Caro Luís Graça e demais Camaradas de Arrmas.
Sou Manuel Luís Lomba, ex-furriel mil da CCav 703, do BCav 705, os "Cavaleiros Marinhos", e penamos na Guiné, em 1964/66.
Estivemos um ano na Amura, como reserva às ordens do Comando-Chefe e terminámos a comissão no Sector de Nova Lamego - a Companhia 703 na quadrícula de Buruntuma, a 704 em Bajocunda e a 702 em Madina do Boé.
O BCaç 1856 foi render-nos, ficando a Companhia 1418 em Buruntuma e a 1416 em Madina do Boé, a qual causará a morte, em combate, a Domingos Ramos, um dos primeiros e dos mais competentes comandantes do PAIGC, ex-furriel mil desertado do Exército Português, por ter sido vítima de flagrante injustiça de superior hierárquico, quando era instrutor no CIM (Centro de Instrução Mililitar), em Bolama.
Nas muitas missões de intervenção interagimos com o BCav 490, os Sempre em Frente", com o BCaç 600 (desconheço a divisa), com o BCaç 619, as "Sentinelas do Sul", com o BArt 635, os "Águias Negras", com Companhias independentes, com Grupos de Comandos, a Companhia de Pára-quedistas e Destacamentos de Fuzileiros.
Chegado à reforma, entrei em correntes de escrita. Acabo de publicar o livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", em edição de autor.
Manifesto o mais elevado apreço pelas vossas iniciativas e a minha vontade de adesão.
(Manuel Luís Lomba)
2. Em resposta, foi enviada em 7 de Setembro a seguinte mensagem ao camarada Manuel Lomba:
Caro camarada Manuel Lomba
À boa maneira do nosso Blogue vamo-nos tratar por tu.
Muito obrigado pelo teu contacto e pela vontade de pertenceres a esta família de ex-combatentes da Guiné. Na qualidade de relações públicas deste Blogue estou a receber-te e a sugerir que nos mandes uma foto do teu tempo de Guiné e outra actual (mais ou menos) para podermos proceder à tua apresentação formal à tertúlia.
Se quiseres desenvolver um pouco mais o texto da mensagem que nos mandaste servirá para a tua apresentação. Fala-nos um pouco mais do teu livro, manda-nos a capa digitalizada, e se há hipótese de algum interessado o adquirir, à cobrança, por exemplo.
Fica a teu critério outros pormenores para que te possamos ficar a conhecer melhor.
A tua correspondência deverá ser enviada sempre para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e simultaneamente para mim ou para o Eduardo.
Qualquer dúvida, é só perguntar.
Sem outro assunto de momento, fico ao teu inteiro dispor.
O camarada e amigo
Carlos Vinhal
3. No dia 9 de Setembro recebemos esta mensagem do camarada Manuel Lomba:
Meu caro Carlos Vinhal.
Grato pela sua resposta, a que tento corresponder em conformidade.
Envio duas fotos e acrescento um texto extraído do livro que acabo de publicar: "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu" (opto por escrever conforme a antiga ortografia).
Manuel Lomba
4. Do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", de Manuel Luís Lomba:
Outras manobras, no contexto da manobra da rendição da CCav 703 pela CCaç 763, na nomadização de Cufar, em 18 de Março de 1965
Chegou ao cais do rio Meterunga o grosso do efectivo da Companhia de Caçadores 763, comandada pelo capitão Costa Campos, para a nossa rendição, dotada de 8 cães de guerra, treinados por si e por sua conta e risco, género de combatentes que os turras também já mobilizavam. Os cães vieram acrescentar-se aos passarinhos, às vacas, aos patos bravos, às árvores, à vegetação, a toda a magia da Natureza, na engrenagem da máquina de sacrifícios, de sofrimento e morte que era a guerra da Guiné. Pelos cães, pelo brasão e pelo guião, pusemos-lhe o nome da Companhia dos Cães. Os turras não terão visto o que vimos deles, mas sobrar-lhes-ão motivos para, posteriormente, os alcunhar de “lassas” (abelhas).
O abrigo do depósito de géneros do estacionamento estava escancarado e vazio. Havia dias que não se via o fumo das chaminés das cozinhas rodadas a elevar-se ao céu, a anunciar rancho quente, e o estado de ruína dos nossos aparelhos digestivos já tolerava melhor a fome que a ingestão das rações de combate da Manutenção Militar. Aqueles “periquitos” (fardas verdes) da rendição vieram de Bissau, com volumoso carregamento de mantimentos e de suficiência, ou soberba, na exibição do direito ao seu exclusivo proveito. Coube a nós, mais velhos e “maçaricos”, (fardas amarelas), manter os turras à distância, para a chegada das suas pessoas e bagagens e tivemos de continuar a contê-los, a seco, para o desembarque dos comes e bebes, próprios para gente refeiçoar. Alguém bichanou a ideia e começamos a magicar expedientes de como lhes surripiar um garrafão de vinho e um bacalhau, para dizermos o adeus às armas de Cufar com uma “punheta” (do dito).
A ambiência da guerra é vivida como de outro mundo; mas aqueles “periquitos” da Companhia dos Cães pareciam vindos de outro, tal era a disciplina e método incutidos à desestiva das lanchas e ao tráfego das suas provisões de géneros alimentícios. Treinavam os cães e parecia-nos que os cães os treinavam a eles. O seu furriel vagomestre supervisionava todos e tudo, omnipresente, e enviava uma espécie de “guia de remessa” pelos grupos que faziam o tráfego para o estacionamento, que o seu primeiro-sargento conferia no destino, presencialmente. Os garrafões partidos ou esvaziados por consumo na viagem eram-nos entregues, com a maior displicência, qual tarefa menor, pela nossa missão de segurança, para os levar a vazadouro, à montureira que o estacionamento havia criado, na margem direita do Meterunga, exterior ao perímetro da sua segurança, povoada por um bando de flamingos, originários do rio Cumbijã, e por uma colónia de abutres jagudis, que a putrefacção do lixo atraíra para ali.
Tamanha vigilância conseguia conter as nossas intenções predadoras. Justificava-se a falta de iniciativa da acção específica fazendo circular entre nós o trocadilho de que tínhamos “os cães da Companhia” à perna. Nenhum mal é absoluto e havia muito tempo que a vida nos ensinara a reverter em nosso proveito a pequena parcela de bem que todo o mal contém. A situação não nos escapará à melhor análise, para o desencadear da acção dela consequente. Um tiro de aviso seria decisivo; mas com coisas sérias não se brinca, a despeito de dispostos a fazer um séria brincadeira.
Saiu um aviso, dirigido àquele vagomestre, a alertar que os turras viviam a cerca de 2 km, com super-metralhadoras, morteiros e canhões, que a morosidade do serviço estava a colocar-nos em grande risco, pelo que a segurança disponibilizava dois elementos em seu reforço e ajuda.
A invocação da proximidade dos turras era eficaz a impor o respeitinho, monopolizador das atenções. A solicitude sensibilizou o vagomestre, a contribuir para a sua fragilização. Um dos disponibilizados encheu um garrafão vazio no rio, outro pegou num garrafão partido e começou a dissimular um desvio, em sentido oposto à montureira; ele deu em cima dele, a farejar furto, afrouxou a vigilância, já afrouxada pela solicitude e pela atenção a eventuais sinais dos turras, enquanto aqueloutro trocava o garrafão de água por um garrafão de vinho, que levou, na maior das calmas, a esconder na montureira. O vigilante voltou, contou e recontou os garrafões. Tudo em conformidade, tudo num ápice, como de um golpe de mão se tratasse. O inconfundível cheiro de bacalhau salgado andava no ar, a provocar-nos as suas memórias gustativas, libertado duma caixa rebentada, com dizeres “graúdo” a encimar o lote do dito, rabos e badanas esparramados - e as operações da desestiva das lanchas aproximavam-se do fim. A sorte protege a audácia, escrevera Virgílio, na Eneida. Ante essa iminência, a segurança instruiu e destacou um outro do seu efectivo, para ajudar “a esfolar o rabo” e dar fim a esse trabalho, que o vigilante se apressou a agradecer, sem reparar no pormenor de ele se apresentar com o dólmen camuflado, a contrastar com a generalidade, em tronco nu.
Era sabido que os turras não gostavam de andar à luz do dia e, partindo da ideia que estariam a descansar das suas noitadas operacionais, um vigilante foi destacado para irritar os abutres jagudis, que reagiram furiosamente, com o seu grasnar fúnebre, contagiando os flamingos e toda a passarada ao redor entrou em alvoroço. A segurança correspondeu ao alarido com a emissão do alerta de perigo, toda a malta se colou ao chão - o respeitinho que faltava, decisivo, pelos turras. O último “maçarico” disponibilizado para o “tráfego e estiva” mergulhou junto ao lote das caixas de bacalhau e atracou-se à rompida, para surgir a rastejar, no sentido da montureira, tendo alegado ao vigilante que ia “pela arma”. No sítio certo, largou dois bacalhaus, que levava sob o dólmen camuflado, badanas entaladas na cintura e rabos entalados nos sovacos, razão bastante e suficiente para provocar o imediato levantamento do alerta de perigo; logo ele foi retomar a sua tarefa de ajuda, agora com a arma, mas em tronco nu, tal como os “periquitos”.
Algumas horas passadas, aqueles dois bacalhaus estavam desfiados, dessalgados por açúcar, feitos em salada com as últimas cebolas picadas, regados com os restos de azeite e comidos (e “bebidos”), com a discrição aconselhável, no ventre do poilão sagrado, novo posto de sentinelas avançadas, no segmento que nos cabia na defesa da nomadização em Cufar. Os turras e o Irã da mata de Cufar Nalu portaram-se condescendentes. A irreverência não negligenciara a prudência; para não se correr riscos, como alvos de participação e acção disciplinar, a prevenir “porradas” e, também, pela ausência de confiança mútua, a praxe não foi respeitada, ao não se convidar o proficiente vagomestre da Companhia de Caçadores 763 a partilhar da petiscada, na nossa despedida da nossa estada de 65 dias naquele palco no coração da guerra da Guiné.
5. Comentário de CV:
Caro Manuel Lomba, à boa maneira do Blogue (onde é que já ouvi isto?) temos que nos tratar por tu.
Estás apresentado à tertúlia, e logo com um texto muito curioso do teu livro, onde falas dos Lassas, Companhia do outro nosso camarada Mário Fitas. Podeis trocar impressões sobre o tempo de sobreposição, se é que deu tempo para vos conhecerdes. Este nosso camarada, assinando-se como Mário Vicente, escreveu um pequeno livro, também edição de autor, patrocinado pela Junta de Freguesia do Estoril, com o título "Pami Na Dondo A Guerrilheira", passado em Cufar, uma história, segundo o autor, ficção e realidade, de uma prisioneira. Para conheceres a história, que foi publicada na íntegra no nosso blogue, clica no título sublinhado.
Fiquei agradavelmente surpreendido pela tua vinda a minha casa para me entregares de mão um exemplar do teu livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu". Não chegaste a dizer-me como é que os possíveis interessados em adquiri-lo o poderão fazer.
Durante a nossa conversa apercebi-me que os anos não passaram por ti, estás em boa forma, tens uma excelente memória, muitas recordações do tempo da Guiné "à flor da pele" e escreves muito bem. Pelo que acabo de dizer, poderás ser uma mais-valia para o nosso Blogue, ainda mais se acrescentar que estiveste mais recentemente na Guiné-Bissau, em trabalho, onde tiveste oportunidade de estar com ex-combatentes do PAIGC.
Depois do que acabo de dizer sobre ti, não poderás escusar-te a falar-nos da guerra que viveste nos meados dos anos 60 em Cufar e Buruntuma e do que viste na Guiné-Bissau já independente e soberana. Disseste-me que muitas das tuas fotos desapareceram, mas incluíste algumas no teu livro, e outras terás que nos poderás facultar para publicação.
Termino a tua apresentação enviando um abraço de boas vindas em nome da tertúlia e dos editores.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 14 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10381: Tabanca Grande (360): Manuel Serôdio, mais um camarada da diáspora, ex-fur mil at inf, CCAÇ 1787/BCAÇ 1932 (Bula, Bissau, Empada, Buba, Quinhamel, 1967/68)
8 comentários:
[publicado no facebook às 17:14 de 24Jul2012]
--«quote»--
Durante o primeiro semestre de 1965, no sudoeste da Guiné, a CCav703 – comandada pelo capitão de cavalaria Fernando Manuel dos Santos Barrigas Lacerda –, participou na região de Cufar Nalu em duas operações militares, tendo a primeira como missão retirar às populações das tabancas a dominação exercida sob coacção por grupos armados do PAIGC, e a segunda consolidar naquele sector uma "malha de quadrícula" para instalação de aquartelamentos/destacamentos do Exército Português: foram elas executadas, em 17Jan-18Mar65 (op Campo) e em 09-23Abr65 (op Razia).
Em Cufar Nalu, nenhuma «batalha» teve lugar: aliás, entre 1960/61 e 1974/75, tal como em circunstância alguma de actividades de contra-guerrilha no Ultramar Português em África, ocorreu qualquer 'situação' que se possa, mesmo concedendo alguma extensão interpretativa, adjectivar ou classificar como «batalha»: no quadro das "guerras por procuração" que tipificaram todo o período da guerra-fria, salvo algumas excepções que, embora nos tivessem sido estranhas, nos viriam a servir para "manuais de boas práticas" – como por exemplo as verdadeiras «batalhas» no vale de Diên-Biên-Phu [30Nov1953-07Mai54] e na cidade de Argel [21Jan57-07Out57] –, não houve lugar a "batalhas"... , tanto mais que no mato, concretamente, as "frentes" eram inexistentes; fossem das NT, fossem do IN.
O termo «batalha» – também já utilizado em outro livro de memórias (?!) sob a epígrafe «A Batalha do Lumeje» –, aqui retomado pelo veterano Manuel Luís de Araújo Lomba – ex-furriel miliciano da supra citada subunidade de cavalaria –, apenas se pode acolher como "uma espécie de argumento de venda", para divulgação das suas memórias de guerra; isto, presumindo que se trata de "memórias", e não de "tardias visões de memórias"...
Venham pois elas, sejam, as memórias de veteranos, Portugueses, Patriotas, da derradeira defesa militar do património ultramarino do que era (então) o nosso País.
Todas, não são demais, desde que temporalmente posicionadas e enquadradas, mas qb espurgadas de anacrónicas análises socio-políticas e isentas da moderna ganga do revisionismo anticolonialista e do "politicamente correcto", como é evidente mau sinal a sinopse ora difundida pelo «gabinete de comunicação» do município de Barcelos, a qual pejada de "colónias", «desânimo e saturação dos oficiais do quadro permanente» e um subliminar elogio ao IN «Nino Vieira, o comandante guerrilheiro por excelência»... !
Note-se, aliás, que – mercê da oposição manifestada pelo "progressista" director do jornal local –, é precisamente o concelho de Barcelos um dos que permanece alheio a que nele se erga um memorial aos seus conterrâneos, que morreram em campanha no Ultramar.
--«unquote»--
Caro Manuel Lomba,sou o Mário Fitas referenciado pelo camarada Carlos Vinhal.
Gostaria de ter o teu livro, já que fala sobre uma terra querida, a Guiné e de um local com grandes referências para mim.
Estivemos uns dias em conjunto em Cufar de certeza, pois ali cheguei a 3 de Março de 1965 como furriel miliciano do 2º grupo de combate da C.C. 763.
Do naco que li do teu livro, o qual estou com grande curiosidade em ler, dou umas dicas:
De facto a C.C. 763 foi apadrinhada como companhia dos cães, esta estória está narrada no meu primeiro livro (Putos, Gandulos e Guerra).
O vagomestre fur. mil. Humberto Gonçalves Vaz, foi talvez dos melhores vagomestres que estiveram na guerra da Guiné. De tal forma que pediu a exoneração, e foi integrado num grupo de combate. Faleceu em combate a 24 de Fev. de 1966.
Quanto aos piriquitos (fardas verdes)julgo haver um lapso. Nós eramos maçaricos (ultimas fardas amarelas a entrar na Guiné).
Um abraço,
Mário Fitas
PS - Só uma correcção ao comentário de B-NAVEG: A operação Razia foi efectuada a 15/16 de Maio de 1965. Participaram na mesma, C.C. 728, C.C. 764, Companhia de Milicia 13 do Capitão João Bacar Jaló, e é claro a C.C. 763 que assaltaram o acampamento de Cufar Nalu.
Mário Vicente Fitas Ralheta, ex-fur. milº oesp, estimado veterano 'vcc' da CCac763,
Para elucidação da sua memória, reproduz-se resumo da HU do BCav705, na parte que respeita à actividade operacional da subunidade CCav703:
- «A CCav703 [...] tomou, ainda, parte na operação "Razia", na região de Cufar, de 09 a 23Abr65, em reforço ao BCaç619, após o que recolheu a Bissau.»
Melhores cumprimentos.
Para NAVEG
Tenho provas documentais e pessoais da que a realidade que escrevi.
Pelo que o resumo da HU do Bat.Cav. 705 é errado. Assim não se faz a verdadeira história da guerra da Guiné.
Um abraço
Mário Fitas
Regressemos então, a esta profícua troca de comentários.
Decerto os editores e visitantes deste blogue, estão interessados na demanda da «verdadeira história da guerra da Guiné».
Eis uma excelente oportunidade.
Exorta-se o prezado veterano Mário Fitas a que partilhe, neste sítio de "vivências e memórias", todas as suas «provas documentais e pessoais» relacionadas com este 'quid pro quo', que aqui em boa hora nos trouxe.
Caro NAVEG
As suas fontes estão erradas pelo que deve esclarecer as suas "verdades" com responsáveis do Bat. Cav. 705. Dou-lhe uma dica: O coronel Barão da Cunha pode clarificá-lo.
Para mim chegam de dúvidas, pelo que não me darei ao trabalho de lhe enviar documentação como das dúvidas sobre o número de mortes na C.C. 763.
Estive na operação Razia a 15/16 de Maio de 1965. No meu livro Putos, Gandulos e Guerra, encontra-se descrita a operação Razia por mim vivida.
Resta-me aguardar as suas investigações para saber da responsabilidade errada das suas afirmações. É claro que neste Blog as mesmas sejam pelo meu amigo descritas.
Não necessita a minha memória por enquanto de ser elucidada.
Não gosto de dúvidas sobre a minha palavra, pelo que aguardo a rectificação da sua deficiente informação sobre este assunto.
Melhores cumprimentos,
Mário Fitas
Sr. Mário Fitas,
Este 'post' 10396 é univocamente relacionado com a actividade da CCav705, mais especificamente com algumas memórias do veterano Manuel Lomba. Posto que, nele não se trata da CCaç763 nem das memórias do veterano Mário Fitas, os n/iniciais comentários apenas se ativeram ao exposto.
Ponderada a irrazoabilidade do 'state of mind' da sua tréplica, supra, e do que ela contém de "aconselhamentos", mas afastada a hipótese de uma mensagem lhe ser remetida por email, está encerrada esta troca de opiniões, não sem antes lhe ser dada a devida resposta, aqui, à letra.
- Não dá "dica" coisa nenhuma. O sr. coronel de cavalaria reformado Manuel Júlio Matias Barão da Cunha, que, quando capitão, foi comandante da CCav704, nada poderá "clarificar", conquanto foi responsável tão somente pelo resumo de actividade daquela subunidade orgânica do BCav705, e de modo algum havido ou achado quer no que respeita à elaboração do resumo de actividdade da CCav703, quer muito menos do respeitante ao respectivo batalhão.
- A anterior sugestão de partilha, da documentação por si aludida, foi-a no sentido de vir a ser exposta neste blogue, em futuro 'post' específico sobre o assunto e para benefício de editores e quaisquer visitantes.
- Não se percepciona, a sua alusão a «número de mortes na C.C. 763». Completo despropósito que, tal como antecede, nada tem a ver com a actividade da CCav703.
- Mas quem e onde, alguém duvidou ou duvida que o Sr. Mário Fitas foi um dos activos participantes numa operação militar que decorreu na área de Cufar Nalu, em «15/16 de Maio de 1965»... ?!
- Igualmente, ninguém duvidou ou duvida que o Sr. Mário Fitas descreveu, no seu citado livro, entre outras actividades da CCaç763, uma operação efectuada em «15/16 de Maio de 1965»: e que tem isso a ver com o conteúdo deste p10396, sendo certo que, naquele por si referido período de tempo, a CCav703 já não se encontrava naquele subsector do sudoeste da Guiné?!
- Não haverá qualquer rectificação, tal como não é admissível que repita a insinuação, pior, afirmação, da existência de «deficiente informação sobre este assunto», com a agravante de V. por completo desconhecer a autoria da tal "deficiente" informação.
- Se alguém terá de (teria/deveria) reclamar fosse o que fosse, pela circunstância de eventualmente uma parte do resumo da HU daquele batalhão BCav705 não corresponder à veracidade factual, pois que seja quem aqui veio esgrimir argumentação baseada em «provas documentais e pessoais» - que se exime a partilhar (!) -, para sustentar, isso sim, uma infundamentada afirmação de que as supra citadas "fontes estão erradas", fazendo passar "o mensageiro" por, no minímo, mentiroso. Retribuindo o conselho, dirija-se ao AHM e reclame: ali, não aqui nem com maus modos.
Por último, tendo os editores deste blogue a última palavra e a liberdade de eliminar tudo quanto entendam não se enquadrar no objectivo deste espaço, de convívio virtual entre veteranos da Guiné, disponham como melhor entendam.
Até Dezembro de 1964, as situações de guerra em Cufar foram contas do rosário operacional da BCaç 619, de Catió, da CCaç 6, de Bedanda e das tropas especiais, enviadas de Bissau. Os Comandos Os Fantasmas não tiveram sucesso na sua surtida em finais de Novembro, precedente à intervenção da CCav 703, e os Fuzileiros, que interagiam frequentemente com o BCav 705, os Cavaleiros Marinhos, diziam-nos que era um fuzileiro desertor e atirador especial, de alcunha G3 quem lhes embargava a penetração na mata de Cufar Nalu.
A primeira surtida da CCav 703 à mata de Cufar Nalu ocorreu em 19 e 20 de Dezembro de 1964, em interação com aquela unidade e sub-unidade de quadrícula e fomos três veze repelidos, não obstante a simultaneidade da acção dos Para-quedistas e os bombardeamentos da aviação mais a Sul, na área de Cafine, etc, a condicionar Nino Vieira ao envio de reforços, acoitados em Quitafine. O capitão Fernando Lacerda estava de licença e não comandou essa operação. Será o comandante da ocupação das ruínas da fábrica de descasque de arroz, a quinta de Cufar e a nomadização da CCav 703, entre Janeiro e Março de 1965 - Operação Campo. No contexto do longo e exaustivo período dessa nomadização, além da nossas acções de batidas, emboscadas, etc, o Comando-chefe (general Schulz) desencadeou as operações Alicate I, II, III e Ursa, em conjunto com as mesmas tropas de quadrícula e/ou especiais, sem surtidas ao coração da mata de Cufar Nalu. O assalto e o desmantelamento de Cufar Nalu foram executados pela Operação Razia, em Maio de 1965, tendo a CCaç 763 como força nuclear, com a participação do BCaç 619 e da CCav 703, vinda de Bissau, enquanto os Para-quedistas manobravam sobre o Cantanhês e os Fuzileiros a partir das margens do Cumbijã.
Cufar Nalu constituía um refúgio- base paigcista, dotado de armamento terra-terra e terra-ar, protegido pelo ânimo dos seus combatentes, pelo grande porte do arvoredo e com abrigos cavados, que me calhou contactar, em Dezembro de 1964; a CCav 703 e, depois, a CCaç 763 nomadizaram, entrincheiradas, com armamento terra-terra e terra-ar, durante 10 meses, na quinta de Cufar. Ao fim e ao cabo de quase 18 meses a dar batalha recíproca, o ferro e fogo nosso e os cães de guerra da CCaç 763 forçaram as já então FARP a retirar da mata de Cufar Nalu. Houve mortos e feridos, longe da dimensão das carnificinas das batalhas das guerras clássicas, que faziam a glória dos seus altos comandos. O termo “batalha” pela ocupação da mata de Cufar Nalu poderá ser uma “figura de estilo”, à luz dos conceitos da ciência militar; mas a semelhança não será coincidência, salvo erro ou omissão.
Cerca de um milhão de portugueses cumpriram o seu dever, em “tributo de sangue”, nela e por ela. Dos incorporados e ou mobilizados, apenas cerca de 2 mil tomaram a opção de desertar. Dos recenseados, os refractários serão mais de 100 mil; mas só em Paris haveria cerca de 80 mil - a maioria familiares das vagas da emigração clandestina. Eloquência dos números, quando cotejados com as estatísticas de outras guerras.
Os veteranos não poderão deixar as narrativas da história da guerra do Ultramar aos seus construtores, presente e ou tendenciosos.
Enviar um comentário