Caríssimos editores.
Na sequência da minha recente viagem à Guiné-Bissau, junto um artigo sobre mais uma aventura.
Abraços
Zé Teixeira
Missão na Guiné no século XXI
Cinco horas da manhã. Como combinado na noite anterior, as pessoas que voluntariamente se dispuseram a avançar para a operação, aproximaram-se do local da formatura.
O primeiro a aparecer foi o guia. Feitas as saudações matinais, explicados os objectivos, e verificadas as máquinas, deu-se o sinal de partida com o guia à frente. Seguiam-no de perto, os periquitos que não conhecendo o terreno que pisavam tinham receio de se perderem.
Em silêncio e passo rápido lá fomos mata dentro por trilhos e picadas que há muito tempo não se sentiam pisados por gente de pele tão branca.
O Caminho
Os aventureiros
Entramos numa tabanca amiga, ainda adormecida. Uma ou outra mulher preparava o mata-bicho para um acordar saudável. Aqui, esperava-nos um segundo guia. Este, tinha andado na noite anterior a vigiar as andanças do numeroso inimigo e sabia, mais ou menos, onde este se acoitou para passar a noite e gozar de merecido descanso.
Uma pausa, para reunir com os guias e definir a estratégia a seguir, face à possibilidade de planificações de última hora tenham levado o “terrível” adversário a mudar de poiso durante a noite.
É pedido silêncio absoluto durante a lenta marcha que se segue de olhos apontados ao escuro da noite e ouvidos atentos. Uma simples folha seca ao queixar-se do pé periquito que a pisou pode ser factor para assustar quem procuramos tão afincadamente, que nos fez saltar da tarimba, alta madrugada.
O guia ia apontando para a dianteira como quem diz, estão ali, mesmo à frente no nosso nariz e nós, lá o seguíamos com o máximo de cuidado, sem conseguirmos descortinar absolutamente nada.
Devem estar ainda a dormir, cogitava eu, de máquina aperrada e dedo no gatilho, pronta a disparar um flash.
Emboscamos temporariamente numa clareira. Olhos e ouvidos bem abertos, comunicávamos uns com os outros através do olhar que o sol renascido da noite foi denunciando.
Por ordem dos guias fomos avançando pelo mangal dentro, tendo muito cuidado com o chap-chap que nossos passos provocavam na tarrafo.
Eis que surge a notícia há muito esperada. Estão ali! Estão ali!
O posto de observação
Lá estão eles
Máquinas apontadas. Olhar centrado nas copas do palmeiral. As ramagens abanam, sem que haja a mais leve brisa. Sinal de presenças estranhas.
Lá vai um… outro ali…
clic, clic. Os primeiros disparos que não apanharam ninguém, penso eu.
Durante cerca de meia hora, eles saltavam de árvore em árvore e nós corríamos atrás deles com a esperança de sacar uma foto inédita.
Os famosos chimpanzés da mata do Cantanhez que vivem nas imediações de Iemberém, acordados pelo radioso sol daquela manhã, depois de umas saudáveis espreguiçadelas, decidiram pôr-se em marcha, à procura do mata-bicho, deixando-nos a olhar para o lindo sol que espreitava por entre a ramagem da densa floresta.
Que belos momentos de diálogo com a natureza se viveram naquela madrugada de Abril de 2011!
Para mim, foi uma esplêndida oportunidade de voltar aos tempos em que com a bolsa de enfermeiro às costas, rodeado de homens bem armados e dispostos a tudo para salvar a vida, trilhava caminhos idênticos, em madrugadas tiradas a papel químico, em que não se via nada, mas mesmo nada, à frente do nariz. O inimigo era outro e bem real.
Tempos que já lá vão, mas não se conseguem esquecer, pelo que tiveram de bom e de menos bom. Uns belos momentos revividos agora para ajudar à catarse que continuamos a precisar de fazer.
Presentes nesta aventura estiveram o Eduardo Moutinho Santos, o Jorge Cruz, o Tiago, a Joana e o Zé Teixeira, acompanhados dos dois simpáticos guias que se prontificaram a levar-nos até ao local onde se previa estivesse acoitados os chimpanzés.
(Texto, fotos e legendas de José Teixeira)
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Nota de CV:
Vd. último poste de 14 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7783: Ser solidário (102): Sementes e água potável - Um projecto inovador (José Teixeira)
1 comentário:
Além de mais uma boa história, ao nosso godto, que é bom e refinado, foi mais uma viagem na máquina do tempo, ao passado.
Obrigado Zé Teixeira
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