1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do
BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem rebuscada
nas suas memórias.
As minhas memórias de Gabu
Histórias e explanações sobre a existência de Gabu
Camaradas,
As zonas da Guiné pelas quais passámos têm obviamente
as suas histórias, as suas origens e, como é lógico, a sua respetiva evolução
ao longo dos tempos. Sabe-se que naquela antiga Província Ultramarina, hoje
País, se registam cerca de 40 etnias que se espalham pelas suas diversas
regiões e as explanações sobre a existência de Gabu atrai o mais singelo
camarada que por lá andou na procura de conhecimentos acerca dos seus
conteúdos, sendo o meu caso um exemplo acabado na procura
dessas compreensíveis ilustrações.
Assim sendo, viajo pela interioridade histórica de
Gabu, uma área que tive, em parte, a possibilidade em conhecer, retirando dela
reflexíveis opiniões, onde conheci alguns dos seus usos e costumes, mormente na
antiga cidade de Nova Lamego, onde visualizei alguns dos seus segredos que
levavam a elite militar ao êxtase, mormente aquando o momento era, por exemplo,
as noites do batuque ou outras festas locais, onde a fantasia das suas gentes
com as vestes garridas, ou o traje dos homens que vestiam vestes brancas até
aos pés, de entre outros momentos de enlevo que deliciavam o pessoal que fora
para ali levado, mas sem dó nem piedade.
Gabu é uma região onde proliferam as etnias fula, esta em larga maioria, e a mandiga. Por razões normais, assim o entendo, vamos hoje jornadear pelo seu interior.
Cherno Baldé, um homem estudioso da sua Guiné, onde a
terra vermelha ou o seu capim pintavam, com certeza, uma sumptuosa aguarela do
conhecido pintor Pablo Picasso, sendo tu guineense e conhecedor profundo das
origens do teu país, assim o entendo com merecida justiça dado que costumo ler
o que escreves aqui no nosso blogue, solicitava-te uma opinião sobre o tema que
abaixo exponho.
Lembro que este texto está inserido no meu nono livro
(11 já editados) e cujo título é “UM RANGER NA GUERRA COLONIAL GUINÉ-BISSAU
1973/1974 – MEMÓRIAS DE GABU”, uma obra lançada pelas Edições Colibri, Lisboa,
e que tem como editor Fernando Mão de Ferro.
Antiga Nova Lamego. Habitações palacianas de Gabu.
Denominada como cidade de Nova Lamego, sobretudo ao longo da guerra Colonial, Gabu é uma região cujas fronteiras confinam a Norte com o Senegal, a Leste e a Sul com as regiões de Tombali e a Oeste com Bafatá.
Recorrendo a dados históricos contemplados na Wikipédia,
enciclopédia livre, Gabu foi a capital do Império Kaabu, um reino Mandinga que
existiu entre os anos de 1537 e 1867 e que se chamava Senegâmbia. Antes, tinha
sido uma província do Império Mali. No século XIX a etnia fula impôs a sua
supremacia na região e colocou ponto final no domínio de Kaabu.
Gabu é, igualmente, a pátria do chão fula (79,6%),
existindo ainda a etnia mandiga (14,2%) que se espalha por toda a zona, mas
numa menor escala. Foi-me dado a oportunidade em conhecer alguns dos princípios
éticos de uma população que prima pela honra de uma herança que assumem como um
indeclinável direito.
No plano territorial Gabu possui uma área de 9.150
km2 e tinha no ano de 2004 uma população que se estimava em 178.318 almas,
sendo, por isso, considerada uma das maiores, senão a maior, das regiões do
país.
Introduzo como credível uma nota de rodapé que após a
independência do país, Gabu recuperou o seu nome tradicional existindo,
atualmente, um pequeno núcleo urbano de inspiração colonial.
A população em movimento
Detentora de clima tropical, quente e húmido, a região de Gabu é composta por uma população em que a doutrina praticada aponta como alvo principal a religião muçulmana (77,1%).
As temperaturas rondam, normalmente, os 30/33 graus durante
o dia e os 18/23 à noite. As estações anuais definem-se como as das chuvas que
vai de maio a novembro e a de seca de dezembro a abril. Dezembro e janeiro são
considerados os mais frescos. Por outro lado, a economia assenta no comércio,
agricultura e pecuária.
Os usos e costumes das gentes de Gabu derrapam para
primórdios éticos, onde é visível uma hierarquia humana que não abdica do
erário transmitido de gerações para gerações.
Redijo este tema sobre um “estágio” obrigatório nessa
zona e na qual me foi proporcionado observar algo mais ao longo da minha
comissão em solo guineense, embora encurtada devido à Revolução de Abril de
1974, uma vez que fui um dos cerca de 45 mil militares dos três ramos das
Forças Armadas – Exército, Força Aérea e Marinha – quando por lá prestava
serviço. Conheci, portanto, a guerra e a paz e um pouco das vivências
tradicionais das suas gentes.
Uma rua
Aliás, num trivial conhecimento com os nativos que muito me estimulou, pessoas simples que viviam no interior de um adensado mato e entre as duas frentes da guerra, usufrui da possibilidade em conhecer alguns dos seus expeditos hábitos, assim como as memórias que nós antigos combatentes incessantemente recordaremos para sempre.
Vd. último poste desta série de 25 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24340: Memórias de Gabú (José Saúde) (97): Jovens da tabanca Rostos de inocência. Pedaços de vida de uma Guiné que conhecemos. Crianças. (José Saúde)