1. Em 7 de Abril, o nosso camarada Santos Oliveira, ex-2.º Srgt Mil Armas Pesadas, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66, enviou este trabalho para o nosso Blogue, para a série, O trauma da notícia da mobilização.
Caros Camaradas
Jamais revelei o facto da minha Mobilização, por evidenciar um certo narcisismo Militar, que, na verdade não existia, nem nunca existiu e, além disso, ter escrito o pensamento da época (1). É bem verdade que gostava das FA, que o tal sentimento esteve sempre patente nas minhas acções, mas, igualmente nas minhas discordâncias manifestas, acerca do modo como as Chefias procediam relativamente aos Civis Armados de quem dependiam para a prossecução dos objectivos e construção do Edifício que suportava o seu Estatuto. Não aceitei os diversos convites porque, de mim, exigiam uma total entrega e no fim apenas restaria um sentimento de ter sido usado ou recebido o descarte e os restos. Definitivamente, eu não era um deles. Tenho uma vivência Humanista e os homens devem ser tratados como Homens.
Por isso, sabe-se lá porque os meus Registos são ambíguos, omissos, incompletos e, ou, deturpados, porque muito pouco bate certo. Assim, aqui começa a minha revolta e o comprovar dos meus (pré)sentimentos.
Vejamos: a 10AGO64, fui promovido, fiquei orgulhoso e desapontado. Orgulhoso, por ter sido promovido; desapontado porque ia encalhar no GACA3, até ao final do Serviço Militar.
No final desse mesmo mês, abri a correspondência Oficial (2) (abria sempre e em primeiro lugar a das Mobilizações) e deparei com a minha própria Mobilização. Deu-me um baque que não sei definir se de alegria ou tristeza. O filme do que ia suceder a seguir, passou-me pela mente numa velocidade vertiginosa (2).
Assim, O trauma da notícia da mobilização, que já estava interiorizado (cf.: “O STRESS DE GUERRA EXISTE A PARTIR DA POSSIBILIDADE DE SE TER DE ENTRAR NELA E PARA CADA INDIVÍDUO QUE ESTEJA NAS CONDIÇÕES EXIGÍVEIS. NÃO É NECESSÁRIO, OBRIGATÓRIAMENTE, TER-SE PARTICIPADO”) não o foi como tal.
Recordo ter escrito sob a forma poética as duas situações e em datas bem próximas:
(1) - Na Promoção
Agora, assim, Promovido,
eu sei que fui Distinguido…
Tanto treino, tanto saber,
esforço, conhecimento
para, em Reserva de Estado,
o Exército estabelecer
que estou, no GACA, encalhado.
Coerente, mas fiel,
voluntário não serei!
Com isso, eu viverei!
Só me falta entendimento
porque me querem de lado!...
Mafra, Lamego e Tancos
foi mui duro, sem igual.
Queriam-me Oficial
Fiquei-me por Furriel.
AGO64
(2) – MOBILIZAÇÃO
… Afinal, sou necessário
sem me sentir voluntário!
Fui preparado, bem sei!
O medo que me assaltou
foi conhecer o que sou,
temer não estar preparado
para lutar, lado a lado,
com Heróis com provas dadas
em suor e sangue e lama…
… Vai custar, mais, outra guerra
de dizer, á Mãe que eu amo,
que vou deixar esta terra,
ou então muito me engano,
mas é a Pátria que chama
e é com veneração
que lhe dou meu coração.
30AGO64
Abraços
Santos Oliveira
Original dos poemas, escrito em papel vegetal
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de
Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4134: O trauma da notícia da mobilização (8): Amado, volta já para o Quartel (Juvenal Amado)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Fizeste bem pois a maneira como abordas a situação é diferente de todos e demonstra que a Pátria chamava por nós, mal ou bem iamos servir a Pátria.
Um abraço, guerrelheiro do Como.
Amigo S.O. desconfio que se adivinhasses o que ias passar, primeiro no purgatório de PENUDE, no curso RANGERS, e depois no inferno, na Guiné, junto com o teu bando, tinhas era fugido para o Haiti ou para as Bahamas.
Um abraço Amigo do eterno periquito M.R.
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