii) Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), Régulo da Tabanca dos Melros]
Meus Amigos & Camaradas:
Entrei no dia 8/1/1969 no RI 5 nas Caldas da Rainha e fiquei integrado na 2ª Companhia comandada pelo Ten Bicho Beatriz, Capitão de Abril, infelizmente já falecido, homem de bom trato.
Integrei o 2º Pelotão, comandado pelo Ten Carneiro, também um militar respeitador. Os Cabos Milicianos, um deles era o Moreira que encontrei na Guiné e posteriormente muitas vezes em Lisboa, um tipo porreiro. O outro, cara de mauzão, mas bom rapaz e quem era ele ? Quem era ele ? Todos o conhecem aqui no Blogue, nem mais nem menos, o nosso amigo & camarada o Humberto Reis.
Das Caldas, para além de vários episódios, lembro-me do mais importante, que foi o sismo de 28 ou 29 de Fevereiro de 1969 e da audição em parada das Ordens de Serviço com o final de " O Comandante ... Giacomino Mendes Ferrari "...
Daqui deram-me a guia de marcha para apanhar o comboio e parar em Tavira onde nos esperavam os autocarros de turismo do Exército para nos transportar até ao designado quartel da Atalaia - CISMI onde dei entrada no dia 9/4-/969, 2º Turno, para aí tirar a especialidade de Armas Pesadas, ficando integrado na 2ª Companhia, comandada pelo Cap Viegas, bom homem, que nunca mais ouvi falar dele. talvez o Carlos Alberto Nascimento, se lembre dele.
O pelotão era comandado por um Aspirante Miliciano do qual não me lembro o nome, coadjuvado por dois Cabos Milicianos, sendo um de nome Soromenho, cara de mauzão, o outro não me recordo o nome.
A instrução e aplicação militar, claro, era exercida no campo da Atalaia e para os lados da Conceição de Tavira ou nas encostas do rio Gilão, para os lados da ponte nova EN.
Falam muito do Ten Madeira, do "Trotil", etc., etc, não me lembro deles, pois a nossa convivência era restrita. Lembro-me de um Tenente, do qual não me recordo o nome, um tipo magro e alto, que nos dava as aulas teóricas, nada acessível, militarista, que andava sempre com um pingalim e um outro Ten Coelho Lima, do Norte, indivíduo de bom trato.
Episódios não são muitos, mas recordo-me de uma cena de uma barata que vinha no prato de arroz de um dos camaradas, que percorreu os pratos todos, pois foi passando de prato em prato, porque nenhum de nós era chinês.
Lembro-me também de quando íamos fazer marchas, sempre que íamos para o lado de lá do rio, ao passar junto às esplanadas, ouvíamos a ordem de comando: "Pelotão... olhar... direita" !!! "... para saudar o 2º Comandante, Maj Teixeira que por ali estava sentado acompanhado ...
Nunca mais ouvi falar deste senhor, nem do Comandante do CISMI que não sei quem era. A rapaziada aqui nunca se referiu aos altos Comandos.
Um outro episódio que me recordo, foi termos um castigo colectivo, privação de fim de semana, dado pelo Maj Teixeira, porque lhe foram fazer queixinhas que os instruendos tinham participado numa operação de assalto a um laranjal ... Pudera!, as laranjas do Algarve tinham fama...
Quanto às meninas e aos casamentos, também eram falados, mas não sei se alguém do meu Turno ficou por lá perdido. Creio que apenas houve por lá um episódio relativo à "espanholita" (?)...
A semana de tiro foi normal, fomos com os canhões e morteiros 81 para Cacela fazer fogo para a Ilha de Tavira. Do CISMI fui parar ao RI 10 Aveiro, mas nem aqueci o lugar, fui logo mobilizado para a Guiné, o que não esperava, pois tinha sido bem classificado.
Foi o meu azar, os camaradas maus classificados foram mais tarde mobilizados, mas foram integrados em pelotões de canhões ou de morteiros e não alinhavam para o mato. Encontrei-me com alguns na Guiné, já eu andava por lá há 6 ou 8 meses. Talvez fosse essa a minha vantagem. Bem, Tavira já vai longe.
Abraço para todos com votos de um Bom Ano 2021 com saúde.
(iii) Luís Graça, editor:
Lembram -se do Carlos Alberto Dores Nascimento, 1º cabo miliciano, e monitor do CSM, entre 1967 e 1969 ? Há uns anos, em 9 de setembro de 2010, escreveu-me o seguinte email:
"Alô, Luis. Sou o Carlos Alberto Dores Nascimento, estive em Tavira de Janeiro de 67 a Dezembro de 69. Especialidade de atirador... e por lá fiquei até ao fim como monitor. Conheci o Robles e o Trotil. O Trotil era Óscar. Conheci-os de alferes a capitães.
"Também gostava de encontrar alguns companheiros daquele tempo (,agora somos avós, ) mesmo que tivessem sido 'meus' intruendos. Sei que todos os anos em Outubro fazem lá no quartel um convívio com todos os que passaram por lá. Eu este ano quero ir pois nunca fui. Estou inscrito no Facebook, tenho lá algumas fotos do nosso tempo para ver se há alguém que se identifica.
"Bom, um grande abraço."
De facto, o Nascimento, algarvio, que é natural de Alagoa, e vive em Portimão, é (ou era, em 2014) um dos elementos mais ativos do Grupo (aberto) do Facebook, Grupo dos Antigos Militares do CIQ-CISMI, Tavira e QG Évora.
Segundo o Carlos Nascimento, a 2.ª companhia era "a companhia das várias especialidades", incluindo a de armas pesadas de infantaria. Ou seja, o ten Esteves Pinto foi meu comandante de companhia, no CISMI, no último trimestre de 1968.
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 28 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21702: (De)Caras (133): o ten inf Esteves Pinto (1934-2020), que foi instrutor de alguns de nós no CISMI, em Tavira, e que morreu no passado dia 18, com o posto de cor inf ref
Guiné 61/74 - P21718: O segredo de ... (33): conversas da treta entre dois milicianos da CCAÇ 12 (Luís Graça / João Candeias da Silva)
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970, ao tempo do BART 2917 > O Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira. Era o comandante do 1º Gr Comb da CCAÇ 12 e, na prática, o 2º comandante da companhia. Era o homem de confiança do Cap Inf Carlos Brito. O melhor preparado dos oficiais milicianos da companhia. Tinha o curso de operações especiais. Era disciplinado e disciplinador. Um homem afável, mas algo distante e reservado, muitas vezes escondido sob os então na moda óculos de sol Ray-Ban (um "ronco" muito apreciado pelo milicianos, que tinham algum poder de compra no TO da Guiné...).
Não creio que o Moreira conheça o nosso blogue... Nunca nos contactou. Respeito o seu silêncio, o dele e dos demais camaradas que estiveram connosco no TO da Guiné, e que têm, provavelmente, reservas quanto ao risco de exposição da sua vida privada, decorrente da participação de um blogue como este...
Foto do álbum do Benjamim Durães, tirada numa tabanca fula em autodefesa, que não consigo identificar.
Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > CCAÇ 12 (1969/71) > Estrada Xime-Bambadinca > O 1º comandante da companhia, o Cap Inf Carlos Brito (hoje, coronel na reforma), uma homem afável e educado, mas já à beira dos 40 anos, e que delegava grande parte das responsabilidades operacionais no alf mil op esp / ranger Francisco Moreira...
Foto: Arquivo de Humberto Reis (ex-fur mil op esp / ranger, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
1. O nosso blogue vai fazer 17 anos (dezassete anos !!!), em 23 de abril de 2021, se lá chegarmos,.. Desde 2008, ou seja, há 12 anos, temos vindo a contar "segredos", pequenos e grandes segredos, da nossa vida militar, ou até pessoal ou mais íntima, "coisas" passadas há mais de meio século, mas que só agora, por uma razão ou outra, queremos partilhar uns com os outros...
O propósito deste série, "O segredo de...", é esse mesmo: ser uma espécie de confessionário (ou de livro aberto) onde se vem, em primeira mão, revelar "coisas" do nosso tempo da tropa e da guerra (1961/74), que estavam guardadas só para nós ou só eram do conhecimento do nosso círculo de relações restrito (alguns camaradas de armas) ou mais íntimo (cônjuge, filhos, amigos do peito).
É esperado que os nossos leitores não façam nenhum comentário crítico, e nomeadamente condenatório, em relação às "revelações" aqui feitas, mesmo que esses factos pudessem eventualmente, à luz da época, constituir matéria do foro do direito penal, militar ou civil, infringir a disciplina ou ética militares, os usos e costumes, a moral da época, o "politicamente correto", etc.
Aprendemos, neste blogue, a "saber ouvir os nossos camaradas de armas e a não julgá-los"!... Nomeadamemnte, os vivos... Nos dois casos a seguir referidos, há omissões que são compreensíveis (*). Trata-se de uma "conversa" que não é da treta, entre o nosso editor Luís Graça e o João Candeias da Silva, por coincidências dois camaradas que integraram a mesma companhia, a CCAÇ 12 (formadas por praças do recruramento local) mas em épocas diferentes, e que por isso nunca se cruzaram, "nem lá nem cá"... A CCAÇ 12, formada no CIM de Contuboel (1969), esteve em Bambadinca (1969/73) e no Xime (1973/74), tendo estado "ao serviço de" quatro batalhões diferentes. Foi extinta em meados de 1974.
Não sei se estou a pôr a pata na poça, mas em 73 um alferes, que não recordo o nome, foi colocado numa companhia que estava a fazer a protecção aos trabalhos nessa estrada [Farim-Mansabá]
Estivemos juntos em Cabuca na CCAC 3404 em finais de 1972. Em 73 Janeiro fui para a CCAÇ 12 e ele para a companhia que estava a fazer a segurança à estrada de Farim.
Passados meses, talvez uns seis encontramo-nos em Bissau, placa giratória, para ir e para vir de férias ou ir para o mato ou consulta externa, etc. E qual não é o meu espanto, em vez de ter o galão de alferes, era 2° sargento. Tinha levado uma porrada.
Da conversa que tivemos o assunto tinha chegado ao Spínola. Ele, um ótimo rapaz, precisava de desabafar e ficávamos muito tempo à conversa. O assunto tinha-o abalado muito. Não era caso para menos.
Não sei como terminou.
Julgo ter sido um caso inédito.
Sobre este assunto tem de haver registo no arquivo do exército e sobre a nega da CCAÇ 12 em ir para o Xime também é pouco plausível que não haja. (*)
(ii) Luís Graça:
João, há muitas histórias da nosssa guerra que nunca chegarão à luz do dia... Algumas já chegaram ao nosso conhecimento através do blogue...
Isto é como a história dos impedimentos do casamento em que o oficiante, antes de se dar o nó, pergunta, na presença dos noivos, dos padrinhos, dos pais, da família e dos demais convidados, se alguém tem alguma objeção aquela união, então que "fale ou cale-se para sempre"...
Alguns de nós perdemos a oportunidade de falar na altura devida, e agora resta-nos falar aqui ou calarmo-nos para sempre... Sempre assim foi em todas as guerras...e nos pós-guerras.
Mesmo assim, entre dois uísques, num alamoçarada, num convívio, às vezes lá sai um "segredo de confessionário"...
Quando fui a Angola (e fui lá meia dúzia de vezes a partir de 2003), houve antigos miliatres das FAPLA, do topo da hierarquia (oficiais generais), que me contaram "segredos de Estado", à mesa... Coisas "sinistras" que só agora há coragem para se falar delas em público (como o que aconteceu na sequência dos trágicos dias de 27 de maio de 1977 e seguintes)..
Mas voltando à Guiné, soube há uns anos de uma história dessas que não podem aqui ser contadas, com datas, locais, topónimos, nomes de camaradas, etc.
Num destacamento (que não vamos identificar porque os protaggonistas estão vivos), guarnecido por a nível grupo de combate, e na ausência do comandante (alferes miliciano), dois militares desatam à porrada, por razões de lana caprina...
Muitas veses estes conflitos entre dois camaradas e amigos eram provocados pelo stress, a tensão, o isolamento, a exaustão, o cansaço, a promiscuidade, a subnutrição, mas tabém o álcool, etc.
Soco atrás de soco, um deles cai de costas, bate com a cabeça no chão, takvez nalguma pedra, e morre, de traumatismo craniano (presume-se)... E agora ? Como justificar um "trágico acidente" destes, na ausência de um ataque ou flagelação do destacamento por parte do IN ou de embocada nas imediações ?...
Fez-se um "pacto de silêncio" entre todos os presentes (soldados, cabos e um furriel...). O corpo foi transportado num Unimog e entregue na sede da companhia ou do batalhão, já cadáver...
Deve ter havido um auto de averiguações, mas toda a gente (os graduados e as praças) mantiveram a mesma versão, a de uma queda acidental, infelizmente mortal...
O "pacto de silêncio" também faz(ia) parte das regras de camaradagem... Ontem como hoje... em toda parte do mundo, em todas as guerras (*)
(iii) João Candeias da Silva:
Caro Luís: As conversas são como as cerejas. Ao ler o que descreveste sobre a pancadaria que teve tão trágico desfecho (*), veio à minha memória uma ocorrência na CCAÇ 12 que vou descrever.
Estávamos ainda aquartelados em Bambadinca, no topo do edifício onde era a messe da CCAÇ 12, virado para a escola, havia 4 ou 5 cadeiras de baloiço feitas de pipas de vinho.
E nós, os furrieis, costumavamos depois do pequeno almoço ficar por ali na cavaqueira. Naquele dia, algures entre feveiro e março de 1973, devia ser domingo, pois estávamos à civil. Bem instalados, e na conversa da treta, éramos uns de 4 ou 5 furrieis.
Os cadeirões todos ocupados. Chegou um alferes da 12, começou a conversar connosco.
A conversa foi-se prolongando durante um bocado e, completamente fora do contexto, o alferes disse para um furriel: "Levanta-te, que eu quero sentar-me."
A nossa primeira reacção foi que o alferes estava a brincar, mas como o furriel não se levantou para lhe ceder o lugar, o tom de voz subiu e disse ostensimante: "Levanta-te, é uma ordem!.
Como o furriel não lhe obedeceu, deu-lhe uma chapada na cara. Após a agressão, o furriel levantou-se e, felizmente, não reagiu à agressão. Nós estávamos incrédulos e sem palavras. Era surreal o que estava a acontecer na nossa frente.
O furriel acabou por fazer queixa, pois como sabes o inferior hierárquico não pode participar, e tem logo à partida garantida uma porrada que tem como consequência imediata a perda do mês de férias.
O fim da ocorrência não sei como terminou.
Para situação ainda hoje não encontro justificação. Foi presenciada por mim e pelo António Duarte, entre outros, que não recordo.
Durante muito tempo fiquei a matutar: "E se fosse comigo?!!... (*)
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(**) Comentários aos poste de 29 dedezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21703: Álbum fotográfico de José Carvalho (2): A CCAÇ 2753, ”Os Barões”, e o K3 (Parte I)
Guiné 61/74 - P21717: Parabéns a você (1917): Publicação de Postais de aniversário em 2021: novas regras (Carlos Vinhal, Coeditor)
PARABÉNS A VOCÊ - PUBLICAÇÃO DE POSTAIS
Camaradas:
Sabemos de há muito que o facebook faz "concorrência desleal" ao nosso Blogue, e até os postais de aniversário aqui publicados se ressentem quanto ao número de comentários. Longe vai o tempo em que todos aqui manifestavam a todos a sua alegria quando cada um de nós completava mais 365 dias nesta dimensão terrena.
Constata-se que agora até os próprios aniversariantes deixaram de "aparecer" para de algum modo manifestarem o seu agradecimento, alguns deles só mesmo no facebook dão sinal de vida.
Parecendo que não, tenho uma preocupação quase diária para não esquecer os aniversários da tertúlia e de publicar os postais a tempo e horas. Também publico o poste no face da Tabanca Grande e os postais no facebook dos aniversariantes, quando autorizado, aumentando assim o espaço onde podem receber os parabéns. Já falhei, e acreditem que houve quem me acusasse de esquecimento deliberado e quem se dirigisse a mim em termos que eu não mereço.
Com a concordância do nosso Editor Luís Graça, está decidido que em 2021 só se publicarão postais de aniversário dos camaradas que em 2020 deram sinal de vida no Blogue. Infelizmente, e atendendo à nossa idade, é possível que alguns de nós tenham já falecido, que estejam doentes e incapazes de aceder ao Blogue, ou que pura e simplesmente se tenham desinteressado do que por aqui acontece.
Relembramos aos camaradas a quem nunca publicamos postais de aniversário, e que queiram ver o seu dia aqui lembrado, que devem manifestar o seu desejo junto do Blogue, informando pelo menos o dia e o mês do seu nascimento, para que, com todo o gosto, participemos da alegria de celebrar, em conjunto, mais um ano da sua vida.
Aqueles que por qualquer motivo têm andado mais distraídos e por isso vejam suspensa a notícia do seu aniversário, caso queiram ver de novo os seus postais publicados no Blogue, só têm de "fazer prova de vida" porque farão sempre parte da “nossa base de dados” e muito mais da nossa amizade.
Votos de um excelente 2021 com saúde.
Carlos Vinhal
Coeditor
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Nota do editor
Último poste da série de 31 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21714: Parabéns a você (1916): Adelaide Barata Carrelo, Amiga Grã-Tabanqueira
Guiné 61/74 - P21716: Consultório militar do José Martins (57): Reduto de Monte Cintra
Publicamos hoje mais um trabalho do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), desta vez dedicado ao Reduto de Monte Cintra.
Nota do editor
Último poste da série de 26 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21582: Consultório militar do José Martins (56): A Delegação de Loures da Liga dos Combatentes da Grande Guerra
Guiné 61/74 - P21715: Em busca de... (310): Hilário Peixeiro, capitão que conheci no Forte da Graça, em Elvas, em 1973/75 (João Rico, ex-fur enfermeiro)
Assunto: Hilário Peixeiro
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Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
10 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8252: Tabanca Grande (281): Hilário Peixeiro, Coronel Reformado, ex-Capitão, CMDT da CCAÇ 2403/BCAÇ 2851 (Guiné 1968/70)
Ofereci-me para os Comandos donde saí a meu pedido e ingressei nos GEP (Grupos Especiais Pára-quedistas) depois de fazer o respectivo curso, regressando em Junho de 1974.
Fui colocado no Forte da Graça em Elvas onde estive até Setembro de 1977. Seguiu-se Santa Margarida, 2 anos, Casa de Reclusão de Elvas, Curso de Estado Maior e colocação no Estado Maior do Exército, Regimento de Elvas, Quartel General de Évora e Tribunal Militar de Elvas onde, aproveitando a chamada lei dos Coronéis, passei à situação de Reforma. (...)
16 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8284: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (2): Actividade da CCAÇ 2403 e participação na Operação Mabecos Bravios
19 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8299: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (3): Actividade da CCAÇ 2403 e participação na Operação Mabecos Bravios
21 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8309: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (4): Actividade da CCAÇ 2403 em Mansabá, com passagem pelo Olossato, e regresso à Metrópole
Guiné 61/74 - P21714: Parabéns a você (1916): Adelaide Barata Carrelo, Amiga Grã-Tabanqueira
Nota do editor
Último poste da série de 27 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21696: Parabéns a você (1915): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745 (Guiné, 1973/74)
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
Guiné 61/74 - P21713: Recortes de imprensa (113): Guiné-Bissau: Crianças tornadas mulheres à força (Joana Benzinho, "Bird Magazine", 19 de outubro de 2020)
Um dia conheci uma menina numa instituição da Guiné-Bissau com um ar demasiado frágil para os seus 14 anos e com quem me sentei a conversar. Contou-me que um dia, há alguns meses atrás, tinha fugido da aldeia onde vivia com os pais e irmãos para não acabar na cama e na vida de um homem muito mais velho.
Os seus pais tinham acertado o dote e o casamento à revelia da sua menoridade e da sua vontade e era questão de horas ou dias acontecer aquela violação consentida e para a vida, por parte de quem a devia proteger. A menina encheu-se de toda a coragem que nunca pensou concentrar na sua breve juventude e saiu de casa sem nada, quando a noite caiu e todos dormiam.
Talvez não tenha tido noção da amplitude do seu gesto naquele instante mas ele veio mudar toda a sua vida de uma forma dura e definitiva. A partir daquele momento a menina deixou de ter família, de ter aldeia, de ter amigos, de ter escola, de ter amparo. A corajosa decisão que tomou fez os pais, familiares e vizinhos cortar definitivamente relações com ela. É sempre assim.
Aos 14 anos partiu para o mundo sozinha. Procurou ajuda ao cabo de muitos quilómetros a errar pela noite escura e encontrou-a, mesmo que de forma temporária. Quando a conheci, a precariedade da sua situação ainda se mantinha e o medo de ser procurada fazia-a tremer a cada chegada de um carro ou ao cruzar um rosto desconhecido.
Estas meninas feitas mulheres pela crueldade da família ou casam ou ficam sozinhas no mundo. Não há meio termo. E quando ficam sozinhas nem sempre conseguem encontrar a ajuda adequada ao drama que estão a viver. Umas acabam violentadas, outras violadas, outras enganadas por quem é suposto protegê-las, algumas na prostituição. Outras fogem para o colo de quem as devia defender dos casamentos forçados e onde acabam precisamente pela sua mão.
São meninas a quem foi roubada de repente a vida na sua plenitude, quando este conceito por si já é tão limitado na Guiné-Bissau. Algumas infelizmente não aguentam a pressão da fuga e voltam para os braços dos carrascos que as agridem e as casam de imediato.
São estas meninas feitas mulheres que vivem no anonimato na Guiné-Bissau mas que engrossam estatísticas dos casamentos forçados e precisam de quem as proteja. De quem as acolha e lhes proporcione apoio emocional, depois de se verem despojadas de qualquer afecto filial e traídas pelas pessoas em quem mais confiavam. De quem lhes dê apoio pedagógico para que não engrossem os números da ileteracia da Guiné-Bissau. De quem lhe dê ferramentas formativas para abraçarem a vida de forma activa e com independência financeira quando atingirem a maioridade.
Como esta menina com quem conversei, há muitas outras na Guiné-Bissau e pelo mundo fora. E com a pandemia, os estados de emergência e os confinamentos os casos tornaram-se aparentemente mais numerosos, mais incógnitos e com consequências mais graves pois muitas meninas não conseguem fugir deste drama que lhes vai cortar a infância e destruir a vida.
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(*) A BIRD Magazine é uma revista online nascida em 2013. A BIRD Magazine é um meio independente, plural e equilibrado, orientado pela ética e deontologia jornalística. A BIRD Magazine procura a verdade, o rigor, a isenção e promove um espaço público de debate através dos seus cronistas residentes.
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Nota do editor:
Último poste da série > 4 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21222: Recortes de imprensa (112): entrevista ao antropólogo Vasco Gil Calado sobre droga e álcool na guerra colonial, "Público", 2 de agosto de 2020 (Carlos Pinheiro)