sábado, 30 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8185: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (41): De volta a Bula - Destacamentos





1. Mais uma viagem à volta das memórias de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), enviada em mensagem com data de 26 de Abril de 2011:





Viagem à volta das minhas memórias (41)

De volta a Bula
Destacamentos


Teixeira Pinto e a sede do CAOP 1 ficavam para trás juntamente com uma actividade operacional interventiva de relevo, seja no plano de esforço físico e psicológico ou, ao que sei, no estritamente operacional e a prová-lo há os vários louvores determinados pelo Cor Pára R. Durão, Comandante desse CAOP 1, com que variada rapaziada foi distinguida, para além de Prémios Governador e Cruz de Guerra.

Luís Faria > Augusto Barros em fundo

Também para trás ficara há já muito, se assim se pode dizer, a nossa “periquitice” e a “meia-idade” começava a dar lugar a uma “velhice” já bem merecedora de “sopas e descanso” enquanto os dias corressem para Julho de 1972, altura falada para o regresso a casa. Era de crer que o pior estaria passado e a partir dessa altura iríamos resolver o resto da comissão sem problemas de maior e da melhor forma possível que conseguíssemos. Pelo menos era o que esperávamos e acidentes eram de evitar.

No entanto e para alguns onde me incluíram, tal acabaria por não acontecer por terem sido “bafejados” com surpresas menos agradáveis e de índoles diferenciadas, durante períodos dessa “velhice” que, julgava eu, deveria (?) ser sossegada.

Retornados ao sector de Bula, onde novamente ficamos na dependência do BCAÇ 2928, os GCOMB foram distribuídos pelos destacamentos, cabendo o de João Landim ao 1.º GCOMB, Mato Dingal ao 4.º e Augusto Barros ao 2.º e Comando. Neste último já se encontrava instalado e ambientado o 3.º GCOMB, regressado de Bissum pelos meados de Novembro, comandado pelo Alf Mil Aires Ornelas (Goês?) coadjuvado pelos Fur Mil Almeida e Ferreira.

Destes destacamentos que conheci e por onde também acabei por assentar arraiais em substituições, para mim o mais simpático e digamos acolhedor, era o de Mato Dingal, segundo no sentido de Bula a partir da travessia do Mansoa.

Não recordo porque razão, a “FORÇA” sofre nova alteração, tendo o Capitão Branco ido para a CCAÇ 3328 por troca de comando com o Capitão Silva Rolão (de que não fiquei com as melhores recordações como militar e comandante).


Augusto Barros > Luís Faria e a metralhadora Breda(?)

Tirado o “azimute” ao cantos das novas e belas instalações e às defesas daquele meio - “burako”, por comparação com Capó, há que começar a organizar a vidinha de molde a passá-la o mais agradavelmente possível, de preferência evitando atritos com a população local, pouco confiável e ao que se suspeitava, infiltrada em noites por “passeantes” das matas. Ao que julgo recordar e por via das dúvidas, uma das metralhadoras pesadas Breda(?) estava virada para as bandas da tabanca, não fosse o diabo tecê-las.


Augusto Barros > Luís Faria > Sopas, descanso e banhos se sol
Ao fundo algumas das instalações

Os dias iam-se somando e a breve prazo começou a instalar-se uma espécie de rotina a que estávamos pouco habituados e que se ia processando no dia-a-dia, sinal de uma nova vida diferente em variadíssimos aspectos e onde o “trabalho” era de certo modo na razão inversa das “sopas e descanso” que marcavam presença a par dos banhos de sol com o corpo besuntado de coca-cola - na tentativa de dar mais “bronze”… (dizia-se ?!!) – e dos litros e mais litros de cerveja, vinho e vinho de caju (adorava este vinho) bebidos com ou sem acompanhamento petisqueiro.

Logo ali à beira existia um pequeno aglomerado de cajueiros, onde passava bastante do tempo em sornas à sombra, ouvindo a algaraviada dos pássaros, ao mesmo tempo que ia comendo daqueles frutos de que também muito gostava e muitas vezes escrevinhando uns “bate-estradas”. Bastantes por sinal.

Engraçado, eficaz e grátis, este meio de comunicação de sentimentos, amores, saudades e novas, onde todo o milímetro de espaço era aproveitado para desenhar mais umas letras construtoras de algumas frases que para serem lidas obrigavam ao voltear do papel e a certa perspicácia de observação sequencial, que chegava a pôr os olhos em bico. Tenho para mim, que esses aerogramas tiveram um papel de muito relevo nessa nossa guerra, ainda que muitas vezes criticados mas sempre bem aparecidos e ansiados.

Aproximando as minhas férias os dias iam-se sucedendo entremeando trabalho, descanso e lazer, por essa altura mais descanso e lazer, com excepção para uma Secção, creio que do 3.º GCOMB que foi para Bula alinhar na segurança da construção da estrada Bula-Binar e mais tarde, por finais de Maio72, um GCOMB seguiu o mesmo caminho, abandonando o bem-bom e entrando em várias Operações.

Assim se foi escoando o tempo até final de Junho altura em que toda a CCAÇ 2791 se viria a reunir de novo em Bula, recomeçando a actividade operacional interventiva.

Texto, fotos e legendas: Luís Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7918: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (40): Teixeira Pinto - Lusco-fusco em Capó

9 comentários:

manuelmaia disse...

Luis,

Estive a ler com muito agrado e atençao este teu escrito 41, e constatei que o vosso 3º grupo de combate que regressou a bula( sa´ido de Bissum)fazia parte,obviamente, de uma companhia que a minha foi render.
Recordo vagamente o furriel Chaves(creio). um fulano pequenino mas muito castiço, que nos "brindou"
com algumas praxes que tive oportunidade de focar ja´ mormente a "petiscada" de abutre a que chamaram galinha da India...
"mamaram" as loiras que no´s periquitos pagamos e eles comeram frango com o mesmo molho e visual.
Outra vez numa saida nocturna com o seu grupo( creio que leles ia so uma secçao que era a do Chaves...)
O alferes dessa companhia era um faroleiro( segundo o Chaves...) e teve uma frase que nunca mais na vida esqueci...
Quando em conversa na messe connosco(periquitos),um mosquito lhe pousou no braço, olhando para o dito,sem esboçar nenhum gesto para o afastar,sequer, disse:
Que falta de respeito ´e esta?
Com tantos periquitos aqui vai ferrar na velhice?
Creio que nao se chamava Ornelas...
Abraço
manuelmaia

Anónimo disse...

Camarigo Luís Faria

Parece que finalmente tinha chegado o bem merecido "descanço do guerreiro"? Ou ainda houve mais trabalheiras?
Por essa altura já eu estava a esquecer o passado...embarquei de avião de regresso em 9FEV72.
Aquele abraço
Jorge Picado

Jorge Fontinha disse...

Há aqui uns reparos a fazer.Para esclarecimento do Manuel Maia, o referido Alferes do 3º Grupo de Combate e que havia estado em Bissum,chamava-se Norman de Ornelas Gomes e era de origem Indiana.Os furriéis eram o Almeida e o Ferreira.O Chaves era furriel miliciano, conjuntamente comigo, no 4º Grupo de Combate, comandado pelo Alferes Gaspar, tendo vindo directamente de Teixeira Pinto para Mato Dingal.
Não é por acaso que o meu particular amigo Sampaio Faria tenha tido um especial carinho pelo 4º Grupo de Combate.Verifica-se uma situação, que era comum em muitas companhias.O Luís Faria era o Furriel mais antigo eu era a seguir, no entanto a hierarquia era esta e por vezes, quando um dos Alferes estava de férias, era ele que o substituía.Comandou o 4º Grupo, durante a viagem de Lisboa à Guiné comandou-o no Iaó e em Mato Dingal, na ausência do Gaspar substituiu-o.Nesse tempo também me substituiu a mim e ao Chaves.Tirando essas situações, fazia-se em Mato Dingal, um LEITÃO à BAIRRADA, divinal!... e o Luís Faria nunca deixou o seu garfo e o seu copo por mãos alheias!
Foi no seio deste grupo, que nasceu uma grande amizade entre vários amigos inesquecíveis.Foi neste destacamento que se passou a cena mais hilariante, da nossa comissão, protagonizada por mim e por ele testemunhada.A seu tempo a ponho em Post.

Aquele abração amigo.

Jorge Fontinha

Luis Faria disse...

Fontinha

Tens razão quanto ao nome do" diz vá,diz,diz p´ra mim...que está a dizer de mim...?!!!" era Norman e nao Aires.Onde raio fui buscar o nome.Será que à rua?

fico à espera dessa(será a do For...?)e de muitas outras que sei teres para contar. Vê lá se recomeças a dar corda aos dedos.


Jorge Picado

Quer dizer que por essa altura já estavas no " bem-bom" e a curtir"saudades" enquanto nós ,continuamos na tentativa de "manter a porta aberta"!

Manuel Maia

O fontinha já esclareceu sobre o Chaves

Se o Alf do mosquito(frase deliciosa) fosse o Gomes,a frase dita seria em tom meio desconfiado :"quem pos o mosquito em mim...?!"

Um abraço

Luis Faria

Luís Dias disse...

Caro Luís Faria

Pela foto que apresentas a arma é efectivamente uma metralhadora pesada (mais tarde passou a ser ligeira - como é possível com aquele peso ser ligeira!)BREDA.
Um abraço

Luís Dias

manuelmaia disse...

Volto de novo `a liça para perguntar?

A que companhia estava adstrito esse grupo de combate(3º)?
SAim porque a minha companhia foi render outra e nao um simples grupo!
Quanto ao furriel era um pequenino.
( o tal que pensei chamar-se Chaves) mas havia varios e nao apenas dois.

Esta cena passa-se em julho 72 porque cheguei em junho e ainda estive no Cumere...

O alferes da piada,seria um "gabarolas" segundo o dito furriel...
Parece que fugia do mato,como o diabo da cruz...

Luis Faria disse...

Amigo Manuel Maia

O 3ºGCOMB vai reforçar a CCAÇ 2781 e abandona Bissum em 15 ou 16 Novembro 71 com destino a Augusto Barros

Um grande abraço
Luis Faria

manuelmaia disse...

Assim sendo, nao era o vosso 3º grupo
(adido `a c.caç 2781), quem la estava em julho de 72, mas outras gentes...
Ja agora se houver algum camarigo pertencente a essa companhia, que se manifeste.
abraço
manuelmaia

Anónimo disse...

Meu caro amigo Luís Faria,

Na medida em que fizestes referência a comandantes que passaram pelo CCaç 3328 (Jan71/ Jan73), julgo ter interesse deixar saber o nome dos comandantes dessa companhia, como referência futura.

A CCaç3328, BII17, teve como comandante na sua formação o Cap. Lemos de Carvalho. Estava a companhia no IAO, em Sta. Margarida, quando o Cap. Carvalho foi promovido a Major.

Já na Guiné, a companhia conheceu ainda os capitães Rola e Branco e acabou a comissão comandada pelo Cap Mil Almeida, alferes da companhia promovido àquele posto.

Um abraço amigo,
José Câmara