segunda-feira, 30 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4110: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (6): 'No melhor pano cai a nódoa' (Amílcar Mendes / Pereira da Costa)

1. Mensagem do Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Comando, 38ª CCmds (Brá, 1972/74 (na foto, à esquerda, na mata do Morés, em 1972):

Assunto - Direito à indignação, com pedido de publicação:

Amigo Mário Pinto, entendo a sua indignação (*). Vi a entrevista e tambem acho que houve algum excesso. Conheço o Sr general Almeida Bruno ,comandou o meu Batalhão na Guiné,não venho defendê-lo e nem ele precisa, mas pode querer que como tropa especial numca eu ou os camaradas com quem trabalhei no TO ,tivemos a mais leve desconsideração pela tropa a quem chamavam de "tropa normal".

Pelo contrário, sempre os respeitei e admirava o sacrifício de sobreviver dia a dia nas condições mais miseráveis, enterrados em destacamentos no cú de Judas, em que o unico passatempo era contar os rebentamentos e contabilizar os estragos.Com armamente rudimentar faziam milagres frente ao inimigo, e se não faziam melhor era porque a instrução que recebiam era muito rudimentar.

Apenas lhe dou um exemplo: o destacamento que vivia na ponte de CAIUN, na estrada de Piche - Bruntuma é exemplo do que a "tropa normal" passava,e acredite, amigo Mário Pinto, que dentro da "tropa especial" havia muito manjerico que nem na "tropa normal" se safava.

Quanto ao comentário do Sr. General, as vezes "no melhor pano cai a nódoa"

Um grande abraço do Amílcar Mendes ex 1ª cabo Comando


2. Mensagem do António José Pereira da Costa (ex-Cap Art CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74, hoje Cor Ref, director da Biblioteca do Exército, Coimbra):


Olá, Camarada

Será lugar comum dizer que o Gen Bruno foi infeliz no que disse. Porém não me parece legítimo que se possam generalizar as suas afirmações. Fico com a ideia de que ele se estava a referir ao momento da chegada do Gen Spínola (MAI 68) e não podia (e não estava a) referir-se à tropa, em geral. Claro que havia sítios e sítios, assim como havia unidades e unidades...

Eu estava na Guiné nessa altura e possa testemunhar as profundas alterações que se deram. Havia mesmo unidades com actividades baixas e que só esperavam que o tempo passasse e que a sorte os protegesse. Outras havia que se batiam bem e com resultados um dos quais era manter o IN em respeito. Claro que o factor sorte também é importante. Destas variáveis resultava um situação complexa e que seria abusivo generalizar. O Cmdt do meu batalhão foi um dos que "regressou" antecipadamente e era verdade que houve casos de Cmdt que não localizavam as respectivas companhias no mapa.

Creio que o Mário Pinto não deverá tomar "à letra" o que foi dito. De outro modo, a maioria de nós estaria indignada e muito.

Talvez eu possa parecer demasiado conciliador, mas do que conheço do Gen Bruno, ele não é pessoa que apouque o esforço genuíno dos outros que somos todos.
Um Ab.
___________

Nota de .G.:

(*) Vd. postes anteriores:

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4094: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (5): Não esperava ouvir tal coisa (Manuel Amaro)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4092: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (4): Bolas, não nos deixam em paz! (Paulo Salgado)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4091: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (3): Fui desrespeitado de maneira ignóbil (António Matos)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4090: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (2): Recuso-me a ser um bandalho e um rato cheio de medo (David Guimarães)

28 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão)

3 comentários:

António Matos disse...

Caro António Pereira da Costa, seria muito mau sinal se o tal general se escondesse agora atrás de quem lhe queira branquear as palavras e se mantivesse calado como um rato perante a indignação já demonstrada pelos ex-combatentes.
Valente como parece ser nas palavras, resta-lhe vir a público demonstrar igual valentia na defesa da honra dos que combateram no ultramar para que ele ( e outros como ele ) pudessem estar a exibir as medalhas para as quais, afinal, não tinham peito suficiente !
António Matos

Anónimo disse...

Caros Camaradas da Tabanca Grande:
Indiferente aos efeitos, informo que estas tentativas de branqueamento das palavras do sr. General Almeida Bruno, com referências a Spínola e ao ano de 1968, já são antigas, mas são copo de àcido que não vou tragar e para tal exijo a verdade!
Para essa verdade ser reposta só há duas coisas:
1 - Ser colocado no Blogue a minha referência a este assunto.
2 - Solicitar ao sr. Cor. Pereira da Costa, a leitura do P1911 e do livro do já falecido Cor. Piçarra Morão "Guiné Sempre".

Sejam felizes, porque eu e os meus camaradas da C.CAÇ. 763 e outras que connosco sofreram à volta desse rio Cumbijã que sempre refiro, e não no arame farpado estamos saturados. Basta!

Que sejam felizes os que conseguirem aguentar estas barbaridades.

Não escreverei aqui quem foras os BANDOS e Traidores.

As maiores felicidades para o Blogue e toda a Tabanca.

Um abraço de quem nunca pertenceu a um BANDO, nem aceita as insinuações de 1968.

Mário Fitas
Fur. Mil. de Operações Especiais

Unknown disse...

Bom, este escrito custa a engolir. Será que antes de 68 - cheguei nesse ano, em Maio à Guiné, um pouco antes do Sr. General Spínola - todos os nossos mortos e estrupiados e evacuados pelas mais diversas razões, aconteceram no "arame farpado" ? Ou só esses azares passaram a acontecer depois de Maio de 68 ? Se não sabem o que dizem ou nao pensam ou não se lembram, por favor recorram à Estrela ou outro qualquer hospital. Não queiram fazer dos BANDALHOS, BANDOS à solta...
Mas então se for para levar em conta que foi a passagem de testemunho que alterou a vida dos BANDOS, as palavras do sr. gen. Almeida Bruno continuam a ser desrespeitosas e desta vez incluindo tambem os seus camaradas profissionais. Continuam a ser más palavras. Ou vai arranjar mais algum argumento para isso ?