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sábado, 22 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10420: Meu pai, meu velho, meu camarada ( 32): Luís Henriques (1920-2012) evoca, em entrevista gravada em 10 de março de 2010, os sítios onde passou 26 meses, na ilha de São Vicente, em plena II Guerra Mundial: Mindelo, Lazareto, Matiota, São Pedro, Calhau...


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "No dia15 de Fevereiro de 1942, os três amigos íntimos [,da direita para a esquerda,] Luís Henriques, António F. Delgado e José Leonardo... os três bigodinhos querem é dizer que têm bigode... invisível!... [Eram três 1ºs cabos inseparáveis, todos da mesma companhia e


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Num dos funerais que cá se realizou , ao passar nas salinas (?) em São Vicente. 1942. Luis Henriques"




Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > Parte da festa do 1º de dezembro de 1941. Corrida de cavalos. Lazareto, São Vicente, Cabo Verde. Luis Henriques"


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Uma das partes mais brilhantes do programa da festa da restauração: a ginástica. No dia 1 de dezembro de 1941. Lazareto, São Vicente, Cabo Verde. Luis Henriques"


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Duas secções em diligência. No paiol, São Vicente, novembro de 1941. Luis Henriques".



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > RI 23 > Calhau > Janeiro de 1942 > Um amigo do Fundão, no verso pode ler-se a seguinte dedicatória: "Ofereço ao meu amigo [Luis Henriques] com verdadeira amizade, esta fotografia em Cabo Verde. Seu amigo António João Abel, 1º cabo nº 267/41, RI 15"... Ao fundo, vê-se o "jardinzinho", no Calhau,  a que o Luís Henriques se refere nesta entrevista abaixo...






Lourinhã, cemitério local, 22 de setembro de 2012 > A lápide de Luís Henriques, homenagem de seus filhos, netos e bisnetos.

Fotos: © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




Lourinhã > 20 de março de 2010 > Luís Henriques (1920-2012), ex-1º cabo  inf  nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão, Regimento de Infantaria nº 5 (Caldas da Rainha). Esteve no Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde, entre Julho de 1941 e Setembro de 1943. Neste episódio, evoca alguns dos sítios da ilha por onde passou ou que conheceu: Mindelo, Lazareto, Matiota,  São Pedro, Calhau, Monte Verde, Monte Cara... Na época ainda estava longe de ser mundialmente famosa a praia da Baía das Gatas... Fala também das duras condições de vida na illha, responsável por dezenas mortes entre o pessoal do RI 23...

Vídeo: 13' 02'. © Luís Graça (2012). Alojado no You Tube > Nhabijoes




Mapa da ilha de São Vicente (Cortesia de Wikipédia):   A azul, assinalam-se alguns dos topónimos aqui referidos na entrevista dada por Luís Henriques, em 10 março de 2010. Morreu em 8 de abril de 2012, sem nunca ter voltado a São Vicente, ilha de que falava com muito afeto...

(...) São Vicente (em crioulo: Sanvicente ou Soncente) é a segunda ilha mais populosa de Cabo Verde, localizada no grupo do Barlavento, a noroeste do arquipélago. O canal de São Vicente separa-a da vizinha ilha de Santo Antão. O Aeroporto Internacional Cesária Évora localiza-se a sul da cidade do Mindelo, o principal centro urbano da ilha e segunda maior cidade do país, onde se concentra grande parte da população da ilha que no seu todo conta com 74.136 habitantes. Mindelo é frequentemente considerada informalmente a capital cultural de Cabo Verde

A ilha, de aspecto seco e árido, tem na pesca, no turismo e na exploração do seu movimentado porto de mar ― o Porto Grande ― as suas principais fontes de receita.  São Vicente tem muitos pratos típicos, muitos deles tendo o marisco por base. Para além da célebre "cachupa", pontificam o "arroz de cabidela de marisco à Dadal" e o "guisado de percebes".

São Vicente é também conhecida pelo Festival de Música da Baía das Gatas ― realizado no primeiro fim-de-semana de lua cheia do mês de Agosto ― e por ser a terra natal da célebre cantora Cesária Évora " (...).


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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10284: Meu pai, meu velho, meu camarada (31): Expedicionários em Cabo Verde, mortos entre 1903 e 1946 e inumados nas ilhas de São Vicente e Sal (Lia Medina / José Martins)

terça-feira, 19 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11275: Meu pai, meu velho, meu camarada (37): Memórias do Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, no dia do pai...



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  1942 > "Depois da pareada, o desfile das viaturas. No dia 14 de agosto de 1942. Algumas das tantas autoambulâncias e outras viaturas. Mindelo. São Vicente". [Marca, modelo e ano... Alguém sabe ?]


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  1942 > Igreja de S. Vicente [, julgo chamar-se N. Sra. da Luz]. À esquerda, a Casa do Leão, na época uma importante casa comercial. Edifício hoje classificado e recuperado [LG].





Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1942 > "A antiga cãmara [municipal] de Mindelo que hoje é hospital de soldados. Julho de 1942. Luís Henriques". [É hoje de novo, o edifício da Câmara Municipal do Mindelo, LG]


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "Homenagem do Mindelo a Sacadura Cabral e Gago Coutinho. Cabos da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do R.I. 5. Luís Henriques" [`, último do direita, na primeira fila]. [Há quem confunda este monumento com a Àguia do Benfica...].


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1941 >"Lazareto em festa. 1/12/1941. Canto coral no dia da Restauração de Portugal. Lazareto. São Vicente. Luís Henriques".


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1941 > "Uma das partes mais brilhantes do programa da festa da restauração: a ginástica. No dia 1 de dezembro de 1941. Lazareto, São Vicente, Cabo Verde. Luis Henriques".


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1942 > "Um aspeto da missa campal no dia da nossa festa no Lazareto, 23 de julho de 1942. Luís Henriques"


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1941 > "Apresentando armas à Bandeira Nacional no dia da Restauração. 1/12/1941. Lazareto. Ao fundo, o Monte Cara. São Vicente. Cabo Verde. Luís Henriques"


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1942 > "Um número de ginástica, feito pela 2ª Companhia, que deixou boa impressão à assistência. Lazareto en festa, aos 23 de julho de 1942. Luis Henriques".



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1942 > "Um dos números representados pela minha companhia no dia da festa do aniversário da nossa chegada a São Vicente. 23/7/1942. Luís Henriques".


Lourinhã, estrada Lourinhã-Peniche, 7/9/1942... Uma fotografia com amigos, contemporâneos do m,eu pai... Nenhum deles está hoje vivo, se bem os reconheço. O segundo do lado esquerdo, é o tio, irmão do meu pai (dois anos mais novo) e meu saudoso padrinho, Domingos Henriques Severino. O quarto é o Carlos Fidalgo e o quinto o José Frade. A foto, enviada para Cabo Verde, está assinada pelo Domingos Severino.


1. Lembrando o meu saudoso pai, meu velho e meu camarada, Luís Henriques (1920-2012), e em homenagem a todos os nossos pais, no dia do pai, 19/3/2013.

[Foto à esquerda: Luís Henriques, em Candoz, c. 1988/89,  com o seu neto, João Graça. Foto de L.G.].

Luís Henriques (1920-2012) foi  1º cabo inf,   nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão, Regimento de Infantaria nº 5 (Caldas da Rainha), mais tarde integrado no RI 23. Esteve no Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde, entre Julho de 1941 e Setembro de 1943. Alguns dos sítios da ilha de que ele se recordava bem, até ao fim da sua vida:  Mindelo, Lazareto, Matiota, São Pedro, Calhau, Monte Verde, Monte Cara, Ribeira São João...  Falava sempre com muita ternura e saudade deste seu tempo de vida, apesar das duras condições em que viveu na ilha (26 meses, 4 dos quais hospitalizado). As fotos (e as legendas) que reproduzimos acima, são do seu álbum.

Fotos: © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

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Nota do editor:

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22470: Meu pai, meu velho, meu camarada (66): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte IV


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Lazareto [?] > Novembro de 1941 > "Em diligência no paiol [?], eu e 30 colegas. Eu, ao centro”… Pormenor do grupo: ao centro. Luís Henriques está assinalado com um retângulo a amarelo. Foto: arquivo da família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Num dos funerais que cá se realizou , ao passar nas salinas (?) em São Vicente. 1942. Luis Henriques" Foto: arquivo da família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > No dia 15 de Fevereiro de 1942, os três amigos íntimos [, da direita para a esquerda,] Luís Henriques, António F. Delgado e José Leonardo... os três bigodinhos, à revelia do RDM,  querem é dizer que têm bigode... discreto, à Clark Gable (1901-1960)... [Eram três 1ºs cabos inseparáveis, todos da mesma companhia, sendo o José Leonardo, da Serra do Calvo, Lourinhã: emigrará depois para a América onde irá faleceu]. Foto: arquivo da família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Duas secções [. Menos de um pelotão,] em diligência. No paiol, São Vicente, novembro de 1941. Luis Henriques". Foto: arquivo da família



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Duas secções [. Menos de um pelotão,] em diligência. No paiol, São Vicente, novembro de 1941. Luis Henriques". Pormenor da foto anterior: o 1º cabo inf Luís Henriques é o segundo a contar da direita para a esquerda. Foto: arquivo da família


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Novembro de 1941. "(Ao fundo, navio italiano) Para as refeições [ilegível] nos juntávamos todos os 30 [do pelotão]". [Ao lado esquerdo, um grupo de miúdos, à espera dos restos...]. Foto: arquivo de família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > 1941 > O primeiro Natal passado na ilha. Foto: arquivo de família.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


Lembrando, no centenário do seu nascimento,
 a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, 
o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte IV




Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > 1941 > Luís Henriques.
1º Cabo Inf da 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5. unidade mais tarde
integrada no RI 2.  Esteve no Mindelo entre julho de 1941 e setembro de 1943.  
Foto: arquivo de família.



4.  Figura muita popular e querida da sua terra natal, Lourinhã, e ainda ali  lembrado com saudade, nasceu há 101 anos,  em 19 de agosto de 1920 e morreu com 91 anos, os últimos cinco dos quais passados no Lar e Centro de Dia de N. Sra da Guia, na Atalaia. Foi um pequeno empresário (sapateiro), seccionista e treinador de futebol de camadas jovens do SC Lourinhanse (, de que era,antes de morrer, o sócio nº 1). 

Devido à pandemia de Covid-19, a família e os amigos  tiveram  que adiar a singela homenagem que tencionavam fazer-lhe, no dia 22 agosto de 2020, no centenário do seu nascimento. Também não será ainda neste ano da (des)graça de 2021, que essa homenagem se fará. Mas a família, no próximo domingo, irá recordar, em cerimónia privada, a sua figura: faria ontem 101 anos, se fosse vivo. Vamos continuar a publicar uma série de postes que já preparados, há um ano,  sobre a sua história de vida,  para publicação no nosso blogue  (*)


 
O RI 23 foi constituído em Cabo Verde, na Ilha de S. Vicente, sob o comando do Brigadeiro Augusto Martins Nogueira Soares (Agosto de 1941 a Dezembro de 1944). Faziam parte deste regimento as seguintes unidades (**):

  • 1 Batalhão do RI 5 (Caldas Rainha) ( a que pertencia o Luís Henriques e outros camaradas, naturais do concelho da Lourinhã)
  • 1 Batalhão do RI 7 (Leiria)
  • 1 Batalhão do RI 15 (Tomar)
  • Bateria de Artilharia Costa 1
  • Bateria de Artilharia Costa 2
  • Bateria Artilharia Contra Aeronaves 9,4 cm
  • Bateria Artilharia Contra Aeronaves 4 cm
  • Bateria de Referenciação, a 2 Divisões
  • 2ª Companhia de Sapadores Mineiros do Regimento de Engenharia 2

Ao RI 23 pertenciam ainda os seguintes serviços de apoio:

  • Parque de Engenharia
  • Secção de Padaria
  • Depósito de Subsistências e Material
  • Laboratório de Análise de Águas
  • Hospital Militar Principal de Cabo Verde
  • Depósito Sanitário
  • Tribunal Militar

À semelhança dos Açores (cuja guarnição militar foi reforçada com 30 mil homens, bem como da Madeira, com mil homens), para a defesa de Cabo Verde, e sobretudo das duas ilhas com maior importância geoestratégica, a ilha de São Vicente e a ilha do Sal, foram mobilizados 6358 militares, entre 1941 e 1944, assim distribuídos por 3 ilhas (i) 3361 (São Vicente): (ii) 753 (Santo Antão); e (iii) 2244 (Sal).

Mais de 2/3 dos efetivos estavam afetos à defesa do Mindelo (, ou seja, do porto atlântico, Porto Grande, ligando a Europa com a América Latina, a par dos cabos submarinos).

Os portugueses, hoje, desconhecem ou conhecem mal o enorme esforço militar que o país fez, na época da II Guerra Mundial, para garantir a soberania portuguesa nos territórios ultramarinos. Cerca de 180 mil homens foram mobilizados nessa época.

Em Cabo Verde chegou a temer-se a invasão dos alemães, dado o valor estratégico do arquipélago, à semelhança do arquipélago dos Açores, cobiçado pelos aliados. Quantas vezes me falava disso, o “meu pai, meu velho, meu camarada”... Ele, que simpatizava com os Aliados, falava-me da presença discreta dos alemães na ilha: chegaram a fazer um desafio de futebol com a tripulação de um navio alemão (, não posso afirmar se civil ou militar). E antes do reforço do nosso dispositivo de defesa da ilha de São Vicente e Santo Antão, o que só começa a ocorrer em meados de 1941, os submarinos alemãs eram com relativa frequência avistados ao la largo da ilha de São Vicente,e  das que estão mais próximas (Santo Antão, São Nicolau mas também Santiago) (Vd. Adriono Miranda Lima - Forças Expedicionárias  a Cbo Verde na II Guerra Mundial, edião de autor, Tipografia S. Vicente, Mindelo, 2020,  pp. 105 e ss.)

No Mindelo, tal como em Lisboa, havia espiões de um lado e do outro, alemães, italianos, ingleses, portugueses... E terá sido nesta época de fome, de guerra e de desgraça que se começou a desenvolver o nacionalismo cabo-verdiano que estará na origem do futuro PAIGC, fundado e liderado por Amílcar Cabral (a partir de 1956).

Só havia “vapor” (barco), com mantimentos e correio, de dois em dois meses… A saudade da terra era mitigada pela presença de diversos lourinhanenses, o furriel miliciano Caxaria, o Jaime Filipe, ambos da Atalaia, o Boaventura Horta, da Lourinhã, o Leonardo, da Serra do Calvo, e outros, que pertenciam à mesma unidade (RI 23, constituído na Ilha de São Vicente, 1941/44). 

Todos, infelizmente, já falecidos, o último, o António Caxaria, com 102 anos (**)... Já há não sobreviventes dessa geração... Para mais, foi uma geração sem cronistas. É uma pena que as suas memórias desapareçam com a sua morte física, a  morte física nossos pais, últimos soldados do império tal como nós... Mas todos eles trouxeram consigo algumas lembranças da ilha, e nomeadamente fotografias do célebre estúdio Foto Melo... 

Enfim, estas pequenas histórias que aqui se deixam, do Luís Henriques e outros "expedicionários",  fazem parte da história comum de Portugal e Cabo Verde (**)...

Numa época de elevado analfabetismo (, mais de 40% dos homens no grupo etário dos 20-24 anos, em 1940, eram analfabetos!), o Luís Henriques sacrificava, com gosto, os seus tempos livres, escrevendo dezenas de cartas por semana em nome de muitos dos seus camaradas. Aos 91 anos ainda se lembrava dos números de tropa (!) de alguns dos seus camaradas, dos seus nomes completos e até das moradas (!) para onde enviava as cartas.

Em nome do Fortunato Borda d'Água, do Cercal, Azambuja, por exemplo, chegava a escrever 22 cartas por semana... O Fortunato tinha duas namoradas, uma morena e outra loura, "uma que chorava ao pé da mãe dele, e outra que se ria, em plena rua" (sic)... O meu pai um dia teve que o ajudar a decidir-se:

- Ó Fortunato, afinal de quem é que tu gostas mais ? Com quem queres casar, quando voltares à terra ? Quem é que vai a ser a mãe dos teus filhos ? A que se ri, na rua, ou a que chora no ombro da tua mãe ?...

- Ó Luís, claro que é da que chora np ombro da minha mãezinha...que eu gosto mais.

Durante anos, visitaram-se mutuamente.

Lembrava-se também dos nomes e de algumas histórias dos seus oficiais, alguns, bem “prussianos, militaristas, germanófilos”, de acordo com figurino da época, um deles herói da Guerra de Espanha, "com as pernas todas furadas por balas" (sic)...

Lembrava-se até dos resultados dos renhidos torneios de futebol e de voleibol que se realizavam no Lazareto, entre o Mindelo e o Monte Cara, entre tropas de diferentes subunidades... e em que ele participava. 

Claro, lembrava-se das praias e dos tubarões, dos navios, e até dos espiões (que lá também os havia, como em Lisboa, ao serviço de um lado ou do outro das potências beligerante)... E a chegada de qualquer navio era uma festa, tanto para os expedicionários como para os naturais da ilha...Chegou a ir a bordo de um navio da marinha mercante para estar com um vizinho, membro da tripulação, que era natural de uma povoação vizinha da Lourinhã (, Atougia da Baleia, se não erro).

Ia a missa aos domingos, como bom católico. E tinha uma menina, uma "Bia", que gostava dele, encontravam-se na igreja de N. Sra. Luz... O sonho das raparigas da ilha era arranjar um namorado metropolitano e sair daquela miséria...

Tinha o bom hábito de ler. Tinha uma bela caligrafia e uma escrita com desenvoltura. Fez a 4ª classe com 9 anos, e começou logo trabalhar. Era bom em números... No Mindelo, escreverá centenas e centenas de cartas, em nome daqueles que na época (e eram muitos...) não sabiam ler e escrever... Escrevia uma média de 20 e tal cartas por semana...

Muitas vezes eram os próprios rapazes cabo-verdianos, engraxadores de rua, escolarizados, alguns estudantes do liceu Gil Eanes (o único que havia nas ilhas, e cujo reitor era um professor goês, culto...) que liam as cartas recebidas pelos expedicionários, metropolitanos, analfabetos... Que triste ironia!... 

Para mais numa época de pavorosa seca e epidemia de fome que roubou a vida a milhares de cabo-verdianos (cerca de 25 mil) (**)... Apesar de menos sentida na ilha de São Vicente do que nas outras ilhas, a fome foi também aqui mitigada graças à solidariedade dos "nossos pais, nossos velhos, nossos camaradas"...

Mas, coisa linda e fantástica, os ex-expedicionários de Cabo Verde desta época continuaram a encontrar-se durante muitos e muitos anos, até à década de 1990... O meu velhote costumava ir aos encontros do 1º Batalhão do RI 5, nas Caldas da Rainha... até que as pernas começarem a fraquejar  e a maior parte deles, dos seus camaradas, acabou por morrer.  O António Caxaria  costumava dar-lhe boleia,de carro (***). 

O mesmo se passava com os outros regimentos: RI 7 (Leiria), RI (11 (Setúbal), RI 15 (Tomar)... Cabo Verde ficou-lhes no coração para sempre...

Capa do romance de Manuel Ferreira (1917-1992), que fazia parte da exposição comemorativa
do 1º centenário do escritor Manuel Ferreira (1917-1992), também ele expedicionário em São Vicente, neste período, com o posto de furriel miliciano


O autor de "Hora di Bai" (1962) era natural da Gândara dos Olivais, Leiria, onde tenho amigos e familiares que o conheceram em vida. Morreu em Linda a Velha, Oeiras.

Expedicionário do RI 7 (Leiria), o fur mil Manuel Ferreira (1917-1992), futuro capitão SGE e escritor, conheceu, no Liceu Gil Eanes, aquela que virá a ser a sua muher e mãe dos seus filhos, também ela escritora, notável contista, Orlanda Amarílis (1924-2014). Ambos frequentavam este liceu. Orlanda era colega de turma do Amílcar Cabral (1924-1973) ... A família de Amílcar Cabral mudou-se para o Mindelo em 1937: é de todo provável que nos dois anos e tal que lé esteve, entre julho de 1941 e setembro de 1943, o meu pai se tenha cruzado com o futuro dirigente do PAIGC.

Manuel Ferreira acabou por ficar seis anos no Mindelo (1941-1947) e ser um dos cofundadores e animadores da revista literária "Certeza" (1944), de vida efémera mas com grande impacto na vida cultural da ilha.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Dia 14 de agosto [de 1942], data gloriosa para a nossa gente lusa (Aljubarrota). Recordando essa data em Mindelo com o içar da bandeira nacional junto ao liceu Gil Eanes e marchando o regimento de infantaria 5 nas ruas da cidade". Foto: arquivo de família.

É um edifício com história, hoje conhecido como Liceu Velho... A elite do Mindelo passou por aqui... O liceu Gil Eanes (antes, Infante Dom Henrique) funcionou aqui de 1938 a 1968. A sua construção data de meados do séc. XIX. Teve vários usos, além de estabelecimento de ensino, foi quartel e correios...



A seca e a fome que assolaram Cabo Verde nessa época, e que fizeram milhares e milhares de mortos (inspirando o romance de Manuel Ferreira (1917-1992), “Hora di Bai”, publicado em 1962), tiveram impacto na consciência de bom português, bom cristão e bom lourinhanense, que era o 1º cabo Luís Henriques. O seu "impedido", o Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele morreria, de fome e de doença, em meados de 1943.

Ainda se comovia, passados tantos anos, ao dizer-me que deu à família do miúdo todo o dinheiro que tinha em seu poder (c. de 16$00) - na altura, estava hospitalizado -, para ajudá-la nas despesas do enterro. 

Lembro-me de ele me dizer que um 1º cabo, em comissão em Cabo Verde, ganhava na época qualquer coisa como 130$00 por mês... De volta à metrópole, não terá mais do que 200$00 ou 300$00 no bolso. Para ele o dinheiro “nunca foi fêmea”...

Para se ter um ideia do valor do dinheiro nessa época de racionamento alimentar e especulação de preços dos géneros mais essenciais, podemos acrescentar o seguinte: 

(i) um quilo de bacalhau, em 1943, no Porto, custava 10$40, preço tabelado, ou 16$00, no mercado negro; 

(ii) um quilo de arroz, em 1941, na Guarda variava entre os 2$80, preço tabelado, e os 4$00, no mercado negro; 

(iii) o preço de um litro de azeite, em 1941, na Guarda, variava entre os 7$50 (azeite corrente) e os 8$50 (azeite extra), mas no mercado negro os preços podiam atingir 3, 4 ou 5 vezes mas;

(iv) um assalariado agrícola, na década de 1950, dez anos depois, não ganhava mais do que 20$00.

Numa população, como a do Mindelo, que não devia ultrapassar os 15 mil habitantes, a passar por graves problemas como o desemprego crónica, a seca, a fome e a emigração forçada, a presença de mais de 3300 “expedicionários” na ilha, entre 1941 e 1944, teve um grande impacto, com aspetos positivos e negativos (Vd. o livro do nosso camarada Adriano  Lima, 2020)(**). Manuel Ferreira, por ex., refere o seguinte, no seu livro “Morabeza” (1ª edição, 1958):

“Durante a última guerra, com a presença da tropa, o ritmo da vida do arquipélago, em muitos aspetos foi alterado, e daí terem surgido várias mornas alusivas a factos que mais chocaram a população, principalmente a de São Vicente [B.leza, pseudónimo de Xavier Cruz, compôs uma morna intitulada “punhal de vingança” onde refere que as moças agora só se encantam com “furrié”]. [p. 30]

 [ Citado por João Serra, in: 4 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17507: Memória dos lugares (361): Mindelo em plena II Guerra Mundial, visto por Manuel Ferreira (1917-1992) (João Serra). Disponível em https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2017/06/guine-6174-p175007-memoria-dos-lugares.html   ]

(Continua)
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Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores:

22 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21282: Meu pai, meu velho, meu camarada (65): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte III


(**) Vd. também:

14 de junho de  2021  > Guiné 61/74 - P22279: Notas de leitura (1361): "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial", de Adriano Miranda Lima; Março de 2020, Edição de Autor (Mário Beja Santos)

11 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21346: Notas de leitura (1306): "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial", livro de Adriano Miranda Lima (edição de autor, Mindelo, 2020, 241 pp.): a história escrita com paixão, memória e coração (José Martins)

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21272: Meu pai, meu velho, meu camarada (62): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte I



Lourinhã, jardim da Senhora dos Anjos, c. agosto / setembro de 1947 > 
Luis Henriques (1920-2012)  com o filho primogénito, Luís Graça,   
ao colo da mãe, aos 8 meses, Maria da Graça (1922-2014)   
Foto: arquivo da família.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



Lembrando,  no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte I



1. Figura muita popular e querida da sua terra, nasceu há 100 anos, na Lourinhã, em 19 de agosto de 1920 e morreu com 91 anos, os últimos cinco dos quais passados no Lar e Centro de Dia de N. Sra. da Guia, na Atalaia.

Devido à atual pandemia de Covid-19, a família e os amigos vão ter que adiar a singela homenagem que tencionavam fazer-lhe, no corrente mês de agosto, a 22, no centenário do seu nascimento.

Haverá no entanto um missa em Ribamar, Lourinhã, terra da sua avó materna, no próximo sábado, dia 22, às 18h30. Os familiares e amigos que puderem e quiserem comparecer (dentro do limite dos menos de 100 lugares disponíveis na igreja da paróquia de Ribamar) serão bem vindos.

Está prevista ainda, em tempo oportuno,a publicação, pela família,  de um pequena brochura, incluindo pequenos depoimentos daqueles que com ele ainda conviveram, nomeadamente filhos, netos e antigos jogadores do Sporting Clube Lourinhanense, das camadas mais jovens, que ele acarinhou, treinou e formou.  Haverá também um almoço de "confraternização" entre família e amigos, bem como um jogo de futebol entre antigos jogadores treinados por ele.

A família recordo-a, pelo "grande exemplo de vida que nos deu na sua passagem pela terra" e como "lourinhanense que amava a sua terra, as  suas gentes, a sua família"... "Conversador incansável que falava em verso, contador de histórias, que em todos via um amigo, apaixonado pelo futebol, pelos jovens que com amor treinou e ensinou, e com um coração enorme que sabia repartir por quem tinha menos do que ele" ("Alvorada",  7 de agosto de 2020, pág. 28).

Apresentamos hoje um breve resumo da sua história de vida que é também a história de  muitos portugueses da sua geração, mobilizados durante a II Guerra Mundial,  para defender a soberania portuguesa, nomeadamente nas ilhas atlânticas (Madeira, Açores e Cabo Verde)...

O jornal quinzenário "Alvorada", com sede na Lourinhã, na sua última edição (nº 1285. de 7 de agosto de 2020 , pp. 26-27), publicou um extenso texto, da autoria de Luís Graça e família, e que tomamos a liberdade de  reproduzir com as necessárias adaptações, acrescentando-lhe mais fotos e texto de um brochura em preparação.


Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > 1941 > Luís Henriques.
1º Cabo Inf da 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5. unidade mais tarde
integrada no RI 23. Foto:arquivo de família.


Luís Henriques (1920-2012), pai do nosso editor, Luís Graça, tem mais de 40 referências no nosso blogue, e nomeadamente na série "Meu pai, meu velho, meu camarada".

Era casado com Maria da Graça (1922-2014), doméstica.  Deixou, como descendentes, 4 filhos (Luís, Graciete, Maria do Rosário e Ana Isabel), 12 netos, 8 bisnetos. Era filho de Domingos Henriques Severino, natural do Montoito, e de Alvarina de Sousa, natural da Lourinhã, mas com raízes em Ribamar. 

Tinha raízes, pelo lado do pai, Domingos Henriques Severino, no Montoito, e pelo lado da avó materna, Maria Augusta de Sousa, em Ribamar. Ficou órfão, aos 2 anos, de sua mãe, Alvarina de Sousa, natural da Lourinhã.

O meu avô paterno, que ainda conheci na infância, terá morrido também com 91 anos. Usava muletas e fumava a sua “beata”: é a imagem que eu tenho dele. Dizia o meu pai que ele “tinha ficado mal das pernas por causa dos resfriados do  mar”:  como muitos agricultores das zonas ribeirinhas (Montoito, Atalaia, Areia Branca, Ribamar, Porto Dinheiro...), era também nos tempos livres um mariscador, dedicando-se à apanha tradicional de polvos e crustáceos.

Domingos Henriques Severino [, ou só Domingos Henriques,] foi homem de teres e haveres (, tinha “sete fazendas e três pinhais”, dizia-me o meu pai), tendo casado três vezes. Do primeiro casamento, não teve filhos: a esposa era de Torres Vedras, de uma família conhecida, os Fonsecas, ligada ao comércio automóvel; do segundo matrimónio, teve o meu pai (Luís Henriques, de seu nome completo),  e o meu tio (e padrinho de batismo), Domingos Inocêncio Severino, já falecido. É estranho os dois irmãos não terem o mesmo apelido, mas era frequente na época, um filho ficar com um primeiro apelido do pai (neste caso, Henriques), e outro filho ficar com o segundo  apelido paterno (, no outro caso, Severino).

Do terceiro casamento, o meu avô teve "uma equipa de futebol e um suplente", como dizia, com graça, o meu pai. Casou com um senhora que era mãe solteira, natural da Zambujeira ou Serra do Calvo. (Trazia pela mão o Manuel “Ferrador”, o “suplente”.)

De entre esses meios- irmãos, destaca-se o Afonso Henriques, o “Afonso das Bicicletas”, também figura popular na sua terra, pela sua paixão pelo ciclismo. (Tinha uma oficina de reparação de bicicletas e motorizadas, a Casa Osnofa,  na Rua Miguel Bombarda, nº 17)



Alvarina de Jesus Sousa: s/d, c. 1920.  
Foto: arquivo da família.


A mãe do meu pai era a Alvarina de Jesus Sousa [, foto acima], filha de Francisco José Sousa, da Lourinhã, comerciante de peixe, e de Maria Augusta, de Ribamar.

Morreu jovem, em 1922, de tuberculose, terrível doença da época, facto que  marcou o meu pai para toda a vida: a mãe nunca lhe pôde dar um beijo, punha-lhe apenas a mão, ou a ponta de um dedo,  na cabeça, na testa ou na face… (Pergunto-me: como é que um miúdo de dois anos pode ter essa recordação ?... Muito provavelmente, os tios contaram-lhe.)

E, nos seus três últimos dias de existência, em que eu tive o privilégio de o acompanhar no seu leito de morte, evocou o nome da mãe Alvarina,  por mais de um vez.

 


Maria Augusta de Sousa  (Ribamar, 1864- Lourinhã, c.1934). S/ d.

Foto: arquivo da família.

 

A sua avó materna, Maria Augusta, nasceu em 28 de outubro de 1864, em Ribamar, ou melhor, em Casais de Ribamar, hoje integrados na vila de Ribamar. Pertencia ao clã Maçarico: filha de Manuel Filipe e Maria Gertrudes. ( A sua ascendência está documentada até, pelo menos, a meados do séc. XVIII.)  

Veio a  casar na Lourinhã, com um peixeiro, Francisco José de Sousa (1864-1939). O casal teve 7 filhos.   Terá morrido com “cerca de 88 anos”, segundo o meu pai, ou seja no início dos anos 50, o que ponho em dúvida. Já li ou ouvi  algures outras datas: 1920, 1934…

O Luis Henriques, órfão aos dois anos, viveu nos primeiros anos de infância com a nova família do pai, que casou pela terceira vez. Ao todo teve uma dúzia de irmãos.

Fez a instrução primária (na época quatro anos de escolaridade) na velha Escola Conde de Ferreira,  (demolida pelo camartelo camarário antes do 25 de abril), sob a direção do saudoso Prof José António Simões Silva (1898-1964) que ainda conheci na minha infância e adolescência, pai do nosso conterrâneo Jorge Pedro e sogro da minha professora do ensino primário (da 2ª `4ª classe) e da admissão ao liceu, a dona Maria Helena Perdigão (, felizmente ainda viva).



Lourinhã, c. 1950/60: traseiras da escola Conde Ferreira, para rapazes (à direita) e raparigas (à esquerda). Edifício infelizmente demolido pelo camartelo camarário, "em nome do progresso"... 

Em segundo plano, a igreja matriz da Lourinhã (séc. XVII) e a sua torre sineira. Fazia parte do convento de Santo António (fundado em finais do séc. XVI). Em primeiro plano, junto ao muro do recreio da escola das raparigas, o urinol público... 


Foto: cortesia de Lourinhã Noutros Tempos, página do Facebook editada pela ADL Lourinhã - Associação de Desenvolvimento Local da Lourinhã




Lourinhã > Rua Miguel Bombarda, equivalente hoje ao nº 36 > 
Loja de Manuel Lourenço da Luz: Artigos Fotográficos…
Mas também vendia “fazendas de lã e algodão, chapéus e sombrinhas”… S/d. 


Foto: cortesia de Lourinhã Noutros Tempos, 
página do Facebook editada pela ADL Lourinhã - Associação 
de Desenvolvimento Local da Lourinhã

O seu primeiro emprego, em 1929¸ ainda com nove anos,  foi como… “máquina registadora e de calcular”, nas duas lojas do fotógrafo e comerciante Manuel Lourenço da Luz, que veio da Praia da Vieira (n. 1903), para a Lourinhã, na segunda década do séc. XX, e que foi pai do conhecido fotógrafo lourinhanense António José Ferreira da Luz (Foto Luz) (, mais tarde, estabelecido em Angola). 

Não sei em que circunstâncias ele foi trabalhar, depois de acabada a 4ª classe. Tinha apenas nove anos....Por um lado, era órfão de mãe e o pai tinha uma família numerosa a sustentar. Por outro, ele era “bom nas contas de cabeça”, razão por que terá sido contratado pelo comerciante Manuel Lourenço da Luz.

O meu pai recordava-se de, no verão, estar na loja da Praia da Areia Branca (, cujo plano de urbanização data dessa época, c. 1919/20), e de à segunda-feira ir com o patrão, caçar patos e perdizes, na foz do Rio Grande bem como ao longo do rio e nas dunas. (Essa loja situava-se na artéria principal na Praia, hoje Av António José do Vale, numa das primeiras casas térreas que se terão contruído nos anos vinte, ao lado do atual café Topa Mar, talvez no nº 40).

Tendo o seu pai casado pela terceira vez, e tendo este uma prole numerosa, aos 13 anos, por volta de 1933/34, o Luís Henriques terá uma nova família de acolhimento, a do seu tio materno, Francisco José de Sousa  Jr. (de alcunha, “Fofa”), industrial de sapataria e músico, membro da então Banda dos Bombeiros Voluntários da Lourinhã (, atual Banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cujo presidente da direção é um seu neto, Paulo José de Sousa Torres).

Aprende, como tio,  o ofício de sapateiro. É criado com os seus primos António Francisco Sousa, Carlos Andrade de Sousa e Maria de Lurdes Andrade de Sousa, “Milu” [, esta felizmente ainda viva; e todos eles com excelentes dotes musicais: o António tocava saxofone e fundou a primeira "banda de música ligeira” da terra,  o conjunto Sol Do Ré Mi, onde tocou, também, entre outros o Manuel “Swing” (, estava na moda, no pós-guerra, o jazz); o Carlos era um especialista em pratos na banda da Lourinhã; e a “Milú” uma bela menina de coro, mãe do atual diretor da AMAL, Paulo José de Sousa Torres)].

Curiosamente, o meu pai nunca teve inclinação por nenhum instrumento, se bem que fosse sócio e admirador entusiástico da Banda, e gostasse de cantarolar.

Em 5 de setembro de 1940, “vai às sortes”, é apurado para todo o serviço militar.

 Aos 20 anos assenta praça no Regimento de Infantaria nº 5 (RI 5), Caldas da Rainha, que ficava a trinta quilómetros de casa. Ia e vinha à Lourinhã, de bicicleta, aos fins de semana, por estradas ainda macadamizadas... Até aos setental e tal anos, andava, todos os dias de bicicleta, até ao dia em que as pernas comneçaram a falhar: tinha treino e constituição de atleta.

Em 18 de julho de  1941 parte para o Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, como expedicionário, com o posto de 1º Cabo de  Infantaria da 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5, que vai integrar, mais tarde,  o RI 23.  Namora já a futura esposa, Maria da Graça, que era natural do Nadrupe e que trabalhava  em Lisboa (e depois na vila)  como “criada de servir”.


Lourinhã > 5/9/1940 > “Os meus camaradas no dia das sortes”, lê-se no verso 
da fotografia Luís Henriques é o do meio, na fila de pé. 
Foto: arquivo da família


Caldas da Rainha > "15/7/41. A despedida das tropas expedicionárias  
de Cabo Verde. R.I. 5, Caldas da Rainha.   Luís Henriques"
 [1º Cabo Inf da 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5]. 
Foto: arquivo da família.

A viagem das forças expedicionárias do RI 5 (e de outras unidades)  foi no T/T "Mouzinho", da Companhia Colonial de Navegação,   com partida no Cais da Rocha Conde de Óbidos, conforme notícia do "Diário de Lisboa",  desse dia 18/7/1941.  Salazar, em pessoa, assistiu à cerimónia. O navio chegou ao Mindelo em 23/7/1941.



Diário de Lisboa (diretor: Joaquim Manso),
sexta-feira,  18 de julho de 1941, p. 5, 
 Cortesia da Fundação Mário Soares > Casa Comum > A
rquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos.

As viagens dos nossos navios de transporte de tropas (T/T), para as diferentes partes do "império",  não eram isentas de risco... O oceano Atlântico foi palco de sangrentas batalhas durante a II Guerra  Mundial. Países neutrais como Portugal tinham de pintar os seus navios de pesca e da marinha mercante com gigantescas bandeiras e o nome do país nos cascos das embarcações. 

Os nossos navios eram frequentemente intercetados tanto pelos Aliados como pelas potências do Eixo (e em especial pelos alemães, cujos submarinos "infestavam" o Atlântico...). Onze navios, sob bandeira portuguesa, foram afundados, durante a II Guerra Mundial, entre 1940 e 1943, não obstante as embarcações estarem claramente identificadas como sendo oriundas de Portugal, "país neutral": 1 em 1940; 4 em 1941; 4 em 1942; e 2 em 1943.



Ilha da Madeira > Funchal > s/d [c. 1941] > "O Paquete Mouzinho. Oferecido 
pelo meu amigo [e conterrâneo, da Lourinhã] José B[oaventura] Lourenço [Horta] 
no dia em que o fui visitar ao Hospital em São Vicente. 26 de Julho de 1942." É provável que o José Boaventura Horta tivesse adquirido a foto a bordo. E, se não erro, o amigo do meu pai, meu conterrâneo e meu vizinho (no tempo em que vivi na Lourinhã, menino e moço) era da arma de artilharia (6ª Bateria Antiaérea do Grupo de Artilharia Contra Aeronaves) 
Foto: arquivo da família


Os portugueses, hoje,  não conhecem de todo  o enorme esforço militar, humano e financeiro que o país fez, na época da II Guerra Mundial, para garantir a soberania portuguesa nos territórios ultramarinos. Portugal manteve um exército  de cerca de 180 mil homens  nessa época. Em Cabo Verde chegou a temer-se a invasão dos alemães e dos italianos, dado o valor estratégico do arquipélago, à semelhança do arquipélago dos Açores, cobiçado pelos aliados.

Tal como no caso dos Açores (cuja guarnição militar foi reforçada com 30 mil homens), para a defesa de Cabo Verde, e sobretudo das  três  ilhas com maior importância geoestratégica, a ilhas de São Vicente, Santo Antão e  Sal, foram mobilizados 6358 militares, entre 1941 e 1944, assim distribuídos:  

(i) 3361 (São Vicente): 
(ii) 753 (Santo Antão);  
e (iii) 2244 (Sal). 

Mais de 2/3  dos efetivos estavam afetos à defesa do Mindelo (, ou seja, do porto atlântico,  Porto Grande,  ligando a Europa com a América Latina, a par dos cabos submarinos).

Só havia “vapor” (barco), com mantimentos e correio, de dois em dois meses… A saudade da terra era mitigada pela presença de diversos lourinhanenses, o furriel miliciano António Correia Caxaria (1917-2020), o Jaime Filipe, ambos da Atalaia, o Boaventura Horta, da Lourinhã, o Leonardo, da  Serra do Calvo, e outros,  que pertenciam à mesma unidade (RI 23, constituído na Ilha de São Vicente, 1941/44).

Numa época de elevado analfabetismo (, mais de 40% no grupo etário dos 20-24 anos, em 1940), sacrificava os seus tempos livres escrevendo dezenas de cartas por semana em nome de muitos dos seus camaradas. Aos 91 anos ainda se lembrava dos números de tropa (!) de alguns dos seus camaradas, e até das moradas (!) para onde enviava as cartas.

A seca e a fome que assolaram Cabo Verde nessa época, e que fizeram milhares e milhares de mortos [inspirando o romance de Manuel Ferreira (1917-1992), “Hora di Bai”, publicado em 1962, tiveram impacto na consciência de bom português,  bom cristão e bom lourinhanense, que era o 1º cabo Luís Henriques. O seu "impedido", o Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele morreu, de fome e de doença, em meados de 1943.

Os antigos expedicionários de Cabo Verde desta época continuaram a encontrar-se durante muitos e muitos anos, até à década de 1990... O Luís Henriques  costumava ir aos encontros do 1º Batalhão do RI 5, nas Caldas da Rainha... até que as pernas começarem a falhar e a maior parte deles, dos seus camaradas, acabou por morrer. O mesmo se passava com os outros regimentos: RI 7 (Leiria), RI (11 (Setúbal), RI 15 (Tomar)... Cabo Verde, a sua “morabeza”,  ficou-lhes no coração para sempre...

(Continua)
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Nota do editor:

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23552: Meu pai, meu velho, meu camarada (68): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte VII

 

Cabo Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 11h11 >  Baía do Porto Grande e Monte Cara, ao fundo.

Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 14h45 > Praia da Lajinha, porto e Ilhéu dos Pássaros, e a silhueta da Ilha de Santo Antão ao fundo.


Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 12h59 > O calçadão da Praia da Lajinha.

Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 12h11 >  Edifício da Câmara Municipal (trasnformado em hospital militar em 1941, com a chegada de tropas expedicionárias)

Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 16h45 > Rua típica, de traça colonial, com vendedeiras ambulantes.


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9 de novembro de 2012 >  Algumas das fotos do álbum de João Graça, que passou por aqui, e passeou pela "capital da morabeza", em trânsito para a Ilha de Santo Antão, com a sua banda, os Melech Mechaya, por ocasião do Festival Sete Sóis Sete Luas

Mindelo, cidade cosmopolita com uma arquitetura  de toque colonial que reflete a influência portuguesa e inglesa, é a capital cultural de Cabo Verde, a terra da Cesária Évora, B.leza, Bana, Luís Morais, Tito Paris,  Bau, e de outros grandes músicos e cantores, terra da morna, da coladera, do funaná, do festival da Baía das Gatas... Terra que faz parte do imaginário da minha infância e à qual nunca cheguei a ir... Foi lá o João por mim, e pelo avô... em 2012. Espero ainda lá poder  ir um dia, mesmo sem o meu pai que amou tanto aquela terra... (LG)


Fotos (e legendas): © João Graça (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Ao João, 
que foi visitar o avô Luís Henriques (1920-2012)
ao Mindelo,
em 9 de novembro de 2012,
seis meses depois da sua morte.


Ouço os passos do meu avô,
arrastando as botas cardadas
ao longo do calçadão da Praia da Lajinha.
E, mais atrás, vislumbro
a sombra frágil do seu impedido, o Joãozinho,
que há-de morrer, meses mais tarde,
por volta de junho de 1943.
De fome. Da grande fome.

Ouço a voz do dr. Baptista de Sousa,
diretor do hospital:
- Então, ó nosso cabo,
há quantos meses é que estás na ilha ?
- 26 meses, meu capitão.
- Eh!, pá, estás farto de engolir pó,
vou te já mandar p'ra casa!

Ouço o meu avô falar, em verso,
em certas noites de luar,
com o Monte Cara,
a Baía do Porto Grande,
e o Ilhéu dos Pássaros.

Ouço o meu avô perguntar
ao Fortunato Borda d'Água
enquanto lhe escreve mais uma das suas cartas
às suas namoradas:
- Ó Fortunato, afinal, de quem é que tu gostas mais ?
Da que ri ou da que chora ?

Vejo uma multidão de gente,
portugueses, africanos, ingleses,
erguer-se do Monte Verde,
abraçar a ilha
e cantar uma morna
à doce e mágica cidade do Mindelo.

Luís Graça

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "A antiga cãmara [municipal] de Mindelo que hoje é hospital de soldados. Julho de 1942. Luís Henriques". [É hoje de novo, o edifício da Câmara Municipal do Mindelo]

 

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Hospital de São Vicente, fundado em 1899, no reinado do Rei Dom Carlos I (1889-1908). Foto do álbum do expedicionário, 1º Cabo Luís Henriques, nº 188/41. Foto; arquivo da família

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Título de caixa alta do “Diário de Lisboa”, 3 de setembro de 1945.



7. Continuação da "história de vida" de Luís Henriques (Lourinhã, 18/8/1920 – Atalaia, Lourinhã, 8/4/2012), conhecido popularmente na sua terra natal como "ti Luís Sapateiro": 
“Morreu o Luís Sapateiro (1920-2012), uma figura muita popular e querida da nossa terra”, lia-se no jornal “Alvorada”, Lourinhã, nº 1103, 20 de abril de 2012, p. 26. 

Assinalando a efeméride do seu centenário, em 202o, o seu filho editou, em pdf,  uma brochura, de cerca de 100 páginas de que temos estado a publicar alguns excertos, ilustrando com maior detalhe  a sua passagem por Cabo Verde,  durante a II Guerra Mundiaçl: foi 1º cabo atirador de infantaria, 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5 (Caldas da Rainha), unidade mais tarde integrada no RI 23 (São Vicente, Cabo Verde), 1941/43) (**).  

De maio a agosto de 1943, esteve hospitalizado, no Mindelo, com problemas pulmonares. De regresso à Lourinhã, em setembro de 1943, vinha "afanado" e cheio de saudades… de comer uvas. 

Depois de passar à disponibilidade, fará sociedade, durante mais de 10 anos, com o seu irmão Domingos Inocêncio Severino.  Abriram a sua própria oficina de sapataria, na Rua Miguel Bombarda, no atual nº 40 (se não erro). Chegam a ter bastantes empregados. Na época ainda não havia produção industrial de calçado. 

Recorde-se que, aos 13 anos, por volta de 1933/34, o meu pai terá uma nova família de acolhimento, a do seu tio materno, Francisco José de Sousa Jr. (de alcunha, “Fofa”), industrial de sapataria e músico, membro da então Banda dos Bombeiros Voluntários da Lourinhã ( atual Banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cujo presidente da direção é um seu neto, Paulo José de Sousa Torres). E é na empresa do tio, na Rua Grande  (R  João Luís de Moura) que aprende o ofício de sapateiro, que era a sua profissão antes da tropa.

O seu pai, e meu avô, Domingos Henriques (que terá nascido na década de 1890), casara 3 vezes: do primeiro casamento, não teve filhos, do segundo teve o meu pai, Luis, e o meu tio (e padrinho) Domingos, do terceiro teve mais mais 11. Com uma família tão numerosa e com as dificudades da época (anos 20/30), tanto o meu pai como  o seu irmão germano acabaram por ser criados pela  família do lado materno (***).

Mas, no verão de 1945, ainda voltará  a ser “chamado para a tropa”, para se integrar no desfile das forças expedicionárias portugueses que se iriam juntar às brasileiras, em Lisboa, em 3 de setembro de 1945. (Não sabemos se chegou a participar nesse desfile, uma vez que entretanto  partiu uma costela quando estava no quartel.)

Recorde-se este episódio, documentado em filme da então SPAC –Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográfcias, documento hoje guardadoCinemateca Nacional:

(...) No dia 2 de setembro de 1945, aporta ao estuário do Tejo o navio “Duque de Caxias”, levando a bordo um regimento composta 162 oficiais e 1.636 sargentos e soldados, parte da FEB (Força Expedicionária Brasileira) que lutara na Itália, integrada no exército dos Aliados,  na   segunda guerra mundial, vem  do porto de Nápoles com destino final ao Rio de Janeiro .  

No dia seguinte, 3 de setembro de 1945, o Exército Português recebe os bravos militares brasileiros  com um desfile que envolveu mais  de 14 mil  soldados, viaturas militares de diversos tipos,  das armas de  infantaria e cavalaria. A Força Aérea, voando sob  os céus de Lisboa, associou-se ao evento. Milhares de pessoas assistiram entusiasticamente ao desfile.

O regimento expedicionário  brasileiro desfilou igualmente, saindo do Terreiro do Paço,  passando pela Rua Augusta, Rossio, Praça dos Restauradores, e subindo a Avenida da Liberdade até chegar a Praça do Marques de Pombal. Aí o general António Óscar Fragoso Carmona, presidente da república portuguesa, condecorou a bandeira do batalhão de infantaria da FEB com a Medalha de Valor Militar em grau de Ouro, a mais alta condecoração portuguesa.

O “Diário Popular”, desse dia, referiu-se ao evento, em título de caixa alta como “uma epopeia jamais vista em terras lusitanas”. O “Diário de Lisboa”, por sua vez, sublinha que “as tropas brasileiras (…) causaram esplêndida impressão e foram muito aclamadas”.

À noite, houve jantar com fados para oficiais e sargentos,  portugueses e brasileiros, em locais diferentes. Na Feira popular, militares e civis se misturaram numa confraternização  raramente vista em terras lusitanas. (...)


Lourinhã, Praça Cor António Maria Batista > 2 de fevereiro de 1946 > “Just married”, Maria da Graça e Luís Henriques, ela com 23 anos, ele com 25. A boda foi em Peniche, onde o Luís Henriques tinha primos…  Um dos luxos foi a lagosta, que com a II Guerra Mundial e o afluxo de refugiados em Portugal, começava a estar na moda….O casal parece estar junto ao automóvel de aluguer que os levou ao restaurante, em Peniche. 

Foto: arquivo da família.

Luís Henriques casa, entretanto, em 2 de fevereiro de 1946 com a Maria da Graça, natural do Nadrupe,  criada de servir de senhores e senhoras de Lisboa, da Praia e da Lourinhã, desde tenra idade. Namoravam-se  há já uns anos, ainda antes da tropa.  [Foto à direita].

Ela era filha de Manuel Barbosa, natural do Nadrupe, e de Maria do Patrocínio, natural da Lourinhã.  O apelido Graça não é de família: ela nasceu no dia 6 de agosto, dia da festa da padroeira da terra, a N. Sra. da Graça… A última (ou uma das últimas senhoras) onde ela serviu, foi a dona Rosa Costa Pina, professora primária, oriunda das Beiras.


Lourinhã, jardim da Senhora dos Anjos, c. agosto / setembro de 1947: eu, aos 8 meses, ao colo da minha mãe, Maria da Graça (1922-2014) e ao lado do meu pai, Luis Henriques (1920-2012). 

Foto: arquivo da família.


A 29 de janeiro de 1947 nasci eu. E 18 meses depois, a Graciete (que riá casar com o Cristiano Sardinha Mendes Calado,  Alter do Chão, 19/1/1941- Lourinhã, 21/5/2021). 

Até 1964, haverá ainda mais duas raparigas: Maria do Rosário e Ana Isabel.

O Luís Henriques continuará (pelo menos até ao início da década de 1950) a jogar futebol, como atleta amador, e ao mesmo tempo a participar na vida associativa das diversas coletividades da sua terra, desde o SCL - Sporting Club Lourinhanense, até aos bombeiros, a banda de música e a misericórdia e a colegiada de N. Sra.dos Anjos. É mordomo de festas locais (como a da Sra dos Anjos e de São Sebastião).



Lourinhã > c. 1950> Os dois filhos mais velho, Luís Manuel e Graciete. 
O meu pai sempre me tratou do "Lis Manel"

Foto: arquivo da família.



Alcobaça > 2 de julho de 1977 > No casamento da filha Maria do Rosário 
com o Mário Anastácio, filho de Bernardino Anastácio (Toledo, Lourinhã, 28/11/1925 - Lourinhã, 23/8/2017), 
barbeiro, músico, acordeonista. Ao seu lado direito, a filha mais nova, 
Ana Isabel. Na outra ponta, ao lado do noivo, a Maria da Graça.
 Foto: arquivo de família.

(Continua)
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Notas do editor:


(***) Vd. poste de 20 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21272: Meu pai, meu velho, meu camarada (62): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte I