sexta-feira, 29 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23212: 18º aniversário do nosso blogue (8): No tempo em que os telegramas eram de mau agoiro e as mães que os recebiam nem sempre sabiam ler... (José Teixeira)

 

Cópia do telegrama, emitido em 8 de fevereiro de 1970


1.  Nos anos 60/70, durante a guerra do ultramar / guerra colonial, as famílias dos combatentes o que mais temiam era o fatídico telegrama a anunciar a desgraça de uma morte, em combate, acidente ou doença,  ou de um desaparecimento, na sequência de uma operação, "lá longe onde o sol castiga(va) mais", a muitos milhares de quilómetros de casa...

O conteúdo do telegrama era seco, lacónico, impessoal, brutal... Como este que em tempos aqui reproduzimos:

(,,,) "Sua Excia Ministro Exército tem pesar comunicar falecimento seu filho furriel miliciano fulano ocorrido no dia tal Guiné por motivo combate defesa da Pátria Sua Excelência apresenta mais sentidas condolências, Comandante Depósito Geral de Adidos, Lisboa". (...) (*).

Os mensageiros da desgraça não tinham sido treinados para dar notícias más. Era o carteiro, da vila ou da aldeia, ou de bairro, na cidade,  conhecido de toda a gente, quem levava a casa a carta ou o aerograma do contentamento, mais frequente,  mas também o telegrama, mais raro nessa época, e que, para os pobres,  só podia ser de mau agoiro... 

Um ou outro militar, por razões práticas e sobretudo de economia de tempo mandava de vez em quando à família uma mensagem telegráfica,  tranquilizadora,  a dizer que estava tudo bem... Ou a dar os parabéns por um aniversário. Ou que tinha chegado bem mas já estava cheio de saudades.

Um amigo meu, paraquedista, que esteve no Norte e depois no Leste de Angola, quando regressava à base em Luanda, passava pela estação dos Correios,  e mandava para a família um  telegramas SDS  (ou "telegrama de saudação de texto fixo"), pré-codificado, um serviço criado em 1942 pelos CTT e depois atualizado em 1961 (**)-

Com o triunfo da Internet, o telegrama é um serviço que os Correios, em muitas partes do mundo, já não prestam ou que  tende a desaparecer.

De qualquer modo, o telegrama, no ato de receção, era sempre algo que podia desencadear ansiedade ou até medo,  pela incerteza do seu conteúdo, origem e motivo. E pior ainda quando o destinatário não sabia ler... Como é o caso desta história, de grande ternura, que aqui se (re)conta (***).



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > O Zé Teixeira com a Cadidjatu Candé ( infelizmente já falecida), filha do valente alferes de 2ª linha e comandante de milícias no Quebo, preso e assassinado pelo PAIGC depois do fim da guerra


Foto (e legenda): © José Teixeira (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. O autor, José Teixeira, membro da nossa Tabanca Grande, desde praticamente a primeira hora (vd. poste P 350, de 14/12/2005) (****), não precisa de apresentações, tendo sido um dos criadores da Tabanca Pequena de Matosinhos. 

O pretexto para esta reposição da estória nº 39, para além da celebração do Dia da  Mãe, em 1 de maio de 2022, é a passagem do 18º aniversário do nosso blogue (*****).


Estórias do Zé Teixeira (39) > O medo do terrífico telegrama


Naquele dia 8 de fevereiro de 1970, uma mãe esquecida do quadragésimo oitavo aniversário preparava o almoço para os três filhos. Um quarto estava ausente na Guiné. Este, tinha feito 23 anos dois dias antes.

Era comum juntar-se a família no dia oito e cantarem-se os parabéns em duplicado. Apenas se mudavam as velas no bolo que aquela mãe, analfabeta, cozinhava com todo o carinho.

Seriam umas onze da manhã, quando o carteiro bateu à porta. Trazia um pequeno papel rectangular dobrado em quatro e tinha como destinatário o nome daquela mulher.

D. Rita,  assine aqui em como recebeu.

 Mas… eu não sei assinar  –retorquiu  aquela mãe, com o coração já em sobressalto.

Uma vizinha prontificou-se a assinar,  a rogo. O carteiro foi-se embora e aquela mãe tremia de medo, com a mensagem que supunha vir dentro do malfadado papel.

 
– Ai que o meu filho morreu!   foi o seu primeiro pensamento.

Largou os chinelos. Com o papel junto ao coração,  desata a correr descalça, rua acima,  até ao emprego da filha, a cerca de dois quilómetros.

Chega ao destino esbaforida e sem forças, as lágrimas correm-lhe pela face. Pede para lhe chamarem a filha. Queria ser ela a primeira a saber da sorte do seu filho.

Ao ver a filha ao longe grita:

 Ai, Lai, que o teu irmão morreu!

–  Morreu nada, minha mãe.

– Morreu, morreu. Chegou agora o telegrama.

A filha abre o terrífico papel:

"PARABÉNS PELO SEU ANIVERSÁRIO"
. Assina: "Armanda".

– Oh minha mãe, então você não se lembra que faz hoje anos?! É um telegrama da Armanda, a namorada do seu filho, a dar-lhe os parabéns.

 É isso que diz aí?

–  É minha mãe. É o que está aqui escrito.

 
– Graças a Deus!!!

Aquela mãe, era a minha mãe... E eu dou Graças a Deus por poder contar, hoje, esta pequena, mas verdadeira história.

Zé Teixeira

 [Fixação / revisão de texto / título do poste: LG]
__________

 Notas do editor:

(*) 16 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19983: (Ex)citações (354): Como é que a máquina burocrática do exército fazia chegar, à família, a notícia funesta da morte ou desaparecimento em combate de um militar ? O caso do sold at cav nº 711/65, José Henriques Mateus, desaparecido no rio Tompar, afluente do rio Cumbjiã, no decurso da Op Pirilampo, em 10/9/1966 (Jaime Silva, seu colega de escola, no Seixal, Lourinhã, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72)

(**) Vd, poste de 25 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14931: Recortes de imprensa (74): Informação Oficial, publicada no jornal "A Província de Angola", sobre o desastre do Cheche aquando da travessia do Rio Corubal em 6 de Fevereiro de 1969 (José Teixeira / José Marcelino Martins)

Guiné 61/74 - P23211: Notas de leitura (1441): “A Balada do Níger e Outras Estórias de África”, por Amílcar Correia, Civilização Editora, 2007 (4) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Julho de 2019:

Queridos amigos,
O mínimo que se pode dizer que esta reportagem de Amílcar Cabral oferece é uma África empolgante, desde os caminhos para Tombuctu até aos aspetos míticos que a Tanzânia conserva. O repórter estudou a sério a história, a etnografia, dá-nos o colorido das paisagens, a distinção das relações humanas consoante o país, está permanentemente atento à cultura, vai saltando de lugar em lugar não esquecendo alguns onde se fala a língua portuguesa, logo Cabo Verde e depois S. Tomé, mais adiante Moçambique, cuja ilha o deslumbra. E percorre a costa oriental africana, e há trechos de fascínio cultural, vem na senda de um feitiço que o persegue por toda a itinerância, um exemplo: "Deus é vermelho. Deus é preto. É vermelho quando está mal disposto e por isso não chove e é preto nos dias de benevolência chuvosa. O vermelho é fogo, morte, renascimento. O preto é sagrado. A cor que vestem os rapazes depois de circuncisados, com a cara pintada de branco, quando passam a pertencer ao mato, à idade adulta e aprendem a desenvencilharem-se sozinhos". Uma viagem muito pessoal, cativa o leitor pela busca e pela abertura do olhar.

Um abraço do
Mário



Ali para as bandas da Guiné e um pouco por toda a África (4)

Beja Santos

“A Balada do Níger e Outras Estórias de África”, por Amílcar Correia, Civilização Editora, 2007, é um livro de cambanças, tudo começa na mítica Tombuctu, seguiu-se a Mauritânia, o deserto do Sara é um referencial, por diversas razões: é o maior depósito de sal do continente africano, nele se cruzam as redes comerciais entre o Mediterrâneo e a África negra, há mesmo a registar a presença portuguesa na ilha de Arguim, ao largo da Mauritânia. E depois desce-se o continente até à África Austral, o que se diz sobre Moçambique é muito importante, tal como sobre a África do Sul. Amílcar Correia preparou-se a sério para esta longa expedição. E como segue para o Quénia, é incontornável falar do clássico de Karen Blixen, África Minha: “Quando cheguei a África, não havia automóveis no país e íamos até Nairobi a cavalo ou numa carroça puxada por seis mulas. Durante toda a minha estada, Nairobi foi um lugar animado, com belos edifícios de pedra e bairros inteiros de velhas lojas, escritórios e casinhas de chapa ondulada, ao longo das ruas despovoadas e poeirentas, ladeadas por longas filas de eucaliptos”.

E descreve-nos com grande entusiasmo as ruas de Nairobi, chove a cântaros, o trânsito é infernal, os transportes públicos e privados transbordam de gente. E tece um comentário: “Para os estrangeiros de passagem, Nairobi é um prolongamento dos parques naturais do país, embora arranhe o céu aqui e ali e isso seja impossível na planície selvagem”. E mais adiante:
“Nairobi situava-se na confluência de territórios quicuios e massais e deve o seu nome a um riacho. Os primeiros foram forçados a deixar aqueles territórios, enquanto os segundos abandonaram a região após terem celebrado um acordo com os ingleses. O tribalismo não desapareceu com a independência e ainda se é primeiro quicuio ou luo e só depois queniano. Apesar do gigantismo de Nairobi e da vivência urbana que lhe é subjacente, esse confronto mantém-se vivo na própria capital.
Aquelas duas são as tribos mais numerosas do Quénia e têm barreiras históricas e linguísticas a separá-las quer no passado, quer na atualidade. Os quicuios eram conhecidos como os judeus do Quénia por estarem mais interessados na sua educação e cultura do que em ganhar a vida. Descendem dos Bantu, agricultores por excelência, que migraram para a região no século XV, vindos da costa ocidental, ao passo que os Luo descendem dos povos do Nilo, provenientes do Sudão, e são sobretudo pastores”
.

E dá-nos um apontamento sobre a presença portuguesa e depois a inglesa: “No século XV, ao ocuparem cidades da costa zanj (que significa gente negra, em persa), os portugueses iniciaram os primeiros contatos entre a Europa e a África Oriental, mas foram os britânicos quem deu passos mais sérios para desbravar o seu interior, mais populoso após a abertura da linha do caminho-de-ferro entre Mombaça e Nairobi”. Segue-se um relato da exploração do continente, fala-se de Livingstone, John Speke, Samuel Backer, Henry Stanley, de gente de nomeada que aqui veio aos safaris. O repórter chega agora a Dar es Salam, a sua atenção é atraída por uma questão de verificação das notas:
“São poucas as lojas abertas num dia de fim de semana, tudo o que eu agora mais desejava era um punhado razoável de xelins. O indiano atrás do vidro colocou as notas na máquina para as contar, retirou algumas delas como quem retira a parte apodrecida de um fruto e avançou uma explicação plausível.
- Não há máquinas sofisticadas na Tanzânia para separar as notas boas das notas falsas. É por isso que aqui só se aceitam as notas de dólares de cabeça grande, porque sabemos que são as mais difíceis de falsificar”
.

E fala-se deste país composto pelo arquipélago de Zanzibar e o território continental, o antigo Tanganhica. A viagem entre as duas metades faz-se de barco, a procura turística é enorme, Stone Town, a cidade de pedra da ilha de Zanzibar, é um mito:
“As estreitas ruas da cidade escondem mistérios seculares por trás das portas de madeira trabalhada com obstinação e apreço. As portas tinham, e ainda têm, uma importância crucial na vida dos habitantes da ilha. Muitas vezes, a construção das casas começava, e começa ainda, justamente pela porta, assim transformada na peça mais importante de uma habitação, que obedece aos cânones árabes do respeito pela privacidade. Do telhado dos edifícios mais elevados, avista-se a cidade na sua plenitude, com as suas igrejas cristãs, os tempos hindus, os minaretes das mesquitas, os bairros recentes construídos em altura na periferia da cidade, os palácios e as suas varandas rendilhadas, os telhados de zinco verde, os dhows (veleiros de velas latinas) no mar ou as ruínas dos antigos edifícios públicos, atuais moradas de pescadores”.

Reflete-se sobre a partilha de África como foi desenhada na Conferência de Berlim, em 1884-1885, e as suas consequências, mas a verdade é que há realidades históricas e culturais que ultrapassam os constrangimentos artificiais de qualquer mapa. Há uma língua que é um país, o swahili, país de marinheiros, uma miscigenação de tribos Bantus com imigrantes persas e árabes. “Esta nação linguística, que, à partida, pode parecer estranha, não tem capital sequer. Este país foi criado e unificado em torno de um idioma comum, embora com algumas variações, à semelhança de tantas outras línguas. O país swahili começa em Mogadíscio, desde aqui e ali pela costa queniana, prolonga-se pela Tanzânia, atinge as suas fronteiras em Moçambique e o seu idioma é falado por 30 milhões de pessoas”.

E o autor prodigaliza-se em pormenores sobre esta fascinante costa oriental africana onde houve comerciantes persas, onde se vendia o marfim e o ouro, os cornos de rinoceronte e os dentes de hipopótamo. A chegada dos portugueses trouxe mudanças. Zanzibar foi dominado pelas tropas portuguesas em 1505. Vasco da Gama estabeleceu uma presença portuguesa em Malindi. No século XVIII, os portugueses retiraram, seguiu-se o sultanato de Omã. O autor continua deliciado com a história atribulada do Tanganhica e da importância de Zanzibar, vem mais atrás ao mercado de escravos, toda a região era um imenso entreposto. Mas o autor observa: “A escravatura é anterior à chegada de árabes, portugueses, franceses ou ingleses à costa do continente e há autores que sustentam que entre 30 a 60% dos africanos eram escravizados antes da chegada dos primeiros europeus”.

E vamos concluir esta empolgante viagem retendo dois parágrafos ainda acerca de Zanzibar:
“Zanzibar tem sido palco de alguma violência. Contudo, a Tanzânia é um dos países com maior coesão no qual a separação entre tribos e Estado tem sido um facto, apesar da existência de 120 grupos étnicos que, muitas vezes, nem sequer se compreendem uns aos outros por dificuldades linguísticas. O ex-presidente Julius Nyerere teve uma importância reconhecida nesta coesão, ao escolher o swahili como língua principal e ao opor-se contra posições étnicas mais divisionistas. Ao contrário do vizinho Quénia, a importância da pertença tribal não é uma questão fulcral para uma população que, antes de mais, se define como tanzaniana.
Nascido na tribo zanaki, em 1922, Nyerere estudou numa Universidade de Kampala e licenciou-se em História em Edimburgo. Nyerere foi o rosto das reivindicações independentistas da Tanzânia e o seu primeiro presidente, ao unir a então Tanganhica e a ilha de Zanzibar. Em 1985, demitiu-se, Nyerere abandonou aquelas funções num gesto raro entre a classe política, após reconhecer os erros da sua governação que conduziu o país a uma situação de bancarrota.”

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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23199: Notas de leitura (1440): “A Balada do Níger e Outras Estórias de África”, por Amílcar Correia, Civilização Editora, 2007 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23210: Parabéns a você (2058): Giselda Pessoa, ex-Sarg Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Bissau, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23204: Parabéns a você (2057): Belmiro Tavares, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66); Cor Inf DFA Ref Hugo Guerra, ex-Alf Mil Inf, CMDT dos Pel Caç Nat 55 e 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70) e Joaquim Costa, ex-Fur Mil API da CCAV 8351/72 (Cumbijã, 1972/74)

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23209: O Cancioneiro da Nossa Guerra (13): a "Spinolândia", com letra (parodiada) e música de "Os Bravos", de Zeca Afonso: uma preciosidade encontrada no sítio de "Os Leões de Madina Mandinga", a 1ª CART/BART 6523/73 (1973/74)




Guião do BART 6523/3 (Nova Lamego, 1973/74). 

Cortesia: coleção de Carlos Coutinho (2009)



1. No sítio dos Leões de Madina Mandinga - 1ª Cart / Bart 6523 (1973/74) fomos encontrar uma deliciosa cantiguinha satirizando o Spínola e a política "Por uma Guiné Melhor". 

A letra é uma paródia da uma canção tradicional da Ilha da Terceira, Açores, popularizada por Zeca Afonso (Os Bravos, in "Baladas e Canções", LP, 1964).

Para conhecimento dos nossos leitores, e enriquecimento de "O Cancioneiro da Nosssa Guerra", e com a devida vénia aos "Leões de Madina Mandinga" (e aos seus editores), tomamos a liberdade de reproduzir aqui a letra da "Spinolândia".  

Há outros versos que vale a pena ler, na secção "Cancioneiro", uma boa parte deles recolhidos pelo  António Costa, ex-fur mil. Como ele próprio diz, "na nossa casa de Madina Mandinga, durante o dia e parte da noite, sempre o nosso amigo Gaipo e a sua viola a animar as tropas com as suas canções. Obrigado, furriel Gaipo"(, de seu nome completo, José Graça Gaipo, a viver em Ponta Delgada). 

Não sabemos quem é o autor da letra. Nem muito menos a data, mas pelas referências (Gadamael, ataque a Bissau, foguetões, Santo António de Bissau), deverá ser de meados de 1973, quando o género António Spínola ainda era  o com-chefe e governadot-geral.

Spinolândia

Eu fui à Spinolândia,
Bravo, meu bem,
Pra ver se embravecia (bis),
Cada vez fiquei mais manso,
Bravo, meu bem,
Com os tiros que lá ouvia (bis).

A malta do comechefe,
Bravo, meu bem,
Não conhece Gadamael (bis),
Quando atacaram Bissau,
Bravo, meu bem,
Esgotaram o papel (bis).

Santo António de Bissau,
Bravo, meu bem,
De todos o mais casmurro (bis),
Quer do preto fazer branco,
Bravo, meu bem,
E do branco fazer burro (bis).

Qualquer pobre de Bissau,
Bravo, meu bem,
Daqueles com pouca roupa (bis),
Não está livre de apanhar,
Bravo, meu bem,
Com um foguetão na sopa (bis).

[ Revisão / fixação  de texto: LG  ]


Recorde-se, entretanto,  que o 1º sargento desta companhia era o nosso saudoso amigo e camarada Fern
ando Brito (1932-2014), que ainda entrou pelo seu pé na nossa Tabanca Grande, com o posto de major SGE, reformado... Era um grande fadista e foi um grande pai e avô para o nosso amigo Cláudio Brito... Fez duas comissões na Guiné, como 1º srgt, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C / BART 6523 (Madina Mandinga, 1973/74), Era carinhosamente tratado pelos "leões de Madina Mandinga" por Ti Brito.


Ficha de unidade > Batalhão de Artilharia 6523/73

Identificação: BArt 6523/73
Unidade Mob: RAL 5 - Penafiel
Cmdt: TCor Inf João Damas Vicente
Maj Art Óscar José Castelo da Silva
2.° Cmdt: Maj Art Óscar José Castelo da Silva
Cap Art Carlos Alberto Ramalhete
OInfOp/Adj: Cap Art Carlos Alberto Ramalhete (acumulava)
Cmdts Comp: CCS: Cap SGE José Manuel Rijo | 1ª Comp: Cap Mil Inf José Luís Borges Rodrigues  (Lisboa,  1948 - Santarém, 2019) |2ª Comp: Cap Mil Inf Franquelim Bartolomeu Viçoso Vaz | 3ª Comp: Cap Mil Inf Rui Alberto Nunes dos Santos| Cap Mil Inf António Francisco Dias Vieira
Divisa: "Honra e Dever"
Partida: Embarque em 06Ju173; desembarque em 13Ju173 ! Regresso: Embarque em 07Set74

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, com as suas companhias, de 16Jul73 a 12Ag073, no CMl, em Cumeré, seguiu, em 13Ag073, para o sector de Nova Lamego, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com o BCav 3854.

Em 08Set73, assumiu a responsabilidade do Sector L3, com sede em Nova Lamego e abrangendo os subsectores de Madina Mandinga, Cabuca, Canjadude e Nova Lamego

Em 20Ju174, o subsector de Piche foi integrado na sua zona de acção, após desactivação do Sector L4. As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão até à extinção do sector.

Desenvolveu intensa actividade operacional, com realização de patrulhamentos, emboscadas, escoltas a colunas e segurança e protecção dos itinerários e das populações. As suas forças intervieram e colaboraram em acções de reacção a flagelações e ataques aos aquartelamentos e aldeamentos e na promoção socioeconómica das populações.

Comandou e coordenou a execução do plano de retracção do dispositivo e a desactivação e entrega dos aquartelamentos ao PAIGC, sucessivamente efectuadas nos subsectores de Madina Mandinga e Cabuca, em 20Ag074 e de Piche, em 29Ag074.

O comando do batalhão recolheu a Bissau em 29Ag074, a fim de aguardar o embarque de regresso, mantendo-se um pelotão da CCS em Nova Lamego até  sua desactivação e entrega ao PAIGC, em 04Set74.


***
A 1ª Comp seguiu em 13Ag073 para Madina Mandinga, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCav 3406. Em 08Set73, assumiu a responsabilidade do subsector de Madina Mandinga, com um pelotão no destacamento de Dara.

Com a retracção do dispositivo, efectuou a desactivação e entregaao PAIGC do aquartelamento de Madina Mandinga em 20Ag074 e do destacamento de Dara em 27Ag074, tendo seguido para o subsector de Bambadinca, na zona de acção do BCaç 4616/73, onde substituíu a CCSIBCaç 4616/73.

Em 02Set74 foi substituída pela 2ª Comp/BCaç 4616/73 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

***

A 2ª Comp seguiu em 13Ag073 para Cabuca, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCav 3404.

Em 08Set73, assumiu a responsabilidade do subsector de Cabuca, cedendo um pelotão para reforço da guarnição de Madina Mandinga.

Em 20Ag074, efectuou a desactivação e entrega do aquartelamento de Cabuca ao PAIGC e seguiu para o subsector de Xime, na zona de acção do BCaç 4616/73, a fim de substituir transitoriamente a CCaç 12, que fora entretanto extinta e onde se manteve até ser rendida pela 2ª Comp/BCaç 4518/73 em 31Ago74, tendo então seguido para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

***
A 3ª  Comp seguiu em l3Ago73, para Nova Lamego, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCav 3405.

 Em 08Set73, assumiu a responsabilidade do subsector de Nova Lamego, cm um pelotão destacado em Cansissé.

Em 27Ago74, foi rendida pela 1ª Comp/BCaç 4518/73 e seguiu em  29Ag074 para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações -  Tem História da Unidade (Caixa n." 122 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 248/ 249.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12747: In Memoriam (180): Fernando Brito (1932-2014), major art ref, ex-1º srgt, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74)

(**) Último poste da série > 16 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20352: O Cancioneiro da Nossa Guerra (12): "Até p'ró ano outra vez", um "faduncho" do Francisco Santos (ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65; poeta popular de Sarilhos Grandes, Montijo): "Mas nós cá vamos passando, /As lembranças vão ficando, / Conservando alguma fé; / Nem que seja de bengala, / Eu reúno em qualquer sala / P'ra relembrar a Guiné"...

Guiné 61/74 - P23208: Lembrete (37): Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71), Caldas da Rainha, 28/5/2022: há 30 presenças confirmadas, das quais 10 do João Crisóstomo e outros camaradas da CCAÇ 1439 (José Fernando Almeida, ex-fur mil trms, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, 1969/71)


José Fernando Almeida, o organizador do 26º Convivio,
ex-fur mil trms, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71)

Guiné - Bambadinca 1968-1971

CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12;
Pel Caç Nat 52, 54 e 63;
Pel Mort 22106 e 2268;
Pel Rec Daimler 2046 e 2206;
e outros



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > c. 1969/70 > Quartel > A famosa rampa de acesso ao quartel e posto administrativo, do lado leste... Daqui saía-se para o rio  Geba e porto fluvial (ao fundo, à esquerda) ou para a estrada (alcatroada,  Bambadinca-Bafatá). 

Bambadinca pertencia ao regulado de Badora, do outro lado do rio já era o regulado do Cuor (no nosso tempo, confinado a Finete e Missirá)... Bambadinca ficava num promontório. Esta rampa de acesso, íngreme, prestava-se a acidentes. Recorde-se um deles que ia vitimando o major Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro, 2º cmdt do BCAÇ 2852, o qual ia morrendo esmagado no seu jipe por um desprendimento de cibes da viatura pesada que seguia à frente... Tinha por alcunha o "major elétrico". 

Belíssima foto do ex-fur mil op esp da CCAÇ 12 (1969/71) e nosso colaborador permanente, Humberto Reis.

Foto (e legenda) © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Fernando Almeida, organizador do 26º Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71)

Data - quarta feira, 27 abr 2022, 20:35 
Assunto - 26º Convívio de Bambadinca

Boa noite,  Luís

Como tinha combinado contigo, estou a fazer o ponto da situação do Convívio (*).

Das oitenta e uma cartas enviadas,  só uma veio devolvida e por endereço insuficiente. Através do Manuel S. Almeida (, de  Fragosela de Cima, Viseu), ao procurar o endereço correto, soube que o João Dias Vieira (, residente em Vil de Soito, Viseu)  fora admitido num lar por motivos de saúde.

Enviados trinta e seis emails. Presenças confirmadas trinta (30), destas trinta, dez (10) são da CCaç 1439. Pendentes devido a Operações, Convalescentes , doentes: Oito (8)

Como a data limite é o dia 18 de Maio, a partir do dia 5 de Maio , vou efectuar contactos telefónicos. 

Também nesse dia vou contactar o João Crisóstomo, da CCAÇ 1439  (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), que está em Portugal e que quer juntar o seu pessoal para participar também no nosso convívio.

Um abraço
Fernando Almeida (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 17 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23087: Convívios (921): XXVI Convívio do Pessoal de Bambadinca, 1968/71: Caldas da Rainha, sábado, 28 de maio de 2022 (José Fernando Almeida, ex-fur mil trms, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, 1969/71)

(**) Último poste da série > 16 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22636: Lembrete (36): Convite para a apresentação do livro "Nunca Digas Adeus às Armas (Os primeiros anos da Guerra da Guiné)", por António dos Santos Alberto Andrade e Mário Beja Santos, dia 18 de Outubro de 2021, pelas 18 horas, no Pálácio da Independência - Largo São Domingos, 11 - Lisboa

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23207: Historiografia da presença portuguesa em África (314): Anais do Conselho Ultramarino: Curiosidades da Guiné (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Maio de 2021:

Queridos amigos,
O Conselho Ultramarino, entre o reinado de Filipe II de Espanha e o fim do Império em 1974 teve uma existência intermitente, nem sempre valorizado e nem sempre com as mesmas atribuições. O período em análise corresponde à ressuscitação que lhe deu Fontes Pereira de Melo e durou poucas décadas. É como que um Diário da República do império colonial. Os membros do Conselho Ultramarino funcionou dentro do Paço e têm a seu cargo o expediente volumoso de acordo com funções alargadas que envolvem emolumentos, condecorações, nomeações, pedidos de informação da mais variada índole, etc. Do primeiro volume apreciado a Guiné tem um pálido registo, que aqui se transcreve, convém mencionar que ainda estamos um tanto longe da autonomização de Cabo Verde, pelo que em muitos casos é necessário pesquisar em Cabo Verde o que tem a ver com a Guiné. Seguramente que estes apontamentos não passam de uma curiosidade se não forem compulsados com dados mais substanciais. Será o caso da "admoestação" que recaiu sobre Honório Pereira Barreto por este ter proferido uma crise contundente que em Lisboa não foi muito bem apreciada...

Um abraço do
Mário



Anais do Conselho Ultramarino: Curiosidades da Guiné (1)

Mário Beja Santos

Perguntará o leitor que importância se pode atribuir às matérias constantes nestes anais. A primeira parte da resposta passa por atribuir importância ao Conselho Ultramarino, um órgão que iniciou a sua vida em tempos de Filipe II, teve interrupções, e mesmo com outras designações chegou a abril de 1974. As obras que estão em consulta na Biblioteca da Sociedade de Geografia referem-se concretamente ao período encetado na governação de Fontes Pereira de Melo e que irá durar até à década seguinte. Iniciei a consulta na série 1.ª, vai de fevereiro de 1854 a dezembro de 1858, a edição é da Imprensa Nacional, 1867. Tem-se a sensação quando se folheia estes anais que têm qualquer coisa a ver com o Diário da República colonial, o Conselho Ultramarino funcionava junto do Paço, refere nomeações, condecorações, composição de comissões, autorização de despesas… O que significa que o leitor encontra pontualmente informações que carecem de contextualização e justaposição com outros documentos. Logo em 1854, e assinado pelo Visconde da Atouguia, temos a nomeação de uma comissão para regular o serviço de cortes de madeira em Bissau e Cacheu, nomeiam-se o Capitão-Tenente Roberto Teodorico da Costa e Silva, que presidiria, o 1.º Tenente da Armada José Francisco Schultz e o 2.º Tenente da mesma Armada Álvaro José de Sousa Soares d’Andréa, para proceder à confeção de um regulamento para os referidos cortes de madeira. Mais adiante, em agosto de 1855, a propósito dos ofícios enviados a Sua Majestade pelo Governador-geral de Cabo Verde que acompanha uma exposição de negociantes de Bissau que protestam contra o exclusivo do comércio do sal e da navegação do rio Corubal, decidido por aquele governador-geral. E toma-se a seguinte decisão: “Vendo-se de todos estes documentos que o mesmo governador-geral, tendo em consideração o miserável estado em que se achava a Praça de Bissau, e vendo-se ao mesmo tendo falto dos necessários recursos para acudir com as obras e outras previdências que as circunstâncias urgentemente reclamavam, estabelecera, com o voto unânime do conselho do governo, o exclusivo do comércio do sal e o da navegação do rio Corubal, para com o produto da arrematação destes exclusivos ocorrer às necessidades daquela praça…”. Ora Sua Majestade desejava que a liberdade do comércio dos súbitos portugueses só tivesse as limitações indispensavelmente necessárias, e assim, obtido o parecer do conselho ultramarino, mandava anular a decisão do governador, havendo que providenciar por outra forma a conclusão das obras da praça de Bissau.

Não menos curioso é o parecer do Conselho Ultramarino com data de novembro de 1853 a propósito do aumento de vencimentos para os oficiais e praças de pré que o Governador-Geral de Cabo Verde destacar para a Guiné. Reconhecem-se as dificuldades de se renderam os destacamentos por falta de embarcações e é patente a repugnância que as praças de pré e oficiais da província de Cabo Verde têm àquele serviço, pela insalubridade do clima guineense, “pelo amor à sua família e pátria, e pela diferença de preço nos géneros de que estão habituados a alimentar-se, e nos objetos de vestuário”. O parecer do Conselho é de que seja aprovada a proposta do Governador-Geral de Cabo Verde para os referidos aumentos.

E é com satisfação que ao folhear estes anais se encontra a informação do Visconde de Atouguia de que acabam de chegar a Lisboa, pela fragata D. Fernando e brigue Moçambique seis mancebos cujos nomes constam da relação inclusa, vindos de Angola e da Guiné Portuguesa, e mandados pelos respetivos governadores para serem educados e instruídos para a vida eclesiástica no Seminário Patriarcal de Santarém. E ficamos a saber que um dos três mancebos era Marcelino Marques de Barros, que prestará à Guiné relevantes serviços no campo da investigação e da missionação, será mesmo Vigário-Geral da Guiné e correspondente da Sociedade de Geografia de Lisboa. Esta informação do Visconde de Atouguia foi enviada para a Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar e Cardeal Patriarca de Lisboa em 20 de fevereiro de 1856.

E voltamos às madeiras, veja-se o que Sua Majestade pretende apurar: “Constando que de Serra Leoa, especialmente, se exportam todos os anos para Inglaterra muitos carregamentos de mogno, produzido nas consideráveis matas que também consta existirem em toda a Senegâmbia, pede informações se nos territórios dependentes dos dois ditos governos, Bissau e Cacheu, existem matas da dita madeira; se existindo, se faz dela exportação e para onde; se as ditas matas estão próximas do litoral ou se estão distantes que a sua condução influa sensivelmente no custo; e quanto poderá custar aproximadamente uma tonelada da dita madeira posta a bordo”. E veja-se como finaliza a protensão régia: “Por esta ocasião manda Sua Majestade que o sobredito Governador-Geral remeta ao Conselho Ultramarino uma relação de todas as madeiras, incluindo a de que se trata, próprias para construção e marcenaria, conhecidas na Guiné Portuguesa, contendo os nomes, as localidades onde se encontram, se há ou não abundância delas, o custo, e se há ou não dificuldade em transportá-las das matas para o litoral”. Estas informações são datadas de setembro de 1854.

A próxima decisão, e já temos a assinar a documentação Sá da Bandeira, tem a ver com a higiene e saúde pública, a limpeza do poço de Pidjiquiti, aonde os navios faziam aguada e usado pelos habitantes da povoação, estava cheio de imundícies e em abandono, era imperativo proceder à limpeza do dito poço, o governador-geral poderia utilizar a contribuição de licenças. A data é de 13 de julho de 1857. Segue-se um reparo a um protesto de Honório Pereira Barreto, este mostrava-se increpado contra recente legislação sobre assuntos de Fazenda, havia de advertir o Governador da Guiné do gravíssimo erro que cometera, competindo ao governador-geral corrigir a falta cometida por Honório Pereira Barreto. A data é de 21 de dezembro de 1857.

Temos seguidamente a formação de mancebos em Cirurgia e Farmácia. O Governador da Guiné Portuguesa propunha que se mandassem estudar no reino alguns mancebos da Guiné para assim haver mais certeza de que não faltassem os recursos para o tratamento dos doentes. E assim se decidia informar ao dito Governador-Geral de Cabo Verde que se estava a gastar perto de 80 mil reis com alunos mandados vir do Ultramar, mas que se tiravam poucos resultados, “sendo mui poucos os que têm chegado a concluir os estudos, e ainda menos os que têm voltado a África, que nenhuma confiança deve haver no meio que se lembra para se obter aquele fim. A data é 7 de janeiro de 1858".

E por fim vamos falar dos Balantas e Felupes. Recebera Sua Majestade ofícios informando que os Felupes do Bote, vizinhos de Cacheu, haviam roubado uma canoa portuguesa mas que o governador da Guiné lhe participara que tinha meios para punir tal facto; noutro ofício dava-se conta de que o régulo de Intula tinha pedido ao governador da Guiné que o protegesse contra as vexações dos Balantas que lhe faziam roubos, o governador da Guiné exigia, como condição prévia para atuar, que o régulo se declarasse sujeito ao reino português, este recusou-se imediatamente a aceitar tal condição. “Atendendo Sua Majestade a que estes factos mostram a falta de respeito com que ao menos alguns vizinhos dos nossos estabelecimentos da Guiné tratam os súbditos portugueses, e a falta de consideração que têm às autoridades portuguesas, recomenda ao novo governador-geral de Cabo Verde que preste atenção aos negócios da Guiné, estudando os meios de fazer com que os súbditos e a propriedade portuguesa sejam devidamente respeitados pelos povos da Guiné, e empregue para este fim os meios convenientes, de modo que o comércio português na mesma região possa desenvolver-se com a necessária segurança”. A data é de 27 de fevereiro de 1858, e assina Sá da Bandeira.

(continua)


Guiné Portuguesa, mapa do século XIX, propriedade do Arquivo Histórico Ultramarino
Bissau, José Luís de Braun, 1780, propriedade do Arquivo Histórico Ultramarino
Rio Grande de Bissau, Planta da foz, desde a ponta de Bambe até à ponta de Balantas, com o ilhéu dos Pássaros, ilha de Bissau e Ilhéu do Rei, José Luís de Braun, 1778, propriedade do Arquivo Histórico Ultramarino
____________

Nota do editor

Último poste da série de 20 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23183: Historiografia da presença portuguesa em África (313): Informações da Guiné na Memória do Tenente Bernardino de Andrade (1777) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23206: 18º aniversário do nosso blogue (7): "O senhor vai responder-me com toda a verdade: era o meu filho que vinha naquela urna de chumbo?" (Belmiro Tavares, ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66)



Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66)



Capa do livro "A nossa luta: dois anos de muita luta: Guiné 1964/66, CCAÇ 675)", de Belmiro Tavares e José Eduardo Reis de Oliveira, edição de autor, il.. Lisboa, 2017, 606 pp. [Um exemplar autografado foi oferecido ao nosso editor, com a seguinte dedicatória; "Ao caro amigo Luís Graça, com enorme amizade e carinho. Lisboa, 1/2/2021, Belmiro Tavares".]


I. Aqui vai, em republicação (*), c0m adaptações, uma das muitas (e boas) histórias, daquelas que nos tocam fundo,  contadas pelo Belmiro Tavares , ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66.

O Belmiro Tavares foi  Prémio Governador da Guiné (1966), é membro nº 390, da nossa Tabanca Grande, desde 1/11/2009; é empresário hoteleiro em Lisboa: é autor da série "Histórias e Memórias de Belmiro Tavares", de que se publicaram 47 postes ao longo de mais de 4 anos, entre novembro de 2009 e maio de 2014. 

É também autor (em parceria com o nosso saudoso JERO, acrónimo de  José Eduardo Reis de Oliveira, 1940-20221) do livro "A nossa luta: dois anos de muita luta: Guiné 1964/66, CCAÇ 675" ( edição de autor, il.. Lisboa, 2017, 606 pp.) (cuja capa se reproduz acima).

Este poste é  uma tripla homenagem ao Belmiro Tavares, que hoje faz anos; ao JERO, que nos deixou há um ano atrás, vítima de Covid-19  (em 27 de janeiro de 2021, iria fazer 82 anos se fosse vivo, em 4 do corrente); e ao nosso blogue, que fez 18 anos em 23 do corrente, o blogue que nos tem permitido, aos amigos e camaradas da Guiné,  partilhar memórias e afectos.(**)

Honremos também a memória do infortunado fur mil Álvaro Manuel Vilhena Mesquita,  natural de Vila Nova de Famalicão,  morto por uma mina A/C em 28 de dezembro de 1964, no subsetor de Binta.



Vila Nova de Famalicao > Cemitério local  > 8 de julho de 2010 > O Belmiro Tavares e o JERO junto campa do Álvaro Manuel Vilhena Mesquita.


Cortesia do blogue JERO > 12 de julho de 2010 > M 276 - SENTIMENTOS / PARTE UM

(...) O Álvaro morreu na Guerra do Ultramar. Morto em combate em 28 de Dezembro de 1964 na “quadrícula” da sua Companhia na região de Caurbá, a poucos Kms. do aquartelamento de Binta, Norte da Guiné. Nessa altura eu estava por perto pois pertencíamos à mesma “família”. A Companhia de Caçadores 675, então no mato desde Julho de 1964. Ele regressou à sua terra natal para ser sepultado nos primeiros dias de Dezembro de 1965.

Passaram desde essa data fatídica cerca de quarentas e cinco anos. Na minha memória , e ao longo de toda uma vida , o Álvaro continuou – continua – a ser o meu “irmão” dilecto dos tempos da guerra.

O seu irmão Francisco, que conheci fugazmente muitos anos depois da morte do Álvaro, num encontro casual no Hotel D. Carlos, em Lisboa, faleceu agora, com 69 anos, em 1 de Julho corrente no Hospital de Cochin, em París.

Estive presente no seu funeral , na terra da sua naturalidade, em 8 de Julho de 2010. Estive no seu funeral por diversas ordens de razões. Em preito à sua memória, em homenagem à família Vilhena Mesquita e em nome da minha CCaç. 675, onde militou o seu e meu “irmão” Álvaro (...) 


"O senhor vai responder-me com toda a verdade:
 era o meu filho que vinha naquela urna de chumbo?" 

por Belmiro Tavares 


1. Como alferes miliciano estive dois anos na Guiné, algures a norte do Cacheu, mais precisamente em Binta, integrado na CCaç 675 uma companhia extraordinária (foi lá e, mais de 40 anos depois, continua a sê-lo cá) que deu “água pela barba a muita gente”. 

O nosso comandante era o Capitão Tomé Pinto, hoje Tenente General, um militar fora de série, autenticamente um homem doutra galáxia. Podemos descrevê-lo parafraseando o poeta: “Homem dum só parecer, dum só rosto e duma só fé... d’antes quebrar que torcer”...! É o Homem que sabe ser militar (de que maneira o sabe!) e o Militar que não deixa de ser Homem, qualidades que juntas se acham raramente.

Entre os graduados da companhia havia um furriel miliciano, natural de V. N. Famalicão, de seu nome Álvaro Manuel Vilhena Mesquita o qual é o epicentro dos factos que aqui vão ser contados.

Em fins de Dezembro de 1964 o Mesquita estava de “baixa”; aguardava transporte para o HMP 241 em Bissau.

No dia 28 desse mês, dois grupos de combate (pelotão com morteiro, Breda e LGF – lança granadas foguete, vulgo bazuca) iam fazer uma patrulha para além do limite oeste da nossa zona na margem direita do rio de Buborim, um afluente do Cacheu. O Mesquita pertencia ao 1.º Gr Comb mas estava inoperacional.

A companhia à qual aquela zona pertencia e tinha a incumbência de a patrulhar, estava sediada em Bigene; para ali chegar, teria de passar pela tristemente célebre base de Sambuiá (um mito de inexpugnabilidade que a CCaç 675 se encarregou de fazer desaparecer) que era a base inimiga mais forte do norte da Guiné.

O nosso Capitão decidiu estabelecer no “terreno do vizinho” aquilo a que se chama “uma zona tampão”. Pretendia-se ter o inimigo não só fora da nossa zona mas também bem afastado. Aliás a CCaç 675, dentro da mesma estratégia foi a única companhia que, entre Junho de 1964 e Abril de 1966, “bateu” a Península de Sambuiá como se de “passeio” se tratasse... ou quase.

Nota: aconselhamos a leitura do Cap 26 do livro Golpes de Mão’s, de José Eduardo Reia Oliveira, Fur Mil Enf da CCaç 675. [Foto ca capa, à esquerda]

Voltemos aos carris! Os dois Gr Comb seguiram de viatura durante cerca de 12 km. Quanto se apearam e partiram para o cumprimento da missão, a segurança das viaturas passou a ser feita por alguns (poucos) soldados europeus, alguns soldados africanos e uns tantos milícias.

Entre os militares europeus havia doentes e feridos ligeiros que não necessitavam de cama para se restabelecer. Entre os doentes “leves” estava o fur Vilhena Mesquita, pois a sua doença – não sei qual - não o impedia de andar de camuflado e armado em cima duma viatura. Ele próprio se apresentou voluntariamente para tomar parte na segurança das viaturas. Um alferes comandava esta escolta muito heterogénea, como se depreende.

Quando os dois Gr Comb regressaram às viaturas, iniciou-se a viagem de volta em direcção a Binta. Alguns quilómetros à frente ouviu-se um rebentamento enorme: uma mina anti-carro explodiu estrondosamente debaixo da roda direita traseira, duma das viaturas. Por cima dessa roda seguia o malogrado Mesquita que naquele momento abandonou o mundo dos vivos.

Nota: ver página 181 e seguintes do livro atrás citado.

A primeira viatura era uma GMC e a mina rebentou na roda de trás da 2.ª viatura, um Unimog, o que nos levou a crer que se trataria duma mina telecomandada, o que seria numa novidade na actuação do inimigo.

Era o nosso segundo morto e pela 2.ª vez custeámos a urna própria (de chumbo) para que a família do nosso companheiro pudesse fazer-lhe um funeral condigno e “com o corpo presente”. Fizemos o mesmo também ao nosso 3.º morto, o malogrado soldado Nascimento.

Mais uma vez nestas situações a CCaç 675 foi ímpar; talvez tenham sido poucas as unidades - ou talvez nenhuma – a proceder deste modo... à maneira da CCaç 675.

Neste caso não temos certamente um ”suicida altruísta” mas na verdade o Mesquita – que a terra lhe seja leve – partiu voluntariamente para um “encontro marcado com a morte”.


2. O nosso capitão informou dolorosa e comovidamente os pais do Mesquita sobre o trágico acontecimento.

Eles também receberam, à posteriori, o tal “telegrama seco, brutal, frio, impessoal” a informar que a urna com os restos mortais de seu filho se encontrava no D.G.A. (Depósito Geral de Adidos) na Calçada da Ajuda, [em Lisboa]. 

[Na foto, à esquerda, o Mesquita, de camuflado, na Guiné, Binta, 1964].

Os familiares enlutados deslocam-se a Lisboa com a Agência Funerária; entram na Unidade Militar, o pai contacta o graduado de serviço, um ordenança é mandado indicar-lhe o local onde se encontra a urna. Havia várias; O soldado procura pelo nome e informa com toda clareza, sem pestanejar:

- É esta! Pode levar!

Mais “seco, brutal, frio, impessoal” nem o telegrama. Só faltou mandar embrulhar!

Devemos, apesar de tudo, ter em conta que se tratava dum soldado talvez pouco letrado, talvez mesmo analfabeto, sem formação nem preparação para tal e que não tinha vivido os horrores da guerra. Não terá sido ele de certeza o único culpado nem até talvez o maior culpado.

Na tropa, naquela época, todos tínhamos de ser “pau para toda a colher” – frequentemente seríamos pau tosco,... demasiado tosco até... Naquela época, na tropa de cá, quantos soldados haveria preparados para informar cabalmente e com humanidade os familiares dos nossos mortos em combate?!

Por cá, naquela época, quem se apercebia e sentia por dentro os pesadelos da guerra? – Os pais, os irmãos, os amigos íntimos dos combatentes e poucos mais! A guerra travava-se muito longe... lá noutro continente.

3. Os pais do Mesquita terão sofrido – sofreram mesmo – a bom sofrer aquela morte absurda (como absurdas são todas as mortes da guerra) e antecipada de seu filho. Eles não eram diferentes dos outros pais! Também eles eram de carne e osso e tinham dentro do peito um coração que sangrou... sangrou muito! Disso temos a certeza!

Naquela altura chegou a Famalicão um combatente vindo da Guiné (creio que seria um cabo) que tinha acabado a comissão. Como muitos combatentes, especialmente os da “guerra de Bissau” ou do “ar condicionado” sabiam tudo à cerca de tudo sem saberem nada de nada e para se impor aos concidadãos inventavam estórias por vezes sem sentido e sem ponta de verdade.

O Pai do Mesquita, profundamente fragilizado pela dor que o atormentava, teve o azar de encontrar (não sabemos como nem por quê) um autêntico charlatão que lhe fez uma narração rocambolesca, malévola e mentirosa dos factos. Inventou e deturpou! Chamando o boi pelo nome: “mentiroso sem escrúpulos”.

 [Na foto, à esquerda, o Fur Mil Mesquita, ao lado do Cap Tomé Pinto].

Aproveitou a depressão emocional daquele Pai com o coração desfeito para dar asas à sua imaginação. O cabo em questão terá eventualmente contactado com o Mesquita em Maio ou Junho de 1964 em Bissau.

Este hipotético encontro – se realmente aconteceu – ocorreu antes de irmos para o mato, ou seja seis meses antes da fatíidica morte do Mesquita. Assim sendo o tal cabo não podia saber o quer que fosse à cerca do que, em 28 de Dezembro de 1964, aconteceu nos arredores de Binta.

Este pobre pai acabrunhado e desesperado pela morte dum filho querido, de “mal com a vida” até pela maneira como foi tratado no DGA e por outros motivos que nos ultrapassam... Por tudo isto e talvez muito mais, o Pai do Mesquita, apesar de homem de letras, tornou-se terreno fértil para acreditar na mentira e tê-la-á publicado no Jornal de Famalicão de que era Director e creio que proprietário.

Até onde um coração desesperado, esfrangalhado nos pode conduzir!...

A verdade nua e crua dos factos terá no entanto ficado por contar aos amigos do nosso companheiro Mesquita.

Mais uma vez... que a terra lhe seja leve.


4. Em 1967, creio que em Abril, o companheiro e camarada JERO e o autor destas linhas deslocámo-nos a Valença para assistir ao casamento dum dos seus furrieis.

Por mero acaso (ou propositadamente?) pernoitámos em Famalicão. De manhã pedimos a um taxista que nos conduzisse ao cemitério. Não encontrámos a sepultura do Mesquita. 

[Foto à esquerda,  o nome do Mesquita, inscrito no mural dos mortos do Ultramar, Forte do Bom Sucesso, Belém , Lisboa].

Pedimos apoio ao taxista que logo nos informou que o Mesquita estava sepultado no cemitério novo e para lá nos levou. Lá estava o sepulcro do Mesquita, bem diferente – para melhor, muito melhor – das demais sepulturas. Lá encontrámos, cravada no mármore a lápide de bronze que os seus companheiros da CCaç 675 lá fizeram chegar, perpetuando a camaradagem e aquela amizade pura, simples, desinteressada que sempre nos uniu e, incorruptível, continua a enlaçar-nos.

Por motivos que não são aqui chamados, tínhamos dúvidas se íamos ou não visitar os pais do Mesquita. Por um lado entendíamos que devíamos visitá-los; por outro sentíamos que não tínhamos o direito de reabrir ou mesmo avivar aquela ferida no peito e na alma daqueles pais que sentiram o filho partir tão novo, tão na flor da idade.

Não estamos (raramente estamos) preparados psicologicamente para ver os nossos pais partir (e isso é o normal); mas um filho partir antes dos pais é a inversão total das leis da vida! Daí a dor ser mais intensa, mais marcante, mais profunda, mais feroz!

A atitude do taxista foi decisiva e nós fomos visitar os pais do nosso companheiro. A mãe apareceu logo. Toda de preto vestida, rosto carregado de pesar, olhos plenos de tristeza, baços, penetrantes. Já tinham decorrido mais de dois anos sobre a morte do filho!...

Conversámos durante breves instantes. A senhora aproximou-se de mim, olhou-me bem por dentro, poisou nos meus ombros as suas mãos brancas de cera, pesadas como chumbo e disparou:

- O senhor vai responder-me com toda a verdade sobre o que vou perguntar-lhe?

Respondi afirmativamente e ela perguntou de chofre, ansiando pela resposta:

- Era o meu filho que vinha naquela urna?

Olhos nos olhos respondi sem vacilar (por quê vacilar se ia transmitir a mais pura das verdades?!) tentando levar um pouco de paz e tranquilidade àquela mãe desesperada, destroçada pela morte do seu filho e a dúvida que lhe mordia na alma.

- Pode ter a certeza absoluta que era o corpo do seu filho que vinha naquela urna; não podia haver troca!

- Mas morreram muitos juntamente com o meu filho! (versão do tal informador).

- Mesmo que assim fosse não podia haver troca; mas felizmente e infelizmente só morreu o seu filho; foi o nosso segundo morto naquele ano; houve também três feridos graves, é certo, e alguns feridos ligeiros mas só um morto.

- Fico-lhe eternamente grata porque me tirou um tremendo peso de cima! Todos os dias tenho ido rezar junto daquela sepultura mas essa dúvida terrível atordoava-me, dilacerava-me a alma; agora sei que vou rezar junto do meu filho pois fiquei com a certeza que ele está ali.

Houve mais umas palavras de circunstância e... apareceu o pai do Mesquita com ar de pessoa mais velha, acabrunhado, triste, cheio de dor de alma, parecia ter ouvido a nossa conversa. A dor pela morte do filho e a doença não perdoavam; cremos que sofria da doença de Parkinson, em estado bastante adiantado. Pouco falou ou nada para além dos cumprimentos. Pelo menos nada recordo... já lá vão 42 anos!

A nossa missão estava cumprida e o nosso dever também. Despedimo-nos e retomámos a viagem para Valença onde chegámos a meio do almoço mas satisfeitos connosco.

5. Desde Abril de 1974 trabalho no Hotel Dom Carlos Park em Lisboa – passe a publicidade. Um dia, em meados da década de 80, ouvi um recepcionista dizer que ia chegar ao hotel o Eng. Vilhena Mesquita. O nome era muito familiar; era impossível não ser parente próximo do nosso Mesquita.

Perguntei pela sua naturalidade mas só sabiam que era do Norte e tinha escritório em Paris. Pedi que me avisassem, logo que chegasse.

Quando o vi, tremi, fiquei atónito, estupefacto... parecia que estava ali à minha frente o Álvaro Mesquita; era apenas um irmão mais novo mas muito, muito parecido.

Apresentei-me, perguntei pelos pais - um deles, creio que a mãe, ainda era vivo – sabia que os tínhamos visitado. Os pais iam frequentemente visitá-lo em Espanha (Galiza) onde ele se deslocava vindo de Paris.

Depois duma longa conversa sobre a CCaç 675 (como não podia deixar de ser) contou-me as peripécias da sua curta passagem pela tropa.

A meio da recruta fez um requerimento a pedir para não ser mobilizado porque o seu irmão falecera na Guiné! Requerimento indeferido! O Mesquita deu o “salto”; “aterrou” em Paris; ali fundou uma empresa de construção civil, já de boa dimensão àquela data.

Após a revolução dita dos cravos vinha a Portugal com certa assiduidade. Casou com uma sobrinha do ex-ministro Bettencourt Rodrigues, o tal que indeferiu o requerimento.

A vida dá cada volta!...

Lisboa, terça feira, 24 de novembro de 2009

Belmiro Tavares 

[Fixação / revisão de texto / negritos e itálicos / título: L.G.]
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5336: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (1): Quatro Histórias com Mural ao Fundo

(**) ÚLtimo poste da série > 26 de abril de  2022  > Guiné 61/74 - P23201: 18º aniversário do nosso blogue (6): O enviado especial do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues, em 1972, no CTIG: uma "crónica imperfeita" em quatro artigos - Parte II: 29 de agosto de 1972: no mato com Spínola, "a simpatia como arma de guerra"

Guiné 61/74 - P23205: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (20): De Bolama até Bissau, de canoa, na véspera do 25 de Abril... que aqui ninguém sabe o que é ou o que foi...


Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > "Viagem de Bolama para Bissau de canoa: Foto da minha viagem esta tarde, das pessoas que iam á minha frente... para trás eram outros tantos". (*)

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Patricio Ribeiro, nosso colaborador permanente a partir de 25 de abril de 2022 (para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau), com data de segunda feira, 25/04/2022,  às 10:15, em resposta a um mail do dia anterior do nosso editor:



 Bom dia,

Luís, já enviei a minha foto ontem há noite.

Eu e o meu filho continuamos a dirigir a empresa na Guiné, procuramos estar um de cada vez em Bissau, nestes tempos difíceis de falta de trabalho...

Ele, trata dos assuntos técnicos e informáticos.nEu, como sou das velhas Escolas Industriais e com muitos anos de Africa, trato dos outros assuntos mais práticos, em que se tem que inventar todos os dias, para resolver os problemas no mato e dirigir os nossos técnicos e demais trabalhadores-

Os dois estamos na direção técnica da Impar Ld. Todos os dias trabalhamos com Bissau; estejamos onde estivermos em Portugal, Alemanha ou em Varela.

Não tenho qualidades para ser comentador. Vou enviando umas fotos com pequenos textos. Mss, como sabes, andamos por cá, temos que ter cuidado com o que dizemos, somos conhecidos por todos...

Hoje em Portugal é um dia importante. Mas aqui ninguem sabe nada do dia 25 de Abril e parece que tudo começou aqui...

É a vida, eu também estava em Luanda nesse dia, 25 de Abril de 1974-

Saude, para os que por cá ainda andamos á volta da vida.

Abraço

2. Mail enviado ao Patrício Ribeiro,  em 24/04/2022, pelo editor LG:

Obrigado, Patrício, pelas tuas fotos matinais (*). Entendo-as como uma "prendidinha" pelo nosso aniversário: como sabes o nosso blogue nasceu em 23/4/2004...e tu és já um "histórico", entrado logo no princípio de 2006. Temos18 anos, a idade da "maioridade" (o que na Net é quase sinónimo de "certidão de óbito")...
 
Ocasião que escolhi para, de acordo com o combinado,  te fazer "colaborador permanente para as questões de ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau"... Não precisas de mais títulos, muito menos o de "comendador" (que só o PRP te pode atribuir, e que eu acho que mereces)...

Manda-me uma foto tua, "atualizada", a que escolhi foi tirada em Orango, há já uns tempinhos... e onde tens um ar de turista de safari... Não te esqueças que passas a ter "obrigações acrescidas" na Tabanca Grande... Vou dar conhecimento aos nossos coeditores e demais colaboradores permanentes, atuais e passados.

Confirma se ainda és ou não o "diretor técnico" da tua empresa (a Impar Lda que tem feito o "milagre da luz" em tantas tabancas da GB), ou se já passaste essa pasta ao teu filho... Acrescenta tudo o mais que quiseres sobre o teu "currículum vitae"... E, já agora, se ainda continuas a ser "o pai dos tugas"... 

PS - Recordo também os nomes de outros antigos colaboradores permanentes do nosso blogue, três dos quais infelizmente já não estão estão aqui entre nós: Joaquim Mexia Alves, Jorge Cabral (1944-2021), José Manuel Matos Dinis (1948-2021), Miguel Pessoa, Torcato Mendonça (1944-2021).

Falta-nos arranjar mais dois nomes, para substituir o Cabral (questões jurídicas) e o Torcato (questões operacionais)... Fico aberto a sugestões... Já fiz um contacto exploratório, o Joaquim Pinto Carvalho, régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, advogado no ativo, podia ficar com o pelouro das questões jurídicas, éticas e deontológicas...
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Notas do editor:

(*) 28 de outubro de2021 > Guiné 61/74 - P22666: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (19): ilha de Soga, arquipélago dos Bijagós, junho de 2021: II (e última) Parte: Os fantasmas da Op Mar Verde (invasão de Conacri, em 22/11/1970)

(**) Vd. poste de 24 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23195: 18.º aniversário do nosso blogue (2): Bom dia, desde Bolama (Patrício Ribeiro, nosso colaborador permanente para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau)

Guiné 61/74 - P23204: Parabéns a você (2057): Belmiro Tavares, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66); Cor Inf DFA Ref Hugo Guerra, ex-Alf Mil Inf, CMDT dos Pel Caç Nat 55 e 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70) e Joaquim Costa, ex-Fur Mil API da CCAV 8351/72 (Cumbijã, 1972/74)



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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23194: Parabéns a você (2056): David Guimarães, ex-Fur Mil Art MA da CART 2716/BART 2917 (Xitole, 1970/72)