terça-feira, 18 de setembro de 2012

Guine 63/74 - P10404: In Memoriam (127): Luiz Goes (1933-2012), figura incontornável da canção de Coimbra, foi ten mil médico, BCAÇ 506 (Bafatá, 1963/65), e conviveu com o nosso camarada António Pinto




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > BCAÇ 506 > Abril de 1964 > Da esquerda para a direita: o alf mil António Pinto (, membro da nossa Tabanca Grande, que vive atualmente em Vila do Conde), o Mário Soares, o popular comerciante de Pirada, o alf ou ten mil médico Luiz Goes (já então conhecido como um dos grandes e promissores  intérpretes da canção de Coimbra)  e o alf mil Spencer.  Foto do álbum de António Pinto.

Luiz Goes acaba de falecer, em Mafra, aos 79  anos, vítima de doença prolongada, sem que conseguíssemos prestar-lhe, em vida, uma pequena homenagem, na série Os Nossos Médicos...Faltaram-nos depoimentos de camaradas, seus contemporâneos, no TO da Guiné (,com a honrosa exceção do António Pinto, seu camarada de batalhão). O seu funeral será amanhã, em, Coimbra, onde os seus mortais restos deverão chegar por volta das 13h00. A foto que publicamos da Guiné é. até agora, a única que conhecemos dele como militar, disponível no nosso blogue.

Foto: © António Pinto (2007). Todos os direitos reservados.


Resenha biográfica:

(i) Luiz Fernando de Sousa Pires de Goes [, foto à esquerda, cortesia do blogue  Guitarra de Coimbra III], cantor, poeta e compositor português,  nasceu a 5 de janeiro de 1933, em Coimbra, no seio de uma família com sensibilidade e cultura musicais;

(ii) Sem nunca se ter profissionalizado como artista, é uma das principais referências da canção de Coimbra e um dos artistas portugueses  com maior currículo internacional (há quem o considere mesmo a melhor voz da canção de Coimbra da sua geração);

(iii) Começou a cantar e a compor muito cedo por influência do seu tio, o coimbrão Armando Goes,  sendo já aos 14 anos considerado um menino-prodígio;

(iv) Ainda na adolescência chegou a seracompanhado pelo grande Artur Paredes, pai de Carlos Pasresm, duas referências maiores da guitarra portuguesa;

/(v) Aos 19 anos gravou o seu primeiro disco, a convite de António Brojo;

(vi) No liceu foi colega e amigo de José Afonso e António Portugal, tendo gravadovários álbuns em conjunto com ambos; mas a sua maior influência sempre foi Edmundo Bettencourt;

(vii) Licenciou-se em Medicina, em Coimbra, em 1958;

(viii) Nos seus anos de estudante cruzou-se com muitas figuras do meio literário e cultural (v. g., Manuel Alegre, Miguel Torga, Bernardo Santareno, Teolinda Gersão, Yvette Centeno);

(ix) No final da década de 50 formou o Coimbra Quintet, com os instrumentistas António Portugal, Jorge Godinho, Manuel Pepe e Levy Batista;

(x) O disco Serenata de Coimbra (1957) é um dos álbuns mais vendidos da música portuguesa, em Portugal e no estrangeiro; o referido quinteto teve uma projeção ímpar, mas uma vida breve; [, imagem da capa do LP,  Philips, 1957, à direita, cortesia do blogue A Nossa Rádio: "Serenata de Coimbra é o primeiro LP de música portuguesa a ser lançado à escala internacional (pela Philips) e ainda hoje o disco de música de Coimbra mais vendido em todo o mundo" ];

(xi) Com a mobilização de Luiz Goes para a guerra colonial, e já casado (1º casamento), o  grupo desfez-se;

(xii) Luiz Goes é colocado na no TO da Guiné, como alf mil médico (BCAÇ 506, Bafatá, 1963/65) (*), tendo passado pelos piores sítios da zona leste; mas essa experiência, dura, recorda-la-á mais tarde, em entrevistas, foi também uma aprendizagem da fraternidade,solidariedade e camaradagem entre combatentes;

(xiii) No regresso, muda-se para Lisboa, onde exerce a profissão de médico-estomatologista  até à sua reforma (em 2003);

(xiv) É um dos artistas portugueses mais internacionais;

(xv) Tem um extenso reportório, com muitas canções da sua autoria, algumas delas com mensagens subliminares de oposição ao regime salazarista; entre outros temas, ficaram célebres "Homem Só", "Meu Irmão", "Balada do Mar", "É preciso acreditar", "Canção do Regresso", "Canção da Boneca de Trapo", "Canção para quase todos", "Canção Pagã" ou "Cantiga para quem sonha".

(xvi) Da sua extensa discografia, destacam-se os álbuns:

Coimbra do mar e da vida (1969), 
Canções de Amor e de Esperança (1969) 
Canções para quase Todos (1983);

(xvii) Em 1998 foi editado, em livro, uma autobiografia sua:  Luiz Goes de Ontem e de Hoje, de Luiz Goes,  com a colaboração do poeta e seu amigo  Carlos Carranca (Lisboa, Universitária Editora, 43 pp.):

(xviii) Em 2003, a Emi-Valentim de Carvalho lançou, numa caixa de quatro CDs, a sua obra completa (Canções Para Quem Vier);

(ix) Luiz Goes, que sempre defendeu que não existia um fado coimbrão, mas sim uma balada ou uma canção de Coimbra, recebeu as mais altas distinções, entre as quais a de Grande Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique, a Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra, a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Cascais e o Prémio Amália Rodrigues 2005, na categoria Fado de Coimbra.

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Fonte: Adaptado de:

Luiz Goes. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-09-18].
Disponível em http://www.infopedia.pt/$luiz-goes

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Notas do editor:

Último poste da série > 5 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10334: In Memoriam (126): António Rodrigues Soares da CART 1689/BART 1913 (Guiné, 1967/69)


(*) Nota sobre o BCAÇ 506, coligida pelo nosso colaborador permanente José Martins:

BCAÇ 506 (1963/65)

(i) Mobilizado no Regimento de Infantaria 2, em Abrantes, era seu Comandante o Ten Cor Inf Luís do Nascimento Matos;



(ii) Desembarcou em Bissau em 20 de Julho de 1963, recebendo os elementos do recompletamento do BCAÇ nº 238, que rendeu, assumindo a mesma zona de acção, que passou a ser designada por sector D;

(iii) Em 1 e 8 de Agosto de 1963 e 8 de Julho de 1964, foram criados no sector, pela chegada de novas unidades, os subsectores de Piche, Xitole e Fajonquito; a zona de acção foi reduzida em 24 de Agosto de 1964 dos subsectores de Bambadinca e Xitole, e aumentada do subsector de Pirada (onde se incluía Bajocunda) em 29 de Outubro de 1964;

(iv) Em 11 de Janeiro de 1965 a zona D passou a designar-se por Sector L2, abrangendo os subsectores de Bafatá e Fajonquito;

(v) Foi rendido pelo BCAV  nº 757 em Bafatá e regressou à metrópole em 29 de Abril de 1965.

8 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Aos poucos vamos ficando mais pobres, mais sós.
Era uma voz incontornável da Canção de Coimbra, como diz o titulo.

Descanse em Paz, Dr. Luís Goes.

AbT.

Luís Graça disse...

Carlos Carranca disse, a 4 de Julho de 1998, aquando da cerimónia de entrega da Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra a Luiz Goes:

"Dizia Teixeira de Pascoaes que a voz de Hilário 'subia nas noites de Coimbra até se ouvir na lua'. Ele era o primeiro grande cantor das inesquecíveis noites de luar da Velha Alta. Hoje, no dealbar do novo milénio, cem anos depois de Hilário, a voz de Luiz Goes enche a noite, universalizando a toada coimbrã, penetrando fundo na cósmica inquietação do Futuro. A alma de Coimbra é a voz de Luiz Goes e a voz de Luiz Goes é a voz telúrica e trágica da condição humana. A sua obra é um monumento humano. É obra moça. Não exibe velhices precoces, é fruto de uma personalidade riquíssima, de uma sensibilidade invulgar e de uma visão plural da vida.
"- É através de ti, da tua voz, das tuas interpretações, dos teus poemas, que Coimbra ultrapassa os limites da cidade, vai mais longe. Vai ao encontro de quem sonha, do homem só, adquire sangue novo. Chega mais longe porque tu lhe insuflaste a tua própria vida, lhe deste a tua inteligência e a tua criatividade inacessíveis aos que de Coimbra se contentam em imitar o estilo, a exibir erudição, a contabilizar louvores.

"Com Luiz Goes o canto de Coimbra rompe com a 'lamechice', desce às raízes, ganha autenticidade e sensualidade. Luiz Goes não só canta, como escreve sobre nós, e fá-lo apaixonadamente. Os labirintos da nossa alma profunda percorrem as nossas canções. São pedaços de nós, de Portugal, de uma paisagem física e humana que visceralmente somos. Seus versos pedem canto. E o que é cantar? É talvez o meio de sermos por fora o que somos por dentro. É escancarar o que nos vai na alma reduzindo a distância que nos separa. E não há forma mais perfeita de estar com os outros.

"Em Luiz Goes habitam as múltiplas influências do trovador inquieto e intemporal, do poeta, do respeitador da tradição no que ela possui de essencial, rejeitando exibicionismos vocais, poéticos saudosismos serôdios e intransigências reaccionárias. Luiz Goes é um cantor da Saudade. Mas de uma saudade que nos faz compreender que todos nós participamos num ser universal". (...)


http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2007/02/guiun-6374-p1492-o-lbum-das-glrias-7-eu.html

Luís Graça disse...

Veja-se no um artigo do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, de 2003, da autoria de Manuel Halperm, reproduzido na Visão "on line"


Luiz Goes (1933-2012); CANÇÃO DA ALMA

Na morte de Luiz Goes, recodamos o perfil que traçámos a esta grande figura da cidade de Coimbra, em 2003, no JL 845
Manuel Halpern


Ler mais: http://visao.sapo.pt/luiz-goes-1933-2012-cancao-da-alma=f687007#ixzz26w9PiHu8

Anónimo disse...

O António Pinto acaba de nos mandar, por mail, a seguinte mensagem, às 19h:

"Com saudade recordo o homem, o artista, o amigo. Que descanse em paz. A. Pinto".

M@rtin'5 disse...

A guerra da Guiné consumiu uma quantidade enorme de "miúdos" da nossa juventude e, dos "velhos" que sobraram e vão vivendo marcados pela mesma guerra, vamos partindo a pouco e pouco, mas na voragem do tempo que não perdoa.

o Luis Goes será eterno, como a balada coimbrã.

Luís Graça disse...

... É verdade, Zé Martins, mas no caso do Luiz Goes é rpeciso recordar que ele vai para a Guiné com 30 anos, e outra maturidade que a maior parte de nós, putos de 20 anos, não tinha.

Por outro, é de chamar a atenção para a relativa "facilidade" que ainda em 1964 se dava a volta ao "bilhar grande" da Guiné... Partindo-se de Bafatá, e seguindo para Gabú, com um salto para nordeste (Pirada, Piche, Buruntuma...), e descendo para sul: Canjadude, "a tua segunda terra", Beli, Cheche, Madina do Boé... e depois rumando a Cacine, por Guileje... Atravessado o Rio Cacine, voltavas ao leste por Contabane/Saltinho, Bambadinca, Bafatá... Ou podias, ir para norte, Tite e Bissau...

Manuel Reis disse...


Desapareceu uma das mais lindas vozes de Coimbra.

Repousa em PAZ, Luiz Goes.

Anónimo disse...

No princípio deste ano estive numa homenagem a Luís Góis num hotel de Lisboa, onde tive o prazer de o ouvir cantar alguns dos seus fados de Coimbra. Apenas agora, depois do seu falecimento soube que era médico. Naquela altura tive conhecimento da sua comissão na Guiné. Que repouse em Paz este combatente que fez as delícias dos portugueses (e não só...) da sua geração.