domingo, 2 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8847: Notas de leitura (280): As Mulheres nas Malhas da Guerra Colonial, de Ana Bela Vinagre (Felismina Costa)




1. Em mensagem do dia 29 de Setembro de 2011, a nossa amiga e tertuliana Felismina Costa *, enviou-nos umas notas de leitura sobre o livro de Ana Bela Vinagre, "A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial" que acabou de ler recentemente:





A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial

Por Felismina Costa

A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial, de Ana Bela Vinagre, edição de Fonte da Palavra, é, sem sombra de dúvida, uma chamada de atenção para o tempo em que aconteceu o referido conflito e toda a sua implicância na sociedade Portuguesa da época.

A autora, faz notar as condições económicas e sociais do País, a aceitação forçada
de uma guerra que a maioria defendia por Patriotismo, incentivando os seus jovens a usar o seu brio Pátrio, como é descrito por vários testemunhos inclusos na própria obra.

Trata-se de um livro, que evidencia o marasmo do País e a pouca preparação cultural da maioria do povo, que era educado para aceitar a estagnação como algo natural e intransponível, valorizando apenas e tão só a mulher enquanto esposa e mãe, à margem do desenvolvimento e do avanço cultural, como ser limitativo. A mulher esposa, a mulher mãe, governada pelo “dono”, capaz apenas de procriar e cuidar do lar, submissa por imposição sem poder de decisão nos destinos do País, que ela, como procriadora, gostaria de ver próspero e culto. Limitada pela imposição, atreve-se a expressar-se e a manifestar-se, aos poucos, decidida a impor as suas ideias e defender os seus direitos, como ser de pleno direito nos destinos do seu País e da sua própria evolução.

Por outro lado, mostra-nos a coragem que as mulheres das décadas de 60/70 dão aos seus jovens em guerra, no apoio moral, nas palavras plenamente sentidas e muitas vezes menos bem expressas, por insuficiente cultura, mas plenas de intenção de ajudar a ultrapassar um tempo de grande preocupação e sofrimento.

A obra é uma retrospectiva das mentalidades e governação da época a que poucos tinham coragem para se oporem.
Revejo-me em toda a sua descrição, revivendo ideias e factos que reafirmo peremptoriamente, porque assim vivi o tempo descrito: exactamente assim!

Ana Bela Vinagre, apresenta-nos testemunhos de mulheres, que, numa entrega enorme tentaram ajudar os filhos de quem estavam longe, oferecendo o seu tempo e a sua hospitalidade, promovendo a sua integração e bem-estar. Testemunhos de mulheres jovens, que, mercê da sua imponderabilidade e da sua vontade, foram capazes de acompanhar os seus homens, durante as suas comissões em teatro de guerra, mulheres que acompanharam e ajudaram a ultrapassar os dias negros dos seus doentes e mutilados, de mulheres que perderam os seus familiares e que ainda hoje os recordam com dor imensa, e de mulheres enfermeiras, que arrojadamente provaram, que a coragem não é a penas apanágio dos homens e, que, como noutras situações da vida, souberam estar à altura das circunstâncias.

Refere igualmente as Senhoras do MNF, no apoio manifesto e intencional de ajudar a vários níveis, o que devia ter sido feito pelo Estado Português.

Refere o sofrimento de todos ligados directa ou indirectamente ao conflito: os familiares, predominantemente, mães, mulheres e namoradas, e a sua importância no moral dos homens em TO.

Creio que este trabalho é uma ajuda preciosa para a construção da história do nosso País, num período conturbado, como foi o da Guerra Colonial e, em que as mulheres, na retaguarda, o tentaram tornar menos penoso.

Felismina Costa
Agualva, 29 de Setembro de 2011
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8817: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (33): Um dia de Verão na Serra de Sintra (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 30 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8840: Notas de leitura (279): Os Anos da Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (Mário Beja Santos)

2 comentários:

Hélder Valério disse...

Cara amiga Felismina

É claro que 'a metade do céu', que é a mulher, também participou na 'nossa' guerra.
E fê-lo de muitas e sofridas maneiras. Como mãe, como irmã, como mulher (esposa, companheira), como namorada, como amiga...

Não são muito abundantes os elementos que retratam ou falam dessa 'participação', desse contributo.

Hoje por hoje já vão aparecendo mais documentos: são estes livros, são os filmes, são as reportagens... e também os depoimentos que por aqui também vão passando.

Abraço
Hélder S.

Unknown disse...

Fiquei feliz quando após uma pesquisa, tive o prazer de ler a crónica que dedicou ao meu trabalho. Muito haveria para dizer sobre o assunto e por certo muitos trabalhos ainda irão aparecer.
Gostei muito da objectividade da sua análise.
Saúdo-a com simpatia.
Ana Bela Vinagre