quarta-feira, 2 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7888: A minha CCAÇ 12 (13): Janeiro de 1970 (1): assalto ao acampamento IN de Seco Braima e captura de Jomel Nanquitande (Luís Graça)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca)  > Carta do Xime (1961) (1/50000) > Excerto: A posião relativa de parte dos subsectores de Mansambo e Xime, com destaque para a península de Galo Corubal - Satecuta - Seco Braima (ou Darsalame), na margem direita do Rio Corubal,  à direita da estrada Mansambo - Ponte do Rio Jagarajá - Ponte dos Fulas - Xitole... Da ponte do Rio Jagarajá até Satecuta, junto ao Rio Corubal não são mais do que 8 quiómetros em linha recta... Nesta operação, partiriam às 9h00 da amanhã, com um intervalo às 12h00 para descanso e pernoitando às 17h00 num trilho que conduzia a Galo Corubal, para prosseguirem às 3h30 da manhã para Satecuta e, por fim, Seco Braima, acampamento que foi assaltado, já de manhã, cerca das 7h00... A toque de caixa, no regresso, chegariam ao ponto de partida por volta das 13h00... com gente esgotada e desidratada, mais um prisioneiro, combatente (que dali a uma semana levaria a CCAÇ 12 a embrulhar de novo, explorando informações obtidas do seu interrogatório em Bambadinca: Op Borboleta Destemida). Em geral, ia-se uma vez por ano a esta península, na época seca, e com efectivos entre 200 a 250 homens (3 destacamentos), além de apoio da FAP e da artilharia (Mansambo)... (LG)





Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CCAÇ 2404 (1969/70) > Aspectos do aquartelamento construído, de raíz, pela CART 2339 (1968/69). Diversas operações em que esteve envolvida a CCAÇ 12 (1969/71)  começavam aqui... Foi o caso da Op Navalha Polida, de assalto à base do PAIGC de Satecuta, na margem


Fotos: © Arlindo Teixeira  (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça



(7) Janeiro de 1970: 3 assaltos a objectivos IN

Durante o período de Janeiro a Abril de 1970, coincidindo com a época seca, a CCAÇ 12 desenvolveria uma intensa actividade operacional ofensiva, realizando:



(i) 7 operações a nível de Batalhão (das quais 6 com contacto): por exemplo, Op Navalha Polida, Op Borboleta Destemida e Op Safira Única, só em Janeiro de 1970.


(ii) 3 operações a nível de Companhia (uma com contacto e as outras com vestígios do IN);


(iii)  e ainda 10 acções, além da actividade de rotina (Missão do Sono, Mato Cão, Ponte do Rio Udunduma, tabancas em auto-defesa, colunas logísticas...).


(7.1) Op Navalha Polida: assalto imediato ao destacamento IN de Seco Braima, junto ao Rio Corubal, no subsector do Xitole





Em 2 de Janeiro de 1970, às 5h00, dava-se início à Op Navalha Polida para uma batida à região de Galo Corubal-Satecuta-Seco Braima, e em que participaram mais de 200 homens:  3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A), além de forças da CCÇ 2404, a 2 Gr Comb   (Dest B) e CART 2413, a 2 Gr Comb  (+) (Dest C),  estas duas últimas sediadas, respectivamente, em Mansambo e Xitole.

Sabia-se, em consequência da Op Lança Afiada (**), que o IN ocupava a península de Galo Corubal-Satecuta cujas bolanhas eram cultivadas por uma numerosa população de balantas e beafadas.

Mais recentemente um RVIS efectuado pela Força Aérea e uma emboscada que 1 Gr Comb da CART 2413 (Xitole) sofreu entre o Xitole e a Ponte dos Fulas, viriam confirmar a existência de 1 bigrupo naquela área.

A missão das NT era bater a península de Galo Corubal-Satecuta-Seco Braima, procurando aniquilar os elementos IN armados, aprisionar a população e destruir todos os meios de vida.

Desenrolar da acção:

Os 3 Destacamentos encontraram-se por volta das 9h00 perto da ponte sobre o Rio Jagarajá, na estrada Mansambo-Xitole, tendo iniciado imediatamente a progressão a corta-mato em direcção ao objectivo. Por volta das 12h00, fizeram um descanso em (Xime 4B5-5C)



Pelas 17h00 atingiram o local de pernoita (Xime 4A8-48), tendo-se emboscado junto a um antigo trilho que conduzia a Galo Corubal. A instalação foi feita de forma a conseguir-se apoio mútuo entre os três Destacamentos e a neutralizar uma eventual acção de surpresa do IN.

No dia seguinte, às 3h30, os Dest B e C iniciaram, de maneira vagorosa e cautelosa (devido às dificuldades do terreno (capim alto, vegetação densa) o movimento em direcção a Satecuta. E uma hora mais tarde o Dest A (CCAÇ 12) começou a deslocar-se para a região de Seco Braima, tendo ouvido por volta das 7h00 ruídos do pilão e vozes humanas.

Dirigindo-se imediatamente nessa direcção, o Dest A [CCAÇ 12] teve de cambar um curso de água, utilizando uma ponte submersível feita de troncos de cibe, deixando então de ouvir as vozes por se encontrar numa baixa.

Entretanto, o 4º Gr Comb ficava emboscado junto ao ponto de cambança. Continuada a progressão ao longo da margem, ouviram-se de novo vozes. Feita a aproximação de maneira cautelosa, verificou-se que havia ali um destacamento avançado do IN que deveria constituir o dispositivo de segurança próxima da tabanca de Seco Braima.

Como era impossível qualquer manobra de envolvimento sem ser detectado, devido ao capim e à vegetação arbustiva, o Comandante do Dest A deu ordem para que os homens da frente fizessem um assalto imediato. O acampamento foi atacado à granada de mão, tendo-se ouvido gritos lancinantes de dor.

Apesar de surpreendido, o IN reagiu rapidamente com armas automáticas, ao mesmo tempo que retirava, levando dois corpos de arrasto (no terreno havia sinais de arrastamento de 2 corpos através do capim e vestígios de sangue).

Concentrando o fogo na direcção da retirada do IN, os 2 Gr Comb (1º e 2º ) do Dest A tomaram o acampamento que era constituído por 5 casas de mato. Feita a batida a zona, encontrou-se o seguinte material:

  • 5 granadas de RPG-2,
  • 1 carregador de Metralhadora Ligeira Degtyarev,
  • 2 lâminas de carregadores com 18 cartuchos,
  • além de vários utensílios e um balaio cheio de arroz.

Entretanto, já os Dest B e C tinham atingido o acampamento de Satecuta, de resto abandonado (há uma semana atrás, com vestígios de muitos trilhos recentes). Porém, devido aos rebentamentos que se ouviam da direcção de Seco Braima, alguns elementos IN, de passagem em Satecuta, foram alertados e na fuga seriam interceptados pelo Dest C [CART 2413] que abriu fogo sobre eles.



O  IN reagiu da vários pontos da mata. Na perseguição as NT fizeram um prisioneiro,  de nome Jomel Nanquitande, ferido, deixado para trás pelos seus companheiros, que no entanto recuperaram a sua arma. O seu ferimento não era grave, aos olhos de um tuga. Após uma semana de recuperação e de interrogatórios, o Jomel seria obrigado pelas NT a participar como guia para um assalto de mão ao acampamento IN de Ponta Varela que conhecia bem [, a sudoeste do Xime, na direcção de Madina Colhido]: Op Borboleta Destemida (CCAÇ 12, a 4 GR Comb + CART 2520, a 2 Gr Comb, operação realizada a 13 de Janeiro de 1970, e que descreveremos no próximo poste desta série).


Quase simultaneamente os 2 Gr Comb do Dest A em Seco Braima começariam a ser flagelados com canhão s/r e mort 82, instalados na margem esquerda do Rio Corubal, em frente de Ponta Jai. Foi entretanto pedido apoio aéreo e dada ordem de retirada pelo PCV. Enquanto os bombardeiros T 6 martelavam as posições do IN, as NT retiraram  ordenadamente.

Os 3 Dest encontraram-se na estrada Mansambo-Xitole, por volta das 13h00 do dia 3, tendo o Dest C seguido para o Xitole e os Dest B e A para Mansambo em coluna apeada (até à Ponte dos Fulas e ponte do Rio Bissari, respectivamente). Devido ao elevado cansado de alguns militares dos Dest A e B, foram recolhidos em viaturas no Rio Bissari.

Em resultado da acção das NT, o IN teve 2 mortos prováveis e vários feridos confirmados, além dum capturado.

Durante o mês de Janeiro o IN manifestar-se ainda nos subsectores de Xitole e Mansambo:

(i) a 19, montando 2 minas A/P, na estrada, das quais uma foi accionada por uma viatura, com rebentamento de pneu, e a outra detectada e levantada, verificando-se pela sua análise que estava completamente nova;

(ii) a 20, fazendo um pequeno grupo vindo do sul queimadas na região de Moricanhe  (antigo destacamento de milícias abandonado em meados de 1969, depois do ataque a Bambadinca em 28 de Maio desse ano);



(iii) a 21, flagelando (um grupo não estimado), de SW,  durante 30 minutos, o aquartelamento de Mansambo, com utilização de Mort 82, LGfog e armas automáticas, mas sem consequências para as NT; 


(iv) a 27, às 20h20, flagelando (um grupo não estimado), de NW e SW, durante 2 horas, o destacamento de Taibatá (Pel Mil 242), utilizando 2 Canhões s/r, 2 Mort 60 e LGFog, sem consequências.


No resto do Sector L1, houve ainda as seguintes acções IN durante o mês de Janeiro de 1970:


(v) Um grupo estimado em 15/20 elementos flagelou, de Norte e Oeste, em 5 de Janeiro, às 17h00, durante 20 minutos, o aquartelamento de Missirá (Pel Caç Nat 54 e Pel Mil 201), durante 20 minutos, com recurso a Mort 82, Mort 60, LGFog e armas automáticas, sem consequências;


(vi) Assalto a Nhabijão Bedinca (um das tabancas do aglomerado populacional de Nhabijões), em 7 de Janeiro, por volta das 20h30: um grupo não estimado, vindo do Cuor (a norte), raptou uma bajuda e uma mulher grande;


(vii) Um grupo não estimado emboscou as NT em Xime 3XC7-27, com Mort 82, causando 4 feridos ligeiros, em 14 de Janeiro, no decurso da Op Borboleta Destemida;


(viii) Flagelação, de oeste, durante 15 minutos, do destacamento de Finete (Pel Mil 202), no dia 17, às 18h15, com utilização de Mort 82, LGFog e armas automáticas, sem consequências;


(ix) A 19, uma viatura nossa accionou uma mina A/P, causando rebentamento de um pneu, em Xime 7C-3.


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Fontes consultadas:


História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II. 21-22.

História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

Diário de um Tuga 



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 Notas de L.G.


(*) vd. poste de 24 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7852: A minha CCAÇ 12 (12): Dezembro de 1969, tiritando de frio, à noite, na zona de Biro/Galoiel, subsector de Mansambo (Luís Graça / Humberto Reis)


(**) Vd. postes da I Série do nosso blogue:


15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli


9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas


9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli


14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal

5 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Luís Graça
A carta do teu poste encaixa no meu escrito. Na mouche. Bela zona. Mas a situação militar mudou muito em pouco tempo.Em Fev/68 destruímos o Galo Corubal etc(com apoio da aviação) e louvor colectivo devido a ser a 1º Operação. Foi quando estivemos pela primeira vez em Mansambo, a minha "" Mansambo, aí retratada e o Monumento aos Nossos Mortos. Oito Luís e tantos feridos, deficientes...
Não me quero alongar mas eles levaram na cara várias vezes e forte, forte. Até parei carago...dasse...
Eu reformulei o "trabalho" da Lança Afiada. fiquei quase na estaca zero com cinco páginas. Mas devia sair em 8 de Março e não sai...efemérides...
Abraço T

Luís Graça disse...

Os bravos de Mansambo, os bravos da CART 2339 (1968/69), construtores de bunkers e toupeiras humanas como os de Gandembel/Balana... mas que não se limitavam a ficar sitiados e acossados... Também sitiavam e acossavam...

A velhice de Mansambo, que merecia muito respeito aos piras... Tinham ido a sítios míticos, no leste, como o Fiofioli, o único sítio onde nunca fui (eu, CCAÇ 12, 1969/71)...

Camarada e amigo, venha de lá essa Lança Afiada, retemperada pelas tuas memórias, mesmo que não possa chegar no dia 8... É uma efeméride com 42 anos...

Luís Graça disse...

Torcato: A nossa actividade operacional no Sector L1 (aquele que melhor conheci) era um verdadeiro suplício de Sísifo (recordas-te, Sísifo foi condenado pelos deuses a transportar uma enorme pedra até ao cima da montanha; chegado lá, a pedra voltava a rolar até à base; e o suplício continuava, pela eternidade fora... Em suma, o nmito do absurdo...).

Em 1971, um ano e picos depois, já na época das chuvas (que suicídio), a CCAÇ 12 mais forças do Xitole e Mansambo voltam à mesma pensínsula... Para quê ? Dar e levar porrada...

Outro batalhão, outro major de operações, a repetição das mesmas opereações, dos mesmos erros... Podes ler aqui:

26 de Fevereiro de 2011
Guiné 63/74 - P7865: Operações do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (1): Quadrilha Sagaz, Satecuta, subsector do Xitole, 11-12 de Julho de 1971

(...) Pelas 7,20 o AGRUPAMENTO AZUL reiniciou a progressão mas como o guia principal encontrasse grande dificuldade na sua orientação devido à arborização apresentar nesta época um aspecto uniforme, o capim estar já com uma razoável altura e as nuvens muito baixas encobrirem o Sol, houve, a seu pedido, que deslocar um auxiliar de guia de um dos pelotões para a testa da coluna para entre ambos encontrarem o caminho a seguir.

- Pelas 8,30 um grupo IN estimado em 40 elementos emboscou com MORT 82, RPG-2 e ML em [XIME 4F3-37] o AGRUPAMENTO AZUL, ferindo nos primeiros disparos os dois guias que tiveram posteriormente a ser evacuados.

- A pronta reacção das NT obrigou o IN a debandar levando consigo pelo menos 4 elementos feridos confirmados visualmente por vários elementos das NT e pelos rastos de sangue deixados no terreno. Ao mesmo tempo que debandava o IN flagelava a zona com MORT 82 cujos impactos cobriram eficazmente a sua retirada não permitindo a perseguição das NT.

- É de realçar que este grupo tem que dispor de um muito bom apontador de MORT 82 dada a precisão de tiro desta arma. As NT, impedidas de perseguir o IN, flagelaram-no com MORT 60, BAZOOKA e dilagramas provocando possivelmente mais baixas pois os impactos situaram-se na zona de retirada do grupo IN.
(...)

Torcato Mendonca disse...

##Síssifo e o Major: talvez em Set/69 fomos para o Xime fazer mais uma operação.
Ia um Major, se bem me lembro baixo e anafado, do Bat de Bambadinca. Infringindo regras elementares da vida militar, deu um raspanete ao Capitão CMDT da Companhia anfitriã, perante os alferes.A resposta desse Capitão foi: -Sou Professor de Liceu meu Major…
Saíram as tropas, Malan Mané como guia. Aparece a madrugada e sabe-se que estamos em nenhures. Reunião breve e perante o triste facto…fora de rota, já certamente detectados etc…pergunta o Major a um ou outro que fazer…o tal Capitão respondeu-lhe: já disse ao meu Major que sou Professor…e eu delirei…creio que o Beja santos estava lá. Certo é que repetiu também a operação e o pobre Malan tem dessa outra piores recordações. Ele e tu recordas a segunda. O Império... Caro Luís e eles não sabem quem foi Síssifo…talvez os prisioneiros militares de Elvas…dizem...soubessem.
AB T

Anónimo disse...

Amigos:

Não tenho nada a crescentar...
Nós CART 2339 e continuando, a CCAÇ 12, do Luís.

Fez agora 42 anos.
Eu era o 3.º na fila, pois comandava a secção de bazooca.
Horas e horas de espera...
Mas fomos lá. Éramos piriquitos (um mês de Guiné)e, digo, talvez por isso fomos, entrámos e vimos o Rio do outro lado.

Louvor(correcto)ou inconsciência???
Antes GUERRA, agora PAZ.
Obrigado ao Torcato e ao Luís por relembrarem estes episódios.

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