Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66), Os Lassas > A Secção de cães ...
Foto: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.
As abelhas lassas e os Lassas (*)
por Mário Fitas (Ex-Fur Mil Op Esp, CCAÇ 763, Cufar, Março de 1965/Novembro 1966)
Trechos (corrigidos) de Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente
Pag. 75:
Por informações recolhidas a CCAÇ 763 será conhecida no PAIGC com a alcunha de Lassas(1). Pelo que se veio a saber, “lassa” será uma espécie de abelha existente na Guiné, a qual não sendo molestada não tem problemas, mas se for atacada é terrivelmente perigosa tornando-se fortemente enraivecida.
Esta alcunha resultaria da actuação da CCAÇ, pois ao chegar a uma povoação em que a população não fugisse, não haveria problemas, falava-se com a mesma e tentava-se resolver os problemas que houvesse. Em caso contrário, se a população fugisse e abandonasse as suas moranças, estas eram literalmente destruídas.
Pelo que ficou assim com este procedimento, a CCAÇ crismada de Lassas.
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Pag. 94
Voltamos a Cabolol. O guia enviado pelo Batalhão garante-nos haver um novo Acampamento na mata de Cabolol.
Não encontramos nada, leva-nos ao antigo que verificamos continua destruído, desde a Operaçºão Saturno de 10 de Junho. Dirigimo-nos para Cantumane que verificamos se encontra deserta.
Quando procedíamos à sua destruição, fomos violentamente atacados pelo IN que se encontrava emboscado na mata. Três ataques sucessivos, e aqui entramos em contacto com outro truque da Guerrilha: a utilização de abelhas.
Colocam os cortiços em locais estratégicos, fazendo fogo sobre eles, à nossa passagem. As abelhas lassas saem enfurecidas e desarticulam completamente as NT, ficando muita gente incapacitada para o combate.
A CCAÇ sofre mais um ferido grave que não resiste. O sargento Madeira (2) não se aguentou e morreu no dia seguinte no Hospital Militar de Bissau. Com picadas de abelhas e em estado grave, foram evacuadas mais três praças para o HM de Bissau. Acaba assim a operação Trovão.
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Pag. 101
Na operação Rastilho, a CCAÇ volta a Camaiupa e Cantomane, da mesma forma que acontecera na operação Trovão e no mesmo local, fomos novamente emboscados e atacados com o sistema das abelhas.
O grupo de Combate que seguia em primeiro escalão, é obrigado a recuar. Só depois do envolvimento feito pela CCAÇ e após mais de uma hora de fogo intenso e ajuda da FAP (3) se conseguiu repelir o IN.
O soldado Marinho (4) regressou à sua terra, para nela repousar eternamente. Alguém irá ao Terreiro do Paço, a medalha postumamente atribuída. Para além deste morto, houve que evacuar mais oito feridos, pelo que a CCAÇ se teve de deslocar para a bolanha para o efeito.
Continua a cobrança!...
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Foi assim a experiência da CCAÇ 763 com as Abelhas na Guiné. Felizmente só participei bem como os meus homens nesta festança, como combatentes. Picados fomos por mosquitos e formigas, daquelas grandes, que se arrancavam, mas só o corpo, pois a cabeça ficava segura à carne pelas pinças.
Para toda a Tabanca, o velho abraço do tamanho do Cumbijã! Bonito e tão comprido.
Mario Fitas
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Notas de M.F.:
(1) Informação fornecida pelo guerrilheiro SUZA NA MONE, desertor do PAIGC
(2) 2º. Sargento Leandro Vieira Barcelos, natural da Madeira.
(3) O saudoso Comandante Zeferino da TAP que já não se encontra entre nós.
Ao ler Putos, Gandulos e Guerra telefonou-me a falar deste caso, informando- me ter assistido do ar, pois era um PILAV da parelha de T6 que nos ajudou. Em Pami na Dondo a Guerrilheira, existe uma história com este PILAV cujo alcunha seria Seca-Adegas.
(4) Soldado 1881/64 Diamantino Jorge Martinho
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste anterior > 12 de Março de 2009 > Guine 63/74 - P4017: As abelhinhas, nossas amigas (2): Desbaratavam uma coluna, uma companhia, um batalhão... (Rui Silva)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
... que, concluída a leitura dos v/posts 4005 (7 comments), 4008 (2), 4017 e este 4018, aqui deixa a seguinte info, relacionada com a pergunta: «Alguém sabe alguma coisa sobre [...] mortes causadas pelas abelhas?»; (Joaquim Mexia Alves, em 06Mar2009; cf P4005 de 09Mar2009)
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R: Sete óbitos de militares nos 3 TO's, devido a ataque de abelhas –
Angola:
1. – Em 17Out63 no itinerário Rio Úcua > Cassongue (durante operação no mato do Píri perto da Roça Santarém), o soldado Manuel Marques Venâncio, da CCac468 (chegada à RMA cerca de um mês antes), morre em consequência de ataque de abelhas;
2. – Em 01Out70 no itinerário Canga>Luvo (subsector fronteiriço do noroeste de Angola), o furriel miliciano Casimiro Manuel Martins Gregório, da CCac2530 (a cerca de nove meses do final da comissão), morre em consequência do ataque de enxame de abelhas.
Guiné:
– (nesta data, não são conhecidos óbitos directamente resultantes do ataque de abelhas)
Moçambique:
3. – Em 05Mai66 no itinerário Mutamba dos Macondes > Esposende (planalto maconde), os soldados António Gaganhana Madunangia e Silvestre Simieta Chilaule da CCac71/BCE7, o primeiro-cabo Aníbal Rodrigues dos Santos e o soldado Arné Constantino Santos da CEng651 (a um mês de concluir a comissão), são atacados por abelhas e logo a seguir deflagram quatro fornilhos, seguindo-se rajadas de emboscada IN que lhes causam a morte;
4. – Em 03Abr69 no itinerário Mocímboa da Praia > Porto Amélia (durante a Operação Vulcão 4 desenvolvida no subsector nordeste de Cabo Delgado), o soldado 'comando' José Francisco Felício Calado da 10ªCCmds, logo após deflagração de armadilha IN (que causa morte imediata ao homem da frente 1Cb CMD Herculano Augusto Dias), é atacado por enxame de abelhas e também morre.
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Desconheço as fontes do Abreu Santos Senior, sobre a não existência de mortes causadas por abelhas na Guiné.
Tenho conhecimento que os militares referidos neste Post, foram dados como mortos em combate.
Não tenho dúvidas, que essas mortes foram causadas pela desarticulação dos combatentes por ataque de abelhas. Sei que foram evacuados para a "Metropole" militares que ficaram incapacitados.
Ainda me restam alguns conhecimentos, que as picadas de abelhas podem causar a morte.
Não quero entrar na do ovo e da galinha.
A causa será a primeira ou a segunda? Faça-se a autópsia.
Nos casos que relatei, só no Hospital de Bissau, poderia ser confirmado.
Não restam dúvidas, por balas ou por abelhas foi em combate.
Do tamanho daquele longo rio Cumbijã, o Veterano abraço.
Mário Fitas
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